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Para concluir, deitemos ainda um olhar sobre o estado da província da Bahia, no momento. E encaremos primeiramente a questão da imigração, visto que nos países novos é ela o indispensável meio e ao mesmo tempo seguro estalão para o progresso da colonização.

Logo nos primeiros decênios do século XIX, havia o governo brasileiro procurado atrair também para esta província imigrantes europeus, e especialmente para a faixa de costa ao sul, desabitada, das velhas capitanias de Porto Seguro e Ilhéus.

Assim, foi fundada em 1818, pelos empresários Busch, Peycke e Freyreiss, uma colônia alemã — Leopoldina, à margem do rio Peruípe, entre Vila Viçosa e Caravelas, que, se não tomou grande impulso, todavia se conserva até hoje, e no ano de 1851 compreendia 43 fazendas de café, com 133 moradores livres e 1.243 escravos. Ela não pode propriamente ser chamada uma colônia agrícola européia, visto incumbirem-se dos trabalhos da lavoura quase exclusivamente os escravos negros; e talvez justamente por esta circunstância é que se tornou possível a sua subsistência, pois em resumo essas faixas de terra costeira ainda são quentes demais para uma vida de lavoura de imigrantes brancos.

Mais ou menos no mesmo tempo (1818), receberam dois especuladores, Peter Weyll e Saueraker, uma concessão de terras pouco distantes de São Jorge dos Ilhéus, para onde eles, quatro anos depois, levaram um certo número de colonos, na maioria alemães (1822); eram ao todo 161 pessoas, uma parte dos quais não destituídos de recursos, que agora caíam em plena tempestade da revolução brasileira, especialmente da guerra da independência baiana, e que assim foram- completamente estorvados, motivo por que na maioria se dispersaram por todos os lados. Aos poucos restantes concedeu o imperador d. Pedro I recursos em dinheiro e mais auxílios, de sorte yue à margem esquerda do riacho Cachoeira surgiu, de fato, uma pequena colônia, que se ocupa especialmente com a cultura do cacau; todavia, sempre permaneceu de pouca monta e atualmente é povoada na maioria por brasileiros natos.

Finalmente, terceira tentativa se fez no ano de 1828, quando 222 irlandeses que, em parte, até então estavam em serviço no exército brasileiro, se estabeleceram, por ordem do imperador d. Pedro I, na povoação Taperoa100, a pouca distância de Boipeba; assim se originou a colônia Santa Januária, no Rio do Engenho, para cujo primeiro estabelecimento e seguintes necessidades não pequenas quantias foram aplicadas; todavia o plano falhou completamente; os irlandeses, para cuja escolha não se havia tido nenhum cuidado, pouca vontade tinham de trabalhar, dispersaram-se pouco a pouco, e hoje só resta a recordação de toda essa colônia.

A mesma sorte tiveram mais duas colônias, cuja descrição em rigor não cabe aqui, pois eram simplesmente de caráter militar e povoadas por soldados que haviam concluído o seu tempo de serviço: uma delas fundada no rio da Salsa, braço do rio Jequitinhonha (Belmonte), a 20 de agosto de 1818, extinta pelo ano de 1827; a segunda fundada à margem norte do rio Mucuri, em 28 de novembro de 1845, extinta a 6 de junho de 1849.

Foi isto tudo que se fez até hoje em matéria de colonização na província da ‘ Bahia; e de fato a emigração européia sempre se absteve de estabelecer-se nestas costas. Em compensação, proporcionou o tráfico de escravos africanos, para o qual São Salvador servia de principal empório, uma contínua introdução de negros, até que ultimamente a lei de 4 de setembro de 1850 pôs termo à mesma.

Talvez deste golpe também se tivesse podido refazer a província, de algum modo; porém, como se sabe, assolaram nestes últimos anos, aqui como em toda parte, de modo terrível, o cólera e a febre amarela, especialmente entre as classes do trabalho, a população escrava. Além disso, o comércio interno de escravos tomou incremento desde a supressão do tráfico da costa da Africa101, e justamente nessa província retira cada vez mais os braços de trabalho; as províncias do Sul, mormente o rico Rio de Janeiro, mandam aqui comprar negros para o seu serviço, ao que a Bahia, na verdade, procurou opor-se, decretando, por uma lei provincial, um imposto de exportação de 100$ por escravo; porém, isto de nada serviu: só no ano de 1854 foram levados para o Sul 1.835 escravos, dos quais a maioria, 1.692, para o Rio de Janeiro.

Por esse fato se vê também a Bahia ameaçada de uma falta de braços, em próximo futuro, e é a queixa geral em todo o Brasil, à qual se tem procurado debalde remediar por engajamentos no continente europeu e aquisição de jornaleiros chineses.

No mais, tem feito a Bahia prodigiosos progressos, desde o princípio deste século. A província conta agora 18 comarcas, 6 cidades, 57 vilas e 137 freguesias, tendo de 900.000 a 1.100.000 almas, segundo as últimas estatísticas; dispõe de 99.519 guardas-nacionais válidos alistados e uma força policial de 603 homens, sem contar os 1.088 soldados regulares da guarnição e a equipagem de três navios de guerra estacionados na sua costa; o número de índios meio civilizados monta a 5.178.

A principal indústria, como se sabe, é a produção de açúcar, que ocupa 1.651 fazendas e engenhos, dos quais 144 movidos a vapor, 253 pela força hidráulica e 1.274 pela tração animal; 48.000 a 50.000 trabalhadores, na maioria escravos; 44.000 bois e 17.000 a 18.000 cavalos trabalham nessas fazendas; e a receita média anual monta a três ou quatro milhões de arrobas de açúcar, 300.000 arrobas de rapadura e cinco milhões de canadas de melado. A exportação para o exterior, para a qual também as províncias vizinhas de Sergipe e Alagoas forneceram a sua quota, talvez um terço, teve, na receita anual de l9 de outubro de 1853 a 30 de setembro de 1854, o valor de 10.431 contos, figurando só o açúcar com 6.207 e o fumo com 1.757; além disso, foi exportado para outras províncias o valor de 1.393 contos de réis; por outro lado, a importação montou a 12.926 contos, na qual a Grã-Bretanha participou com 7.543, França, Portugal e as cidades hanséaticas cada um com cerca de 1.000 contos. No ano seguinte, 1854-1855, as condições foram as mesmas; porém, o total da exportação subiu a 11.782 contos e o da importação foi de 12.693.

Pelo orçamento provincial para o ano de 1856, a receita foi estimada em 980 contos, a despesa em 947, dos quais a polícia absorve mais de um quinto, 195 contos, e o governo provincial, 156; além disso, aplicam-se às escolas públicas 141 contos, em obras públicas 180, e na subvenção à navegação, etc, 80 contos.

O que diz respeito a estes dois últimos pontos, isto é, para facilitar o tráfego interior e exterior, sobretudo desde o princípio do século XIX, muito se tem feito. Já os últimos governadores-gerais, o conde dos Arcos e o marquês da Palma (1810-1821), ativamente construíram e projetaram pontes, estradas e canais; o último tencionava mesmo tornar navegável o rio Jequitinhonha (Belmonte) a fim de dirigir deste modo uma parte da exportação de Minas Gerais para as cidades Ja costa da antiga capitania de Porto Seguro, plano esse que ainda atualmente preocupa os estadistas baianos.

Nos tempos recentes, foi projetada uma completa rede de estradas; quatro estradas reais principais devem ligar a costa com o rio São Francisco, sendo que uma delas destinada para ferrovia; referimo-nos à projetada estrada de ferro da cidade da Bahia ao Juazeiro, para cujo capital empregado o governo central brasileiro se responsabiliza por um juro de 5%, e a província por um juro adicional de 1 1/2%, e sobre cuja construção, entre 19 de dezembro de 1853 e 31 de maio de 1854, se firmou contrato com o empreiteiro. É uma grandiosa empresa, que sobrecarrega a província com pesadas despesas, e por este motivo, mesmo ali, encontra viva oposição, como também ainda é incerta a sua realização. Por subscrição, em Londres, acaba de ser coberto o capital para a construção.

Finalmente, duas linhas de vapores subvencionadas estabelecem comunicações regulares entre as cidades da costa; uma delas, Companhia Bonfim, limita as suas viagens principais à próxima vizinhança da baía de Todos os Santos, ao passo que a outra, a Companhia de Santa Cruz, serve mensalmente toda a costa, ao sul até Caravelas, ao norte até Maceió (província de Alagoas).

Não se apresentam tão favoráveis as condições intelectuais e morais. Primeiramente, no que diz respeito à instrução pública, existem, na província da Bahia 200 escolas primárias, 18 secundárias, tendo 9.229 e 636 alunos; 3.582 alunçs freqüentam colégios particulares, portanto, no todo, uma freqüência escolar perto de 13.500 alunos, apenas 1 1/2% do total da população, ao passo que por exemplo, nos Estados americanos da Nova Inglaterra ascende esse número a 20 e 30%.

O serviço eclesiástico é imperfeito, visto não possuir a Igreja independência financeira, e as quantias que lhe outorga anualmente o orçamento não bastam; em muitas comarcas falta de todo a igreja paroquial, em outras está em ruínas; o clero inferior leva, na maioria, vida nada exemplar e não pode exercer, nem pelo ensinamento, nem pelo procedimento, influência enobrecedora sobre a vida do povo.

Também as fundações pias de tempos antigos, hospitais, asilos de órfãos e casas de expostos, assim como institutos para arrependidas, ao todo uns 12, têm, em parte, que lutar com grandes dificuldades, visto que os seus próprios recursos, e as loterias anuais estabelecidas para o seu benefício, nem sempre cobrem as despesas, e muitas são sustentadas diretamente por subsídios eventuais dos cofres provinciais.

A pior situação é, porém, a dos negócios da justiça. Na verdade, felizmente para a Bahia, passaram os tempos em que as autoridades eram consideradas inimigas da liberdade do povo, e a tranqüilidade pública não é mais perturbada; por outro lado, a segurança do indivíduo corre sempre risco, pois no ano de 1854, além de 27 suicídios, aconteceram 31 tentativas de assassínio e 94 assassínios, e, para essa trágica estatística, concorreu a própria imediata vizinhança da Bahia, portanto a parte mais rica e florescente da província, com um muito considerável contingente.

A natureza do país facilita aos criminosos fugirem ao castigo, e no interior, no vale do rio São Francisco, eles acham, sem dificuldade, um protetor, entre os grandes fazendeiros que ali dominam como soberanos; assim, lamentava o relatório oficial da província, em 1855, até aqui não lhe haver sido possível prender o mal afamado José Joaquim de Almeida, que nas suas terras, na freguesia da Serrinha, tinha reunido um verdadeiro bando de foragidos da justiça e, com o auxílio deles, oprimia toda a redondeza!

E, quando um criminoso chega a ser apanhado, ainda o processo criminal, no qual os jurados lavram a sentença, lhes oferece muitas oportunidades de escapar; "em muitos lugares, já se sabe antecipadamente qual o advogado que obtém sempre a absolvição do seu cliente; em outros lugares é um poderoso senhor de terras que dita a sua vontade ao juiz; finalmente, ainda em outras partes é o medo ao acusado e à sua parentela que afasta as testemunhas de acusação e que influencia a sentença do júri".

Nessas circunstâncias, no ano de 18.54, dos 34.5 processos criminais, 216 concluíram com a absolvição do acusado; "para que serve então apanhar o culpado e levá-lo ao tribunal da Justiça?", assim falava o presidente provincial. "Não é nenhuma sátira imaginada por mim, porém uma verdade, que o meu dever me obriga a denunciar".

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