Continued from: OS CAMINHOS ANTIGOS E O POVOAMENTO DO BRASIL - Capistrano de Abreu

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Grande
e bem grande centro de povoamento foi S. Vicente, vila fundada em 1 532 por
Martim Afonso de Sousa. Dela se separou logo Santos, que já existia em 1 549.
X)as duas saiu gente que se estendeu para o Norte até a angra dos Reis e para o Sul até Laguna.

A mata
litorânea, que começa em Ilhéus, prossegue para Santa Catarina, até onde avança
a serra do Mar; estreita-se, porém, em frente a S. Vicente, onde já fora
vencida antes de Colombo e Pedralvares, graças à circunstância de serem os mesmos
os índios que habitavam o litoral e o planalto — os tupiniquins e antes destes
os guaianases, guarulhos, gualachos, maramomis, diferentes em tudo dos
primeiros.

Depois de
instalar S. Vicente, Martim Afonso transpôs a serra de Paranapiacaba e criou
outra vila, que posteriormente mudou de sede e nome, transformando-se
insensivelmente na atual cidade de S. Paulo.

O caminho
entre S. Paulo e S. Vicente não era cômodo, mesmo aproveitados os trechos
navegáveis do Cubatão e de um dos afluentes do Tietê.    Fernão Cardim, que fêz
a viagem em 1 585, nas melhores condições
possíveis para a época, por acompanhar o padre Cristóvão de Gouvêa, visitador
da Companhia de Jesus, já pujante e prestigiosa, graças a tantos serviços
prestados, empregou nela quatro dias e diz: "O caminho é tão íngreme que
às vezes íamos pegando com as mãos", antes de chegarem bem cansados ao
cume da Paranapiacaba; e depois
de passado: "Todo o caminho é cheio de tijucos, o pior que nunca vi, e
sempre íamos subindo e descendo serras altíssimas e passando rios caudais de
água frigidíssima".

Portanto,
não podiam ser freqüentes as comunicações entre o litoral e o planalto, como
logo o vestuário o malsinava. Os moradores de Piratininga, diz-nos o mesmo
autor, "vestem-se de burel e pelotes pardos e azuis, de pertinas
compridas… vão aos domingos à igreja com roupões ou berneu de caxeira sem
capa".    E frei Vicente do Salvador, descrevendo a viagem feita por D. Francisco de Sousa uns quinze anos mais tarde,
repara: "Até então os homens e mulheres se vestiam de algodão tinto, e se
havia alguma capa de baeta e manto de sarge, se emprestavam aos noivos e
noivas para irem à porta da igreja".

Assim
as asperezas do caminho dificultavam o trato entre o interior e o litoral. E
não o favoreciam as condições econômicas, pois Piratininga só precisaria de
sal, pólvora, armas e alguns tecidos e quase só podia dar em troca algum ouro
de lavagem, que desde logo foi sendo extraído, e os índios apanhados nas
bandeiras, que, movendo-se pelo próprios pés, dispensavam conduções dispendiosas.
Acrescente-se que os habitantes do campo cegavam às vezes os caminhos, para
tolher a ação das autoridades de serra abaixo, representantes do poder real ou
senhorial. De tudo resulta a necessidade de considerar o povoado serrano
independente de Santos, de S. Vicente e da marinha em geral. Esta, fique logo entendido, só em nossos dias sacudiu o letargo.

A
situação geográfica de Piratininga impelia-a para o sertão, para os dois rios
de cuja bacia se avizinha, o Tietê e o Paraíba do Sul, teatros prováveis das
primeiras bandeiras, que tornaram logo famoso e temido o nome paulista. No
Paraná, os jesuítas do Paraguai foram reunindo e domesticando numerosas tribos
inermes, indefesas.

Ao assunto
que estudamos não pertencem as bandeiras, por motivos óbvios. Concorreram antes
para despovoar que para povoar nossa terra, trazendo índios dos lugares que
habitavam, causando sua morte em grande número, ora nos assaltos às aldeias e
aldeamentos, ora com os maus tratos infligidos em viagens, ora, terminadas
estas, pelas epidemias fatais e constantes, aqui e alhures apenas os silvícolas
entram em contato com os civilizados. Acresce que os bandeirantes iam e
tornavam, não se fixavam nunca nos territórios percorridos; isto explica o
motivo da sua persistência durante mais de um século e seu exílio quando não
tornaram mais à pátria.

A atenção
que não cabe aos bandeirantes reclamam-na de passagem os conquistadores, homens
audazes, contratados pelos podêres públicos para pacificar certas regiões em
que os naturais apresentavam mais rija resistência. Os conquistadores podiam
cativar legalmente a indiada, recebiam vastas concessões territoriais, iam
autorizados a distribuir hábitos e patentes aos companheiros mais esforçados.
Estêvão Ribeiro Baião Parente, Matias Cardoso, Domingos Jorge Velho e outros
fixam este curioso tipo; geralmente não tornavam à pátria e deixaram sinais de
sua passagem e herdeiros de seu sangue em Minas Gerais, na Bahia, em Alagoas e alhures; mas o maior serviço que prestaram consistiu em ligar o Tietê e o Paraíba do Sul ao S.
Francisco, através da Mantiqueira, construindo e levando rio abaixo canoas para
as quais não havia aqui madeira própria, e auxiliarem os curraleiros a se
estenderem até o Parnaíba e Maranhão. Domingos Jorge Velho foi um dos primeiros
devassadores do Poti.

Ao
tempo em que os conquistadores se batiam contra os índios de Paraguaçu e
Ilhéus, prosperava à volta de São Paulo grande número de vilas: Moji das
Cruzes, Parnaíba, Taubaté, Guaratinguetá, Itu, Jundiaí, Sorocaba, são todas
anteriores a 1 680, anteriores ao grande êxodo que assinalou o último quartel
do Século XVII. Cada uma das vilas extremas demandava destino
diverso: as vilas do Paraíba do Sul apontavam para as próximas Minas Gerais,
como Parnaíba e Itu apontavam para Mato Grosso, como Jundiaí apontava para
Goiás, e Sorocaba para os campos de pinheiros em que já surgia Curitiba.

Para
mobilizar todas essas forças bastou o descobrimento do ouro, ouro corrido, é
verdade, como se conseguira já em tantos córregos e rios, mas com abundância de
que só em terras de língua inglesa se encontrou o equivalente em nossos dias.

Os
primeiros descobertos lavraram-se em águas do rio Doce, do rio das Velhas, mais
tarde, do rio das Mortes e do Jequitinhonha: a população que acudiu procedeu
toda, ou quase, do planalto, especialmente do rio Paraíba do Sul, onde a
estreiteza do vale, cavado entre a Mantiqueira e a cordilheira marítima,
produzia o efeito de condensador. Logo apareceram outros novos haveres. Pouco
tempo os desfrutaram em paz os descendentes dos bandeirantes e conquistadores,
derrotados no encontro com os emboabas, ou, para falar com mais precisão, dos
aventureiros, na maioria baianos, vindos do Norte, beirando o S. Francisco e o
rio das Velhas.

Com a
vitória dos emboabas, Itu e Sorocaba assumem seu papel histórico. Pelo Tietê
abaixo até a barra, pelo Paraná até o Pardo, por este até a balança das águas
com o Paraguai, pelo Coxim, pelo Taquari, pelo Paraguai, pelo S. Lourenço, pelo
Cuiabá, atingiu-se a descobertos em que o ouro se apanhou às arrobas. E logo
transposta a chapada e espontados rios que correm ao Amazonas e ao Prata,
chegou-se às cabeceiras do Guaporé, desceu-se para o mato grosso do Jauru, ou
avançou-se para o alto Paraguai. Até aqui, não se atreveram emboabas, mas no
labirinto dos pantanais apareceram índios ferozes, não desbastados
suficientemente por bandeiras; apareceram as dificuldades da viagem, que desde
Araritaguaba, ou Porto Feliz, pedia quatro a cinco meses, através de mais de
cem saltos, cachoeiras, corredeiras e entaipavas. Cuiabá e Mato Grosso, para
não sucumbir, tiveram que se desligar de São Paulo.

Antes
disto se consumar chegara a vez de Jundiaí, de onde partiu Bartolomeu Bueno e
cortando afluentes do rio Grande, e o próprio rio Grande, pondo-se dó outro
lado do Parnaíba (do Sul) encontrou finalmente os índios goiases, que vira menino,
quando por aquelas brenhas guerreava em companhia de seu pai Anhanguera, o
diabo velho, o diabo legião que incendiava os rios. Em águas de um afluente do
Araguaia pintou o primeiro ouro. Abundantes minas encontraram logo Amaro Leite,
Godoy, Calhamara pela ribeira do Araguaia, pela ribeira do Tocantins.

Cerca de 1
740 minerava-se ouro desde as serranias do Espinhaço até os chapadões dos
Parecis, e quase sempre fora um paulista o descobridor. São Paulo estava,
porém, exausto. Densa sua população não era tanta que pudesse resistir a tantas
sangrias ininterruptas que a vitimaram. Por maior desventura os poderes
públicos quase não deram um passo que não fosse em detrimento daqueles
sertanistas façanhudos.

Artur de
Sá, governador do Rio de Janeiro, o primeiro que visitou as minas gerais, teve
de ir por terra desta cidade a Parati, e de Parati a Taubaté, para transpor a
Mantiqueira. Seguiu assim uma trilha antiquíssima dos guainases, porque do
mesmo modo que a gente de Ilhéus, Porto Seguro e Espírito Santo, os fluminenses
não se animaram a varar a mata de um a outro lado.

 

 

Ofereceu-se
a Artur de Sá para abrir comunicação direta com o Rio um paulista, Garcia
Rodrigues Paes, filho de Fernão Dias Paes, o governador das esmeraldas2.
Isto fêz partindo dos descobertos já lavrados, beirando o Paraibuna até o
Paraíba do Sul e transpondo a divisória deste até o rio Morobaí ou Pilar,
traçado em parte coincidente com a via férrea que já não se chama Pedro II e
com a de Melhoramentos a esta reunida3. Data daí a ruptura das
matas, feita por mãos alheias (o fluminense é incapaz de dizer sape a um
gato, escreve alguém que os conversou), o florescimento do Rio de Janeiro, que
em 1711  já fornecia   opimo   espólio   ao   corsário  Duguay-Trouin.

A
obra antipaulística de Garcia foi continuada por seu con-cunhado Manuel da
Borba Gato, que se estabeleceu no rio das Velhas.

Dali
contra a própria vontade e ordens draconianas do ultramar, mas urgido por
inelutáveis condições demográficas, encaminhou para a Bahia o ouro e o
comércio do S. Francisco.

Em Mato Grosso
procurava-se remédio contra os ataques ferozes dos paiaguás, guaicurus, caiapós
ou porrudos, que desde os pantanais do Paraguai até os saltos do Pardo,
balizaram de cadáveres cada palmo de terreno. O que se ofereceu mais adequado
consistiu em abrir trato por terra para as minas de Goiás já então descobertas.
Desta empresa se encarregou Antônio Pires de Campos, auxiliado pelos bororós,
que soube atrair ao seu serviço. No princípio do Século XIX Caetano
Pinto, nomeado governador de Pernambuco, veio por terra do Guaporé ao rio de
São Francisco.

No
ano de 1 742, Manoel Félix de Lima desceu pela primeira vez o Madeira desde o
Sararé e Guaporé até o Pará: José de Sousa Azevedo em 1 746 desceu o Tapajós. O
governo da metrópole proibiu sob graves penas o aproveitamento dessas vias de
comunicação, especialmente a do Madeira; mas desde que se erigiu a capitania de
Mato Grosso e se escolheu para a capital a Vila-Bela não restava outro recurso.
Com o governo de D. Antônio Rolim de Moura se tratou de utilizar o Mamoré e
Madeira para as comunicações com o Pará, apesar dos colossais
embaraços oferecidos pelo trecho encachoeirado, só vencíveis e só vencidos
por via férrea. D. Antônio Rolim de Moura, conde de Azambuja, que alcançara
Cuiabá-Mato Grosso e de sua viagem deixou aprazível narrativa, nomeado
governador da Bahia em 1 766, desceu do Guaporé ao Maranhão, donde foi por
terra a seu destino.

 

2.     O   roteiro   de   Fernão  
Dias   Paes.

O caminho seguido por
Fernão Dias Paes era bem conhecido e mais de uma vez foi trilhado por pessoas
que do sertão vinham pedir reforços ou de Piratininga iam levando auxílios
mandados pela família no decurso da expedição em que finalmente deixou a vida.
Comparando-o com o de D. Rodrigo de Castello Branco, administrador das minas,
pode-se determiná-lo com bastante precisão, pois D. Rodrigo não teve maior
preocupação que a de acompanhar-lhe as pegadas. Apenas chegou a Santos tratou
de pôr-se em comunicação com o governador das? esmeraldas para quando tornasse
de Paranaguá. Na entrada elegeu braço direito a Matias Cardoso de Almeida, seu
antigo companheiro. Na marcha encontrou um portador de Garcia Paes*, filho de
Fernão, mais adiante o próprio Garcia e tragicamente foi morto no arraial de
Manoel de Borba Gato, cunhado deste.

D.
Rodrigo partindo de São Paulo a 19 de março de 1 681, a 24 assinava um
documento em Atibaia; a 19 de abril fugiam-lhe índios na paragem de Sapucaí;
estes dois nomes bastariam para mostrar que o caminho seguido não foi o do 
Paraíba do  Sul.

Deve
ter sido o de Atibaia, em parte percorrido por Spix e Martius, e em parte 
descrito por Paula Ribeiro  em   1 815:  Rev.  Trim.,   2.°,   5º.

O
caminho de Atibaia ou Sapucaí e o de Paraíba do Sul comunicavam-se na
Mantiqueira por várias gargantas, apontadas nas seguintes" notas graciosamente 
fornecidas  por  Dr.   Gentil  Moura:

"Na
região de Piracaia (antiga cidade de Santo Antônio da Cachoeira) há as
gargantas do rio Cachoeira e Muquém, afluentes do rio Atibaia e situados entre
os morros do Lopo  e a pedra do  Selado.

Fronteiras
a Jacareí há as gargantas do rio do Peixe e do rio das Cobras, afluentes  do 
Paraíba  e  situados  ao   Sul  da  pedra  do   Selado.

Fronteiras  a  S.  José  dos  Campos há as
gargantas  do  Pio  Buquira.

Fronteira a
Pidamonhangaba e entre os morros do Itapeva e Pico Agudo, há  a  garganta  do 
Piracuama.

A partir do
Jacareí, as gargantas convergem para a região mineira chamada do   Sapucaí  
(S.   José  do   Paraíso,   Santana  do   Sapucaí  etc.).

Fronteiras
a Guaratinguetá hâ as gargantas do Pirajuí e Guaratinguetá; fronteira de Lorena
a do Piquete, e fronteira de Cachoeira (Bocaina) há a garganta do Embaú, onde
se fêz a entrada para Minas Gerais, ganhando o vale de Passa Vinte depois da
travessia  da serra."

Ao
tomar posse de sua cadeira no Instituto Hisrtúrico do Pio, Gentil Moura traçou
uma bela síntese da antiga viação paulista, que se pode ler no Diário
Oficial
de  3  de julho de 1920.

3.    Primeiros  caminhos  do  Rio  para  as  minas.

Três foram
os primitivos caminhos que puseram em comunicação a cidade do  Rio  de 
Janeiro  com  as  terras  de  além Paraíba  do   Sul  e  Paraibuna.

O primeiro,
vulgarmente chamado o caminho velho, aberto por Garcia Rodrigues Paes-, partia
do norte do Pilar, transpunha a serra, passava as roças Marcos da Costa nas 
cabeceiras do  rio  Santana,  Pati,  etc.

O segundo
depois de passado o Paraíba do Sul, desenvolvia-se pelas margens do Piabanha e
Inhomerim: de Inhomerirn vinha-se embarcado para o Rio; a praia dos  Mineiros  
era   o   ponto  de   desembarque.

O terceiro,
vulgarmente chamado caminho novo, passava por Meriti, Maxam bomba e Sacra
Família.

Todos
três se reuniam na bacia do Paraíba do Sul e transpunham a divisa das  águas 
para   a   Guanabara,   onde   feneciam.

O
caminho aberto por Garcia Rodrigues está descrito em Antonil: por êle marcharam
as tropas que das terras de ouro vieram acudir ao Rio, atacado por
Duguay-Trouin.

O segundo,
obra de Bernardo Soares de Proença, já era utilizado em 1 725, como desde 1
907, se divulgou nos Capítulos da História Colonial, pág. 140. (Edição
da  Sociedade Capistrano  de Abreu,  pág.  106).

Entre
São Paulo e Rio os caminhos variaram bastante. Muitos moradores de serra acima
procuraram saída para as águas da ilha Grande ou de Angra dos Reis, donde era
fácil o transporte por terra ou por sumacas até a capital. A E. F. Central do
Brasil, desde as divisas de São Paulo, afastou-se dos caminhos preexistentes e
abriu novos. Na jornada de Ipiranga, Pedro I viajou por Santa
Cruz e Itaguaí,  S.  João Marcos, Areias,  Lorena.

 

 

O caminho
fluvial do Madeira, o caminho terrestre de Goiás, concluíram a obra
antipaulística iniciada nos morticínios dos pantanais. Quando Spix e Martius
visitaram Porto Feliz, na segunda década do passado século, o comércio antigo
estava amortecido. Não mais de seis a oito canoas anualmente faziam o serviço,
em que não muitos anos antes porfiavam tantas monções.

Também
Goiás não se lembrou muito tempo que de São Paulo partira o movimento que o
transformara. A divisória das águas entre o Tocantins e o S. Francisco abunda
em gargantas, seguramente já trilhadas pelos índios: Duro, S. Domingos,
Taguatinga, Santa Maria, Arrependidos etc. Pelas gargantas mais setentrionais,
os goianos se comunicaram com a margem pernambucana (esquerda) do São
Francisco, de onde com mais facilidade tinha de ir o gado de que precisavam,
sob pena de morrerem de fome; pelas mais meridionais atingiram a margem baiana
do S. Francisco, ou terras de Minas, que apresentavam como termo de viagem os
portos da Bahia e Rio de Janeiro, a todos os respeitos mais vantajosos que São
Paulo ou Santos. O refluxo de Goiás para São Paulo é todo obra dos nossos dias
e precedeu de pouco a abertura da Mojiana.

O
governo da metrópole, absorvido por interesses fiscais, sacrificou
conscientemente São Paulo a Minas, porque a princípio não tinha confiança nos
paulistas, tanto que recomendou ao governador Antônio de Albuquerque que não
lhes confiasse armas, e porque, estando o serviço de arrecadação de quintos melhor organizado em Minas Gerais, onde registrou vantagens, patrulhas volantes tomaram todas as saídas e as
Câmaras municipais prometeram pagar cem arratéis de ouro anualmente, da
metrópole galardoada.

Na segunda
metade do século dezoito o megalomaníaco governador de S. Paulo, D. Luís
Antônio de Sousa Botelho e Mourão, quis aproveitar a posição de Sorocaba e
mandou fundar Lajes, em terras que atualmente pertencem a Santa Catarina. Assim
e mais com a empresa trágica de Iguatemi não fêz senão consumar a ruína da
capitania entregue a seus cuidados. Os paulistas não sabiam mais sertanejar nem
minerar. Encontramo-los depois nas tropas regulares empenhados nas guerras platinas
desde o refúgio: é seu pêjo extremo.

A
estrada de Sorocaba a Porto Alegre e ao território das Missões teve sua
importância quando vinham às feiras dezenas de milhares de bestas, mas sua
influência durou pouco e esvaiu-se com a introdução do vapor. A Este nela
desembarcaram caminhos vindos da marinha, onde a Serra do Mar permitia passagem.
A Oeste não romperam a mata nem domaram a indiada. A margem esquerda e a
direita do Paraná durante o período colonial não se povoaram, e ainda hoje
continuam quase desertas.

Entretanto,
lentamente São Paulo foi-se reerguendo. A plantação de cana, de café, a
imigração, as estradas de ferro, os fatores geográficos revalorizados,
deram-lhe nova e mais vigorosa vida e lhe restituíram a hegemonia que há anos
representa em toda a vida brasileira.

 

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