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Oitava “Ode Pítica” de Píndaro
Humberto Zanardo Petrelli
Mestre em Filosofia pela USP
Píndaro (P…ndaroj) foi o mais brilhante poeta do século V a.C.. Nasceu numa província próxima a Tebas, provavelmente em 522 a.C., na pequena cidade de Cinoscéfalos, na Beócia. Era de família aristocrática e fez seus estudos em Atenas. Escreveu sua primeira Ode, a Sétima Pítica, com menos de vinte (20) anos de idade, para Alcmeônidas de Mégacles, em 486 a.C., segundo os estudiosos P. E. Easterling e B. M. W. Knox (1999) 226–7. Em vida, gozou de grande fama, a qual perdurou por toda a antigüidade. Ficou conhecido pelo epíteto de “príncipe dos poetas”. Porque sua notoriedade se espalhara por toda a Grécia, Píndaro tornou-se um poeta profissional itinerante. Entre outros, compôs por encomenda para Hieron I de Siracusa, em 478/467 a.C., Teron de Acragás, em 488/472 a.C., e Arcesilau IV de Cirene, em 462 a.C.. Morreu em Argos com quase oitenta (80) anos, por volta de 438 a.C..
Uma coletânea organizada por eruditos alexandrinos lista um total de dezessete (17) livros de Píndaro, entre hinos, peãos, ditirambos, prosódions, partenions, hiporquemas, encômios, trenos e epinícios. Chegaram a nós quarenta e cinco (45) epinícios
, divididos em quatro livros: Olímpicas, Píticas, Neméias e Ístmicas. A ode mais antiga data de 498 a.C., e a mais recente de 446 a.C..
Píndaro escreveu basicamente no dialeto dórico, porém, também fez uso dos dialetos homérico e eólico. Por isso, sua escrita distancia-se um pouco da linguagem falada. Seu estilo elevado e grandioso descreve os mitos com fantasia e muita originalidade. Embora tenha composto vários tipos de poesia lírica, sua fama advém principalmente dos epinícios, sempre compostos por ele por encomenda.
Os epinícios são odes corais em honra aos vencedores de jogos atléticos, como a corrida, luta, arremesso de pesos, corrida de cavalos, etc.. Eram acompanhados em geral pela cítara e pelo aulos e possuíam uma extensão bem maior que as composições da lírica monódica. Segundo a tradição alexandrina, o epinício foi “inventado” por Simônides, de Ceos, mas a modalidade foi cultivada principalmente por Baquílides e Píndaro. A estrutura formal de um epinício obedece a seguinte ordem: (a) invocação dirigida a uma divindade ou à cidade do vencedor; (b) elogio do vencedor; (c) relato mítico relacionado com a família ou com a cidade do vencedor; ou, ainda, com a festa em que se comemorava a sua vitória; (d) comentários e conselhos morais, freqüentemente inspirados no mito.
Assim como a poesia épica, a poesia lírica não utilizava a rima, e o metro baseava-se em seqüências padronizadas de sílabas longas e breves. A estrutura métrica do poema lírico era muito variável. Os ‘pés’ ou grupos de sílabas, com suas respectivas representações, mais utilizados eram:
dáctilo: (longa-breve-breve)
espondeu: — — (longa-longa)
iambo: (breve-longa)
troqueu: (longa-breve)
ritmo guerreiro: (breve-breve-longa)
epitrito: (longa-breve-longa-longa)
Os versos dos epinícios eram construídos habitualmente com três estrofes de metros complexos e muito variáveis. O mais utilizado por Píndaro era o epitrito combinado com um dáctilo.
O livro das Odes Píticas (ΠΥΘΙΟΝΙΚΩΝ) contém doze (12) odes triunfais organizadas em ordem não cronológica. Com exceção da Ode Pítica II, as demais foram dedicadas a vitórias obtidas nos Jogos Píticos. Estes jogos, celebrado em Delfos em honra ao deus Apolo, ocorriam a cada quatro anos no terceiro ano após as Olimpíadas.
A Pítica VIII apresenta 100 versos e recomenda humildade ao jovem e bem sucedido vencedor, citando os exemplos do gigante Porfírio, vencido por Apolo, e de Tifon, vencido por Zeus. É dedicada a Aristomeno de Egina, lutador (446 a.C.).
Píndaro foi muito lido e estudado ao longo da história, da antigüidade clássica à era bizantina, do renascimento aos dias presentes. Para esta revista preparei a tradução da Pítica VIII, que homenageia Aristomeno, jovem lutador egino vitorioso nos Jogos Píticos.
Esta Pítica foi composta provavelmente em 446 a.C., quando Píndaro passava dos setenta (70) anos de idade. A ode se inicia com uma invocação à Serenidade (Paz, Concórdia), nos versos 1 a 5. A Serenidade é quem sabe proporcionar o júbilo, mas quando provocada se torna uma formidável adversária, como Porfírio e Tifon puderam experimentar (6–20). A ilha de Egina é celebrada pelos heróis e pelos homens (21–28). No entanto, o poeta se recusa a detalhar mais os acontecimentos (29–32). Depois disso, Píndaro louva Aristomeno, que, por imitação do sucesso de seus tios no atletismo, merece que Anfiarao profetize como os Epígonos combateram anteriormente em Tebas (32–34). Os filhos também carregam as determinações paternas que, como no caso do próprio filho Alcmeon, Anfiarao prediz que Adrasto sairia vitorioso, mas perderia seu filho (43–55). Alcmeon é louvado por profetizar ao poeta sobre seu caminho para Delfos (56–60). Píndaro menciona a vitória de Aristomeno nos festivais em Pito e Egina, em honra a Apolo, e suplica aos deuses que continuem em seu favor (61–72). Se os homens adquirem sucesso sem grandes esforços, muitos vão pensar que eles são sábios, mas o que os deuses determinam é o que prevalece (73–77). Depois de listar as vitórias de Aristomeno em Megara, Maratona e Egina, o poeta como que desenha o triste retorno para casa dos quatro oponentes que foram vencidos em Delfos (78–87). Ao contrário deles, o vitorioso é enobrecido e anseia altas aspirações (88–92). Mas o jogo é transitório e a existência humana é efêmera. Contudo, quando os deuses nos reservam os grandes sucessos, a vida é doce (93–97). Finalmente, o poema termina com uma súplica a Zeus e ao rei Eaco para preservar Egina livre (98–100). Para esta tradução foi utilizado o texto estabelecido por Bowra (1935).
Bibliografia
• Bowra, C.M. Pindari Carmina, cvm fragmentis, recognovit breviqve adnotatione critica instrvxit, Oxonii, Typographeo Clarendoniano, 1935.
• Easterling, P.E. & Knox, B.M.W. The Cambridge History of Classical Literature, Greek Literature I, Cambridge, Cambridge University Press, 1999.
• Puech, A. Pindare: texte établi et traduit, t. 1. Olympiques – t. 2. Pythiques – t. 3. Néméennes. – t. 4. Isthmiques et fragments
, Paris, Société d’Edition “Les Belles Lettres”, 1922
-1931.
Píndaro – Oitava Pítica |
Para Aristomeno de Egina, vencedor na luta. |
Serenidade, filha benévola da Justiça, |
que engrandece a cidade, |
tu, que tens as chaves supremas |
dos conselhos e das guerras, |
acolhe esta honra ao vitorioso Pítico, Aristomeno. |
Tu sabes o momento exato de proporcionar o contentamento |
e de, do mesmo modo, recebê-lo. |
Tu, quando alguém introduz em teu coração |
o amargo ressentimento, |
vais rude contra os inimigos, |
colocando o poder da |
intemperança no fundo do mar. Nem Porfírio escapou, |
à margem de seu interesse, ao te provocar. O ganho mais alto é |
consentido se alguém o traz de casa. |
A força, com o tempo, abate o arrogante. |
Tifon, o Cilício de cem cabeças, não a evitou, |
nem, na verdade, o rei dos Gigantes, domados pelo raio |
e pelas flechas de Apolo, o qual com a mente bem disposta |
recebeu, vindo de Cirra, o filho |
coroado de Xenarques, com louro do Parnaso e coro Dórico. |
Ela não é indiferente às Graças, |
esta ilha que tange a cidade justa |
e conheceu as famosas |
virtudes dos Eácidas. Desde a origem tem |
sua reputação perfeita. Aos muitos canta, |
tendo nutrido heróis em lutas vitoriosas e na rapidez |
eminentes nos combates. |
Entre os homens ela também brilha. |
Estou sem tempo de dispor |
todo o longo falatório |
na lira e em linguagem doce, |
pois o tédio vindo incomoda. Que minha dívida para ti |
venha correndo, ó rapaz, dentre as mais recentes belezas, |
devido ao meu engenho alado. |
Nas lutas triunfantes, no rastro de teus tios maternos, |
não desonres Teogneto, prêmio em Olímpia, |
nem a vitória da vigorosa musculatura de Clitômaco, no Istmo. |
Abrilhantando a família Midílida, levas o discurso, |
que certa vez a criança de Ecles, na Tebas de sete portas, vendo os filhos, |
pronunciou enigmas, mantendo-se em pé, ao lado de sua lança, |
quando os Epígonos partiram de Argos |
na segunda expedição. |
O Ecleida pronunciou aos combatentes: |
“Por natureza a bravura inata dos ancestrais |
brilha sobre os filhos. Vejo com clareza |
Alcmeon agitando o dragão listrado sobre seu escudo luzente, |
primeiro nas portas de Cadmo. |
Adrasto, o herói, cansado do sofrimento anterior |
agora é surpreendido |
por um anúncio de uma ave |
de bom agouro. Mas o contrário se |
fará em seu lar. No exército dos dânaos, só |
ele recolhe os ossos do filho morto, pela sorte dos deuses |
ele chegará com a armada intacta |
entre as ruas largas de Abas”. Tais coisas |
pronunciou Anfiarao. Com igual encanto |
eu lanço coroas em Alcmeon, irrigando com meu hino, |
porque meu vizinho é guarda de meus pertences |
e veio ao meu encontro quando eu ia ao umbigo da terra muito celebrado, |
e tocou-me nas artes adivinhatórias, inatas à sua família. |
E tu, lança-dardos, que a todos acolhe |
governando na famosa ilha |
nos vales de Pito, |
lá concedes em dar as maiores |
jóias. E, em tua casa, antes, conduziste o almejado prêmio |
do pentatlo, com as vossas festas. |
Ó soberano, de bom grado suplico ao pensamento |
detectar alguma harmonia |
quando eu discorro sobre cada coisa. |
A Justiça está ao lado da Dança e |
da doce melodia. Aos deuses rogo a proteção |
imortal, ó Xenarques, pelas vossas sortes. |
Se alguém adquire bens sem grande fadiga, |
a maioria cogita: parece um sábio quem, entre néscios, |
prover a vida com retos conselhos para maquinar. |
Mas essas coisas não cabem aos homens. Um nume decide: |
ora um lançando para cima, ora outro, sob o peso das mãos, |
derrubando, na medida”. Tens os prêmios em Megara |
e no vale em Maratona, na competição nacional de Hera, |
com três vitórias, ó Aristomeno, tendo vencido com este feito. |
Caíste por cima de quatro |
corpos, com maus pensamentos, |
e para eles nem o retorno igualmente |
agradável é decidido em Pito, |
nem impele riso doce de alegria tendo voltado |
para a mãe. Junto nos becos agachados, |
alheios aos inimigos, feridos pela desgraça. |
Aquele que obtém algum sucesso recente, |
magnânimo voa a partir de sua |
grande esperança |
nas asas da satisfação, tendo |
maior interesse que a riqueza. Em breve instante |
o prazer dos mortais aumenta. E, assim, cai por terra, |
pelo conhecimento adverso abalado. |
Efêmeros! O que é alguém? O que não é alguém? Sonho de uma sombra: |
o homem. Mas quando o brilho do dote divino vem, |
a luz radiante sobrepaira nos homens e a vida se torna doce como mel. |
Egina, mãe querida, conduz o livre curso |
desta cidade, com Zeus, com o forte Eaco, |
com Peleu, com o audaz Telamon, e com Aquiles. |
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