Manuel Bengala – Contos Infantis de Anões e Gigantes

Manuel Bengala

Um casal de pobres lenhadores não tinha filhos. Esta-vam já envelhecendo e não teriam quem os sustentasse quando não pudessem mais trabalhar. Viviam, por isso, muito tristes. Mas tanto rezaram que Deus teve pena deles e resolveu dar-lhes um filho. Nasceu então uma criança que recebeu o nome de Manuel. Era um menino forte e sadio. Em pouco tempo, cresceu tanto que, ao completar um mês de idade, já era do tamanho do pai. Quando fez quinze anos, Manuel era o homem mais alto e robusto da sua terra. Sua força era tão grande que êle arrancava árvores com uma só mão.

Manuel tinha um apetite formidável. Comia sozinho um boi inteiro. Seus pais viram logo que não tinham recursos para sustentá-lo. Resolveu então o rapaz sair pelo mundo para arranjar emprego. Pediu apenas aos pais que lhe dessem uma enorme bengala de ferro, uma foice e um machado. Logo que esses objetos ficaram prontos, Manuel pediu a bênção dos pais e partiu.

Depois de longa viagem, chegou à casa de um fazendeiro a quem pediu emprego. O fazendeiro aceitou os seus

serviços e deu-lhe a incumbência de fazer uma roça. O rapaz, com três foiçadas, deitou abaixo todas as matas da fazenda. O fazendeiro ficou muito assustado e disse-lhe que, depois do jantar, não precisaria mais dos seus serviços. Na hora do jantar, Manuel recusou-se a comer, dizendo que o que estava na mesa não chegava nem para o buraco de um dente. Pediu então ao fazendeiro que, para aliviar sua fome, mandasse dar-lhe um boi e três sacos de farinha. E claro que o seu pedido foi atentido. O rapaz devorou tudo num instante. O fazendeiro ficou apavorado e rogou-lhe que deixasse a sua fazenda.

Partiu então Manuel à procura de emprego. Depois de muito caminhar, encontrou o palácio de um rei. Entrou e pediu trabalho. Perguntou-lhe o rei o que sabia fazer. O rapaz disse que era capaz de fazer tudo o que o rei lhe ordenasse. Para experimentá-lo, o rei mandou-o caçar seis leões, que viviam numa floresta próxima e que já tinham devorado muitas pessoas. Manuel pediu um carro com três juntas de bois. Passou seis dias nas matas em que se achavam as feras. Cada dia, matava um boi para comer e prendia um leão, que amansava e atrelava ao carro. Depois que prendeu os seis leões, encheu o carro com enormes troncos de árvores e tocou para a cidade. A admiração foi geral quando o rapaz entrou na cidade com o carro puxado por seis leões.

Quando parou diante do palácio, o rei quase desmaiou de susto ao ver a cena. Deu ordens aos seus soldados para matar os leões e expulsar Manuel do reino. Este ficou indignado e por um triz não destruiu a cidade com a sua bengala de ferro. Mas como era um bom rapaz teve pena daquela gente e resolveu seguir viagem. Aborrecido, porém, por ver que ninguém queria aceitar seus serviços, decidiu que não teria mais patrão e só trabalharia por sua conta.

A admiração foi geral quando o rapaz entrou na cidade com o carro puxado por seis leões.
A admiração foi geral quando o rapaz entrou na cidade com o carro puxado por seis leões.

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Depois de muito andar, Manuel encontrou um rio muito largo. Procurou atravessá-lo, mas não conseguiu. Não havia nenhuma ponte. Nisto, viu, com espanto, um homem que acabava de atravessar o rio sem se molhar. — Como é que você pode atravessar o rio, sem se molhar ? perguntou ao homem. — Meu nome é Não-Se-Molha. Você está admirado de me ver passar por este riacho? Quanto mais se souber que acabo de atravessar o mar! — Quer viajar comigo? convidou Manuel. — Com muito prazer! res pondeu NãoSe Molha. — Pois então passe-me para a outra margem. Não-Se-Molha, num instante, carregou o rapaz para o outro lado do rio.

Os dois companheiros seguiram juntos. Mais adiante, encontraram um homem cortando cipó para fazer um laço.

Que faz aí, homem? Como se chama você? — Meu nome é Laça-Tudo. Estou fazendo um laço para pegar uma boiada que está a dez léguas daqui. Nada escapa ao meu laço, seja o que for. — Você é dos nossos! Quer vir em nossa companhia? perguntou-lhe Manuel. — Com muito prazer! Não gosto de viajar sozinho. E lá seguiram os três companheiros, conversando alegremente.

Ao cair da tarde, encontraram uma casa abandonada, no meio da floresta, e resolveram parar aí para descansar. Combinaram então que um deles iria arranjar comida para os três. O escolhido foi Não-Se-Molha. No caminho, êle encontrou um moleque, preto como carvão, de olhos cor de brasa, com uma carapuça vermelha na cabeça. O moleque pediu-lhe fogo para o cachimbo. Não-Se-Molha não quis dar e o moleque, para se vingar, meteu-lhe o cachimbo na cabeça com tanta força que o homem caiu, desmaiado, no chão.

Quando acordou, Não-Se-Molha não viu mais o moleque. Dirigiu-se então correndo para a casa, onde contou aos companheiros o que lhe havia acontecido. Laça-Tudo riu-se muito da fraqueza do outro, dizendo: — Você é um maricas! Não agüenta brigar com um molecote. Amanhã, quem vai sou eu. Hei de dar uma lição nesse pretinho atrevido. No dia seguinte, Laça-Tudo foi buscar a comida. Já tinha andado um bom pedaço, quando lhe surgiu pela frente o moleque da carapuça vermelha, que pediu fogo para o cachimbo. O rapaz não quis dar e a briga começou. No meio da luta,

o moleque deu còm o cachimbo uma formidável pancada na cabeça do rapaz, pondo-o por terra, sem sentidos. Quando Laça-Tudo voltou a si, correu para casa e, muito envergonhado, contou o que lhe havia sucedido.

Manuel deu boas gargalhadas ao saber o que acontecera a Laça-Tudo, e disse que o moleque teria de ajustar contas com êle. No dia seguinte, saiu à procura do audacioso pretinho. Desconfiava que êle fosse o Diabo disfarçado. Já estava longe de casa, quando encontrou o moleque. Este pediu-lhe fogo de maneira atrevida. Manuel deu-lhe um empurrão que o fêz cair de pernas para o ar. O moleque levantou-se furioso e avançou para o rapaz, empunhando o cachimbo. Travaram então uma luta medonha que durou mais de uma hora. Afinal, Manuel deu, com a bengala de ferro, uma pancada tão violenta na cabeça do moleque que este ficou tonto e a sua carapuça caiu no chão. Mais do que depressa, o rapaz a apanhou.

— Pelo amor de Deus, dê-me a minha carapuça! implorou o moleque de joelhos.

— Só darei a carapuça se me entregar as princesas que você tem em seu poder, respondeu Manuel.

— Não posso dar, porque não são minhas! disse o moleque.

— Vá para o inferno, negro amaldiçoado! exclamou o rapaz.

O moleque, que era mesmo o Diabo disfarçado, saiu correndo. Manuel saiu atrás dele. De repente, o negro entrou por um buraco aberto na terra, mas o rapaz o acompanhou. Chegaram a um palácio feito de ouro e pedras preciosas, onde havia muita gente trabalhando em enormes caldeiras fumegantes. Aí chegando o moleque pensou que o

rapaz estava amedrontado com o que via e pediu-lhe, de novo, a carapuça. Respondeu-lhe Manuel que só a entre-garia se ele lhe desse as três princesas que sabia estarem em seu poder. O Diabo não teve outro jeito senão entregar-lhe as lindas princesas que tinha aprisionado.

Agora, só lhe darei a carapuça se me puser lá fora, disse Manuel. O Diabo não quis atendê-lo, mas o rapaz meteu-lhe a bengala de ferro na cabeça, obrigando-o a cumprir sua ordem. Quando chegou lá fora, teve uma surpresa desagradável. As princesas, que tinham saído na sua frente, haviam sido roubadas por seus companheiros. Manuel não se afligiu, porém, com o sucedido. Havia recebido de cada princesa um lenço, para poder ser reconhecido. Além disso, êle sabia que, cedo ou tarde, descobriria o paradeiro dos fugitivos. Ficou apenas revoltado com a deslealdade dos companheiros.

Quando roubaram as princesas, Não-Se-Molha e Laça-Tudo souberam que elas eram filhas de um rei muito rico e poderoso. Armaram logo o plano de entregar as princesas ao rei e casar com as mesmas. Mas o reino em que elas viviam era situado do outro lado do mar. Laça-Tudo amarrou então as moças para não fugirem e subiram todos para as costas de Não-Se-Molha que os transportou através do mar. O rei ficou muito alegre com a chegada das filhas e encheu de presentes os dois traidores.

Manuel saiu à procura das princesas e encontrou o mar à sua frente. Ficou muito triste, pois não sabia nadar. Mas, durante a noite, sonhou que os lenços que havia recebido das princesas eram encantados e, se êle quisesse, eles o conduziriam ao palácio do rei. Acordou muito satisfeito, apanhou o primeiro lenço e disse:

— Voa, meu lenço, para o colo da tua dona. O lenço virou um pássaro e voou para onde estava a princesa. Quando esta o viu, lembrou-se do seu salvador e disse ao rei: — Meu pai, só me casarei com o dono deste lenço. Foi ele quem me salvou. Manuel fez o mesmo com o segundo lenço que foi cair no colo da outra princesa. Repetiu esta as palavras da irmã. Manuel pegou o terceiro lenço e disse: — Voa, meu lenço, leva-me contigo até o palácio da tua dona. Mal acabara de proferir essas palavras, achou-se no palácio.

As três princesas, ao vê-lo, correram para seu lado, apresentando-o ao pai como o seu verdadeiro salvador. Manuel desposou a mais linda das princesas e mandou vir seus pais para morar em sua companhia. Os dois companheiros infiéis foram surrados e depois expulsos do reino. As outras duas princesas casaram-se com dois primos de Manuel. E todos viveram felizes por muitos anos.


Fonte : Contos Maravilhosos – Theobaldo Miranda Santos, Cia Ed. Nacional
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