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Continued from: O ABSOLUTISMO NO OCIDENTE E NOVOS FATORES POLÍTICOS EUROPEUS

Liga de Augsburgo e devastação do Palatinado

Entre os que saíram contava-se Denis Papin, que foi o primeiro a empregar o vapor como força motriz. Com tal gente ia bastante do espírito progressivo da nação francesa dar impulso à atividade da sua rival do outro lado da Mancha, cuja ambição utilitária se desdobrava em ambição política e meditava ocupar o lugar de predomínio que a França conquistara. A Inglaterra não fora mais tolerante para com os católicos do que Luís XIV o estava sendo com os reformados, mas as conseqüências mesmo do martírio da Irlanda não foram idênticas porque se não deu igual saída de capacidades.

Também a indignação provocada pela revogação do édito de Nantes favoreceu a tarefa de Guilherme de Orange de organizar contra o rei de França a coalizão conhecida pela liga de Augsburgo (1686). Luís XIV decidiu atacá-la antes de ser atacado e tomou por pretexto reclamações de bens no Palatinado, onde não logrou sustentar-se, mas que em despique devastou de um modo que ficou proverbial. Cidades históricas foram arrasadas, pomares, vinhas e campos de semear ficaram destruídos e mais de 100 000 camponeses viram-se sem abrigo. Em 1689 Guilherme de Orange, já então sentado no trono britânico, transformou a liga na denominada Grande Aliança, abrangendo a Inglaterra, a Holanda, a Suécia, o Império, alguns dos príncipes alemães, a Espanha e a Sabóia. Era toda a Europa coligada contra a França, que a todas as outras nações dava motivos de ressentimento. 

A Europa contra a França – Luís XIV e os Stuarts

Gênova, destruída por ter preferido a proteção da Espanha, dava mostra do que estava sendo o jugo que pesava sobre a Europa. O próprio papa vira com fundo desagrado a proteção dispensada pelo rei às liberdades da Igreja galicana. E a corrução completava a obra da prepotência. As relações políticas entre Luís XIV e os Stuarts formam um capítulo vergonhoso da história, mais ainda para a dinastia inglesa. Carlos II por dinheiro cedia Dunkerque e, para poder satisfazer sua devassidão, prestava-se a receber uma pensão do rei de França, enfeudando-se aos seus projetos criminosos contra o direito das gentes e à sua intolerância católica, que Roma não aplaudia. Jaime II combinava com o cinismo do irmão a crueldade e a hipocrisia, nas palavras de Prévost-Paradol, e ambos desorganizaram o exército, recompensando as apostasias, e desmoralizaram a marinha, protegendo as concussões, pondo em almoeda as patentes e desonrando os navios de guerra com empregá-los no comércio de cabotagem.

Esse rei fugitivo foi por Luís XIV reconhecido como único legítimo e em seu apoio quis transplantar a guerra para a Irlanda e para a Inglaterra, sem contudo lograr seu intento. Durante oito anos viu-se a Europa porém transformada num vasto campo de batalha, ao passo que no mar os corsários franceses, nomeadamente Duguay Trouin e Jean Bart, procuravam não dar tréguas à marinha mercante britânica. O marechal de Luxemburgo, ao serviço da França, alcançou nos Países-Baixos notáveis vitórias, entre elas as de Fleurus (1690) e de Neerwinden (1693), e o marechal de Catinat não lhe ficou atrás em sucessos militares, praticamente anulados pelo esgotamento do tesouro francês, juntando-se ao cansaço de todos os beligerantes e à falta geral de recursos.

A paz de Ryswick

A paz de Ryswick (1697) foi uma capitulação recíproca, operando pela cessão das conquistas realizadas durante a campanha e até, por parte da França, de praças tomadas antes da guerra. A França apenas lucrou parte de São Domingos, nas Antilhas — o que hoje constitui o Haiti —, e a confirmação de Estrasburgo. Ao duque de Lorena foi restituído o seu ducado, ao duque de Sabóia os seus Estados e o papa ficou satisfeito com o repúdio das liberdades gali-canas.

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