- Os Stuart e o trono inglês
- Jaime I e o direito divino.
- O Grande Protesto
- Carlos I e a petição de direitos
- O absolutismo real
- A resistência parlamentar
- A guerra civil
- Cromwell e seus "ironsides"
- Expurgação do Parlamento - Condenação de Carlos I
- A Commonwealth e as rebeliões
- Crueldade puritana na Irlanda
- A Escócia. Vicissitudes parlamentares
- O governo militar. O protetor.
- Caráter transitório do regime
- Ricardo Cromwell e a situação
- Rstauração dos Stuarts
- Carlos II e a reação
- O espírito puritano
- Guilherme de Orange e a Declaração dos direitos
- A lei de estabelecimento. A sucessão.
- A rainha Ana - b>Os sucessos da Holanda
- O partido whig.
- Luís XIV e o sistema absoluto.
- Rei Sol
- Últimas oposições à monarquia. Nobreza, povo e parlamento
- O ministério de Mazarino
- A Fronda
- Morte do cardeal. Colbert e Louvois
- Guerras de Luís XIV - A paz dos Pireneus
- A paz de Aquisgrão
- A paz de Aquisgrão
- A paz de Nimègue
- Estrasburgo e a guerra do Palatinado
- Revogação do édito de Nantes
- Liga de Augsburgo e devastação do Palatinado
- A Europa contra a França - Luís XIV e os Stuarts
- A paz de Ryswick
- A guerra de sucessão da Espanha
- A paz e os Tratados de Utrecht e Rastadt. Suas conseqüências
- Epílogo do longo reinado. Fausto e miséria.
- Atrocidade e fome.
- Os Jesuítas e o jansenismo
- Pascal. Pregadores clássicos e moralistas
- O espírito francês - A pintura francesa
- A situação da Rússia no fim do século XVI
- Pedro Magno e sua obra
- Clero e nobreza
- Luta com Carlos XII da Suécia
- A Prússia e os Hohenzollern
- Aumentos territoriais
- O reino da Prússia
- Quebra da unidade européia. O direito internacional e a defeituosa organização política • social
A guerra de sucessão da Espanha
A última e talvez a mais importante das guerras em que se achou envolvido Luís XIV foi a da sucessão da Espanha, causada pela morte sem descendentes do último dos Habsburgos, Carlos II. Os pretendentes eram três, todos com títulos de família: o duque d’Anjou, neto de Luís XIV, o arquiduque Carlos d’Austria e o filho do eleitor da Baviera. Ao primeiro foi legada a coroa pelo último testamento, redigido, como é fácil imaginar, a meio das maiores intrigas, e de íato veio êle a ser Filipe V da Espanha.
O perigo da ampliação do poderio francês, expresso na frase atribuída a Luís XIV — desapareceram os Pireneus — e acentuado pela conservação dos direitos do duque d’Anjou à coroa de França, bastou para reconstituir a coligação européia, com a substituição da Suécia por Portugal, onde reinava D. João V, de faustuosa memória. O candidato da coligação era o austríaco, íilho segundo do imperador Leopoldo I, e a guerra, uma guerra puramente dinástica, durou treze anos, generalizando-se as operações militares iniciadas em 1701, ao ponto de comportarem as penínsulas itálica e hispânica, os Paí-ses-Baixos, a Flandres francesa e a Alemanha, e abrangendo as navais o Atlântico e o Mediterrâneo.
Os aliados dispuseram de duas excelentes espadas, o duque de Marlborough e o príncipe Eugênio da Sabóia, vencedor o primeiro das batalhas de Blenheim e de Malplaquet (1709). Entre os sucessos mais afortunados da guerra conta-se a entrada em Madrid, em 170Q, das forças portuguesas do marquês das Minas, que ali proclamaram rei o arquiduque, expulso no ano imediato pelo exército francês comandado pelo duque de Berwick, vencedor do anglo-luso em Almanza.
A paz e os Tratados de Utrecht e Rastadt. Suas conseqüências
A acessão em 1711 do arquiduque Carlos à dignidade imperial mudou inteiramente o aspecto da questão pela ameaça de romper-se o equilíbrio europeu em tavor da Áustria, reaparecendo um novo Carlos V. Aliás a França estava exausta e Luís XIV, dantes tão soberbo que chegara a atribuir aos mercadores franceses o monopólio do comércio da América Espanhola, descera à humilhação de propor aos aliados a abdicação do neto e o abandono da Alsácia. Salvou-o a vitória de Villars em Denain em 1712, quando já a coligação ameaçava dissolver-se pela cessação do perigo maior. A Inglaterra e a Holanda foram as primeiras a retirar-se, resolvendo-se as conseqüências da guerra nos Tratados de Utrecht (1713) e de Rastadt (1714).
Filipe V foi reconhecido sob condição de nunca poder assumir ao mesmo tempo a coroa de França, mas a Espanha foi a vítima principal da guerra pelos esbulhos territoriais que sofreu, agravando sua decadência econômica e excluindo-a do rol das grandes potên cias. A nação que mais lucrou foi a Áustria, que continuara a pele jar no Reno por algum tempo depois dos primeiros ajustes de paz. O imperador Carlos VI teve a dita de receber a suserania dos Paí ses-Baixos espanhóis, da Lombardia, dos presídios da Toscana, ou Nápoles e da Sardenha. O novo engrandecimento da Casa dos Ham burgos foi concebido no espírito de equilibrar a expansão da Caca dos Bourbons.
Outro soberano a lucrar foi o da Sabóia, convertido em rei com uma parte do Milanês e a Sicília, que trocou pela Sardenha. O novo reino fechava o caminho da Itália à França, mas em compensação via a Áustria fixar-se na península. Na Alemanha o poderio austríaco era contudo minguado pelo reconhecimento do reino da Prússia, com a incorporação da Alta Gueldre. O verdadeiro regulador do equilíbrio europeu passava porém a ser a Inglaterra, que à Espanha tomava Gibraltar e Minorca, uma das Baleares, e à França a Nova Escócia (Acádia), a Terra Nova e a baía de Hudson, pondo cerco ao Canadá. Com este aumento do império colonial britânico coincidia o abatimento político, financeiro e moral da França, a qual, apesar das vitórias de Duquesne sobre as esquadras espanhola e holandesa na guerra de 1672 — em que morreu o almirante de Ruy-ter —, viu transferido à Inglaterra o próprio senhorio do Mediterrâneo.
Portugal também ganhou em Utrecht o ver reconhecidos no Amazonas seus direitos ao verdadeiro Oiapoc, com a região que ao Brasil seria finalmente adjudicada pelo laudo arbitral do Conselho Federal suíço de 1900. A Inglaterra não se mostrara muito pressurosa em defender os interesses do seu aliado português, que encontrou porém para protegê-los o tato e o saber dos plenipotenciários conde de Tarouca e D. Luís da Cunha, este último o mais consumado diplomata do seu século.
Todas essas guerras cifravam-se pois em redistribuições de territórios e transferências de poderio. Perdia esta nação e ganhava aquela outra em prestígio: a humanidade pouco ou nada lucrava com a encenação. O jogo político ocorria entre as câmaras reais e os gabinetes dos validos, quando não descia até as alcovas das favoritas, e os povos não passavam de cartas do baralho. logava trunfos quem tivesse forças aguerridas e ouro nas arcas.
Epílogo do longo reinado. Fausto e miséria.
O epílogo do reinado de Luís XIV foi melancólico e sob alguns aspectos até sinistro. O esplendor da sua corte solene, faustuosa e imoral, em que as amantes do rei Mlle. de La Vallière, Mme. de Montespan, Mme. de Maintenon, esta acabando por ser esposa clandestina — gozavam de mais prestígio e autoridade do que a própria rainha e do que os ministros, foi empanado pela miséria do povo, sobrecarregado de impostos e atormentado pela fome. Não se fazem tantas guerras sem gente e sem dinheiro. Fora mister estabelecer a capitação, o dízimo sobre todas as rendas, outros impostos mais. Também as revoltas contra Luís XIV fizeram-se mais freqüentes ainda do que as guerras por êle travadas e sempre por motivo da imposição de taxas impopulares.
Atrocidade e fome.
A repressão foi sem variar crudelíssima, tanto a exercida contra os rebeldes quanto contra os heréticos, aos quais a lei até recusava os socorros médicos. Narra o historiador francês Driault que na Bretanha viram-se soldados assarem crianças no espeto para tortura dos pais, e Mme. de Sevigné, que tantas e tão interessantes cartas deixou, escrevia que militares desses, bem precisavam a forca. Nos últimos anos do reinado a ícàia. de alimentos era tal que bandos de populares se agarravam às grades do palácio de Versalhes bradando por pão e que em todo o país se passaram cenas terríveis.
Dentro do maravilhoso edifício, de uma tão majestosa e sóbria arquitetura e que, juntamente com o palácio dos Inválidos, traz estampado o cunho artístico da sua época, cenas se passavam igualmente de tristeza. A morte arrebatava o Grande Delfim, aquele Jovem Telêmaco que Fénélon (1651-1712) preparara para um governo grave e brando, os dois filhos também desse Delfim, passando a figurar de herdeiro uma criança de cinco anos, bisneto do Rei Sol, que assistia ao seu próprio ocaso e cujo corpo foi levado para a basílica de São Dinis entre exclamações de júbilo.