ORAÇÃO DE CÍCERO AO POVO ROMANO DEPOIS QUE VOLTOU DO DESTERRO

ORAÇÃO AO POVO ROMANO DEPOIS QUE VOLTOU DO DESTERRO

Apresentação

Desterrado por lei de Cláudio, sendo cônsules L. C. Pisão e A. Gabínio, Cícero ficou no exílio pelo de amigos e principalmente de Cn. Pompeu, sendo côn-espaço de 16 meses. Restituído em Roma, a instância sules P. Lêntulo e Q. Metelo, pronunciou a oração que segue, na qual agradece não somente o ter recuperado o que era seu, a sua pátria, a sua família, os seus amigos, os seus haveres, mas o lhe ter sido devolvido tudo isso com tanta honra, pois, antes dele, nenhum desterrado foi chamado à pátria por autoridade do Senado. 

 

ORAÇÃO DE M. T. CÍCERO AO POVO ROMANO DEPOIS QUE VOLTOU DO SEU DESTERRO

AQUELA mercê, romanos, que a Júpiter Opt. Max. e aos mais deuses imortais tenho pedido, desde quando me dediquei, a mim e os meus interesses, à vossa conservação, utilidade e concórdia, e por vontade me sujeitei à perpétua pena, antes de que antepor coisa alguma minha ao vosso bem; e se em tudo o mais que obrei nos tempos passados, não tive outro fim se não o estabelecimento desta Corte; e empreendi a minha jornada por utilidade vossa, para que o ódio que homens perversos havia muito tinham concebido contra a República e contra todos os bons, se voltasse todo contra mim, contanto que ficassem salvos todos os homens beneméritos e toda a República. Se este foi o meu ânimo para convosco e vossos filhos, e assim vós como os Padres Conscritos e toda a Itália se deixaram possuir da lembrança, compaixão e saudade de mim, extremosamente me alegro, romanos, que em mim reconheça este obséquio o juízo dos deuses imortais, o testemunho do Senado, o consenso da Itália, a confissão dos inimigos e o vosso divino benefício. Ainda que para o homem não haja coisa mais estimável que uma próspera, igual e perpétua fortuna, onde não se encontre coisa que embarace um feliz progresso da vida, contudo, se para mim nunca tivesse havido senão sossego e bonança, não teria o incrível e quasi divino prazer de que agora participo por benignidade vossa. Que coisa mais gostosa concedeu a natureza aos homens do que para cada um seus filhos? de mim confesso que tanto pela minha complacência como pelo gênio deles excelente, os amo mais que a vida; mas ainda assim não foi tanto o prazer por me serem dados, como agora, que me são restituídos. Ninguém teve jamais coisa que tanto lhe agradasse como a mim meu irmão; mas este bem não conhecia eu tanto na sua posse como na sua falta, e depois que vós nos restituístes mutuamente um a outro. A todos é de prazer a posse de seus haveres domésticos; e todos os outros meus interesses me causam agora maior consolação recuperados, do que antes de perdidos. As amizades, os congressos, as alianças, as sociedades, enfim os jogos e dias festivos, então conheci melhor quanto eram aprazíveis, quando me vi sem eles. Pois já quanto às honras, crédito, graduações, cargos e benefícios vossos, agora renovados me parecem mais ilustres do que se nunca tivessem sido escurecidos. Quanto à pátria, bons deuses, que coisa mais amável e deliciosa que a formosura da Itália, que o plausível dos campos e dos frutos, que a beleza de Roma, que a polícia dos cidadãos, que a nobreza da República, que a vossa majestade! Do que tudo ninguém se gosava mais do que eu. Mas, assim como a boa saúde é mais gostosa aos que convalescem de uma doença grave do que aos que nunca a tiveram, assim tudo isto me deleita muito mais desejado do que se fora continuamente possuido.

2. Mas para que disputar eu esta matéria? Para que? Para que vos capaciteis não haver eloquência tão sublime, nem orador de estilo tão divino e estupendo que possa não digo eu amplificar ou exor-nar, mas nem ainda simplesmente referir e compreender os grandiosos e multiplicados benefícios com que me enriquecestes a mim, a meu irmão e a nossos filhos. Meus pais, como ero forçoso, me geraram pequeno; de vós nasci senador. Aqueles me deram meu irmão, sem saberem qual havia ser depois; vós conhecendo muito bem a sua incrível piedade, mo restuiste. Entrei na República em uns tempos tais que quasi estava destruída; vós me restituístes a ela, quando todos a julgavam conservada pela diligência de um só homem. Os deuses imortais me deram os filhos, vós mos restituístes; muitos outros benefícios consegui dos deuses eternos; se não fosse vontade vossa, careceria de todos eles. Enfim, as vossas honras, a que fui subindo por sua ordem, agora as tenho todas de vós, de sorte que quanto dos pais, dos deuses e de vós mesmos tenho recebido, tudo ao presente devo inteiramente ao povo romano. Tão grandiosa é esta mercê que me faltam termos com que a exprimir; e tão afectuoso o ânimo, que me mostrastes com vossos obséquios, que parece não só me livraste da ruína, mas aumentastes o crédito.

3. Não foi a minha tornada como a de P. Popílo, homem de distinta nobreza, por quem intercederam seus filhos mancebos e muitos outros parentes; nem como a de Q. Metelo, varão esclarecido, por quem rogou L. Diademato, seu filho, de idade maior, e senador de suma autoridade; nem como a de Q. Metelo, censor, pelo qual entercederam seus filhos Q. Metelo Népote, que então pedia o consulado, seus sobrinhos, os Luculos, Servílios e CipiÕes; muitos Metelos ou filhos das Metelas que vós rogaram a vós e a vossos pais para que voltasse Q. Metelo; de sorte que, ainda que o seu exímio merecimento e sua3 insígnias proezas não fossem suficientes para conseguir esta mercê, bastava a piedade do filho, os rogos dos parentes, o luto dos moços, as lágrimas dos velhos para enternecerem o povo romano. Quanto a C. Mário, que depois dos antigos consulares (segundo a vossa lembrança e a de vossos pais) foi o terceiro consular antes de mim, a quem coube uma fortuna sumamente indevida à sua glória eminente, houve grande diferença a respeito do presente caso, porque Mário não voltou porque alguém o pedisse, mas na discórdia dos cidadãos se restituiu com armas e exército; mas por mim, destituído de parentes e socorro de aliados, só intercedeu a divina e inaudita autoridade e valor de C. Pisão, meu genro, e as lágrimas e pranto contínuo de meu bom e infeliz irmão; um só irmão houve que posto na vossa presença, coberto de lágrimas, com elas vos enternecesse e renovasse as saudades de mim, o qual estava resolvido, romanos, no caso que me não restituísseis a eles, correr a mesma fortuna que a minha, e cujo amor para comigo foi tal que dizia não ser possível estar sem mim, não só na mesma casa, mas nem na mesma sepultura. Por me verem presente, se vestiram de gala o Senado c outras quasi vinte mil pessoas; na minha ausência vistes o luto e desalinho de uma só pessoa. Este so que em casa e no foro pela piedade pode ser meu filho, foi o único que se houve nos benefícios como pai, e no amor o mesmo irmão que sempre foi. Poií quanto ao luto e pranto da coitada mulher, e a perpétua tristeza da inocente filha, e as saudades e lágrimas pueris do filhinho, tudo ocultava a distância em que estavam, e seu encerramento doméstico.

4. Mas isto mesmo exalta a vossa beneficiência para comigo, pois não me restituís à minha parentela, mas a mim mesmo. Porém, assim como me faltaram parentes que não pude agregar para me livrarem da desgraça, assim também, o que foi fruto do meu merecimento, tantos favorecedores advogados e intercessores tive para ser restituído, que a todos os antecessores vim a exceder muito nesta prerrogativa e abundância. Nunca de P. Pompílio, homem de singular nobreza e virtude, nem de Q. Mételo, nobilíssimo e constantíssimo cidadão, nem de C. Mário, coluna desta vossa corte e Império, se fez menção no Senado. Todos estes antepassados foram restituídos a rogo dos tribunais, sem intervenção do Senado; e Mário não só sem autoridade do Senado, mas oprimido o Senado; nem a C. Mário lhe valeram, para voltar, as suas façanhas, mas as tropas e armas. A mim, porém, sempre o Senado requereu que valessem; e enfim concluiu que assim se executasse, tanto que pôde, com o seu concurso e autoridade; nenhum abalo houve nos municípios e colónias na tornada daqueles, mas a mim três vezes me chamou para a pátria toda a Itália. Aqueles foram restituídos com destroços de seus inimigos e mortandade de cidadãos; e eu, estando no governo das províncias os que me desterraram, tendo por inimigo um homem de suma probidade e mansidão, e fazendo a proposta o outro cônsul; e isto no mesmo tempo em que aquele meu contrário, que dera sua palavra aos inimigos comuns, só vivia porque respirava, estando na realidade na pior condição que todos os mortos.

5. Nunca por P. Popílio, cônsul integerrimo, houve depreciações do Senado, nem do povo; nem por Q. Metelo intercedeu não só Mário, que era inimigo, mas nem aquele M. Antonio, que o seguiu, homem eloquentíssimo, tendo por colega a A. Albino; mas por mim sempre se requereu aos cônsules passados, que o faziam por amisade, por ser um deles meu parente, e ter eu advogado pelo outro em uma causa capital; e, embaraçados com os ajustes das províncias, em todo aquele ano sofreram as queixas do Senado, os lamentos dos bons e os gemidos da Itália. No primeiro de Janeiro, depois que a República orfã implorou o amparo do cônsul, como seu legítimo tutor, P. Lêntulo, cônsul, o pai, o deus, a salvação da minha vida, fortuna, memória e nome, tanío que propôs se fizessem as solenidades da religião, julgou que de nenhuma coisa humana se devia tratar primeiro que de mim. E naquele dia se concluiria este negócio se aquele tribuno do povo, a quem eu honrei com os maiores benefícios, sendo ele questor e eu cônsul, rogado de toda esta Ordem e de muitas pessoas de suma autoridade, e de Cn. Opímio, seu sogro, lançado a seus pés com as lágrimas nos olhos, não pedisse uma noite para deliberar, cuja deliberação consistiu não em restituir as peitas que recebera mas em havê-las maiores. Depois disto nada mais se fez no Senado; e, como ocorressem várias razões de embaraço, se devolveu a vós a causa, com inteira vontade do Senado, no mês de Janeiro. Esta só diferença houve entre mim e meus inimigos; que eu, vendo que no Foro Aurélio se alistavam publicamente homens, e se formavam centúrias, conhecendo que as tropas veteranas tinham sido chamadas por receio da mortandade de Catilina, vendo que sujeitos daquele partido, onde eu era tido um dos principais, uns por inveja, outros por temor, ou me entregavam ou me desamparavam; quando dois cônsules, com o ajuste de lhe darem as províncias, se fizeram patronos dos inimigos da República; quando viam que não podiam saciar a sua penúria, ambição e lascidão entregam do-me preso aos inimigos domésticos; quando se proibia ao Senado e cavaleiros romanos chorar por mim, e com trajes mudados suplicar-vos com éditos e recomendações; quando todos os ajustes das províncias, todos os contratos, todas as reconciliações de amizades se firmaram com o meu sangue; quando todos os bons não tinham dúvidas de padecer por mim, ou comigo, não quis defender a minha vida com armas, entendendo que tanto o vencer como o ser vencido era calamitoso à República. Mas meus inimigos, tratando-se de mim no mês de Janeiro, foram de parecer que, com corpos de cidadãos despedaçados e um rio de sangue, se devia impedir a minha tornada.

6. Por onde na minha ausência, tal foi a República que tínheis, que entendestes que tanto ela como eu se deviam restituir; mas eu em uma cidade, em que nada valia o Senado, reinava a insolência, não havia juizos, vagavam pelo foro a violência e armas; quando os particulares se defendiam com o abrigo de suas paredes, não das leis; quando os tribunos do povo à vossa vista eram maltratados, e se corria às casas dos magistrados com armas e archotes; quando as faixas consulares eram despedaçadas, e os templos dos deuses abrasados, dei por extinta a República; e exterminada ela deste modo, julguei não ter eu lugar nesta Corte, e que no caso que ela fosse restituída, me restituiria também comigo. Porventura tendo eu por certíssimo que P. Lêntulo havia ser cônsul no ano próximo, que naqueles mesmos perigosíssimos tempos da República era edil curul, sendo eu cônsul, foi participante de todos meus projetos, e companheiro de todos os perigos, duvidaria, digo, que este vendo-me ferido com golpes consulares, me havia também de curar com remédio consular? Sendo este o capitão, e seu colega homem de suma clemência, primeiro não contrariando, depois também ajudando, quasi todos os magistrados foram defensores da minha vida; entre os quais T. Ânio e P. Sextio, homens de excelente coração, valor, autoridade, préstimo e posses, se distinguiram em manifestai para comigo uma insigne benevolência e soberano afeto. Sendo relator o mesmo P. Lêntulo. e propon-do-o igualmente seu colega em um numerosíssimo Senado, discrepando um só, não se opondo ninguém, elogiou o meu merecimento com as expressões mais honrosas que lhe foi possível, recomendando a todas as colónias e municípios a minha conservação. Por onde, estando eu destituído de parentes e sem algum auxílio de parentela, os cônsules, os pretores, os tribunos do povo, o Senado e toda a Itália intercederam sempre por mim para convosco; enfim, todos aqueles a quem honrastes com os maiores benefícios e honras, trazidos à vossa presença pelo mesmo cônsul, não só vos exortaram a que me conservásseis, mas quiseram ser relatores, testemunhas e elogiadores das minhas ações.

7. Entre todos tem o primeiro lugar, nas exortações e rogos que vos fez, Cn. Pompeu, herói em todos os séculos sem igual em valor, prudência e glória; este foi o único que a um amigo particular como eu era seu, concedeu o mesmo que a toda a República, a vida, o descanso, o crédito. Cuja oração, como me constou, teve três partes: na primeira mostrou como a República fora conservada com meus ditames, unindo minha causa com a do bem público, onde vos exortou que defendêsseis a autoridade do Senado, o estado da Corte e os interesses de um cidadão benemérito; depois se empregou em perorar, mostrando que assim vo-lo pediam o Senado, os cavaleiros romanos e toda a Itália; e por último ele mesmo não só vos rogou, mas importunou pela vossa conservação. Tanto é, romanos, o que devo a este homem, quanto um homem pode dever a outro. Por cujo ditame e pela sentença de P. Lêntulo e autoridade do Senado, que seguistes, me restituístes àquele lugar que por mercê vossa tinha ocupado, com as mesmas centúrias com que nele me tínheis introduzido. 0 mesmo ouvistes dizer no mesmo tempo e lugar aos mais eminentes; honrados e insignes varões, aos magnatas da cidade, a todos os consulares, a todos os pretores, para que constasse, por unânime atestação de todos, que por mim só fora conservada a República. Enfim, dizendo P. Servílio, sujeito de suma gravidade e merecimento, que por diligência minha fora a República entregue salva aos magistrados, concordaram todos os mais neste parecer. Naquele próprio tempo ouvistes o que disse e atestou o esclarecido L. Gélio, o qual, por ver a sua classe acometida com grande perigo seu, disse no vosso congresso que se eu então não fosse cônsul como era, se acabaria inteiramente a República.

8. Vendo-me, pois, romanos, restituído a mim mesmo, aos meus e à República, por esta autoridade do Senado, com tanto consentimento da Itália, com tanto desejo de todos os bons, agenciando-o P. Lêntulo, consentindo-o todos os magistrados, pedindo-o Cn. Pompeu, concorrendo todos os homens, aprovan-do-o os deuses imortais com a abundância, cópia e barateza dos frutos, vos prometo obrar quanto estiver em minha mão. Primeiramente, sempre terei com o povo romano aquela piedade que é própria das pessoas mais justificadas com os deuses imortais; e a vossa vontade será sempre para mim, enquanto eu viver, tão autorizada e santa como a dos mesmos deuses eternos; e, como a mesma República me restituiu à Corte, em nenhum lugar faltarei à República. E se alguém se persuade que mudei de vontade, ou se enfraqueceu a minha constância, ou descaí de ânimo, engana-se enormemente; aquilo que me podia tirar a violência, o desacato, o atrevimento de homens malvados, confesso que o tiraram, levaram, desbarataram ; porém o que a um homem constante se não pode tirar, ainda permanece e permanecerá. Lembra-me de ver o valorosíssimo varão de meu município, C. Mário (porque, por uma fatal necessidade, tive de contrastar não só os que quiseram arruinar a tudo, mas também a mesma fortuna), digo, pois, que o vi, sendo já muito velho, não só de ânimo nada descaído com a sua grande calamidade, mas vigoroso e restabelecido; eu próprio lhe ouvi dizer que então fora ele infeliz, quando se vira privado de sua pátria, que livrara do sítio; quando ouvira que de seus bens se empossavam e os roubavam os inimigos; quando vira a seu filho mancebo companheiro da mesma infelicidade; quando, mergulhado nas lagoas, estivera a conservação de sua vida em se compadeceram dele os de Mintúrpio; quando, passando a África em um batel, pobre e humilde, chegara à presença daqueles a quem ele mesmo dera reinos; mas, restituído a seu crédito, lhe não havia suceder que, recobrando ele o mais que tinha perdido, deixasse de conservar a constância de ânimo que nunca perdera. Esta diferença porém há entre mim e ele: que ele, com aquilo com que podia muito, se vingou de seus inimigos, quero dizer, com armas; eu me valerei do que sempre tive por costume; porque aquela arte só tem lugar na guerra e sedição, a minha na paz e sossego; ele, ardendo em ira, não se lembrava mais do que vingar-se dos inimigos; eu só porei o pensamento em inimigos quando a República mo permitir.

9. Enfim, romanos, quatro foram as castas de homens que me ofenderam: os primeiros aqueles que foram meus inimigos por ódio da República, que eu conservara contra a sua vontade; outros os que fingindo-se amigos, me entregaram aleivosamente; os terceiros, aqueles que, como pela sua inércia não pudessem conseguir o que eu alcancei, invejaram o meu aplauso e merecimento; os últimos foram aqueles que, devendo ser guardas da República, me venderam a mim, a esta Corte e o crédito daquele Império que tinham em seu poder. Vingar-me-ei pois de cada uma destas ofensas pelo mesmo teor com que fui provocado; dos maus cidadãos, administrando bem a República; dos amigos desleais, não me fiando de nada e acautelando tudo; dos invejosos, seguindo a virtude e glória; dos mercadores das províncias chamando-os à pátria e pedindo-lhes conta delas. Maa muito mais cuidarei em mostrar-me agradecido para convosco, a quem tão obrigado estou, do que em perseguir a meus cruéis ofensores e inimigos; pois mais fácil é vingar injúrias do que remunerar benefícios; e menos árduo prevalecer contra perversos do que igualar aos beneméritos; e também porque não é tão forte a obrigação de pagarmos o que devemos aos primeiros como aos segundos. 0 ódio, ou se mitiga com os rogos, ou se deixa com o decurso do tempo nos trabalhos da República, pelo bem comum, ou o atalha a dificuldade da vingança, ou a muita antiguidade o aplaca; mas os beneméritos se não os honrares, nem rogá-los vos é permitido; não é necessário pedir isto à República, nem tendes escusa de haver dificuldades, nem é justo lembrar-vos do benefício até certo tempo e dia. Enfim, quem se portou remisso em vingar-se, logo é manifestamente louvado; mas seria digno de vitupério quem fosse tardio em remunerar tantos benefícios como os de que me enriquecestes; e não só ingrato (que não é pequena culpa), mas por ímpio deve ser tido. De diverso modo se paga o benefício que o dinheiro; porque quem retém o dinheiro, não o paga; quem o paga, não o retém; mas o agradecimento, quem o paga retem-no; e quem o retém o paga.

10. Portanto, com uma perpétua benevolência festejarei a memória do vosso benefício, não só enquanto em mim houver alentos de vida, mas ainda depois de morto permanecerão em mim monumentos da vossa beneficência para comigo. No agradecimento que vos dou, prometo de nunca faltar-vos, nem com minha vigilância nas resoluções que tomar pela República, nem com o valor em desviar os perigos dela, nem com a lealdade em dizer sinceramente o meu parecer, nem com a liberdade em contrariar vontades humanas, nem com a indústria em levar os trabalhos, nem com a benevolência de um ânimo agradecido em promover as vossas utilidades. Perpetuamente estará sempre, romanos, fixo em meu ânimo este cuidado, para que tanto a vós (em quem a meu entender reside o poder e a vontade dos deuses imortais), como a vossos descendentes, e a todos os povos pareça benemérito daquela cidade que, com os votos de todos, julgou que não podia conservar a sua reputação senão recuperando-me.


Tradução do Padre Antônio Joaquim. Fonte: Atena Editora, 1938.


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