Filosofia especulativa – História Universal
Césare Cantu – História Universal
CAPÍTULO XXXV
Filosofia especulativa
Uma vez dado o impulso aos espíritos proclamando orgulhosamente os direitos da razão, acaso podia a filosofia permanecer em sua primitiva infância? As universidades, as academias prosseguiam em sua habitual tarefa, pondo obstáculo às inovações: a grave Sorbona discutia se se podia dizer ego amat; ela se declarava contra aqueles que queriam que se pronunciasse qui e quamquam à tirania, em vez de os pronunciar ki e kankan à francesa: chegou até a privar do seu benefício um professor que achava o outro modo melhor, e foi preciso que o parlamento interviesse na contenda. Os sábios espanhóis tinham repelido, com argumentos tirados de Aristóteles, as idéias experimentais de Colombo sobre o Novo Mundo; e João Ginésio Sepulveda, de Córdova (1490-1573), defendia contra Las Casas a legitimidade da opressão dos naturais americanos. O respeito por Aristóteles era levado tão longe, que tendo um médico mostrado em um cadáver, a um sectário do filósofo, que o fígado não está à esquerda, este lhe respondeu: Muito bem, porém Aristóteles assim o diz
A escolástica, porém, era combatida com arma diversas pelos humanistas, pelos platônicos, pelos neo-peripatéticos, pelos místicos, pelos neopitagóricos, pelos estóicos, pelos céticos, e sobretudo pelos reformados; as fórmulas caducas e a venerável tradição pareciam um alimento insuficiente, pretendia-se comparar as sentenças dos doutores com o "manuscrito original de Deus", isto é, com o mundo e com a natureza. O espanhol Luís Vives (1492-1540), atacou a escolástica. Erasmo seguiu seus passos, e tentou substituir pela discussão clara e elegante as formas de uma argumentação bárbara. Lutero, que acreditava que a escolástica era o fundamento do catolicismo, arrojou-se contra Aristóteles com a sua impetuosidade habitual, no que foi ajudado por Melanchton, que se mostrou depois partidário do antigo método em seus Initia doctrinae physi~ cae, obra de astrologia e de prejuízos.