Durkheim e a sociologia

Durkheim e a sociologia

émile durkheim, pai da sociologia

 

Jéferson
Mendes[1]

Émile Durkheim nasceu em Épinal, no dia 15 de abril de 1858, região da Alsácia, na França. Iniciando
os estudos em Epinal posteriormente partindo para Paris, no Liceu Louis Le
Grand e na École Normale Superiéure (1879). Considerado um dos pais da sociologia moderna. Durkheim formou-se em
Filosofia onde começou a interessar-se pelos estudos sociais.

Foi o fundador da escola francesa
de sociologia, em 1887 quando
é nomeado professor de padagogia e de ciência social na faculdade de Bordeaux,
no sul da França. Suas principais obras são: Da divisão social do trabalho
(1893); Regras do método sociológico
(1895); O suicídio (1897); As formas elementares de vida
religiosa
(1912). Fundou também a
revista L’Année Sociologique, que afirmou a preeminência durkheimiana no
mundo inteiro. Durkheim morre em Paris, a 15 de novembro de 1917.

 

 

O fato social

Durkheim parte da idéia de que o indivíduo é produto da sociedade. Como
cita Aron, “[…] o indivíduo nasce da sociedade, e não a sociedade nasce do
indivíduo” (2003, p. 464). Logo, a sociedade tem precedente lógico sobre o
indivíduo. Durkheim definiu como objetivo da sociologia o fato social, o
entende como fato social, “[…] todos os fenômenos que se dão no interior da
sociedade, por menos que apresentem, com certa generalidade, algum interesse
social” (DURKHEIM, 1999, p. 1). Porém, dessa maneira poderíamos ver todos os
acontecimentos como sendo um fato social, pois como Durkheim “[…] todo o
indivíduo come, bebe, dorme, raciocina, e a sociedade tem todo o interesse em
que essas funções se exerçam regularmente” (DURKHEIM, 1999, p. 1). Logo, se
considerarmos esses objetos como sendo fatos sociais a sociologia perde o seu
domínio próprio. Assim, “[…] só há fato social quando existe uma organização
definida” (DURKHEIM, 1999, p. 4), como regras jurídicas, dogmas religiosos,
morais, etc.

Dessa maneira, fato social, é,

[…] toda maneira de fazer, fixado ou não, suscetível
de exercer sobre o indivíduo uma coerção exterior; ou ainda, toda maneira de
fazer que é geral na extensão de uma sociedade dada e, ao mesmo tempo, possui
uma existência própria, independente de suas manifestações individuais.
(DURKHEIM, 1999, p. 13).

Para Durkheim o modo como o homem age está sempre condicionado pela
sociedade, logo a sociedade é que explica o indivíduo, as formas de agir
apresentam um tríplice caráter: são exteriores (provem da sociedade e não do
indivíduo); são coercitivos (impostas pela sociedade ao indivíduo); e,
objetivas (têm uma existência independente do indivíduo). Portanto, os fatos
sociais são exteriores, coercitivos e objetivos.

A primeira regra fundamental é considerar os fatos sociais como coisas.
Durkheim define coisas dizendo que “[…] as coisas sociais só se realizam
através dos homens; elas são um produto da atividade humana” (DURKHEIM, 1999,
p. 18). Assim,

É preciso portanto considerar os fenômenos sociais em
si mesmos, separados dos sujeitos conscientes que os concebem; é preciso
estudá-los de fora, como coisas exteriores, pois é nessa qualidade que eles se
apresentam a nós. (DURKHEIM, 1999, p. 28).

Durkheim entende que Spencer e Comte declararam que os fatos sociais, são
fatos naturais, porém não trabalharam os fatos sociais como coisas. Logo, para
Durkheim a primeira regra é considerar os fatos sociais como coisas.[2]
Dentro do pensamento positivista, deve-se eliminar completamente a influência
dos fatos subjetivos e individuais, dessa maneira garantiria a imparcialidade e
a neutralidade, portanto esse é o motivo de considerar o fato social como
“coisas”.[3]

Em relação a este método, cabe assinalar duas coisas.
Em primeiro lugar, que Durkheim compara a sociedade a um “corpo vivo” em que
cada órgão cumpre uma função. Daí o nome de metodologia funcionalista para seu
método de análise. Em segundo lugar, como se repete novamente a idéia de que o
todo predomina sobre as partes. Para Durkheim, isso implica afirmar que a parte
(os fatos sociais) existe em função do todo (a sociedade). (SELL, 2001, p.
136).

Assim, Durkheim procura identificar a vida social do indivíduo de acordo
com a sociedade, e, que a sociedade possui um papel fundamental na vida social
do indivíduo, esse holismo, holoiós, que em grego significa “todo”,
assim que “[…] o todo predomina sobre as partes” (SELL, 2001, p. 130).

O suicídio

O suicídio como problema contemporâneo atravessa civilizações, nações
passam por problemas, as pessoas sofrem de depressão e vêem como última
alternativa o suicídio.[4]
Ato improvável e indireto. O ser humano é um ser suicida. Duvido de seis
bilhões de seres humanos na terra, qual não pensou em suicídio.[5]

Uma pessoa que está existencialmente insegura sobre
seus diversos eus, ou se os outros realmente existem, ou se o que é realmente
percebido existe, pode ser inteiramente incapaz de habitar o mesmo universo
social como os outros seres humanos. (GIDDENS, 1991, P. 96).

O sentimento de culpa, a sensação de desconforto, afastamento emocional,
perda de um familiar, qualquer fator que acarrete o ego como vítima, leva
pessoas comuns a pensamentos levianos, na realidade não passa de um pensamento muitas
vezes mecânico, onde a pessoa autoflagela seu inconsciente, levando ao desapego
corporal a única tentativa de retaliação. Também, “[…] a presença de
depressão, alcoolismo ou de dependência de drogas (geralmente drogas
prescritas) como um fator de maioria dos casos. Aproximadamente um terço sofria
de doença terminal ou de um distúrbio clinico crônico grave” (TOWNSEND, 2002,
p. 642).

Alguns fatos curiosos, os protestantes têm mais probabilidades de se
tornarem suicidas do que os católicos e os judeus; indivíduos de classe alta e
baixa têm mais tendência a se tornarem suicidas do que indivíduos de classe
média; com relação à ocupação funcional, o índice de suicídios é maior em
médicos, músicos, dentistas, oficiais da lei, advogados e corretores de seguro
do que na população geral. [6]

Sigmund Freud entendia o suicídio como a raiva que um indivíduo sentia
por si mesmo, visto como um desejo reprimido antes de matar uma pessoa, um ato
agressivo ao eu. Ghosh e Victor identificaram a desesperança como fator central
que predispõe o indivíduo ao suicídio. Hendin identificou o desespero como
fator preponderante.[7]

Emili Durkheim preocupou-se com o fato do suicídio na Europa, pesquisou o
que ele considerou com sendo um fato social, estudou de forma concisa, propondo
questões e elaborando sérias diferenças quanto ao suicídio. Durkheim entendia
que o suicídio possui causas sociais. Segundo ele, “É nos grandes centros
industriais que os crimes e os suicídios são mais numerosos […]” (DURKHEIM,
1999, p. 15).

O que é comum a todas as formas possíveis dessa
renuncia suprema é que o ato que a consagra seja completado com conhecimento de
causa; que a vitima, no momento de agir, saiba o que deve resultar de sua
conduta, qualquer que seja a razão que a haja levado a se conduzir dessa
maneira. […] Chama-se de suicídio todo o caso de morte que resulta, direta ou
indiretamente de um ato, positivo ou negativo, executado pela própria vitima e
que ela sabia que deveria produzir esse resultado. (DURKHEIM, 1984, p. 103)

O suicida sabe o que vai acontecer, como ira lesar o seu ato, qual será o
resultado de sua ação. Durkheim procura explicar que o suicídio além de uma
causa psicológica, psicopatológica ou mesmo causa de imitação, também possui
causa social. Durkheim distingue 3 tipos de suicídio:

  • suicídio egoísta: quando o indivíduo não está integrado à instituição,
    sente separado da sociedade, distante das correntes sociais. Não existe
    integração o indivíduo não se sente parte integrante do grupo ou redes sociais
    que regulam as ações e imprimem disciplina e ordem (família, religião,
    trabalho, etc.), os indivíduos apresentam desejos que não podem satisfazer-se.
    Quando esse egoísmo acaba frustrando-se leva as ondas sociais de suicídio.
    Também pode aparecer quando a pessoa se desvincula das redes sociais, sofrendo
    de depressão, melancolia, e outros sentimentos.
  • suicídio altruísta: é o oposto do suicídio egoísta, o suicida altruísta
    se revela quando o indivíduo se identifica com uma causa nobre, com a
    coletividade, essa identificação deve ser tão intensa que este acaba renegando
    a própria vida pela sua identificação. Está excessivamente integrado ao grupo,
    frequentemente está regulada por laços culturais, religiosos ou políticos, essa
    integração acaba sendo tão forte que o indivíduo acaba sacrificando sua própria
    vida em favor do grupo (Mártires, Kamikases, etc.).
  • suicídio anômico: deve-se a um desregramento social, ocorre depois da
    mudança na vida de um indivíduo (ex: divórcio, perda de emprego), o que
    desorganiza os sentimentos de relação com o grupo em que não existem normas ou
    estas perderam o sentido. Quando os laços que prendem os indivíduos aos grupos
    se afrouxam.

O que Durkheim deixa claro nos tipos de suicídio estudados é a relação
indivíduo-sociedade, o suicídio ocorre tanto pela falta da ação do indivíduo em
determinada sociedade como pela pressão que está sociedade acarreta sobre ele. Adam
Smith considerado o fundador da economia, século anteriores entendia que havia
duas ações que levariam os homens a ampliar seus talentos, a busca de estima e
o medo de desaprovação, talvez a falta do primeiro e a excessividade no segundo
levaria a uma generalização do ego e tornaria frutífero o pensamento leviano
nas pessoas. Porém, as causas do suicídio segundo Durkheim sempre são sociais. Durkheim
considerava o crime como um fato social normal, já “[…] o suicídio era para
ele um fato social patológico que evidenciava que havia profundas disfunções na
sociedade moderna” (SELL, 2001, p. 146).

Da divisão do
trabalho social

Os efeitos gerados pela Revolução Industrial eram assuntos pertinentes a
diversos autores do século XIX e XX, Durkheim para explicar a modernidade busca
o conceito de “divisão do trabalho social”, assim buscava identificar a
formação de um novo método de trabalho ativava a fragmentação social, assim
ocorreria o surgimento de esferas sociais. Logo, para Durkheim a divisão de
tarefas também passa ser fonte de relação e interação social.[8]
Porém,

Mas a divisão do trabalho não é específica do mundo
econômico: podemos observar sua influência crescente nas regiões mais
diferentes da sociedade. As funções políticas, administrativas, judiciárias
especializam-se cada vez mais. O mesmo ocorre com as funções artísticas e
científicas. Estamos longe do tempo em que filosofia era a ciência única; ela
fragmentou-se numa multidão de disciplinas especiais, cada uma das quais tem
seu objeto, seu método, seu espírito. (DUKHEIM, 1999, p. 2).

Assim, Durkheim identificava que a divisão do trabalho não se dava apenas
pelo processo econômico, mas também em outras organizações, como nas funções
artísticas, administrativas e políticas. Durkheim inicia discutindo qual é a
função da divisão do trabalho. A divisão do trabalho tem como objetivo
principal tornar a civilização possível, caso não fosse estaria tornando a
moralidade neutra.[9]

Durkheim citando Heráclito a respeito das diferenças no qual entendia que
a discórdia é o principio do de todo devir. Assim, parte da divisão em outras
categorias, que “A dessemelhança, como a semelhança, pode ser uma causa de
atração mutua” (DUKHEIM, 1999, p. 20). Logo, procuramos em nossos amigos as
qualidades que nos faltam, que o homem e a mulher possuem suas diferenças, logo
tanto a divisão do trabalho determina a relação de amizade, como a divisão do
trabalho sexual é a fonte da solidariedade conjugal. [10]

Primeiramente é necessário buscar se existe uma solidariedade social que
esteja sendo proveniente da divisão do trabalho. Dessa forma, é necessário
determinar a solidariedade que ela produz interfere na integração da sociedade,
assim para perceber até que ponto essa solidariedade é necessário.[11]

A solidariedade social, porém, é um fenômeno
totalmente moral, que, por si, não se presta à observação exata, nem,
sobretudo, a medida. Para proceder tanto a essa classificação quanto a essa
comparação, é necessário, portanto, substituir o fato interno que nos escapa
por um fato externo que o simbolize e estudar o primeiro através do segundo.
(DURKHEIM, 1999, p. 31).

A solidariedade social, quando forte entre os homens inclina-os, colocando-os
reciprocamente em contínuo contato, relacionando-se constantemente. Assim,
quanto mais os membros da sociedade são solidários, mais eles mantêm relações
uns com os outros, caso não mantessem contatos constantemente suas relações e
mesmo sua dependência seria menor.[12]
O que existe e vive realmente são as formas particulares de solidariedades, a solidariedade
doméstica, a solidariedade profissional, a solidariedade nacional, etc. e esse
estudo da solidariedade pertence ao estudo da sociologia, é um fato social que só
pode ser conhecido através do estudo de seus efeitos sociais.[13]
O direito que apresenta as formas essenciais de solidariedade social, dessa
forma é necessário classificar as diferentes formas de direito para poder
classificar as diferentes formas de solidariedade social. A principal idéia de
direito é aquela que o divide em direito público e direito privado, o público regula
as relações entre os indivíduos e o Estado, e o privado o indivíduo entre si.
Porém, todo o direito é público, da mesma forma que todo o direito também passa
a ser privado.[14]

Há dois tipos de sanções. Umas consistem
essencialmente numa dor, ou, pelo menos, numa diminuição infligida ao agente;
elas têm por objeto atingi-lo em sua fortuna, ou em sua honra, ou em sua vida,
ou em sua liberdade, privá-lo de algo de que desfruta. Diz-se que são
repressivas – é o caso do direito penal. É verdade que as que se prendem às
regras puramente morais têm o mesmo caráter, só que são distribuídas de uma
maneira difusa por todo o mundo indistintamente, enquanto as do direito penal
são aplicadas apenas por intermédio de um órgão definido: elas são organizadas.
Quanto ao outro tipo, ele não implica necessariamente um sofrimento do agente,
mas consiste apenas na reparação das coisas, no restabelecimento das
relações perturbadas sob sua forma normal, quer o ato incriminado seja
reconduzido à força ao tipo de que desviou, quer seja anulado, isto é, privado
de todo e qualquer valor social. Portanto, devemos dividir em duas grandes
espécies as regras jurídicas, conforme tenham sanções repressivas organizadas
ou sanções apenas restitutivas. A primeira compreende todo o direito penal; a
segunda, o direito civil, o direito comercial, o direito processual, o direito
administrativo e constitucional, fazendo-se abstração das regras penais que se
podem encontrar aí. (DURKHEIM, 1999, p. 37).

Portanto, para entender a classificação da solidariedade, Durkheim parte
do entendimento da necessidade de se entender as formas de direito que são
estendidas em dada sociedade, se és aplicado o direito restitutivo ou o direito
repressivo. Além de sua grande tese de doutorado, Da Divisão do Trabalho
Social, também mostra a influência positivista. Durkheim entende que a
sociedade passa por um determinado processo de evolução, essa evolução que está
sendo provocada pela diferenciação social. Ocorrendo que a primeira etapa desse
processo de evolução social Durkheim chamou de “sociedade de solidariedade
mecânica”, já o que se refere à etapa final de “sociedade de solidariedade
orgânica”. Assim, organiza da seguinte forma os dois tipos de sociedade.

Sociedade de
solidariedade mecânica

Sociedade de
solidariedade orgânica

Laço de
solidariedade

Consciência
coletiva

Divisão do
trabalho social

Organização
social

Sociedade
segmentada

Sociedades
diferenciadas

Tipo de
direito

Direito repressivo

Direito
restitutivo

Sociedade de
solidariedade mecânica

A sociedade de solidariedade mecânica é na verdade um mecanismo de
interação dos indivíduos nos grupos ou nas instituições sociais. Da mesma
forma, acaba sendo representada pelas diferentes formas de organização na
sociedade, segmentada ou diferenciada, também os tipos de direito, se este se
baseia no princípio do direito repressivo ou restitutivo.

O vínculo de solidariedade social a que corresponde o
direito repressivo é aquele cuja ruptura constitui o crime. Chamamos por esse
nome todo ato que, num grau qualquer, determina contra seu autor essa reação
característica a que chamamos pena. Procurar qual é esse vínculo é, portanto,
perguntar-se qual a causa da pena, ou, mais claramente, em que consiste
essencialmente o crime. (DURKHEIM, 1999, P. 39).

Dessa forma, Durkheim inicia trabalhando a diferença da sociedade de
solidariedade pela pena, ou melhor, pelo crime que cada sociedade comete dessa
maneira como o crime é dado como restituição do ato cometido. Assim “São todos
os crimes, isto é, atos reprimidos por castigos definidos” (DURKHEIM, 1999, p.
40).

Nas sociedades de solidariedade mecânica os indivíduos vivem em comum
porque partilham da consciência coletiva, assim partilham dos pensamentos em
conjunto, elaboram a sua vida através da vida dos outros em praticamente todas
as ações “[…] a sociedade inteira participa numa medida mais ou menos vasta”
(DURKHEIM, 1999, p. 4).

Os indivíduos se assemelham muito existindo poucas diferenças entre eles,
logo se assemelham pelos mesmos gostos, sentimentos, valores e reconhecem nos
objetos as mesmas representações do sagrado, assim a semelhanças é enfim o
ponto de fundamentação.[15]
Portanto, “Nas sociedades dominadas pela solidariedade mecânica, a consciência
coletiva abrange a maior parte das consciências individuais”. (ARON, 2003, p.
463).

Durkheim define a vida coletiva como “[…] um conjunto de crenças e
sentimentos comuns à média dos membros de uma mesma sociedade, que forma um
sistema determinado que possui vida própria” (DURKHEIM, 1995, p. 50). Logo,
esse laço de solidariedade forma a consciência coletiva.

Nas sociedades primitivas, cada indivíduo é o que são
os outros; na consciência de cada um predominam, em número e intensidade, os
sentimentos comuns a todos, os sentimentos coletivos. (ARON, 2003, p. 459).

O grupo na sociedade de solidariedade mecânica prevalece, possui mais eqüidade,
aparece mais, logo tem predomínio sobre o indivíduo. O indivíduo não possui
relação com o mundo exterior. Logo, são tão semelhantes que pouco se
caracterizam como diferenciais, abrindo poucos intervalos para
individualidades. Os indivíduos comungam entre si, vivem a comunidade
fazendo-se interações, como por exemplo, as sociedades indígenas.

Porém, como fazer transparecer isso,

[…] Durkheim, optou pelo estudo das normas jurídicas
que, segundo ele, são um dos meios pelo qual a sociedade materializa (ou torna
concreta) suas convicções morais, que são um dos elementos da consciência
coletiva. De acordo com a forma pelo qual ele é organizado, o direito é o
símbolo visível do tipo de solidariedade que existe na sociedade. Assim, nas
sociedades de solidariedade mecânica temos o predomínio do direito repressivo,
[…] o predomínio da punição. De acordo com a explicação de Durkheim, isto
mostra a força da consciência coletiva sobre a vida dos indivíduos. (SELL,
2001, p. 140-41).

Assim, as normas jurídicas representam de certa forma a sociedade em que
vivemos, repressiva ou restitutiva. Nas sociedades de solidariedade mecânica as
punições são dadas aos indivíduos e estes não podem dela fugir ou mesmo
fazerem-se livres, pois a punição faz com que a sociedade de coesão e não se
danifique, logo não se admite violação das regras sociais. “Quanto mais forte a
consciência coletiva, maior a indignação com o crime, isto é, contra a violação
do imperativo social”. (ARON, 2003, p. 463). A punição não passa de uma lição
aos outros indivíduos para que não façam o mesmo.

A organização social da sociedade de solidariedade mecânica é uma
sociedade segmentada, da qual há a existência de poucas mudanças, onde os
grupos vivem isolados, “[…] com um sistema social que tem vida própria”
(SELL, 2001, p. 141). Logo, a manifestação com o exterior é escassa pelo fato
que a sociedade sustenta-se por si mesmo. Assim, Durkheim as vê como as
sociedades antigas.

É possível a existência de um grande número de clãs,
tribos ou grupos regionalmente autônomos, justapostos e talvez até mesmo
sujeitos a uma autoridade central, sem que a coerência por semelhança do
segmento seja quebrada, sem que se opere, no nível da sociedade global, a
diferenciação das funções características da solidariedade mecânica. (ARON,
2003, 461).

Assim as sociedades de solidariedade mecânica
estão pouco passíveis de mudanças, geralmente encontram-se estagnadas, a
diferenciação é dificultada, pois o enraizamento social está determinado, e,
segue-se em etapas.

Sociedade de
solidariedade orgânica

estrutura-social rede social

Nas sociedades de solidariedade orgânica os laços de solidariedade exigem
a divisão do trabalho social, o tipo de organização social é de uma sociedade
diferenciada, também o tipo de direito, diferente da sociedade de solidariedade
mecânica, deve ser restitutivo. Durkheim vê como uma lei na história a passagem
da sociedade de solidariedade mecânica para a sociedade de solidariedade
orgânica.

É, pois, uma lei da história a de que a solidariedade
mecânica, que, a princípio, é única ou quase, perde terreno progressivamente e
que a solidariedade orgânica se torno pouco a pouco preponderante. Mas quando a
maneira como os homens são solidários se modifica, a estrutura das sociedades
não pode deixar de mudar. A forma de um corpo se transforma necessariamente
quando as afinidades moleculares não são mais as mesmas. Por conseguinte, se a
proposição precedente é exata, deve haver dois tipos sociais que correspondem a
essas duas sortes de solidariedade. (DURKHEIM, 1999, 17).

A atividade é mais coletiva, os indivíduos dependem uns dos outros,
devido à especialização de funções ou mesmo a divisão do trabalho social.
Demonstra que nas sociedades ditas modernas as sociedades são altamente
desenvolvidas e diferenciadas, assim cada indivíduo exerce funções
diferenciadas.

Na realidade o que leva as pessoas a interarem-se é mesmo o progresso dos
meios da especialização das funções que os indivíduos exercem entre si, ou
mesmo em conjunto, logo os indivíduos acabam se tornando independentes das
atividades em diferentes setores da vida social.

Como conclusão, Durkheim afirma que a divisão do
trabalho social não pode ser reduzida apenas a sua dimensão econômica, no
sentido de que ela seria responsável pelo aumento da produção, sendo está a sua
função primordial. Ao contrário, a divisão trabalho social tem antes de tudo
uma função moral, no sentido de que ela passa a ser o elemento chave para a
integração dos indivíduos na sociedade. (SELL, 2001, 144).

Dessa maneira Durkheim entende que a verdadeira função da divisão do
trabalho social possui como fator principal o sentimento de solidariedade entre
os indivíduos de determinada sociedade. Porém, com a crescente diversificação
das funções, cresce também o sentimento de individualidade entre os indivíduos,
a consciência coletiva acaba perdendo seu papel de interação social. Portanto,
os “[…] efeitos produzidos pela divisão do trabalho, contribuindo para manter
o equilíbrio da sociedade” (DURKHEIM, 1999, p.223). Quanto mais o trabalho for
dividido, maior rendimento terá.[16]

Mas, se a divisão do trabalho produz a solidariedade,
não é apenas porque ela faz de cada indivíduo um “trocador”, como dizem os
economistas; é que ela cria entre os homens todo um sistema de direitos e
deveres que os ligam uns aos outros de maneira duradoura. (DURKEHIM, 1999, P.
429).

Com a suposta desestruturação coletiva ocorrem duas funções de interesses
comuns, uma seria a autonomização dos indivíduos que elaborariam mais as suas
tarefas, e se enquadrariam em seus desejos e anseios sociais, a segunda questão
seria que essa autonomização do indivíduo também levaria a um egoísmo sem
precedente, os próprios indivíduos entrariam em choque com eles mesmo, assim,
“Temos uma divisão anômica do trabalho que, para Durkheim, era o grande
problema da sociedade moderna” (SELL, 2001, p. 145).

Seguindo a lógica desenvolvimentista, Durkheim vê a mudança de
sociedade como um processo gradual, que através da diferenciação social, ela
iria evoluindo, entendendo que haveria três fatores para o desenvolvimento da
sociedade.

  • Volume
  • Densidade
    material
  • Densidade moral

Assim, o volume caracterizaria como um suposto aumento do número de
indivíduos de determinada sociedade, para que ocorra a diferenciação é preciso
acrescentar a densidade, tanto à densidade moral quanto a material, a densidade
moral, entraria nas comunicações e trocas que os indivíduos fazem entre si. Já
a densidade material entraria no aspecto de indivíduos por porcentagem com
relação à superfície do solo. Logo, quanto mais intenso for o relacionamento
entre os indivíduos maior será a sua densidade. Assim, “[…] o crescimento
quantitativo (volume) e qualitativo (densidade material e moral), ocorre na
sociedade um processo de especialização das funções, chamado por Durkheim de
divisão do trabalho social” (SELL, 2001, p. 143).

Bibliografia:

  • ARON, Raymond. As
    etapas do pensamento sociológico
    . Tradução Sérgio Bath. 6. ed. São Paulo:
    Martins Fontes, 2003.
  • DURKHEIM, Émili.
    As regras do método sociológico. [tradução: Paulo Neves; revisão da
    tradução Eduardo Brandão]. 2º. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1999.
  • DURKHEIM, Émili.
    Da divisão do trabalho social. [tradução Eduardo Brandão]. 2º ed. São
    Paulo: Martins Fontes, 1999.
  • DURKHEIM, Emili.
    Émili Durkheim: sociologia / organizador (da coletânea) Josué Albertino
    Rodrigues; (tradução de Laura Natal Rodrigues). 3. ed. São Paulo: Ática,
    1984.
  • GIDDENS, Antony. As conseqüências da modernidade. [tradução Raul Fiker]. São Paulo:
    Editora UNESP, 1991.
  • SELL, Carlos
    Eduardo. Sociologia Clássica. 4º ed. Itajaí: Ed. UNIVALI, 2002.
  • TOWNSEND, Mary
    C. Enfermagem Psiquiátrica: conceitos de cuidados. [tradução: Fernando
    Diniz Mundim]. 3. ed. Rio de Janeiro: Guanabara, 2002.

[1]
Professor/tutor nas áreas de História, Geografia, Filosofia e Sociologia.
Graduado em História pela Universidade de Passo Fundo. Pós-graduando em
Sociologia pela Universidade de Passo Fundo. Pós-graduando em Educação a
Distancia pela Faculdade de Tecnologia SENAC. Mestrando em História pela
Universidade de Passo Fundo. E-mail: [email protected].

[2]
DURKHEIM, Émili. As regras do método sociológico. [tradução: Paulo
Neves; revisão da tradução Eduardo Brandão]. 2º. ed. São Paulo: Martins Fontes,
1999, p. 16.

[3]
SELL, Carlos Eduardo. Sociologia Clássica. 4º ed.
Itajaí: Ed. UNIVALI, 2002, p.132.

[4]
O suicídio foi identificado como a terceira maior causa de morte (depois dos
acidentes com veículos a motor e os homicídios) no grupo de 15 a 24 anos de idade (Murray & Zentner, 1997). A freqüência de suicídio em adolescentes
triplicou nos últimos 30 anos (Murphy, 1994). Um dos principais fatores que
contribuem pra este fato é o aumento dos distúrbios depressivos entre os jovens
(Ghosh & Victor, 1994). Outros fatores de risco associados ao suicídio em
adolescentes incluem a religião (menor probabilidade nos casos de católicos e
judeus), ter pais portadores de doenças psiquiátricas (especialmente uso
excessivos de drogas ou álcool), uma história de suicídio na família,
desemprego paterno e ausência do pai ou da mãe (Slaby, Lieb & Tancredi,
1986). In: TOWNSEND, Mary C. Enfermagem Psiquiátrica: conceitos de
cuidados. [tradução: Fernando Diniz Mundim]. 3. ed. Rio de Janeiro: Guanabara,
2002, p. 206.

[5]
Embora as pessoas com idade superior a 65 anos representem apenas 12 por cento
da população, elas incluem uma taxa desproporcionalmente elevada de pessoas que
cometem suicídio. De todos os suicidas, 17 por cento pertencem a esta faixa
etária, e o suicídio é agora uma das primeiras 10 causas de morte entre a
população idosa. In: TOWNSEND, Mary C. Enfermagem Psiquiátrica:
conceitos de cuidados. [tradução: Fernando Diniz Mundim]. 3. ed. Rio de
Janeiro: Guanabara, 2002, p. 642.

[6]
Saber mais. In: TOWNSEND, Mary C. Enfermagem Psiquiátrica: conceitos de
cuidados. [tradução: Fernando Diniz Mundim]. 3. ed. Rio de Janeiro: Guanabara,
2002, p. 206.

[7]
TOWNSEND, Mary C. Enfermagem Psiquiátrica: conceitos de cuidados. [tradução:
Fernando Diniz Mundim]. 3. ed. Rio de Janeiro: Guanabara, 2002, p. 206.

[8]
SELL, Carlos Eduardo. Sociologia Clássica. 4º ed. Itajaí: Ed. UNIVALI,
2002, p.138.

[9] DURKHEIM, Émili. Da divisão do trabalho social.
[tradução Eduardo Brandão]. 2º ed. São Paulo: Martins Fontes, 1999, p. 18.

[10] DURKHEIM, Émili. Da divisão do trabalho social.
[tradução Eduardo Brandão]. 2º ed. São Paulo: Martins Fontes, 1999, p. 22.

[11] DURKHEIM, Émili. Da divisão do trabalho social.
[tradução Eduardo Brandão]. 2º ed. São Paulo: Martins Fontes, 1999, p. 30.

[12] DURKHEIM, Émili. Da divisão do trabalho social.
[tradução Eduardo Brandão]. 2º ed. São Paulo: Martins Fontes, 1999, p. 31.

[13]
DURKHEIM, Émili. Da divisão do trabalho social. [tradução Eduardo
Brandão]. 2º ed. São Paulo: Martins Fontes, 1999, p. 34.

[14]
DURKHEIM, Émili. Da divisão do trabalho social. [tradução Eduardo
Brandão]. 2º ed. São Paulo: Martins Fontes, 1999, p. 36.

[15]
ARON, Raymond. As etapas do pensamento sociológico. Tradução Sérgio
Bath. 6. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2003, p. 458.

[16] DURKHEIM, Émili. Da divisão do trabalho social.
[tradução Eduardo Brandão]. 2º ed. São Paulo: Martins Fontes, 1999, p. 224.

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Durkheim na Busca.
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