CAPITULO 27
PONTOS DE VISTA
DE UM ATLANTE
ESTÁVAMOS CONVERSANDO SOBRE
A GUERRA, QUANDO SE
aproximou de nós um indivíduo, que, sem
maiores cerimonias, se incorporou ao grupo.
O
tema da nossa conversa deixou-nos em situação humilhante, perante os dois. De
longe não percebíamos claramente quais eram os "nossos" ideais — os
ideais que desencadeiam guerras, destroem cidades, chacinam milhões de
criaturas humanas. Não compreendíamos bem que uma coisa — fosse ela qual fosse
— conseguisse justificar tamanha hecatombe. O homem nos dizia que não há ideal
algum, reivindicação nenhuma que possa justificar tamanha barbárie. Nós nos
esforçávamos para ver a coisa por outro prisma. Quando eu lhe disse que
precisávamos, a todo o custo, derrotar os nossos inimigos, ele riu e perguntou:
— Que inimigos?
Era
difícil explicar-lhe. Falei nos interesses nacionais, no intercâmbio, nos
mercados, nas fontes de produção.
— Francamente
— disse ele, — Não compreendo porque possa haver barreiras e mercados a
conquistar e interesses que são de um povo e não são igualmente do outro. Mas, se
há isso; se vocês se dividiram como inimigos, interpondo muralhas entre uns e
outros, isso prova, apenas, que são profundamente estúpidos. Esta não é a
primeira guerra.
Ora, se as
guerras foram motivadas por essas questões, vocês já deveriam ter eliminado as
causas, reformando a estrutura da sociedade e das relações entre os povos,
destruindo as barreiras, libertando o comércio, fazendo-se amigos, enfim.
Por que razão, depois de cada guerra, persistem na manutenção do estado de
coisas que gerou a guerra? Se têm coragem suficiente para desencadear
hecatombes em que morrem milhares e milhares de pessoas e em que os prejuízos
materiais tomam vulto assombroso e ruinoso — por que não têm a coragem simples
e mais humana de modificar toda a estrutura da administração? Deve haver, nos
seus países, certos pontos, certas instituições, certas normas de direito que,
por certo, são a causa dos atritos e das guerras — e vocês não podem ignorar
quais sejam. Será, por acaso, mais penoso suprimir esses focos do que destruir
cidades inteiras?
— O senhor não compreende — disse eu. — Seria difícil de explicar…
— Difícil, não. É impossível explicar, desde que não queiram
confessar que estão errados e agem estupidamente, por estarem escravizados a
princípios errados e por estarem sujeitos a grupos de pessoas que manejam os
homens à vontade. Vocês pagam para serem desprezados, escarnecidos, presos,
usados como animais de tropa e como animais de matadouro. Enquanto houver quem
enriqueça à custa da desgraça alheia, à custa da destruição — vocês estarão
errados.
Enfim,
não adianta nada reproduzir tudo o que aquele intrometido atlante veio nos
dizer. Ele falava como um papagaio, por ouvir dizer, e soltava tudo o que lhe
vinha à cabeça, como um ingénuo, desconhecendo as causas reais dos nossos
sagrados conflitos.
Quem não se interessou pela conversa foi o par Quincas — Vanila, que,
sentado na grama, ao nosso lado, parecia embebido em uma conversa muito
diferente da nossa. Sálvio me disse mais tarde que eu azedara a discussão com observações
impertinentes e inoportunas, e que muitas vezes perdera o fio da conversa,
preocupando-me muito em lançar olhadelas ao par e, mesmo, esforçando-me para
ouvir as palavras que eles trocavam. Afirmo, porém, que isso não é verdade. Se
olhei o par uma vez ou outra, foi por acaso, e se azedei a discussão foi porque
o atlante intrometido dizia asneiras e não respeitava devidamente os sagrados
direitos de uma pátria. Ele não vivia entre nós, e, portanto, nada podia saber
do que estava falando.
Imagine-se, por exemplo, quando chegamos ao ponto em que se tratou das
classes trabalhistas! (Isto foi depois de ele ter descrito o complicado sistema
em que vivem, onde tudo é de todos, e a terra não tem dono, e cada Núcleo se
encarrega da instrução obrigatória, e mais uma porção de coisas sem nexo). Eu
perguntei-lhe:
—
Espere. Fale-me da
proteção ao trabalhador.
—
Que proteção?
— Oh, senhor! Mas, as leis trabalhistas! As garantias
oferecidas aos operários!
—
Não entendo.
— É tão simples! Como é que se garante estabilidade aos
trabalhadores? Qual é a garantia que vocês lhes dão de que não serão
explorados, maltratados…
— Não sei o que quer dizer. Mas de qualquer modo, aqui
não temos garantias. Por que haviam uns de ter garantias e outros não? Não
somos todos trabalhadores?
— Conheço essa cantiga… Sei o que quer dizer com isso
de "Somos todos trabalhadores"… Há uma classe de homens que se
empregam em serviços mais pesados, mais humildes, como os ferreiros, os
fundidores, os pedreiros, os marceneiros, os agricultores… Esses homens, em
todos os países civilizados, são objeto de uma legislação especial que é a
última conquista das classes pobres!
— Legislação especial? — perguntou ele espantado. — Mas
por quê?
— Que ingenuidade! Para que não sejam explorados pelos patrões, para
que tenham garantia de um ordenado mínimo, de aposentadoria, de assistência
médica, de férias, e outros direitos…
— Espere! — exclamou ele levantando-se. — Isso quer
dizer…
O atlante interrompeu-se, com fisionomia de espanto e olhos
arregalados. De repente, exclamou:
— Absurdo!
Quer dizer, então, que no seu país os operários pertencem a uma espécie
inferior, são talvez animais domesticados, diferentes de você?
Fiquei furioso com tamanha estupidez que era uma ofensa para os nossos
nobres trabalhadores e gritei:
— O senhor é idiota! Os operários são gente como nós! E
é justamente para que sejam tratados como gente, com toda a consideração e
justiça, é que criamos a legislação trabalhista!
— Mas é justamente o que eu penso! — respondeu ele, sem
se alterar. — É justamente isso! Se existe a necessidade de se criar uma
legislação especial para proteger o operário e dar-lhe um certo nível de vida,
é porque eles, na verdade, são seres inferiores, abaixo da escala humana comum.
Se não fossem, estariam enquadrados nas leis comuns, que regem todos os
direitos humanos…
— Ora, pílulas! O senhor não entende nada disso! Em todo
o mundo há leis protegendo os trabalhadores…
— Realmente, não entendo, não. Desculpe. E, se é assim,
como você diz, estão fazendo muito mal, porque estão dividindo a humanidade em
dois grupos distintos, com legislações diferentes para cada um. Isto tem que ir
aumentando, aumentando sempre, e será a causa de conflitos tremendos no futuro.
O que fazem é desumano. Não pode haver diferença entre os homens. Somos todos
iguais.
— Sabe de uma coisa ? — disse eu, contendo-me a custo. —
Não é possível conversar com o senhor.
— Acredito. Estamos colocados em pontos de vista tão
diferentes, que não nos entendemos… pelo menos tão cedo.
— Não nos entenderemos nunca! — berrei. — Vocês são
loucos e visionários.
— Loucos? Nós — ele riu. — Mas, meu amigo, observe que
nós não fabricamos arma de espécie alguma, não temos barreiras alfandegárias,
não temos legislação trabalhista, não vendemos coisas que não são nossas, como
terra, casas, etc. Não destruímos cidades nem criaturas humanas, a não ser
quando nos vêm atacar… Somos loucos?
—
Com licença. Sálvio, vamos
embora?
— Vamos. Com licença. Precisamos pensar muito sobre
isto, para poder voltar ao assunto. É difícil para nós.
Quincas
concordou de má vontade. A conversa entre ele e Vanila estava mais animada do
que nunca. Afinal, ergue-se ao mesmo tempo que ela, ambos com as mãos dadas.
Durante longos momentos ficaram assim, mãos nas mãos, olhos nos olhos,
sorrindo. Afinal, Vanila saiu correndo, e ele ficou ainda com. os braços
estendidos e um sorriso nos lábios, como um bocó.
Quando chegamos ao quarto, eu ainda estava nervoso.
— Temos que voltar, o mais depressa possível.
Esta gente é maluca e perigosa.
—
Ué… mas você parecia
satisfeito, Jeremias…
— Não, não. Esperava outra coisa. Precisamos
falar com o Primeiro Orientador e dar um jeito de sair daqui. Isto é uma jaula
cheia de loucos perigosos.
Quincas não pensava assim:
—
Não sei para que tanta
pressa. Não vimos nada, ainda!
— Para mim, já vimos de mais. Precisamos fugir.
Isto me cheira a tragédia.
—i Pois eu estou com vontade de ficar — declarou o
guia.
— Isso é a primeira impressão. A coisa vista por fora.
Mas, se você usasse o cérebro…
—
Não. Nunca vi ninguém tão tranquilo e feliz como esta gente. Depois, aqui
morreu meu pai. Leandro anda por aí… tenho vontade de ficar…
—
Mas que diabo quer você
fazer nesta terra de loucos ?
—
Quero viver entre eles!
— Já decidiu isso?
— Não ainda, mas não há-de ser difícil. Vanila
disse-me que aqui se faz tudo o que se faz na nossa terra — menos pólvora,
armas e munições…
— É uma pena! Francamente: uma pena!
— Ora essa! Por quê?
— Porque, se fabricassem pólvora, poderíamos
tentar fazer isto ir pelos ares!
CAPITULO 28
"DAQUI NINGUÉM SAI!"
sÓ TRÊS DIAS MAIS É
QUE CONSEGUIMOS NOS AVISTAR
novamente com o Primeiro
Orientador. E durante esses três dias, Quincas andou sempre fora das nossas
vistas. Não sei que é que ele andou fazendo, mas eu não estava gostando. Já
Sálvio pouco se interessava com o desaparecimento do nosso companheiro. Dizia
que o amor tudo justifica : "as tolices e as adesões"…
— Têm-se divertido? — perguntou o velho atlante.
— Sim. Estamos satisfeitos, e queremos partir.
— Para onde? Este Núcleo não lhes agrada?
— O que desejamos é voltar ao Brasil, à nossa terra.
— Então, é porque não estão satisfeitos. Que
lhes aconteceu ?
—
Nada. Esperávamos coisa
diferente.
—
Diferente? Que é que
esperavam?
— Em primeiro lugar — expliquei, tomando a palavra —
nunca supusemos vir encontrar um povo neste fim de mundo, a não ser alguma
tribo selvagem. Nossa esperança era encontrar ruínas, vestígios de uma
civilização que aqui teria crescido em outros tempos. De modo que foi essa a
nossa primeira surpresa.
—
E ficaram tão
decepcionados assim?
— Bem… Não é isso. Mas os senhores têm uma
organização que não compreendemos nem aprovamos.
— Mas o fato é que todos aqui a aprovamos e estamos
satisfeitos com ela. Não acredito que haja mais tranquilidade e felicidade lá
onde vocês viveram.
— Não sei. Mas há mais estímulo. Cada homem sabe que tem
que lutar, sente perfeitamente a própria importância, e tem necessidade de se
aperfeiçoar para progredir, alcançar posições… Ao passo que aqui…
— Aqui é o mesmo, meus amigos. Nada se faz sem luta.
Cada homem tem que lutar pela sua posição na coletividade. Há graus infinitos
de prestígio. Apenas, nós nos respeitamos integralmente. Ninguém seria capaz de
usar seu poder para se aproveitar do trabalho alheio. Não existe a exploração
do homem pelo homem.
— Já falamos sobre isso e não chegamos a um acordo. Os
senhores condenam a nossa civilização sem a conhecer devidamente.
— E parece que os senhores querem fazer o mesmo com a
nossa. Como podem declarar que não concordam? Tiveram, por acaso, tempo
suficiente para estudar a nossa organização ?
Sálvio entrou na conversa, com um
derivativo:
— Qual é a religião?
— Adoramos o Sol.
— Isso é idolatria — bradei eu.
— Pode me apontar, por acaso, um poder mais real, mais
universal, mais indispensável do que o Sol? Haverá algo do nosso conhecimento
indiscutível que tenha maior influência sobre a vida humana, sobre a terra e
sua fertilidade, sobre todas as energias conhecidas?
— Isso é outra coisa. Deus…
— Não discutamos esse ponto. O nome da Divindade não
importa. Não podemos entrar em detalhes, nem discutir, porque se os senhores
não compreendem a nossa organização social e política, muito menos
compreenderão a nossa organização religiosa. Não acredito, por exemplo, que
consigam entender, jamais, alguma partícula do que seja o PODER DA PALAVRA.
Deixemos esse assunto.
— Está bem — disse eu. — Não sei, porém, como podem
viver sem estímulo.
— Que é que chamam de estímulo?
—
Ora… a possibilidade de
progredir, de enriquecer…
— Enriquecer individualmente não é progredir,
meus amigos, porque onde há ricos, tem que haver pobres — e isso é injusto.
Progredir é enriquecer espiritual e mentalmente. É enriquecer coletivamente,
com distribuição de igual soma de benefícios para todos.
— Isso é intolerável! Os senhores nunca terão
grandes cidades cheias de arranha-céus e largas avenidas cheias de automóveis!
— Teremos coisas muito maiores e melhores. Mas
não arranha-céus, decerto. O arranha-céu é um anacronismo, um mal da
civilização errada que vocês construíram. Por que hão de os homens viver
amontoados em pequenos cubículos sem ar e sem luz, tendo a poucos quilómetros
de distância grandes extensões de terras não aproveitadas? Não é um
contra-senso ? Vocês são tão contraditórios que construíram aviões, trens e
autos de grande velocidade e no entanto se amontoaram em bairros superlotados. Não
percebem que isto é idiota? Se têm meios de transportes rápidos, devem
aproveitar a velocidade para cobrir a distância e alargar as cidades, morar em
lugares afastados, gozar ao máximo da luz e do ar — as duas dádivas mais
preciosas da natureza. Além disso as suas grandes cidades são o marco da
desgraça. A argamassa dos alicerces de cada arranha–céu foi umedecida com o
sangue, as lágrimas e o sofrimento de uma legião de trabalhadores mal
alimentados e privados de conforto.
—
Ora… isso é literatura.
— Talvez seja. Mas nós, felizmente, estamos bem
longe de tudo isso.
— Está bem, senhor Primeiro Orientador. De
Qualquer modo, o que desejamos é voltar para lá.
—
Voltar?
—
Sim. Voltar para a nossa
terra.
O Primeiro Orientador olhou-nos serenamente, sem
raiva nem ironia e, lentamente,
pronunciou as palavras:
— Daqui ninguém sai!
Sálvio e eu ficamos mudos e assombrados. Quincas,
no entanto, adiantou-se, e, pela primeira vez, tomou a palavra:
— Eu quero ficar aqui. Aqui morreu
meu pai. Aqui vive um velho amigo
meu. Eu ficarei.
— Será um prazer para nós — respondeu simplesmente o
velho.
Agarrei o braço de Quincas e
exclamei:
— Quincas! Você enlouqueceu! Pensou bem, Quincas?
— Perfeitamente. Não preciso pensar mais.
— Quincas… você quer ficar… só… por causa dela?
— Por causa de Vanila, sim, e porque vejo que aqui há
uma tranquila felicidade que nunca senti antes.
— Quer dizer que você nos abandonará?
— Se vocês não ficarem…
— É a sua decisão?
— A última. Sinto muito.
Eu ia estourar, mas Sálvio
interveio:
— Muito bem. Quincas é livre e fará o que quiser.
Nada
temos com isso. Só lhe podemos desejar felicidade.
Eu me voltei para o velho e quase
gritei:
— E nós ? Que é que decide ?
— Decidiremos a contento de todos.
Procurem-me amanhã à tarde e
tratem de aproveitar bem estas horas…
Pareceu-me
que aquilo era despedida e ameaça muito clara. Voltamos ao quarto, mas Quincas
sumiu. Eu estava louco de raiva, e Sálvio
profundamente desolado. As coisas não tinham tomado o rumo que ele
esperava. Sentia-se, também, de certo modo,
ludibriado. Todo o seu sonho de templos
subterrâneos e um estranho povo primitivo, meio–selvagem, ruíra diante de uma realidade talvez mais extraordinária
mas menos empolgante.
— É uma cambada de loucos! — dizia eu. — Loucos!
Loucos varridos! Precisamos fugir… e tem que ser esta noite!
* * *
Ao anoitecer, Quincas entrou no quarto com a fisionomia alterada e
falando misteriosamente:
— Tenho que lhes dizer uma coisa…
— Que aconteceu ? — perguntei, prevendo complicações:
— Vocês têm que ficar, de qualquer modo.
— Ora! Deixe de ser idiota!
— Ficar de boa vontade, ou morrer.
— Ah! São esses, então, os sentimentos humanitários dos
atlantes?
— Fale baixo! Serão condenados à morte.
— Mas não poderíamos jamais suportar essa gente!
— Se tentarem fugir, morrerão no caminho.
— Mas
teremos que fugir. Você compreende que, se
ficássemos, seria o diabo para todos. íamos estorvá-los.
Não! Não pode ser!
—
Compreendo. Que se há de
fazer ?
—
Você! Você talvez nos
possa ajudar… Vanila…
— Ja sei. Falarei com ela…
Quincas
hesitou por um momento, e, depois saiu, decidido.
Sálvio
e eu começamos a temer por nossas vidas. E o pior é que compreendíamos que,
agora, tínhamos de aguentar. Nós mesmos — melhor seria dizer eu — criáramos
situação insustentável. Havíamos demonstrado claramente demais ao Primeiro
Orientador a nossa capacidade de revolta e de intolerância. Eles não podiam
hesitar.
Sálvio
não dizia coisa alguma. Sentado no banco, com a cabeça entre as mãos, pensava,
e nem respondia às minhas palavras. Eu caminhava de um lado para outro,
resmungando, praguejando, xingando todo mundo.
Quincas reapareceu pela madrugada. Olhou-nos e, depois, dirigindo-se a
Sálvio, falou:
— É uma loucura. Será melhor ficar.
— Conseguiu alguma coisa ? — perguntei.
— Pensem melhor e fiquem — insistiu ele.
— Diga logo o que arranjou, Quincas!
O bom amigo olhou-me com ar de
censura. Depois, disse:
— Bem…
vocês querem arriscar…
— Diga logo, Quincas!
— Ouçam com atenção: Terão que partir imediatamente,
mas não poderão voltar pelo caminho por onde viemos. É
preciso partir em sentido contrário, para Oeste, até alcançar o
rio Jamaquim, o primeiro rio grande. Descerão por
ele até ao Tapajós, e por este irão até o Amazonas.
— É fácil! — exclamei. — Será um
passeio!
Não
será tal. Quem não conhecer o caminho jamais chegaará ao Jamaquim. Daqui até lá
toda a região é um pântano intransponível.
Man, então.. .
? Quincas tirou um papel do bolso.
– Olhem.
Aqui está um mapa com as indicações necessárias. Caminhos subterrâneos,
atalhos, pousos de alimentação, fontes de água pura… Sigam por este mapa,
aconteça o que acontecer. Se não fizerem isso, estarão irremediavelmente
perdidos…
— Quincas..
. e você?…
Não se preocupem comigo.
Venha também… Voltemos juntos, como viemos…
— Não. Eu prefiro ficar. Ficarei.
CAPÍTULO 29
E AGORA?
QUANDO
OS PRIMEIROS ALBORES DA MADRUGADA CÔMEçavam a tingir de côr-de-rosa as ondulações do nascente, nós dois estávamos sobre uma colina, a Oeste, já
bem longe de Atlântis.
À
nossa frente estendia-se um tremedal infinito, que se prolongava até o
horizonte. De longe em longe surgia do meio da água estagnada o esqueleto de
uma árvore, retorcido, torturado,
implorando clemência do céu. Subia daquele pântano um vapor espesso,
lento e malcheiroso.
Lá atrás se erguia, majestoso, sereno, negro contra o albor matizado da madrugada — Geomá, a mole de
granito em forma de pão de açúcar, que escondia o mistério de um povo
que fora, era, e havia de ser…
Àquela hora, enquanto nós contemplávamos o torvo
tremedal sem fim, os atlantes
estariam se levantando, e, dentro em pouco, iriam para o parque verdejante,
rindo, correndo, saltando, brincando como crianças, felizes numa grande alegria de viver, praticando o saudável
exercício matinal que lhes daria um bom dia…
Olhei Sálvio. Seus grandes olhos tristes estavam presos ao rochedo.
— Sálvio… É uma loucura! — O que?
—
Voltar… Fiquemos.
— Não seria mais possível. Eles não teriam mais confiança
em nós, Jeremias. Seríamos um espinho encravado nu admirável serenidade desta
gente. Onde está o mapa?
— Está aqui — estendi-lhe o
papel.
Estudamo-lo por alguns minutos.
— Esta é a colina onde estamos — dizia Sálvio a
meia–voz. — Aqui está, também, aquela pedra redonda, à esquerda… A
entrada do subterrâneo é ali, à direita da pedra redonda, por trás dos
arbustos. Vamos.
— Eu levo as tochas e os mantimentos. Vamos, Sálvio…
Lançamos um último olhar ao rochedo
sombrio., Geomá!, que ali ficava, cobrindo com o seu peso o
indefinível mistério dos atlantes sempre-vivos!
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