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CAPITULO
6

A MENSAGEM DE FERRO

D EPOIS DE ALGUMAS HORAS
DE MARCHA SOB 0 SOL,

paramos à
sombra de frondosas árvores, à beira de um regato, para preparar o almoço e
descansar um pouco. E, enquanto Sálvio dormia calmamente, a luzidia careca
exposta ao ar, Quincas e eu mantivemos longa palestra. Quincas, apesar de
rústico e sem cultura, possuía espírito lúcido e, habilidosamente, me levou a
contar como havíamos resolvido fazer tal viagem.

—    Por acaso. A última coisa que eu esperava em
minha vida era vir meter-me nestes sertões. Sálvio, tampouco, jamais pensou
nisso. Ele sabia que existe, no interior do Brasil, qualquer coisa que se
prende às antigas civilizações, mas eu nem sequer suspeitava disso. No entanto,
é a mim que se deve a realização da viagem, ou melhor, de-ve-se a um tio meu,
chamado Adolfo, que morreu na Venezuela há mais de um ano…

—   
Já sei. Seu tio deixou
documentos e mapas…

—    Não. Deixou-me uma arca, e, dentro dela,
estava guardado um trabalho em ferro batido, pedaço de grade que não sei onde ele
arranjou. Decerto foi lá pelas Guianas. Quando Sálvio viu a grade de ferro,
ficou como louco.

—   
Por quê? Que é que havia
na grade?

—    
Para mim não havia senão desenhos
de ferro, como os de todas as outras grades. Mas para Sálvio havia uma
significação de extraordinária importância. Basta dizer que ele passou uma
noite inteira, até às nove horas da manhã seguinte, em minha casa, examinando a
grade e fazendo cuidadoso desenho dela. Eu estava até ficando com medo. Quando ele
me falava naquelas coisas eu sentia que meu espírito vacilava e que sombras se
estendiam sobre os meus sentidos.

Quando fomos para o quarto dele, com o desenho no bolso, estávamos
naquele estado de espírito que muito se assemelha ao cansaço, e evitámos falar
no assunto que nos trazia juntos. Falávamos de coisas diferentes. Eu é que,
reatando os raciocínios a que me vinha entregando depois do curso de
paleogeografia que Sálvio fizera na noite anterior, comecei:

— Pensei
muito, Sálvio. Estou convencido de que o nosso continente foi o berço da
humanidade e da civilização. Realmente, se o homem apareceu neste continente
durante a Era Terciária — durante os milhões de anos que decorreram até a Era
Quaternária deve ter progredido constantemente. E nessa época pôde emigrar,
surgindo em outros pontos do globo e dando origem às aglomerações humanas que
mais tarde formariam as sociedades africanas e asiáticas.

É o que tenho dito — apoiou Sálvio.

—    É evidente. O homem não poderia ter
ficado estacionário durante milhares de anos para progredir de um salto mais
tarde. Uma coisa, no entanto, não compreendo, Como é que os nossos antepassados
americanos regrediram até chegar ao estado em que se encontravam na época do
descobrimento ?

—    Pode ser que depois de ter atingido o auge, à
civilização sul-americana tivesse decaído, até ao desaparecimento, enquanto, em
outros pontos, florescia a civilização dos atlantes que, por sua vez, decaiu,
dando lugar à dos egípcios e à dos maias, astecas e incas…

—   
Sim. Pode ser.

—    
Pode ser, também, que partindo
daqui, devido a causas que ignoramos, os homens tenham se passado a outro
continente, deixando pequenos grupos inferiores, incapazes de continuar a civilização. E pode ser ainda
que grupos saídos desta parte se localizassem em outros pontos deste mesmo
continente, sem se preocupar com nenhuma espécie de progresso e, tornados
selvagens, voltassem, muitos anos depois, a atacar os que tinham ficado
entregues à tarefa do progresso.

—   
Sim. Podem-se formar
inúmeras hipóteses.

—    Quer ver uma coisa? O idioma tupi-guarani deve
ter sido perfeito, pois que, apesar de longa decadência que naturalmente
o veio mutilando durante séculos, é ainda hoje uma língua falada não apenas por
sábios e estudiosos como sucede com o grego e o latim, mas corretamente por
muitos milhares, talvez milhões de pessoas no Paraguai, na Bolívia e nas
fronteiras do Brasil. Só uma língua com grandes recursos e capacidade de
resistência poderia permanecer, como essa, através do tempo, apesar da
infiltração dominante das línguas castelhana, portuguesa e inglesa.

—    Tem razão. Só um grande povo poderia ter
manejado e aperfeiçoado uma língua assim. Mas tenho ainda uma dúvida: por que é
que, em todas as regiões onde florescem grandes civilizações, sempre se
encontram vestígios e aqui isso não acontece?

—    Já falamos disso. Primeiro, podemos imaginar
que a civilização que floresceu aqui foi muito anterior às mais antigas de que
temos conhecimento na Ásia e na África. Segundo, há engano de sua parte, como
também já falamos. Os vestígios abundam por todos os lados, e de tão antigos se
confundem com os acidentes naturais. Mas o principal é o seguinte: o nosso povo
não tem educação suficiente para se interessar peio assunto e para
avaliar qualquer encontro fortuito. Um lavrador que em qualquer canto da Europa
encontre um pedaço de louça de forma estranha sabe logo a quem se dirigir, sabe
que convém guardá-lo para comunicar o fato a alguma instituição científica. Se
fôr o caso, logo depois se fazem escavações no local. Mas, aqui… ninguém se
incomoda com essas ninharias… e nem mesmo com coisas mais importantes.

—    A propósito, lembro-me de ter visto, há alguns
meses, numa casa da Praça do Patriarca, exposição de peças arquitetônicas, ou
coisa parecida, antigas, encontradas numa escavação no interior de São Paulo.
Que fim levou aquilo ?

—    Não sei. Mas, fosse ou não coisa importante,
decerto está esquecido. Entre nós o normal é não fazer caso. Sabe o que é?
Sofremos de "doutoria" aguda. Aqui todo mundo é autoridade, todos
sabem demais e são superiores. Se algum trabalhador encontrar no campo uma
preciosidade arqueológica, em 99 por cento dos casos meterá a enxada e
destruirá tudo. Mas, se por espírito curioso resolver conservar o achado,
consultará o primeiro "doutor" que encontrar — o delegado, o prefeito
ou qualquer outro. Este, por sua vez, sentado sobre a Sabedoria, dará uma
olhada, fará um trejeito, e exclamará: "Bobagem! Isso é uma pedra comum.
Os efeitos da erosão nas pedras friáveis são caprichosos! Os veios arenosos
desagregando-se produzem pedaços assim às vezes com a forma de cachimbo. Puro
acaso. Isso é bobagem sem valor." Ou então, dizem: "Ora.. .
isso é um pedaço de vaso de barro que caiu por aí…" E assim se lavram as
sentenças! Suponha que o lugar onde se fêz um achado daqueles é rico em peças
arqueológicas… estará tudo perdido, porque o "doutor" já explicou
que é bobagem!

—   
E as grandes construções?

—    
É a mesma coisa. As que se
encontram são logo identificadas como "caprichos na natureza". Além
disso, a parte mais interessante do Brasil está ainda coberta de matas, e
despovoada. Há banhados intermináveis, matas virgens, serras imensas e
inexploradas, que podem guardar surpresas. O fato é que não se procedeu a
nenhuma exploração sistemática em nossa terra, afora as pesquisas de Peter Lund
e Aníbal Matos, nas cavernas do Rio das Velhas em Minas Gerais. E devemos salientar que estas únicas deram grandes e proveitosos resultados. O
melhor, porém, está por fazer. Não nos esqueçamos de que na índia os templos
dos misteriosos cultos antigos são todos escavados no interior de montanhas. O
mesmo se dá na África e em vários pontos do Egito.

—    Você quer dizer que aqui na América do Sul…

—    É uma simples hipótese, bem entendido. Mas,
falando seriamente, acredito que nesses imensos sertões do Brasil deve haver
templos dessa espécie, que qualquer dia serão descobertos.

—    Por nós?

—    Nós descobriremos um, pelo menos.

—    Como é que o pode afirmar?

—    
Por esta mensagem de ferro.

 

 

CAPITULO 7

DECIFRAÇÃO DA MENSAGEM DE
FERRO

-MAS ESTOU ABORRECENDO VOCÊ COM ESTA HISTÓRIA toda, Quincas.

—    Nada disso! Estou gostando muito! O senhor nem
imagina como é interessante!

—    Pois não parece. Isto é; eu gosto. Por mim,
falaria nisso o dia todo, mas, para os outros… a gente nunca sabe.

—    Ora… Eu acho lindo. Continue. Que é que
dizia aquele pedaço de grade? Estou querendo saber.

—    
Como eu já disse, Sálvio tinha
estudado aqueles ferros velhos, e, quando estendemos o desenho sobre a mesa,
comecei a sentir certa inibição, prevendo que alguma coisa de muito estranho me
ia ser revelado. Haveria, em verdade, isso a que se chama "Ciência
Oculta"? Haveria, em verdade, uma seita científico-religiosa cujos
membros, através dos tempos, desprezando o padrão comum de vida, desprezando os
apetites e prazeres vulgares, se haviam dedicado ao estudo das misteriosas
forças que residem dentro e em redor de nós para chegarem a resultados
positivos que a ciência esotérica teima em ignorar e que haviam criado símbolos
para se exprimir de tal modo que só os iniciados, em qualquer tempo, os possam entender?
Meu espírito, pouco afeito a lidar com mistérios e coisas sobrenaturais,
resistia em admitir tal tese. Mas, por outro lado, parecia haver, lá bem no
fundo do meu ser, uma tendência, um impulso que me convidava a abrir os braços
para estreitar esse conhecimento, esse contacto estranho que tão vagamente se
anunciava. Nestes assuntos, não se trata de compreender ou não compreender.
Trata-se, sim, de crer ou não crer, e eu não saberia dizer honestamente se
acreditava ou não, mas, examinando-me, julgava-me mais propenso a admitir do
que a repudiar.

O desenho estava sobre a mesa. Sálvio o havia refeito; não era mais
aquela primeira cópia em papel comum, mas um cuidadoso desenho a nanquim, feito
em ótimo papel de linho, pelo qual eu podia acompanhar perfeitamente as
explicações.

Aquelas
linhas negras tomavam corpo diante dos meus olhos. Pareciam animar-se na
estranheza, na desusada composição geométrica. Agora, aquilo ia adquirir vida,
ia falar, através das palavras do meu amigo. Sálvio passeava de um lado para
outro, de cabeça baixa, olhos pregados no chão, pensativo, a calva violácea
reluzindo à luz da lâmpada. De repente, parou. Fixou em mim seus olhos
castanhos e falou:

—    Comecemos pela cruz que está dentro do grande
círculo. O traço vertical da cruz, segundo a tradição da kabala hebraica, como
de todas as cosmogonias, significa o "língan sagrado", símbolo eterno
do fogo e da origem solar, o próprio sol, que é considerado a energia inicial e
criadora. O traço horizontal significa o "cteis", a própria vida manifestada.
Assim, a cruz é o templo do Deus-Sol. Como vê, ela está inscrita dentro de um
grande círculo, que é o equivalente gráfico do Absoluto — o que não tem
princípio nem fim.

—   
E o triângulo?

Sálvio
deteve-se um momento a pensar. Depois, debruçou-se sobre o desenho, como se
quisesse palpá-lo com os olhos.

— Esse
triângulo é quase desnorteante, porque, representando a divindade nos ritos
maçônicos, é, também, a forma consagrada dos altares da magia…

— Espero entender isso mais
tarde, Sálvio. E a flor?
— A flor é o "lótus de mil pétalas" e assim colocado no

topo da cruz
torna ainda mais difícil a interpretação geral do símbolo, uma vez que ela
significa "o perfeito iniciado", o alto sacerdote. Talvez signifique
que a penetração total do segredo esteja reservada unicamente ao mais perfeito
conhecedor dos sagrados mistérios.

— Entendo. Continue.

— Observe,
agora, estas duas runas, uma à direita e outra à esquerda do grande círculo. A
primeira representa o "homem de pé com os braços erguidos", e a outra
representa o "homem sentado". — E Sálvio exemplificou, primeiro
erguendo os braços, depois acocorando-se — o que reproduzia, realmente, os dois
pequenos desenhos. Depois, continuou:

— O
"homem de pé com os braços erguidos" significa riqueza e poder; o
"homem sentado" significa paz e tranquilidade. Observe, agora,
que elas estão colocadas na direção leste-oeste, ou seja, na direção em que
flui a corrente das forças cósmicas, e a própria trajetoria do sol. Não se
esqueça disto, que será importante.

—    Não me esquecerei. Continue.

—    Veja agora: a lua, assim localizada no canto
superior esquerdo, está em oposição ao sol, que se encontra no canto inferior
direito. Se tomarmos o grande círculo como o globo terrestre, veremos que sol e
lua simbolizam uma posição astrológica perfeita: o equinócio de outono. Não se
esqueça disto, também. O mais importante, porém, é estar o símbolo inscrito
sobre uma "pedra".

—    Que pedra?

—    Chamamos "pedra" a esse friso
quadrangular que envolve todo o símbolo. É preciso desbastá-la até chegar à verdade.

—    Ah… agora compreendo. Continue.

—    
Creio que você se recorda de
nossas conversas anteriores. Falamos que teria havido, na América do Sul, uma
civilização muitas vezes milenar, e concluímos, por força dos testemunhos
acumulados, que essa civilização não é mera fantasia, mas existiu realmente.
Pois bem. Se existiu, como temos que admitir, teve por base uma religião, como,
aliás, todas as civilizações — e essa religião só poderia ter sido o Culto do
Sol, porque o Sol foi a primeira e máxima divindade para todos os povos. Foi o
primeiro Poder, o mais real e sensível, e por isso, o que primeiro logrou os
agradecimentos e a adoração do homem. Chegados a este ponto, temos que
reconhecer um fato centenas de vezes comprovado pelos arqueólogos e
historiadores da antiguidade: quase todos os templos dedicados ao Deus-Sol eram
subterrâneos.

—    E, assim sendo…

—    Assim sendo, podemos dar mais um passo na
interpretação do nosso símbolo: o Templo do Sol representado pela cruz dentro
do círculo está num morro, aqui representado pelo triângulo, que é, também, a
forma consagrada dos altares da magia. Agora tudo se torna mais claro, não é?

—    É o que espero. Vejamos.

—    Se no Brasil existe, ou existiu, um templo
onde se adorou o Deus-Sol, é fora de dúvida que se localiza no interior de uma
montanha e que, para o encontrar, teremos que seguir as claras indicações do
símbolo.

—   
Chegou o momento solene,
Sálvio!

—    Por quê?

—    Porque agora é que não entendo mais nada. Você
disse que está tudo claro, mas a minha impressão é que fizemos uma baralhada.

—    Não há perigo. A ponta da meada está na nossa
mão. Siga as minhas palavras: o equinócio do outono, aqui indicado pelas
posições relativas do sol e da lua, deve se dar no ponto central do círculo, na
intersecção dos dois braços da cruz. Encontraremos esse ponto seguindo a
própria trajetória do sol indicada pelas runas, isto é, leste-oeste.

—    
Não entendo. Equinócio do outono,
direção das runas, trajetória do sol, ponto central do círculo… tudo isso é
muito impreciso. O que desejamos é um ponto visível, tangível, colocado nalgum
lugar sobre a superfície da terra. Como o encontraremos?

—    Seguindo as indicações do símbolo; fazendo
cálculos astrológicos e astronómicos, localizaremos geograficamente o ponto que
nos interessa.

—    Bem. Isso é com você. Fale mais sobre a tal
"pedra". Tropecei nela.

—    Ela é muito importante, porque será o nosso
ponto de referência. Todas as mensagens que nos foram legadas pelas tradições,
ocultas são metódicas. Se os símbolos explicativos que estudamos estão
inscritos na pedra, quer dizer que ela é o nosso marco, o ponto inicial e final
das pesquisas.

—    Estou começando a entender. Continue.

—    Estamos avançando seriamente, Jeremias. Não só
apreendemos o sentido oculto do símbolo, como chegamos quase à solução. E digo
mais…

—    Um momento — interrompi. — Você está falando
com tal entusiasmo que parece já ter encontrado uma barrica cheia de ouro e
pedrarias, como nos bons tempos em que se encontravam tesouros de piratas.

—    Você está enganado! — E pela segunda vez vi
Sálvio zangar-se. — O que me interessa é simplesmente a verificação
arqueológica, o encontro do templo ou de seus vestígios, para poder provar,
irrefutavelmente, a todos os descrentes do mundo, que em nossa terra já
floresceu, em tempos idos, grandiosa civilização. E se, quando chegarmos, houver
barricas de ouro ou pedrarias — juro que elas pertencerão exclusivamente a
você!

—    Combinado! Mas você está falando como quem já
resolveu a viagem por aí a fora à procura do Templo.

—    Ora essa! Sempre pensei que não houvesse
dúvida quanto a isso. Faremos a viagem, não faremos?

—   
Claro! E por que não a
faríamos?

—    
Naturalmente! Não poderemos
perder esta oportunidade, a mais rara que já se apresentou a qualquer mortal,
menos a que fêz com que Colombo e Cabral viessem à América. Foram, também,
revelações semelhantes que os trouxeram.

—   Tem razão, Sálvio. Seremos novos Colombos e Cabrais. E
iremos, nem que seja só pela aventura, e para descansar um pouco desta vida
imbecil que levamos na cidade. Iremos. Continue.

—   Como você disse, precisamos encontrar o ponto geográfico,
o que faremos por meio de cálculos. Além disso, temos outra referência: uma
lenda de origem tupi, conhecida, em vários pontos do Brasil. Mas começarei
pelos cálculos.

—   Ótimo! Quero ver o mago em ação! Quero vê-lo riscando
os arabescos cabalísticos, e acabar extraindo dos sinaizinhos mágicos a grande
revelação!

—   Usarei sinaizinhos mágicos, mesmo, e você os conhece.
São mágicos, mas o seu uso universal, comum e contínuo, tirou-lhes todo o valor
de magia… Sabe quais são?

—   Sei. São hieróglifos, petróglifos e runas.

—   Não. Usarei os descendentes deles. Os nossos
conhecidíssimos algarismos árabes.

—   Eu bem vi que era só "papo".. . E a tal
lenda de que você falou há pouco?

—   Você conhece-a. É a lenda da Mãe do Ouro.


Conheço, sim. Em Iguape, até hoje essa lenda tem Coros de realidade.

—   E como contam a lenda em Iguape?

—   É mais ou menos isto: em certas noites de verão, uma
bola de fogo sai de um monte de cujo nome não me lembro, descreve uma curva no
céu e vai cair sobre o Morro da Paixão. Dizem que aquele que se encontrar sôbre
o morro, no momento da queda da bola de fogo, ficará rico e feliz para o resto
da vida. Por isso é que a bola de fogo é conhecida como a "mãe do
ouro".

—   
Com pequenas variantes é a mesma
lenda que corre em todo o Brasil. Dizem que no Rio o fenómeno já foi observado
na Pedra da Gávea. Certos conhecimentos que tenho e que não quero revelar
afirmam que essa bola de fogo assinala o local onde existe ou existiu um Templo
do Sol.

—    Se é assim, podemos ir ao Rio, ou a Iguape.
Para que ir ao centro do Brasil?

—    Seria interessante, se não tivéssemos esta
"mensagem de ferro" que devemos respeitar.

—    Está bem. Afinal, você monopolizou o assunto.
Quando vai fazer os seus cálculos?

—    Hoje mesmo. Esta noite estarão prontos e então
saberemos qual o ponto exato que devemos alcançar.

Sálvio
começava a acordar. Quincas parecia inteiramente alheio a tudo ouvindo a minha
narrativa. Quando parei, ele me interrogou com os olhos.

—    No dia seguinte pela madrugada — continuei —
Sálvio foi me acordar dizendo que partiríamos dentro de 24 horas…

—    E esse louco quase me bateu! — protestou
Sálvio sentando-se. — Não sei que diabo lhe deu nesse dia!

—    Ora, é natural, Sálvio! Você vem me tirar da
cama às cinco horas para dizer aquilo! Tenha dó! O que me valeu foi o Mateus e
um passeio que fiz em seguida pelo campo. Se não fosse isso creio que não teria
vindo!

Sálvio levantou-se e veio me dar um sonoro tapa nas costas enquanto ria
gostosamente. — Acho que é hora de prosseguir, não é, Quincas?

— Não
é cedo para isso, seu Sálvio. Temos uns trezentos quilômetros até Formosa…

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