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LXX. Um seu inimigo, homem audacioso e temerário,
chamado Marco Lépido, foi escolhido cônsul nessa eleição, contra sua
vontade. E foi eleito, não porque o povo lhe tivesse afeição, mas somente
porque queria agradar a Pompeu, que favorecia o candidato. Sila, encontrando-se
com Pompeu, que regressava à sua casa todo orgulhoso, por motivo da vitória,
chamou-o e disse-lhe: "Jovem amigo, realizastes uma obra-prima política ao
ele-gerdes, não Catulo, o mais sábio de todos os nossos cidadãos, mas um homem
irrefletido como Lépido. Mas tomai cuidado, não vos descuideis, pois destes
fôrça em vosso próprio prejuízo, ao vosso adversário mais
perigoso". Estas palavras de Sila constituíram uma verdadeira profecia,
pois Lépido não demorou a demonstrar a sua audácia e insolência, tomando
partido contra Pompeu.

(1)   No ano 675 de Roma.

 

LXXL Sila consagrou a Hércules o dízimo de seus bens; e,
por esse motivo, ofereceu ao povo festas magníficas. Houve uma tão grande
profusão de iguarias, que, diariamente, era atirada nas águas do Tibre uma incalculável quantidade de carne. E foi
servido vinho de quarenta anos, e ainda mais velho. No meio destes festejos,
que duraram vários dias, Metela morreu. Durante sua enfermidade, os sacerdotes
e adivinhos proibiram a Sila que a visse, e advertiram-no de que sua casa não
devia ser poluída por funerais. Êle decidiu, então, separar-se dela, e mandou
levá-la, quando ainda viva, para outra casa. Observou, assim, cuidadosamente, a
ordem dos adivinhos; mas transgrediu a lei que êle próprio promulgara sobre a
limitação das despesas com os funerais, nada poupando com os de Metela. Não
observou, também, os regulamentos sobre a simplicidade das refeições, de que
era igualmente autor; e, para consolar-se de seu luto, passava os dias em
festins e na orgia.

LXXII
Alguns meses depois, promoveu um
combate de gladiadores; e como então os lugares não eram ainda marcados, nos
espetáculos, confun-dindo-se os homens e as mulheres, Sila viu-se, por acaso,
perto de uma mulher muito bela e de família ilustre. Era filha de Messala, irmã
do orador Hor-tênsio, chamava-se Valéria e acabara de divorciar-se. Esta
mulher, após aproximar-se de Sila por detrás, colocou-lhe a mão no ombro e
tirou-lhe um pêlo de seu manto, voltando em seguida ao seu lugar. E como Sila a
olhasse surpreendido, ela disse-lhe; "Senhor, não vos surpreendais; quero
também partilhar de vossa felicidade".   Estas palavras agradaram a Sila;
parece mesmo que o lisonjearam extremamente, pois mandou saber logo o seu nome,
qual a sua família e situação. Desde esse momento, não houve senão olhares
recíprocos, sorrisos de mútua simpatia, que terminaram num contrato de
casamento. Valéria, quanto a isso, não merece talvez censuras; mas Sila não
pode ser desculpado. Mesmo que ela fosse a mais virtuosa das mulheres, seu
casamento não teria tido por isso um motivo mais honesto: êíe tinha se deixado
prender, como se fosse um jovem sem experiência, por meio de olhares e lísonjas
que, em geral, acendem as paixões mais vergonhosas. A companhia de tal mulher
não impediu que êle continuasse a conviver, em sua casa, com atrizes e
tocadoras de instrumentos, e de manter sempre ao seu lado farsantes, músicos,
com quem bebia, desde: a manhã, deitado sobre simples colchões. As
pessoas que então gozavam de maior prestígio junto a êle eram o comediante
Róscio, o chefe de pantomimas Sorex e um certo Metróbio, farsante, que fazia
papéis femininos; e embora este último já estivesse velho, Sila continuava a
amá-lo e não se envergonhava em confessá-lo.

LXXIII Esta vida de devassidão agravou nele uma doença que a
princípio parecia sem maiores conseqüências. Levou muito tempo para perceber
que se havia formado em suas entranhas um abscesso, o qual, tendo
insensivelmente apodrecido suas carnes, ali formava tal quantidade de pus, que
várias pessoas
empenhadas, noite e dia, em retirá-lo, não conseguiam estancar-lhe a fonte; e o
que se retirava pouco representava em comparação com a nova quantidade que se
formava incessantemente; e por este motivo, suas roupas, seus banhos, os panos
com que o enxugavam, a sua própria mesa, tudo ficava como que inundado pelo
fluxo inesgotável desta podridão, tal a abundância com que vertia! Êle entrava,
várias vezes por dia, no banho para lavar-se, para limpar o corpo; mas todos
estes cuidados eram inúteis; suas carnes se transformavam tão rapidamente em
podridão, que todos os recursos utilizados para contê-lo se revelavam
ineficazes.

LXXIV, Conta-se que, entre os antigos, Acasto, filho de
Pélias, e, em época mais próxima, o poeta Alcmane, Ferecides, o filósofo,
Calístenes de Olinto e Múcio, o jurisconsulto, morreram da mesma enfermidade; e
se fôr preciso citar outros nomes, de pessoas que, embora nada tenham feito de
notável, não deixam de ser conhecidas, acrescentarei o de Euno, o escravo
fugitivo que provocou a primeira guerra (1) de escravos na Sicília, e que,
levado preso para Roma, ali morreu da mesma moléstia.

(1)    No  ano  619,  de  Roma.

 

LXXV.
Sila previu sua morte, e anunciou-a
mesmo, de algum modo, em seus Comentários; pois, dois dias antes
de morrer, acabou  de escrever o vigésimo-segundo Livro, onde conta que os
caldeus lhe tinham predito que, depois de viver uma vida gloriosa, morreria no
ponto mais alto de sua prosperidade. Acrescenta que seu filho, morto
poucos dias antes de Metela, apareceu-lhe em sonho, com um’manto muito feio, e’
que, aproximando-se dele, pediu-lhe que não trabalhasse mais e que fosse em sua
companhia para perto de sua mãe Metela, a fim de viver com ela num ambiente de tranqüilidade
e livre de preocupações. Este sonho não impediu contudo, que êle tratasse dos
negócios públicos. Com efeito, dez dias antes de sua morte, apaziguou uma
sedição, que se manifestara entre os moradores de Diceárquia, e
proporcionou-lhes leis, prescrevendo-lhes a maneira como deviam gcvernar-se.
Nas vésperas de sua morte, tendo sabido que o questor Grânio, que devia ao
tesouro público uma soma considerável, adiava o pagamento, e esperava sua morte
para lesar a República, mandou-o chamar, e ordenou aos criados que o prendessem
e estrangulassem. Nos esforços que fêz, gritando e agitando-se com violência,
seu abscesso rebentou, e êle perdeu uma grande quantidade de sangue. Suas
forças esgotaram-se, e, após ter passado muito mal a noite, morreu (1) na manhã
do dia seguinte, deixando, de Metela, dois filhos de poucos anos de idade. Após
sua morte, Valéria deu à luz uma menina, que recebeu o nome de Póstuma, pois os romanos chamam póstumos os filhos que
nascem depois da morte do pai.

(1)    No ano 676, de Roma.

 

LXXVI.
Mal expirara, e vários cidadãos se
aliaram ao cônsul Lépido a fim de impedir que fossem realizados os funerais que
convinham a um homem de sua categoria. Mas Pompeu, embora tivesse queixas a
fazer, pois Sila não o incluirá em seu testamento, ao contrário do que fizera
com todos os seus amigos, tanto fêz, pedindo e ameaçando, a uns e outros, que
conseguiu fosse abandonado o plano. Mandou trasladar o corpo para Roma, assegurando
ao cortejo inteira liberdade, e fêz com que se prestassem a Sila todas as
honras adequadas. As mulheres romanas, conta-se, levaram tão grande quantidade
de aromáticos que, além daqueles contidos em duzentos e dez açafates, houve
cinamomo e incenso bastantes para fazer uma estátua representando Sila, de
tamanho natural, e outra representando um litor conduzindo os feixes de varas,
diante dele. No dia dos funerais, o céu mostrou-se desde cedo, muito nebuloso,
e receava-se uma chuva forte; esperou-se até à nona hora, para o transporte do
corpo. Logo depois de ter sido este colocado sobre a fogueira, soprou um vento
continuado, que atiçou rapidamente as chamas, sendo os despojos consumidos
antes de cair sequer uma gota de água. Mas lego que a pira começou a
desfazer-se e o fogo a amortecer, caiu uma chuva pesada,  que durou  até à noite. Deste modo, a fortuna parece
ter-lhe que-rido ficar fiel até o fim de seus funerais. Seu túmulo acha-se no
Campo de Marte; e afirma-se ser êle próprio o autor do epitáfio que ali se vê,
e cujo sentido, em resumo, é que ninguém jamais fêz tanto, bem aos amigos e nem
causou maiores danos. do que êle, aos inimigos.  

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