Resumo de Filosofia Grega – Terceiro Período

Noções de História da Filosofia (1918)

Manual do Padre Leonel Franca.

CAPITULO III

TERCEIRO PERÍODO — (300 a. C. — 529 p. C.)

36. CARÁTER GERAL — Apesar dos esforços construtivos da escola estóica e epicuréia, este período assinala a decadência e a dissolução da filosofia grega. Os discípulos dos grandes mestres do período precedente bem depressa degeneraram, fracionando-se em escolas antagonistas, que se combateram durante algum tempo, se confundiram mais tarde num ecletismo cosmopolita e por íim se extinguiram nas dúvidas do ceticismo. O iluminismo místico dos neo-platônicos é, no fim do período, uma tentativa abortada de reconstrução filosófica sobre bases religiosas.

As altas especulações cessam quase repentinamente, para dominar em todas as escolas a preocupação moral. Nesta orientação nova e, geralmente, na decadência da filosofia muito, influíram as condições sociais da Grécia. Com a perda da independência política (batalha de Cheronéia — 338), entorpeceram as energias naturais do gênio grego, e as inteligências, sem aspirações nacionais, pediram à filosofia, com uma norma de ação, o refúgio às misérias da vida e o segredo da felicidade pessoal.

Mais tarde, com a penetração romana, a filosofia se dispersa, tornando-se helenística. Roma e Alexandria são centros de cultura que rivalizam com Atenas.

DIVISÃO — Neste longo período de esfacelamento inte lectual estudaremos brevemente as escolas fundadas por Platão, Artistóteles, Epicuro e Zenão, que a princípio se defrontaram em Atenas, em seguida o ceticismo e o ecletismo que apareceram como consequência da dissolução das escolas anteriores. Um rápido aceno à filosofia greco-romana e greco-oriental completará o nosso estudo de filosofia antiga.

38. ACADÊMICOS — Na evolução da Academia, instituída por Platão, distinguem-se duas fases a da Academia antiga, cujo chefe é Speusipo, que, apesar de influências pitagóricas, ainda se conserva bastante fiel às doutrinas do mestre e a da Academia nova, que compreende a Academia média, fundada por Argesilau (c. 315-240 a. C.) e a tercêira Academia, inaugurada por Carnéades (215-240 a. C). Com Argesilau e Carnéades desviou-se a escola de Platão das tradições antigas, orientando-se para o probabilismo ou verossimilhança assim em metafísica como em moral.

BIBLIOGRAFIA

 Metzler, Academicorum philosophorum index Herculanensis, 1912;

 Lang, De Speusippi academici scriptis, 1911; F. Ravaisson, Speusippi placita, Paris, 1838; — L. Credaro, Loscetticismo degli accademici, 2 vols., Milano, 1889. 1903; — V. Brochard, Les sceptiques grecs.

§ l.° — Acadêmicos e peripatéticos

39. A ESCOLA PERIPATÉTICA, depois de Teofrasto (375–288), autor dos Caracteres e sucessor imediato de Aristóteles,-bem cedo também degenerou. Stratão de Lampsaco, que sucedeu a Teofrasto, já professa um empirismo muito acentuado.

Mais tarde, ainda que com tendências ecléticas ou mesmo filiados em outras escolas, concorreram para divulgar as idéias peripa-téticas:

Andrônico, de Rodes, que publicou e comentou as obras completas de Aristóteles. Foi escolarca em Atenas de 60 a 40 a. C.

Alexandre, de Afrodísio (II séc. da era cristã), chamado o segundo Aristóteles, é o mais célebre dos comentadores do Estagirita. Falseando-lhe por vezes o pensamento em sentido materialista, desviou escolas inteiras na Idade Média e na Renascença.

Porfírio (séc. III), neoplatônico, Themistius (séc. IV), de Bizâncio e Simplicius (séc. VI p. C), de Atenas, enriqueceram também a literatura peripatética com seus comentários.

BIBLIOGRAFIA

 H. Usener, Analecta Theophrastea, Lipsiae, 1858; — H. Diels, Theo-phrastea, 1883; — G. Rodier, La physique de Straton de Lampsaque, Paris, 1891; — F. Limo, Anâronikos v. Rhodos, 3 vols., München, 1890-94-95;

 Ε. Zeller, über die Benutzung der Aristot. Metaphys. in den Schriften der älteren Peripateüker, em Kleine Schiften, I, 191-214.

§ 2.° — Epicuro e sua escola

40. EPICURO (341-270 a. C). Natural de Samos, abriu em Atenas (306) uma escola caracterizada, pela concepção da filosofia considerada quase exclusivamente como arte de bem viver. A moral ocupa o centro de seu sistema, servindo-lhe a lógica e a física de preliminares.

A. Na lógica, desenvolve uma teoria sensista do conhecimento, erigindo a sensação em critério supremo da verdade. Por haver condensado tôda esta parte da filosofia em algumas regras práticas ou cânones, deu-lhe Epicuro o nome de Canônica.

B. Física. Fim único da física epicuréia é libertar a alma das duas causas que lhe podem tirar a paz: o temor dos deuses e a necessidade inexorável do destino. Neste intento, adota o seu autor o ma-terialismo atomista, da escola de Abdera, ligeiramente modificado em um ponto. Aos átomos, cujo movimento era, segundo Demó-crito, fatal e necessário, concede Epicuro a faculdade de se desviarrem espontaneamente da linha reta (exiguum clinamen de Lucrécio). Assim se explica a possibilidade e a existência do livre arbítrio na vontade subtraída ao implacável fado, fatis avulsa voluntas. "Tota res ficta est pueriliter", observa com razão Cícero.

C. Moral. O bem supremo do homem está no prazer negativo, na ausência completa de dor para o corpo e de perturbação nara a alma. Daí a regra de vida: voluptas expetenda, fupiendus dolor. Entre os prazeres, porém, existe uma hierarquia; o prazer em repouso é superior ao prazer no movimento, os prazeres da inteligência sobrelevam aos dos sentidos (44). No seu uso e escolha, o sábio deve ser moderado e prudente, procurando sempre que o gozo de um prazer não o venha privar de outro maior, sujeitando-se mesmo à dor, auando dela lhe possa advir maior soma de deleites. Em tôda esta aritmética moral, aue lembra a de Bentham, a norma única é: o homem é virtuoso e feliz quando, com um minimum de dores, se assegura um maximum de prazeres.

Parece que Epicuro pessoalmente fosse de vida moderada e austera ou. pelo menos, não mais dissoluta que a de seus contemporâneos. Mas suas doutrinas, substituindo o bem pelo prazer e o mal pela dor e estatuindo como norma suprema de moral um critério eminentemente subjetivo, tornaram-se mais tarde a dissolução de todo vínculo moral e o germe da abominável corrução de costumes, que fêz do epicureu o sinônimo do homem sensual, efemi-nado. incapaz de qualquer esforço ou luta moral pelo dever.

Entre os seus discípulos gregos citam-se Metrodoro, Polistrato, Apolodoro, Fedro e muitos outros. Veremos que entre os romane:; não foi menos numerosa a "grei de Epicuro" (Horácio).

BIBLIOGRAFIA

— Os fragmentos de Epicuro foram colecionados por H. Usener, Epicurea, Leipzig, 1887 (Obra fundamental); — Εtt. Bïgnone Epicuro opere, frammenti, testimonianze sulla sua vita, tradotte com introduzione e commenti, Bari, 1920 (complemento de Usener onde faltam os fragmentos de Herculanum e outros).

— G. Trezza, Epicuro e l’epicureismo*, Milano, 1885; — J. Kreibig, Epikur, seine Persönlichkeit und sein Leben, Wien, 1886; — M. Renault, Epicure, Paris, 1903; — E. Joyau, Epicure, Paris, 1910; — Α. Conti e G. Rossi, Esame delia filosofia epicurea nelle sue fonti e nella sua storia, Firenze, 1878; — H. Lengrand, Epicure et Vépicurisme, Paris, Bloud, 1906; (coli. Seien, et Relig.).

(44) Esta oposição entre α inteligência e οβ aentldoB não se compadece com o sensismo propugnado na lógica.

§ 3.° — Zenão e o Estoicismo

41. Com a mesma orientação prática que Epicuro, mas seguindo caminho inteiramente diverso, abriu Zenão, de Citium (340-263 a. C.), em 310, uma nova escola em Atenas. Do costume de ensinar num dos pórticos (στοά) da cidade, veio aos seus discípulos o nome de estóicos. Seu. sistema desenvolve as doutrinas da escola cínica, inspirando-se também em idéias de Heráclito, Platão e Aristóteles. É que Zenão lera os-filósofos antigos e ouvira os mestres das principais escolas contemporâneas; daí o caráter eclético de suas doutrinas.

Como em Epicuro, assim também no fundador do Pórtico, á prática sobreleva à teoria, e à moral se subordinam, como introdução necessária, a lógica e a física.

42. ESTOICISMO A. Lógica. Os estóicos seguiram a Analítica de Aristóteles (à qual foram os primeiros a dar o nome de lógica) acrescentando-lhe um tratado sobre o critério da verdade que, para eles, consistia na clareza da representação mental que força o assentimento do espírito. Insistiam também na origem sensitiva do conhecimento intelectual.

B. Física. Só a matéria é real. O mundo, concebiam-no como um vasto organismo animado por uma força única — Deus — chamado com os diferentes nomes de Fogo, Alma do Mundo, Razão, Pneuma, etc. Entre Deus e a matéria, porém, a diferença é apenas acidental, como de substância menos sutil a mais sutil. A evolução do universo, deste Deus-mundo (Teocosmos) é necessária, obedecendo em todos os seus estádios a um rigoroso determinismo. Assim aos imprevistos do acaso e ao governo da Providência se substitui o domínio da mais absoluta fatalidade.

Materialismo, panteísmo, fatalismo, resumem, pois, as teorias cosmológicas dos estóicos.

C. Moral. A regra suprema da moralidade é viver conforme a natureza, naturam sequere. Ε viver segundo a natureza (frase muito equívoca) significa, para o homem, viver segundo a razão, submetendo-se espontaneamente à fatalidade das leis cósmicas, cuja ine-xorabilidade êle racionalmente reconhece. Volentem fata ducunt, nolentem trahunt. Nesta submissão voluntária, que gera a imper-turbabilidade de espírito — ataraxia, consiste a virtude (recta ratio de Cícero) que é o único bem, a felicidade suprema, amável por si mesma e de si mesma prêmio. Gratuita est virtus; virtutis praemium ipsa virtus. O mal único é o vício, a revolta contra a harmonia das leis naturais.

Tanto o vício como a virtude são absolutos, não admitem graus. Quem possui uma virtude, possui tôdas e é sábio; quem comete um delito é réu de todos, e entre os crimes não há gradação: omnia peccata paria. Tudo o mais que virtude não fôr nem vício — prazeres, dores, humilhações, deshonra, pobreza, etc, — são coisas indiferentes, adiáforas, o sábio as despreza. Daí o célebre aforisma: sustine et obstine, sofre a dor e abstém-se do prazer.

O homem, porém, não é só razão. Da região inferior surgem tendências contrárias à parte racional, e por isso intrinsecamente más; são as paixões. Cumpre ao sábio extirpá-las a fim de alcançar a impassibilidade absoluta, apatia.

Tal, em resumo, o estoicismo dos primeiros adeptos de Zenão. Os posteriores, sobretudo, os romanos, modificaram-no sensivelmente em vários pontos.

Como teoria cosmológica é somenos. Como sistema de moral, propondo uma regra de proceder baseada na razão e apregoando o desprezo dos prazeres sensíveis, eleva-se, de muito, acima da degradação geral do tempo, mas perde quase todo este merecimento quando ensina o fatalismo que tende a diminuir o valor da personalidade humana, quando justifica o suicídio, condena a compaixão para com os que sofrem e, sobretudo, quando, em todos os seus preceitos deixa transparecer este orgulho secreto que lhe inquina toda virtude, transformando-a em vã ostentação de austeridade (45).

Cleantes e Crisipo foram os mais conhecidos discípulos de Zenão. De Crisipo se disse: Si Chrysippus non fuisset, Porticus non fuisse t. Panécio e Posidônio introduziram-lhe as idéias em Roma, onde encontraram também, senão muitos sequazes, ao menos grande número de admiradores entusiastas.

BIBLIOGRAFIA

— Coleção de antigos fragmentos: — J. von Arnim, Stoicorum veterum fragmenta, 4 vols., Leipzig, 1903-1924 (contém os fragmentos de Zenão, Crisipo e seus sucessores); A. C. Pearson, The fragments of Zeno and Cleanthes, with introd. and explan, notes, London, 1891.

— F. Ogereau. Essai sur le sistème philos, des Stoïciens, Paris, 1885; — P. Barth, Die Stoafr34, Stuttgart, 1922; — E. Bréhier, Chrysippe, Paris, 1910; — F. Ravaisson, Essai sur le stoïcisme, Paris, 1856; — S. Talamo, Le origini del Cristianesimo e il pensiero stoico3, Roma, 1903; — R. D. Hicks, Stoic and Epicurean, London, 1910.

§ 4.° — Ecletismo e Ceticismo

43. ECLETISMO — Mais do que uma escola nova é o ecletismo uma orientação comum a quase todas as escolas nesta época. Suas causas mais importantes foram: a) o enfraquecimento do primitivo poder de coesão dos sistemas, devido ao contato continuado num mesmo centro de cultura, Atenas; b) o embate das idéias e as vivas discussões que revelaram, nas doutrinas das várias escolas, lacunas evidentes; c) a conquista da Grécia pelos romanos a qual pôs em relações com o grego, artista e especulativo, o gênio romano, uti-litarista e prático. Nestas circunstâncias, voltaram naturalmente os espíritos ao critério espontâneo do senso comum e escolheram em cada escola o que lhes pareceu mais consentâneo com a verdade.

A começar da segunda metade do II séc. a. C, as infiltrações operam-se em todos os sistemas. Assim é que apesar de conservarem a orientação geral que os caracterizava, são mais ou menos ecléticos quase todos os acadêmicos, peripatéticos, epicuristas e estóicos. Mas é particularmente entre os romanos, como veremos mais tarde, que o sincretismo filosófico se manifesta mais acentuado.

(45) Por onde se vê que só um espírito superficial poderia equiparar a moral crista à estólea e não ver nos preceitos do Evangelho mais do que um desenvolvimento natural e espontâneo dos ensinamentos do Pórtico.

44. CETICISMO — A mesma exaustão do pensamento, que deu origem à tendência eclética, favoreceu o aparecimento do ceticismo. Suas primeiras manifestações, porém, remontam mais longe, aos tempos de Aristóteles, ilusória, e, vistas as contradições dos filósofos, a única atitude do sábio devia ser a suspensão do juízo, εποχή.

Pirro (c. 360-270 a. C), prosseguindo o mesmo fim prático que Zenão e Epicuro, afirmou que a certeza é fonte e causa da imper-turbabilidade (ataraxia) do espírito em que consiste a verdadeira felicidade. Sua influência não foi nem grande nem duradoura.

Argesilau e Carnéades, fundadores da nova Academia, concorreram mais poderosamente para a divulgação do ceticismo, que encontrou seus mais altos representantes em Enesidemo e Sexto Empírico. Enesidemo ensinou em Alexandria, pouco antes da era cristã (provavelmente entre 80 a 50 a. C). Sexto Empírico exerceu a medicina na mesma cidade, nos fins do II séc. da nossa era. Professaram ambos um ceticismo radical, proclamando a renúncia a qualquer certeza científica como condição necessária da felicidade humana. De Sexto Empírico restam-nos duas obras, as Hipotyposes Pyrrhoneanas e um tratado Contra os matemáticos. Nelas, impugna o autor as escolas dogmáticas nos seus processos e no seu conteúdo, nos seus processos, pretendendo reduzir toda a demonstração a um círculo vicioso (argumento do dialelo) ; mostrando como os filósofos se contradizem em todos os seus ensinamentos. São vastos arsenais em que os céticos de todos os tempos foram buscar armas contra o dogmatismo.

BIBLIOGRAFIA

— A. Fresnau, L’ecclectisme, Paris, 1847; — Histoire de l’Ecclectisme et des nouveaux platoniciens, sem data nem nome do autor (é de S. Maie ville. Avignon, 1766) .

V. Brochard, Les sceptiques grecs2, Paris, 1923; — R. Zimmermann, Darstellung der pyrrhonischen Philosophie, Erlangen, 1841; — R. Richter, Der Skeptizismus in der Philosophie, Leipzig, 1903; — A. Goedeckemeyer, Geschichte des griechischen Skeptizismus, Leipzig, 1905; — Ν. Β. A. Maccoll, The greek sceptics from Pyrrho to Sextus, London-Cambridge, 1869; — G. Caldi, Lo scetticismo critico delia scuola pirroniana, Udi-ne. 1896.

§ 5.° — Filosofia romana

45. O cunho essencialmente prático do gênio romano desviou–o, de princípio, das altas especulações filosóficas para aplicá-lo quase exclusivamente às questões de ordem econômica, jurídica e militar. Só mais tarde, a influência da Grécia conquistada despertou nas classes elevadas de Roma o gosto da cultura literária e filosófica (46). Daí o caráter eclético e a falta de originalidade da filosofia romana. Seus representantes limitaram-se a vulgarizar os sistemas gregos, adaptando-os ao caráter latino. O mais ilustre deles é incontestavelmente

M. T. CÍCERO — (105-43 a. C). Orador e político, cultivou a filosofia como instrumento de eloqüência e passatempo aos largos ócios, espontâneos ou forçados, que lhe deixavam as ocupações e os reveses da vida de homem público. Suas obras filosóficas mais conhecidas são: De natura deorum, De legibus, De republica, De fato, De officiis e De finibus bonorum et malorum.

Com exceção de Epicuro, em todos os outros filósofos anteriores Cícero vai respigar, idéias: é o tipo do verdadeiro eclético. Em ‘teoria, encosta-se ao probabilismo da Nova Academia, afirmando ser impossível, nas questões especulativas ir além da conjetura ou da verossimilhança. Em moral, volta a um dogmatismo franco e faz suas as idéias estóicas modificadas e mitigadas em vários pontos. A existência de Deus, a espiritualidade da alma, a liberdade humana (47), a divina Providência, são para êle verdades baseadas na consciência, nó senso íntimo e num certo inatismo moral, que delas nos dá uma convicção profunda, de muito superior à simples probabilidade das questões teóricas. Sua filosofia prática pode chamar–se a filosofia do senso comum.

Outros representantes do estoicismo eclético em Roma foram: L. A. Sêneca (2-65), natural de Cordova, descurando a lógica e a física de Zenão, ocupou-se de preferência com as questões morais, escrevendo entre outros, os tratados: De tranquillitate animi, Da vita beata, De dementia, em que o estoicismo, talvez sob a influe η cia das idéias cristãs aparece mais humano e amável. Morreu abriu do-se as veias por ordem de Nero, de quem fora preceptor e conselheiro.

Εpiteto e Marco Aurélio, o primeiro nas agruras da escravidão, o segundo entre as grandezas do trono imperial, professaram igualmente o estoicismo, podendo considerar-se como os seus últimos representantes.

(46) Graecia capta ferum victorem cepit et artes Intullt arxesti Latio… (Horácio).

(47) Não sabendo conciliar o livre arbítrio com a preciência divina, Cfcero preferiu negar em Deus o conhecimento dos futuros livres a sacrificar a liberdade inilu-divelmente atestada pela consciência, o assim, como engenhosamente observa S. Agostinho, ut homines faceret liberos fecit sacrilegos.

Lucrécio Caro, no poema De verum natura revestiu de forma rítmica as doutrinas de Epicuro. O poeta é de valor, mas o filósofo fica-lhe muito abaixo.

O epicurismo teórico teve poucos adeptos em Roma. Seus se-quazes práticos — quase todos os poetas e patrícios dissolutos do império — foram inumeráveis.

BIBLIOGRAFIA

— E. ZINGO, La philos, pendant la période de l’empire romain, Brünn, 1907; — C. G. Sunne, Some phases in the development of the subjective point of view during the post-aristotelian period, Chicago, 1911; — J. Bruns, De schola Epïcteti, Kiel, 1897; — P. Montée, Le stoicisme à Rome, Paris, 1865; — F. Orlando, Lo stoicismo a Roma, Roma, 1904; — Ε. V. Arnold, Roman Stoicism, Cambridge, 1911, (com bibliografia copiosa) ; — F. W. Bussel, Marcus Aurelius and the later Stoics, London, 1910; — H. Durand de Laur, Le mouvement de la pensée philosophique depuis Ci-céron jusqu’à Tacite, Versailles, 1874; — G. Boissier, Cicéron et ses amis, Paris, 1865, (numerosas edições posteriores).

§ 6.° — Filosofia greco-orienral — Escola neoplatônica.

46. Penetrando no mundo romano, a filosofia grega passou apenas pelo crivo do ecletismo. Em contato com as filosofias religiosas do Oriente caldeou-se com as suas idéias e deu origem a novas sínteses especulativo-religiosas.

O neopitagorismo (Plutarco, Celso, Apuleu), sistema eclético, que de Pitágoras conserva apenas a predileção pelo simbolismo dos números e pelo misticismo ascético a filosofia greco-judaica (Filo) tentativa de conciliação entre a filosofia grega e o Gênese de Moisés interpretado alégòricamente, são os primeiros esboços desta nova filosofia teúrgica, que na escola neoplatônica encontrará sua expressão mais elevada. Centro da nova cultura é Alexandria.

47. ESCOLA NEOPLATÔNICA — Fatigados pelo ecletismo e abtidos pela dúvida, buscam os espíritos em novos processos de conhecimento e num comércio mais íntimo com a divindade as bases de uma nova metafísica e a natural expansão dos sentimentos religiosos a que já não podia satisfazer o Pantheon despovoado de Roma. Desta tendência nasceu o neoplatonismo fundado por Amô-nio Saca (176-243), mas organizado e unificado em corpo de doutrina por Plotino (205-270), seu discípulo. As obras de Plotino compreendem 54 dissertações, que foram depois, por Porfírio, dispostas em seis séries de nove, e, por isso, intituladas Enneades.

Todo o seu sistema místico é o desenvolvimento dum panteísmo de emanação. Sobre todos os seres eleva-se o Uno ou Unidade absoluta, ser supremo, incognoscível, sem inteligência, nem vontade porque estes atributos implicam a dualidade de objeto e sujeito, mas dotado de bondade que o leva a expandir-se fora de si, dando origem à Inteligência — Λογοζ, Nous — primeira emanação da causa universal, mas a ela inferior, por incluir, como receptáculo das idéias (τόποί voijtÒs de Platão) a pluralidade, que é sinal de imperfeição. Da inteligência como princípio dinâmico emana a Alma do mundo, caracterizada pela tendência essencial a realizar as idéias eternas no mundo sensível. Inteligência e Alma do mundo, emanações hierárquicas do Uno, com êle constituem a trindade neoplatônica. Da alma universal derivam as almas individuais ou forças plásticas que produzem a matéria e a ela se reúnem constituindo os seres cor-póreos e sensíveis. A matéria é, pois, a derradeira emanação em que se esgota a essência suprema.

A este processo objetivo de degradação em emanações sucessivas, corresponde um processo subjetivo de reintegração dos seres na Unidade absoluta. Nesta reabsorção, a alma humana passa por três estádios: a purificação, pela qual se desprende de tudo o que é sensível e se une à Alma do mundo; a dialética, pela qual se eleva à contemplação das idéias e se une à Inteligência; o êxtase ou contemplação, pela qual perde o sentimento da própria personalidade para abismar-se inconscientemente na Unidade suprema. O fim da filosofia é realizar esta união extática, esta volta mística da alma a Deus, em que consiste a suprema felicidade do homem.

Entre os discípulos imediatos de Plotino cita-se Porfírio, mais célebre como lógico e comentador de Aristóteles do que como pensador original. Reeditou as doutrinas do mestre e escreveu uma introdução, Isagoge, às Categorias de Aristóteles, obra que na filosofia árabe e em toda a Idade Média exerceu larga e poderosa influência.

Com Porfírio, Jâmblico e Juliano Apóstata, a escola neoplatônica volta ao politeísmo e assume uma atitude hostil ao cristianismo, acelerando destarte á própria ruína.

Themistius, em Constantinopla, Proclo e Simplício, em Atenas, irradiam os últimos lampejos desta filosofia que pouco a pouco foi degenerando em práticas mágicas e necromânticas até depravai se de todo no culto dos demônios e nas extravagâncias do ocultismo teurgico. Eram os últimos arrancos do paganismo agonizante em face da civilização cristã vitoriosa.

Um decreto de Justiniano fechou, um 529, a escola paga de Atenas.

BIBLIOGRAFIA

H. Bois, Essai sur les origines de la philosophie judéo-alexandrine, Paris, 1890; — E. Bréhier, Les idées philosophiques et religieuses de Philon d’Alexandrie2, Paris, 1925; — j. Martin, Philon, Paris, 1907 (os dois últimos autores e principalmente Bréhier dão as indicações bibliográficas completas) .

j. Matler, Histoire de l’école d’Alexandrie2, 3 vols., Paris, 1844; — J. Simon, Histoire de l’école d’Alexandrie, 2 vols., Paris, 1845); — B.

Saint-Hilaire, De l’école d’Alexandrie, Paris, 1845; — E. Vacherot, Histoire critique de l’école d’Alexandrie, 3 vols., Paris, 1846-51; — A. Gratry, Lettres et réplique ά M. Vacherot, Paris, 1851; — Ch. Bigg, Neoplatonism, London, 1895; — Th. Whittaker, The Neo-Platonists2, Cambridge, 1918; — H. Krause, Studia neoplatonica, Leipzig, 1904.

— E. Bréhier, Les idées philosophiques et religieuses de Philon d’Alexandrie2, Paris, 1924; — Id., La Philosophie de Plotin, Paris, 1928; — E. Krakowski, Plotin et le paganisme religieux, Paris, 1933; — Inge, The Philosophy of Plotinus, London, 1918; — F. Heinemann, Plotin, 1921.

 

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