Metafísica e práxis: Bornheim leitor de Heidegger

Metafísica
e práxis: Bornheim leitor de Heidegger

Roberto
S. Kahlmeyer-Mertens [1]

Resumo: Esse artigo traz
uma primeira tentativa de pensar a obra do filósofo brasileiro Gerd Bornheim.
Autor de significativa obra no cenário nacional, Bornheim é apontado como um
dos receptores da filosofia de Heidegger no Brasil. As leituras que o
brasileiro faz de Heidegger são pontos de divergência e reflexão. Buscaremos
apresentar, então, um pouco dessas interpretações. O texto se baseará
prioritariamente na obra: Dialética – Teoria e prática.

Palavras-chave: Metafísica, filosofia brasileira, Bornheim, Heidegger.

Quando o náufrago pisou em nossa ilha

chegou como quem alcançou seu
destino (…)

e desde o início ocupou-se de
nossas coisas.

Com a experiência do seu
naufrágio

ensinou-nos a velejar;

Instilou-nos mesmo coragem.

Das águas tempestuosas falava com
respeito,

talvez por terem vencido um homem
como ele.

Sem dúvida
haviam revelado muitos de seus

sortilégios,

Este conhecimento faria de nós,
alunos dele,

Homens melhores (…)

BRECHT, Poemas

O propósito do opúsculo é
apresentar uma interpretação acerca do modo com que Gerd Bornheim[2] herda o pensamento de Martin Heidegger. Temos o objetivo de apontar os pontos
de semelhança e divergência entre os dois autores, a partir de passagens
comentadas de seus textos. Essas análises se ocuparão do tema metafísica, sua
superação e da práxis, buscando esclarecer a articulação que esses têm no
pensamento dos dois autores; apresentaremos, também, as críticas que Bornheim
volve a seu interlocutor. Por hipótese, podemos sustentar que os autores
possuem modos diversos de compreender e mesmo interagir com esses conceitos,
partindo de compreensões distintas, mas complementares.

O texto versa sobre uma questão cara ao pensamento de Bornheim, presente
naquele que seria, reconhecidamente, seu livro mais importante, Dialética:
teoria e práxis
(1977) e reincidindo em muitas obras e cursos dados pelo
autor. A questão integra o projeto de uma crítica da fundamentação
ontológica da metafísica tradicional
, que encontra sua intuição original,
ponto de partida e diálogo nas idéias de Heidegger. O estabelecimento desse
diálogo dá-se mediante a colocação da seguinte pergunta: “Se há em Heidegger um
pensamento do pensamento, por que não há lugar para o pensamento da práxis?” A
pergunta de Bornheim parte de uma avaliação convicta: “(…) constata-se (na
obra de Heidegger) um silêncio em relação a tudo que se refere à práxis, à ação
humana” (BORNHEIM, 1977). O autor sabe do risco da sustentação desse argumento,
pois, se compreendida amplamente, a práxis, enquanto ação humana
transformadora da realidade
, bem poderíamos pensar, desde Heidegger, a
existência do homem enquanto ser-no-mundo, em suas ocupações cotidianas como
também práxis. Desse modo, para se fazer esta afirmação, seria preciso fechar
os olhos para boa parte da obra de Heidegger das décadas de 10 e 20,
negligenciando textos como: Problemas fundamentais da fenomenologia (1919-20), Hermenêutica da facticidade (1923) e mesmo Ser e tempo (1927), textos que apontariam uma dimensão prática da existência em Heidegger e
seu aspecto ontológico-existencial.

Bornheim, reconhecendo isto
em nota ao seu texto, delimita o período da obra de Heidegger, com a qual sua
investigação se ocupará enquanto analisa a questão:

Limitamo-nos aqui a
examinar a questão da práxis tal como aparece no pensamento heideggeriano
posterior a Ser e tempo. É que estamos preocupados com o problema da possível
dimensão ontológica da práxis
. Em Ser e tempo, Heidegger se refere
ao tema a propósito do que chama de “análise da mundanidade do mundo
circunvizinho da mundanidade em geral”. Sua preocupação concentra-se na
explicitação da realidade do utensílio. Com isto além de não considerar a
práxis numa perspectiva propriamente ontológica, tudo acontece no âmbito da
“existência inautêntica”, o que relega o tema a um nível secundário: a dimensão
ontológica da práxis não chega sequer a ser aventada (BORNHEIM, 1977, p. 89).

Esta delimitação, para o momento, restringe também o âmbito de nossa
exposição sobre a práxis em Heidegger e em Bornheim.

Compreendemos, ao contrário de Bornheim, que Heidegger aborda sim uma noção de práxis num âmbito ontológico, isto é, em uma esfera na qual esta
práxis se enraíza. Contudo, esse âmbito ontológico não é aquele que a tradição
vai entender como ontologia, enquanto “ciência objetiva do ser”. Do mesmo modo,
Heidegger não tratará a práxis humana atendo-se a sua concepção
dialético-materialista, mas por um viés ontológico-existencial, no bojo de uma
investigação chamada analítica existencial. Nesse modo de investigação,
a práxis humana, certamente, está circunscrita no âmbito cotidiano das
ocupações do homem como ser-no-mundo e é, sem dúvida, qualificada como um
aspecto inautêntico de sua existência. Contudo, isto não faz da mundanidade do
mundo um problema secundário ou mesmo supérfluo, pois esta dimensão cotidiana
também é existencial, isto é, também diz respeito ao modo com que se constitui
o ser-aí. Assim, para Heidegger (1993) permanece em jogo uma dimensão de ser do
ser-aí; o ser não como um ente simplesmente dado mas, como um poder-ser,
que, entre suas possibilidades, encontra a própria realização prática desse
ente.

Em Bornheim (1977), a práxis diz respeito ao agir do qual decorrem as
ações humanas, sua relação com as condições materiais e a capacidade de
transformação do mundo, o que cunharia sua consciência histórica e existência
social. É isto que o autor demonstra durante o longo argumento que pretende
legitimar sua asserção controversa através da dialética desta práxis em vista
da compreensão de teoria e prática, idéia que também se confirma com um
comentário do autor acerca do que seria um ensejo do pensamento da práxis
(nesse sentido estrito)[3] no Heidegger posterior a Ser e tempo:

Dir-se-á (…) que a
evolução do pensamento do filósofo (Heidegger), parece caminhar no sentido da
práxis, já que posteriormente passa a falar da verdade da técnica. Veremos, no
entanto, que justamente as razões que levaram a aceitar uma verdade da técnica
impediram-no de aproximar-se de outras dimensões da práxis que não da técnica
(BORNHEIM, 1977, p. 95).

Os comentários referentes às omissões e, mesmo, às
impossibilidades de o pensamento heideggeriano tratar a práxis acaba por
apontar que Heidegger quando aborda a teoria e a prática sempre o faz com
ênfase em suas implicações ontológicas, tese, ao nosso, ver contrária a que
Bornheim procura sustentar. Assim, do mesmo modo com que Heidegger (2002) se
encaminha a pensar o ser do ser-no-mundo em consonância a verdade do
real
, o envolvimento do autor com a questão da técnica é uma
tentativa de pensar esse fenômeno (a técnica) em seu ser,
pontuando o modo com que esse se revela como traço essencial de um mundo
específico, do nosso mundo atual; não se atendo em nenhum momento ao seu
caráter prático ou técnico desta, como faria O. Spengler.[4] Destarte, Bornheim tem razão quando afirma que é esse comprometimento de
Heidegger, em pensar a verdade da técnica moderna, que faria que o filósofo
abdicasse de pensar a práxis envolvida nesse fenômeno; por outro lado, peca em
não reconhecer nesse movimento de pensar a verdade desse fenômeno à tentativa
de tematizar sua determinação ontológica, quando afirma que esta “não chega a
ser sequer aventada”.

No âmbito do pensamento do ser, ainda na análise do ser-no-mundo em Ser
e tempo,
é que vemos um desdobramento dessa investigação tocar o registro
da práxis do pensamento do Heidegger tardio. Questão que não será levada a
termo nesse período, mas apenas em um texto da década de 1940, chamado A
doutrina de Platão sobre a verdade
(1942). Nesse texto, mediante a
interpretação de Hannah Arent em debate com K. Jaspers, a questão da práxis é
tocada referindo-se a uma hipótese para o início da metafísica. [5]

A interpretação de Heidegger aponta esse problema como o que nasce da
perda da referência que apreende os utensílios em seu uso, ou “para que” (Um-zu)
o que pode ser formulado também a partir de suas leituras de Platão, como a
“quebra do paradigma da techné” (HEIDEGGER, 1996).

Heidegger afirma
que isto pode ser visto como problema por valer-se de uma “caracterização
ontológica prévia do ente, pois pressupõe que haveria os entes para
além do contexto existencial no qual eles se manifestam, que haveria os entes
como meras coisas possuidoras de atributos substanciais; isto é, essenciais ou qüiditativas.
Uma vez possuindo propriedades, essas “coisas” poderiam ser conhecidas de
maneira prévia, ou seja, sujeitas a um viés objetivante, investigativo e
exclusivamente teórico destas propriedades, para, só então, uma vez de posse do
conhecimento da “verdade” daquele ente, ser utilizados adequadamente de maneira
prática.

Para Heidegger,
uma abordagem puramente teórica das coisas carece da compreensão do conjunto no
qual o utensílio se insere, desconhecendo assim, o já definido contexto de
mundo do homem na lida com os entes e a fundação existencial do ser-aí em seu
existir. Esse desconhecimento torna possível, como já mencionamos, a perda do
paradigma do uso segundo o qual os utensílios se determinariam, justamente por
“violentar” o modo com que esse em sua lida tática é compreendido,
transformando-o em coisa. Isto é, criando a duplicação desse ente em essência e
aparência e a crença de que o ente, enquanto coisa, é capaz de ser observado. Por
um lado, na atitude prática; por outro, num viés teórico e logo
temático, criando a citada anterioridade conceptual, que põe em questão o ente,
buscando, nesse ente, características fixas que não se restrinjam às
circunstâncias nas quais ele se manifesta. Nesse modo de compreender, fica
marcado o anseio metafísico por eliminar do horizonte do ente seu caráter de
transitório, de circunstancial, à medida que tenta determinar categoricamente
aqueles que representariam os “termos reais” da verdade de tal ente. É isso que
se encontra implícito numa pergunta colocada já pelos gregos: “o que é o ente?”

A pergunta o que
é o ente? (ti tó on), para Heidegger, é a formulação que expressa
a instalação de um modelo teórico característico do pensamento[6] criando a duplicação e a diferenciação do ente em essência e aparência e o
primado desta primeira sobre a outra. A referida pergunta questiona a essência
do ente, desencadeando, com isso, o desenfreado processo histórico de
determinação objetiva da verdade dos entes para além da aparição dos mesmos.

Esse processo de
determinação da verdade dos entes engendraria o processo metafísico, processo
histórico, cujos desdobramentos se encaminhariam para os termos de um
humanismo-subjetivista em sua fase final. Heidegger nos ilustra esse contexto:

O início da metafísica, que se
observa no pensamento de Platão, é ao mesmo tempo o início do “humanismo”. Esta
palavra deve ser aqui pensada de modo essencial, portanto em sua acepção mais
larga. “Humanismo” designa então o processo, ligado ao início, ao
desenvolvimento e ao fim da metafísica, pelo qual o homem, em perspectivas cada
vez mais diferentes, mês sempre conscientemente, se coloca em um centro do
ente, sem ser ainda ele mesmo, no entanto, o Ente supremo (HEIDEGGER, 1987, p.
466).[7]

Todo o movimento
de apresentação desta hipótese do início da metafísica desde um problema de
ordem prática visa a demonstrar que, no pensamento de Heidegger, existe lugar
para a questão da práxis; contudo esse, se preocupa exclusivamente em pensar o
modo com que esta tornou-se uma lida exclusivamente teórica com os entes, ou
usando a terminologia de Bornheim (1977): “um pensamento do pensamento”.

Da análise de
Heidegger, Bornheim aceita que a cisão entre teoria e prática (dada na
lida manual com os utensílios) pode ter dado inicio à metafísica a partir do
primado da teoria sobre a prática, como ele próprio afirma:

A diferença ontológica e, por ela, a
contradição, permite entender o relevo que deve ser emprestado à teoria (…) O
surto da filosofia entre os gregos levou-os a distinguir entre o bíos
teoretikós
e o bíos pratikós, expressões posteriormente tratadas
pelos latinos por vita contemplativa e vita activa.(…) Queremos
dizer que, já na Grécia, a teoria sofre uma interpretação de tipo metafísico, a
ponto da própria origem da metafísica fazer-se intimamente enlaçada à defesa de
um certo tipo de vida. Heidegger diz que a teoria é o “ver que resguarda a
verdade”. Mas no momento em que sofre a determinação de ordem metafísica, esse
ver da teoria se torna metafísico (BORNHEIM, 1977, p. 294).

Contudo, se
nossos dois autores se aproximam entre si no que concerne à avaliação do modo
com que a metafísica se inaugura, a partir de uma problemática concernente à
práxis, os mesmos se distanciam quanto ao outro extremo desse fenômeno: seu fim
(Volledung) e superação (Überwindung).

Heidegger
entende a metafísica como um processo no qual o questionamento do “ser”, em seu
momento histórico atual é representado pela máxima expressão de um
idealismo-subjetivista, destinando-se ao próprio fim ou acabamento. Desse modo,
a história da metafísica é a história das manifestações do “ser” encaminhando-se
para seu acabamento e superação da própria compreensão metafísica do ser.
Caberia assim (em uma síntese um tanto grosseira) a quem experimenta esse
processo uma atitude de “serena prontidão” (HEIDEGGER, 2003), requisito
a quem busca reapropriar o passado histórico e aquiescendo as mudanças da
essência do ser em jogo nessa história (HEIDEGGER, 2002).

Bornheim
concorda parcialmente com a avaliação de Heidegger quanto ao fato de
filosoficamente ainda integrarmos uma cultura estabelecida por um idealismo
subjetivista. Malgrado, Bornheim considera a postura de Heidegger passiva frente ao acabamento e superação da metafísica, entendendo, desse modo, às
noções de serenidade, prontidão e reapropriação como também passividade frente
a esse estado de coisas. Por isso, atribui a Heidegger o título de “pensador da
crise da metafísica por excelência” (BORNHEIM, 1977).

Bornheim ainda
avalia que, nos termos de Heidegger, o idealismo-subjetivista da metafísica não
fornece mais espaço para um pensamento da práxis no sentido não metafísico,
pois mesmo as atividades humanas continuariam vinculadas a esse subjetivismo.
Assim, o autor propõe:

Caberia aqui acentuar precisamente o
lado do problema não analisado por Heidegger, já que (…) o sujeito está hoje
em condições de ir além do subjetivismo através da práxis; e toda questão está
em saber que práxis é esta, questão que não existe para Heidegger. O idealismo
(subjetivista) não invalida a ação humana, ao contrário, ele a justifica. Isso
porque, em primeiro lugar, o idealismo subjetivista tornou possível uma nova
modalidade de ação, pela transmutação necessária do conceito de práxis; e, em
segundo lugar, porque a ação humana passou a dar-se criticamente, (…)
conscientemente (BORNHEIM, 1977, p. 93).

Nesta passagem
citada, é possível se ver, de maneira nítida, o posicionamento de nosso autor
diante da metafísica e sua diferença quanto à posição assumida por Heidegger.
Bornheim é aquele que, ao compreender que estamos ainda em um universo
metafísico (de uma metafísica em crise, mas ainda assim uma metafísica)
vislumbra a possibilidade de uma superação desta perspectiva dar-se desde seu
próprio bojo. A práxis seria elemento indispensável a esse processo, pois ao
pensá-la em sua determinação ontológica, estaríamos revendo, de maneira
crítica, a condição humana envolvida nesta práxis, reformulando, ou mesmo
transformando, os conceitos de teoria e prática e compreendendo-os de maneira
crítica. Isto quer dizer que o sujeito no acabamento da metafísica é capaz de
superar seu subjetivismo, partindo dele próprio, ao pensar o problema
ontológico que suas ações envolvem. Desse modo, a superação da metafísica para
Bornheim parece partir do pressuposto de que não é suficiente uma interpretação
do mundo, mas a transformação do mesmo a partir da práxis. Superação da
metafísica, para Bornheim, significa, pois, o ganho, de uma atitude crítica
frente ao mundo como produto de uma atitude prática.

Assim, o
trabalho, a técnica, a ciência e todas as ações humanas, as quais vigeriam
ainda em uma condição metafísica seriam capazes de ser interpretadas de um modo
não mais metafísico. Segundo Bornheim (1977), em consideração ao sujeito não
esclarecido da possibilidade de um reposicionamento frente ao mundo, “A partir
do momento em que a práxis entra no processo de desalienação (do sujeito
histórico) passa a adquirir dimensão ontológica em si mesma”. Em contrapartida,
segundo o autor, a práxis não chega a ser aquilo que ela é ontologicamente;
participa apenas indiretamente do que Heidegger chama de história do ser. O
autor reafirma esse ponto de vista em sua última entrevista:

Acho que Heidegger esqueceu de um
ponto muito importante. É que a técnica, essa técnica-ciência e essa relação
toda, é o caminho da superação da metafísica. Isto parece muito importante para
mim. Isso supera a metafísica. (O filósofo acrescenta ainda críticas acerca
daquilo que seria a exigência de apropriação das questões tradicionais da
filosofia por Heidegger, em vista daquilo que considera a filosofia
contemporânea) Não é necessário que se faça isto, mas também não se trata de
uma negação do passado. É importante dizer que, para o tipo de ruptura que eu
citei, (…) três autores Comte, Marx e Nietzsche, e vou ficar só nesses três,
no século XIX, eles possuem não só uma crítica ao passado mas, uma nova idéia
de realidade humana. E que não é coincidente nos três. E essas coisas devem ser
discutidas.(…) (A filosofia contemporânea) é a filosofia da ruptura.
Porque arranca de uma ruptura, digamos. E tem muita coisa mais, claro, que
esses três pensadores que iniciaram a ruptura. Esses são os mais emblemáticos,
possuem as idéias de ruptura com o passado e a idéias do “novo homem”, isto é,
da construção de um novo tipo de realidade humana, de certo modo (BORNHEIM,
2002).

O comentário
parece deixar evidente a compreensão do autor frente a metafísica e a práxis.

Uma conclusão
breve para esse apanhado geral que nosso texto constitui deve considerar que
muitas das críticas que Bornheim volve contra Heidegger requisitam o
envolvimento com questões que Heidegger não propôs diretamente. Talvez isto se
deva ao fato de Heidegger não reconhecer nesses problemas temas urgentes ao seu
momento histórico, passando a ocupar-se de outras noções relativas ao modo
constitutivo do ser na abertura de seu fenômeno (tema evidente no Heidegger
tardio), deixando, certamente, lacunas e zonas sem tematização efetiva no que
concerne a outros problemas.

Quanto à lacuna
deixada por Heidegger sobre a questão da práxis, Bornheim soube identificá-la;
mais: soube mover-se no interior dela tratando a práxis a partir de um diálogo
com Heidegger e com a tradição filosófica, suprindo assim um espaço de
pensamento que esperava por ser locupleto, declarando o que a filosofia havia
deixado de dizer e demonstrando, com isso, a estatura de um pensamento chamado
Gerd Bornheim.

Bibliografia:

ARENDT, Hannah, JASPERS,
Karl. Briefwechsel. Munchen: Piper, 1985.

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. Porto Alegre: Globo, 1977.

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. São Paulo: Globo,
1989.

__________. Entrevista. concedida
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__________. O idiota e o espírito
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. Porto Alegre: Globo, 1980.

DREYFUS, H. L. De la
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. In Cahier de l’Herne. Martin Heidegger. Paris: L’Herne. 1983.
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In Ensaios e Conferências. Trad. Márcia Sá Cavalcante
Schuback. Petrópolis:
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_________. Einfürung in
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. Tübingen: Max Niemeyer Verlag, 1953.

_________. La
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In Questions I et II. Trad. Kostas Axelos et
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. Paris: Gallimard, 1987.

_________. Sein und
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_________. Being and
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. Trad. Joan Stambaugh. New York: State University of New York Press, Albany, 1996.

RICHARDSON,W, J. Through
phenomenology to thought
. 2ª ed. The Hague: Martinus Nijhoff, 1967.

SPENGLER, O. O homem e a técnica. Trad. João Botelho, 2ª ed. Lisboa: Guimarães, 1993.


[1] Doutorando em Filosofia pela Universidade do Estado
do Rio de Janeiro/UERJ, Professor na Faculdade de Formação de Professores da
UERJ e da Professor da Universidade Cândido Mendes/UCAM. Autor de Filosofia
Primeira – Estudos sobre Heidegger e outros autores. http://www.studium-kahlmeyer.com.br/

[2] Gerd Alberto Bornheim nasceu em Caxias do Sul/Brasil, em 1929; lecionou
filosofia na UERJ e UFRJ. Foi professor de uma geração de autores brasileiros.
É autor de Metafísica e Finitude (1972); Heidegger – L’Étre et le
temps
(1976); Dialética: teoria e prática (1977) e O idiota e o
espírito objetivo
(1998). Foi apontado no adendo à edição brasileira da
biografia de Heidegger assinada por Rüdiger Safranski (2000), um dos
responsáveis pela recepção do pensamento do autor alemão no Brasil. Bornheim
morreu em 2002, no Rio de Janeiro.

[3] Compreenda-se por sentido estrito o que Bornheim
chama de “(…) sentido que transcende qualquer desiderato particular” (grifo
nosso
).

[4] Spengler acena para implicações culturais e,
mesmo, antropológicas da técnica moderna. Acreditamos que esse diálogo, por
um lado
, enriquecera o conteúdo dessa caracterização, bem como a
compreensão de técnica, nos dando subsídios para aprender dados de suas
manifestações mais imediatas; por outro lado, marca a diferença entre os
problemas concernentes à técnica e os que se referem à essência da técnica
moderna, que Heidegger considera distintos (SPENGLER, 1993).

[5] Na investigação de Hannah Arendt, em seu texto O
que é autoridade?
, incluído na obra Entre o passado e o futuro, a
autora busca afirmar sua interpretação divergente frente a de K. Jaspers sobre
o texto de Heidegger: A doutrina de Platão sobre a verdade. O texto da
autora propõe sustentar que a dimensão política em Platão fica submetida a uma
definição de verdade no mesmo autor; deixando entrever que a teoria
(metafísica) e a prática surgem pela primeira vez através da submissão
supracitada. Arendt também aborda o conceito de práxis em face da teoria em seu
livro. Também na obra A condição humana a autora trata do tema ao tocar
no conceito de “animal laborante” (ARENDT, 2000).

[6] Metafísico na formulação de uma pergunta pelo ser
dos entes, o que já pressupõe um caráter categorial e logo de um possível
acesso ontológico do ser desse objeto (HEIDEGGER, 1987).

É isso que
Heidegger determina em Ser e tempo por “Luta de gigantes em torno das
essências” (HEIDEGGER, 1996).

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