Vocabulário de termos filosóficos – Dicionário marxista de filosofia

Disclaimer: este trabalho foi compilado com verbetes de filosofia apresentados de forma resumida — recorrendo à aos livros do " Pequeno Dicionário Filosófico" De M. Rosental e P. Iudin, e de "Fundamentos do marxismo-leninismo " de O. V. Kuncinen e mais autores marxistas soviéticos. Dessa forma, apresenta uma visão doutrinária e muitas vezes negativa acerca de correntes aversas à teoria marxista, mesmo que históricas ou antigas.

 Fonte: Pequena História da Filosofia – I. Khlyabitch, 1967

filosofia marxista dicionário

A

ABSTRAÇÃO CIENTÍFICA — Operação por meio da qual a nossa mente, depois de distinguir os caracteres essenciais de um grupo de fatos, separa-os das propriedades secundárias para generalizá-los.

Por meio de abstrações científicas, o conhecimento passa da percepção de coisas isoladas à generalização de uma massa de fatos, formulando conceitos, categorias e leis que refletem os vínculos essenciais internos dos fenômenos. Só a generalização teórica permite ao pensamento humano pôr a descoberto a essência dos fenômenos, as leis do seu desenvolvimento.

A impossibilidade de conhecer o geral por outro meio que não seja a abstração não significa que êle não seja real, que não exista. A lei da gravitação universal não pode ser fotografada mas, nem por isso, podemos negar a sua realidade.

A abstração científica materialista é diametralmente oposta à abstração idealista que separa o pensamento humano da realidade objetiva.

ACIDENTAL — Propriedade momentânea, passageira, não essencial de uma coisa. Este termo é usado freqüentemente na escolástica da Idade Média e também na filosofia dos séculos XVII e XVIII. O acidental é o estado passageiro apresentado como o oposto da essência (ou substância) da coisa, que se considerava imutável.

AGNOSTICISMO — Teoria idealista que afirma que o mundo é incongnoscível à razão humana, sendo esta limitada e incapaz de conhecer qualquer coisa além das sensações. Elaborada no século XVIII por Hume e por Kant, o agnoticismo alcança completo desenvolvimento na segunda metade do século XIX.

O agnosticismo em qualquer de suas formas ó refutado pela vida. A história da ciência mostra como o homem, a principio lentamente, mas depois com rapidez crescente, passou da ignorância ao conhecimento, como a natureza revelou gradualmente, diante dele, segredos que pareciam inapreensíveis.

O positivista A. Comte afirmava categoricamente que a humanidade jamais saberia do que são constituídas as estrelas. Entretanto, em 1859, apenas dois anoa após a morte de Comte, foi elaborado o método de análise espectral, que deu início às pesquizas da composição química dos corpos celestes.

A atividade prática na vida social refuta o agnosticismo. Quer se trate da natureza ou da sociedade, o conhecimento científico se estende e se aprofunda sem cessar. Não há limites absolutos ao conhecimento humano. Não há na natureza coisas incognoscíveis. Há somente uma diferença entre o já conhecido e o que aida não o é mas o será graças à ciência e à prática.

ALOGISMO — Negação do pensamento lógico como meio científico de conhecimento. É invocado para justificar o ceticismo, o misticismo e o fideísmo. As teorias do alogismo são refutadas por toda prática humana e a história da ciência.

ANALISE E SÍNTESE — 1) Análise: Decomposição de um objeto em seus elementos. 2) Síntese: Reunião de elementos de um objeto ou de um fenômeno em um todo, estudo do objeto em sua unidade.

A metafísica opõe a análise à síntese, considerando-as como métodos que se excluem mutuamente. A dialética materialista demonstra a sua unidade. Segundo Engels "… o pensar consiste exatamente em decompor os objetos da consciência em seus elementos, assim como na aglutinação de elementos afins para formar uma unidade. Sem análise não há síntese" (An-ti-Dühring.)

O mundo, as coisas e os fenômenos aparecem ao homem em toda a sua complexidade concreta. O concreto é a unidade na diversidade. É impossível conhecê-lo sem decompô-lo em seus elementos, sem analisá-lo. O químico nada saberia dos processos químicos, das leis de associação e dissociação dos átomos se a análise não lhe permitisse isolar os componentes desses processos: elementos químicos, moléculas, átomos.

Sem dúvida, a análise não proporciona por si só o conhecimento completo dos objetos. Deve ser completada pela síntese, abarcando então os objetos e fenômenos em sua integridade.

O processo do conhecimento supõe tanto a análise como a síntese, elementos subordinados ao método dialético materialista.

ANALOGIA — Semelhança parcial ou aparente entre diferentes objetos ou fenômenos. Dentro de centos limites, a analogia pode servir de meio para conhecer os caracteres e as propriedades ainda não reveladas de tais ou tais objetos. Na lógica, a analogia constitui uma modalidade de raciocínio: a semelhança de certos caracteres de dois objetos permite concluir, por analogia, a semelhança de outros caracteres. Sem dúvida, a analogia não proporciona um meio seguro e eficaz de conhecimento: ao servir-se unicamente dela, corre-se o risco de confundir as diferenças qualitativas entre fenômenos e processos aparentemente similares. Assim, os menchevistas identificavam a revolução democrático-burguesa russa de 1905 com a revolução burguesa da França, de 1789, e desta analogia errônea tiravam conclusões políticas erradas e reacioiárias. Sem negar a possibilidade de utilizar a analogia no conhecimento, o marxismo exige o estudo das condições concretas nas quais se desevolve determinado processo histórico.

ANARQUISMO — Ideologia da pequena-burguesia e do proletariado. O anarquismo preconiza a supressão do Estado e do poder político, independentemente das condições históricas.

Surgiram diversas formas de anarquismo como o anarco-individualismo, o anarco-sindicalismo e o anar-co-comunismo. Os expoentes mais destacados do anarquismo foram Max Stirner, Proudhon, Bakunin e Kro-potkin.

Marx, Engels e Lenin, em várias de suas obras atacaram o anarquismo, denunciando-o como corrente fundamentalmente hostil aos interesses do proletariado e das massas trabalhadoras. Para o anarquismo, a chave de tudo é o indivíduo e seus interesses são colocados acima da sociedade. O anarquismo, disse Lenin, não ofereceu senão frases gerais contra a exploração, não via que a evolução conduz ao socialismo e não compreendia a luta de classes como a força capaz de criar o socialismo.

ANIMISMO — Doutrina segundo a qual todo objeto da natureza oculta um espírito invisível que o governa. O animismo surgiu na aurora da historia, quando o homem era impotente ante a natureza, cujas leis ignorava.

O animismo primitivo é uma das fontes da religião e do idealismo filosófico.

ANTINOMIA — Contradição entre duas proposições que se reconhecem igualmente verdadeiras e que se excluem mutuamente. Do ponto de vista do materialismo dialético, as contradições dos conceitos refletem as contradições reais, a luta dos contrarios forma a base do desenvolvimento do mundo material.

ANTROPOCENTRISMO — Teoria que considera o homem como o centro do universo. Liga-se à idéia religiosa da essência divina do homem, Afirmava que a Terra é o centro do mundo criado por Deus para o homem. Copérnico refutou essa teoria e inaugurou a astronomia científica. O darwinismo aplicou um golpe decisivo a essa doutrina pela qual o homem seria um ser ex-cepcoinal e sobrenatural.

ANTROPOLOGISMO — Princípio filosófico que considera o homem como um ser sobretudo biológico, à margem das relações sociais historicamente concretas.

ANTROPOMORFISMO — Consiste em atribuir às forças da natureza os rasgos e propriedades inerentes ao homem e em representar deuses sob aspeto humano. O antropomorfismo está ligado ao animismo e se manifesta em particular no politeísmo grego. Segundo um aforisma de Xenófanes (século VI A.C.) se os bois pudessem criar deuses, representá-los-iam sob o aspeto de bois, do mesmo modo que os homens criaram deuses à sua imagem. A crítica do antropomorfismo prova que os deuses de todas as religiões são produto da imaginação humana. /

APARÊNCIA — Manifestação da essência dos objetos e dos fenômenos através de seus caracteres diretamente perceptíveis pelos sentidos. Ô materialismo dialético ensina que o conhecimento deve ir da aparência à essência, deve apreender o essencial do aparente contrariamente à filosofia reacionária que separa a aparência da essência e nega a objetividade da aparência.

APORIA — Contradição insolúvel que surge num raciocínio .Temos como exemplos de aporias os sofismas do filósofo da Grécia antiga, Zenon, que, em sua alegoria sobre Aquiles e a tartaruga, esforçava-se por demonstrar que o movimento não existe objetivamente.

A PRIORI — Expressão latina que significa antes da experiência, antes dos fatos. "Afirmação a priori" significa afirmação fundada unicamente nas especulações abstratas da razão "pura" que não se apoia na experiência e na prájfàca. Assim, na filosofia idealista de Kant, o espaço, o tempo, etc. não são propriedades da natureza objetiva refletidas na consciência, mas formas a priori da sensibilidade.

Aposteriori, por oposição a a priori significa depois da experiência, a partir da experiência, a partir dos fatos. O materialismo dialético nega todo conhecimento não fundamentado nos dados dos sentidos e da prática.

ARTE — (literatura, arquitetura, escultura, pintura, música, teatro, cinema, etc.). Uma das formas da consciência social. Assim como. a ciência a arte é um poderoso instrumento de conhecimento e uma força social imensa. O caráter específico da arte é o de refletir, de reproduzir a realidade sob a forma de imagens artísticas perceptíveis por meio dos sentidos. Como toda ideologia, está determinada pela base econômica da sociedade. Numa sociedade dividida em classes, a arte expressa os interesses as diversas classes, representa uma arma ideológica na luta que opõe as classes entre si. Nessa sociedade, o desenvolvimento das artes segue um curso cheio de contradições.

ÁTOMO — Partícula material infinitesimal que possui as propriedades do elemento químico correspondente. Embora seja uma unidade material integral, o átomo é um sistema complexo que pode ser decomposto em partículas mais simples.

O materialismo dialético nega a existência de elementos materiais simples e últimos que seriam os "tijolos do edifício universal". Enquanto os contemporâneos de Engels faziam do átomo o limite absoluto da divisibilidade da matéria, éste escrevia que "os átomos não devem ser considerados como simples ou como as menores partículas de matéria conhecidas." (Engels, Dialética da Natureza.) Segundo Engels, o átomo não é mais do que um anel da cadeia infinita das diferentes formas da matéria.

Na filosofia materialista antiga, esta palavra designava o menor elemento da matéria, absolutamente indivisível, o elemento primeiro a partir do qual se constituía por combinação e agregação, toda a natureza.

ATRIBUTO — Propriedade inerente a um objeto sem a qual éste não pode existir nem ser concebido. Para o materialismo dialético, o movimento é a propriedade essencial (o atributo) da matéria.

AUTOMOVIMENTO — O materialismo dialético considera a natureza não como em estado de repouso ou Imobilidade, de esgotamento e de imutabilidade, mas sim como em estado de movimento e de transformação contínuos. A causa deste movimento, destas transformações não se acha fora, mas sim dentro da própria natureza. Na natureza e na sociedade, o desenvolvimento realiza-se em virtude das contradições internas inerentes aos objetos e aos fenômenos, em virtude do automovimento. Os idealistas pretendem que a causa do movimento reside não na natureza, mas fora dela, em Deus.

A tese dialética do automovimento funda-se nos dados das ciências naturais e sociais. A fonte do automovimento na natureza e na sociedade é a luta dos contrários.

Entretanto, seria um erro considerar o automovimento social como uma evolução automática que se desenvolve sem a intervenção ativa dos homens, das massas populares, dos partidos, etc. O desenvolvimento do capitalismo não faz mais do que criar as premissas objetivas para a sua rubstituição pelo socialismo. Para transformá-las em realidade, é necessário abolir o capitalismo. A revolução proletária cumpre essa tarefa.

A dialética marxista não nega tampouco o papel das contradições externas, Sem deixar de considerar a luta das contradições internas como a forma decisiva do movimento, exige que se love em conta, no estudo dos processos e dos fenômenos, todo o conjunto de contradições que contribuem para o seu desenvolvimento.

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