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CI. Quando, portanto, a planície de Farsa-lia (87) ficou
coberta de homens, de cavalos e de armas e o sinal de combate foi dado de uma
parte e de outra, o primeiro do exército de César que se pôs a correr para carregar, foi Caio
Cras-siano, capitão de cento e vinte e cinco homens; este desejando satisfazer
a uma grande promessa que fizera a César, o qual ao vê-lo pela manha sair
primeiro do campo, lhe havia perguntado, ao saudá-lo por seu nome, o que lhe
parecia a decisão desta batalha, o capitão, estendendo-lhe a mão, exclamara bem
alto: — "Tu a ganharás valentemente, César, não há dúvida, e me elogiarás
hoje, ou vivo, ou morto". Lembrando-se portanto, desta palavra, foi o
primeiro que se atirou fora das fileiras e, atraindo diversos outros atrás
dele, foi dar de cabeça baixa bem no meio dos inimigos; combateu-se
imediatamente a golpes de espadas, havendo grande mortandade de homens; pois
esse capitão avançava sempre e ia furando as fileiras e fazendo em pedaços tudo
o que encontrava à sua frente até que houve um que o deteve, dando-lhe uma estocada
dentro da boca, atravessando-o de lado a lado, de tal modo que a ponta da
espada lhe saiu pela nuca. Assim esse Crassiano caiu morto na terra e o combate
se desferiu com igualdade.

CII. Mas Pompeu não fêz marchar rapidamente a ponta
esquerda de suas forças, na qual se achava, mas considerava sempre, olhando
aqui e ali, para ver o que fariam seus soldados de cavalaria, os quais já
estendiam suas tropas com a intenção de envolver César e derrubar os
cavaleiros que êle tinha em pequeno número à sua  frente,  antes do batalhão de
infantaria. Ao contrário, logo que César levantou no ar o sinal de combate,
seus soldados da cavalaria recuaram um pouco e as seis coortes que estavam de
emboscada, onde ele tinha três mil combatentes, puseram-se a correr de súbito
para carregar o inimigo pelo flanco; e quando chegaram junto dos cavalos,
levantaram os ferros de suas vouges e azagaias de modo contrário assim
como César lhes havia ensinado a fazer e deram direito nós rostos desses
gentis-homens, que nunca se haviam encontrado em luta alguma e não esperavam esse
combate, nem o tinham aprendido; também não tiveram coragem de aparar nem de
sustentar os golpes, que lhes eram assim desferidos nos olhos e nas faces, mas
viravam as cabeças e punham as mãos diante de seus rostos pondo~sé vergonhosamente
em fuga. Estes, rompidos, os soldados de César não procuraram correr atrás dos
fugitivos, mas foram se lançar sobre o batalhão de infantaria, no lugar mesmo
onde estavam, desprovidos de soldados de cavalaria e, conseqüentemente, mas à
vontade para serem cercados e envolvidos. Assim, sendo carregados no flanco por
aqueles e de frente pela décima legião, não puderam resistir nem fazer frente
muito tempo, vendo, ao contrário do que haviam esperado, que era envolver seus
inimigos, encontravam-se eles mesmos envolvidos. Aqueles, tendo portanto também
se posto em fuga, e vendo Pompeu a poeira no ar, desconfiou logo que era a derrota de sua cavalaria. É impossível dizer qual o
pensamento que lhe veio então à mente; mas bem se pode assegurar que, pela sua
atitude, parecia propriamente a de uma pessoa admirada ou abobalhada e que
perdera o senso e o entendimento, não se lembrando mais que era o grande
Pompeu; pois, sem dizer palavra a ninguém, retirou-se passo a passo para o seu
acampamento, representando ao vivo o que está descrito nesses versos de Homero:

O alto e trovejante Júpiter enviou
Ao valente Ajax o medo que o assustou.
Quieto, parou desvairado
Tendo às costas atirado
Seu largo escudo onde estavam tecidos
Sete couros de boi que o reforçavam.
Depois fugiu Veloz, os olhos virando
Por todos os lados, em todos os
sentidos.
(88)

 

(88)   
Ilíada, L. II, v. 543.

 

CIII. No mesmo estado, entrou Pompeu para dentro de sua
tenda, onde ficou sentado algum tempo sem falar, até que diversos dos inimigos
entraram misturados com seus soldados, que fugiam do campo de luta; e então,
não proferiu ele outra palavra senão: — "Como? até em nosso acampamento!"
e não disse outra coisa, mas levantan-do-se, tomou uma veste conveniente à sua
sorte e saiu. As outras legiões fugiram também e foi feita
uma grande carnificina entre criados e guardas que haviam ficado dentro do
acampamento. O soldado Asínio Polio, que combateu nesta batalha, ao lado de
César, escreve que não morreram ao todo senão seis mil. Mas, na tomada de seu
acampamento, os soldados de César conheceram bem evidentemente a loucura, a
vaidade e leviandade de Pompeu; pois não havia tenda nem pavilhão que não
estivessem repletos de festões e de chapéus de murta, as camas estavam todas
cobertas de flores, as mesas cobertas de potes e taças cheias de vinho, e
aparelhagem e preparativos de pessoas que tencionavam sacrificar e fazer festa,
antes do que se armar para um combate, tão confiados estavam de vã esperança e
cheios de louca presunção nesta batalha. Quando Pompeu se achava um pouco
distante de seu acampamento, deixou o cavalo, com poucos soldados a seu lado; e
vendo que pessoa alguma o perseguia, marchou a pé, lentamente, com aqueles
pensamentos, como se pode julgar que deve ter um personagem, acostumado, pelo
espaço de trinta e quatro anos, a vencer continuamente e ser sempre o mais
forte e agora começava a experimentar, em sua velhice, o que é encontrar-se
vencido e fugir, e discorria consigo mesmo, de como havia perdido numa só hora,
a glória, o poder e a autoridade adquiridos em tantas guerras e tantas
batalhas; e pela qual era antes seguido e obedecido por tantos milhares de
guerreiros, por tantos da cavalaria e de uma tão poderosa
frota de navios; e agora ia assim tão pequeno e reduzido a pouco
acompanhamento, que mesmo seus inimigos, que o procuravam, não o reconheciam.
Passando pela cidade de Larissa, entrou no vale de Têmpia e, tendo sede,
deitou-se sobre o ventre e bebeu no rio; depois, levantando-se, caminhou tanto
que chegou à praia do mar, a uma pobre cabana de pescadores; depois quando
começou a clarear o dia, entrou num pequeno barco de no com aqueles que o
haviam seguido e eram de condição livre; pois, quanto aos escravos, mandou-os
de volta, aconselhando-os a que se apresentassem corajosamente à presença de César,
e que não tivessem nenhum medo.

CIV. Assim, quando ia beirando a costa com seu pequeno
barco, percebeu um grande navio cargueiro ao lado do mar, ancorado, que estava
pronto a levantar âncora e fazer vela; o mestre do navio era um romano, o qual
se bem que não fosse familiar a Pompeu, conhecia-o de vista. Chamava-se
Petício e à noite precedente havia sonhado que via Pompeu, não tal como estava
habituado a ver, mas bem deprimido e aflito, falando com ele. Havia contado seu
sonho aos que navegavam com ele, assim como se faz constantemente, como quando
se sonham coisas de grandes conseqüências e não se tem pressa; e, no mesmo
instante, um dos marinheiros  lhe disse que via um barco  de  rio,  que vinha
direito, vogando para êles, trazendo dentro pessoas que sacudiam suas vestes e
lhes estendiam as mãos. Petício, levantando-se nos pés, reconheceu
imediatamente Pompeu, tal como havia à noite sonhado e, batendo a cabeça,
pesaroso, ordenou aos marinheiros que fizessem descer o escaler, e estendendo
a mão, chamou Pompeu pelo nome, desconfiando muito ao vê-lo em tal estado,
sobre o que lhe teria acontecido e que a má sorte lhe teria soprado em cima;
por esse meio, sem esperar que êle pedisse nem que falasse de sua desdita,
recolheu-o em seu navio e todos aqueles que vinham com êle, e depois se fêz à
vela. Com êle estavam os dois Lêntulo e Faônio; e logo depois perceberam ainda
sobre a praia o rei Dejotaro, que se debatia e lhes fazia sinais para que o
recebessem também, como o fizeram; e quando chegou a hora do jantar, o dono do
navio lhe preparou a refeição com o que havia; e Faônio, vendo que Pompeu, por
falta de criados, começava a lavar-se a si mesmo, correu a êle, lavou-o,
untou-o e depois continuou sempre a servi-lo e a ministrar-lhe tudo o que fazem
os escravos aos seus senhores, até a limpar-lhe os pés e preparar-lhe a
refeição; razão porque houve alguém que vendo como êle fazia esse serviço
liberalmente com uma simplicidade inocente, sem afetação nem fingimento algum,
disse-lhe este verso:

Que tudo assenta bem numa grande coragem.

CV.
Assim Pompeu, passando diante da
cidade de Anfípolis (89) atravessou dali para a ilha de Lesbos onde devia
encontrar sua mulher Cornélia e seu filho, que estavam na cidade de Mitilene
(90) ; porque, tendo ancorado na enseada, enviou um mensageiro à cidade à
presença dela, não tal como sua esposa aguardava; pois, segundo as notícias que
lhe mandavam para agradá-la, e que lhe traziam todos os dias, ela esperava que
a guerra tivesse sido inteiramente decidida perto da cidade de Dirrá-quio (91)
e que não restava mais nada a Pompeu senão perseguir César, que teria fugido. O
mensageiro, portanto, encontrando-a com tal esperança, não teve o coração
bastante firme para saudá-la somente, mas deu-lhe a entender mais pelas suas lágrimas,
do que por suas palavras, o principal da desgraça e que se apressasse
rapidamente se quisesse ver Pompeu em um navio só e que não era seu, mas
emprestado. A jovem dama, ouvindo esta notícia caiu estendida contra a terra,
onde ficou muito tempo desmaiada sem falar nem se mover e depois que voltou do
desmaio, considerando que não era tempo para lamentar-se nem chorar, desceu com
diligência através da cidade sobre a praia do mar, onde Pompeu foi ao seu
encontro e tomando-a em seus braços, porque ela não podia se suster, mas
deixava-se cair de dor, dizendo: — "Ai de mim! É bem uma obra de minha
sorte, não da tua, querido esposo, que te vejo agora reduzido a um único pobre
naviozinho, quando, antes de desposares a infeliz Cornélia, te fartavas de
singrar este mar com quinhentas velas. Ai de mim! Por que vieste portanto me
ver? E por que não me deixaste com o meu sinistro e malfadado destino, pois que
sou eu quem te trouxe tanta desgraça? Ai de mim! Tanto teria sido mulher feliz,
se estivesse morta antes de conhecer a morte de Públio Crasso, meu primeiro
marido, que os partos mataram! E tanto teria sido sábia, se como fui em
propósito, tivesse abandonado minha pobre vida logo após ele, quando fiquei
para trazer ainda desgraça ao grande Pom-peu!" Dizem que Cornélia
pronunciou então estas palavras e que Pompeu lhe disse: — "Não conheces
por acaso senão a boa sorte, Cornélia, a qual não te faltou, tanto ficaste
comigo que não estás acostumada a parar em um só lugar; mas, desde que nascemos
homens, é forçoso que suportemos pacientemente essas adversidades e que
tentemos ainda a sorte; pois não está fora da esperança, que não possamos
voltar da calamidade presente para a prosperidade passada, assim como da
prosperidade passada caímos na calamidade presente".

 

(89)     Perto da embocadura do rio Estrimon.
(90)     Capital da ilha de Lesbos.
(91)     Dirráquio ou Epidane, sobre o mar Jônio acima das
montanhas que separam a Ilíria da Macedônia. É hoje Durazzo.

 

CVI. Ouvidas essas palavras, Cornélia mandou à cidade
buscar sua bagagem e sua família e os mitilênios   vieram   publicamente  
visitar   e   saudar Pompeu, pedindo-lhe para descer à terra e vir descansar
em sua cidade, o que êle não quis fazer; mas êle mesmo os aconselhou a obedecer
ao vencedor, sem medo de nada, porque César era homem eqüitativo e de natureza
benigna e, virando-se para o filósofo Crátipo, que havia também descido da
cidade, entre os outros cidadãos, para vê-lo, lamentou-se e discutiu um pouco
com êle no tocante à providência divina; no que Crátipo lhe cedeu tudo delicadamente,
dando-lhe sempre melhor esperança, com receio que não lhe fosse muito
aborrecido e importuno, se quisesse conscientemente contestar as suas razões;
porque Pompeu lhe havia perguntado que providência dos deuses havia em seu
feito e Crátipo lhe teria respondido, que para o mau governo dos negócios em
Roma, era necessário que a república caísse nas mãos de um príncipe soberano; e
depois, por acaso, perguntou-lhe: — "Como e quais bandeiras queres tu,
Pompeu, pois nós acreditamos que terias melhor sorte, se tives-ses ficado
vencedor, mas o que não faz ou fará César? Mas é preciso deixar isto como apraz
aos deuses ordenar".

(92)   Sobre a costa meridional
da Ásia, quase em frente à ilha de Chipre, se bem que um pouco mais a ocidente.

 

CVII.
Tendo Pompeu, portanto, tomado sua
mulher e seus amigos, pôs-se à vela sem abordar em nenhuma parte, senão onde
era obrigado a fazer para receber víveres ou água. A primeira cidade onde
entrou foi Atália (92), no país da Panfília, onde algumas galeras da Cilícia foram encontrá-lo e
reuniram-se à sua volta alguns guerreiros, encontrando-se sessenta senadores
romanos em sua companhia, mas compreendendo que sua armada estava ainda para
ser completada e que Catão havia recolhido bom número de soldados da derrota,
que havia transportado com ele à África, pôs-se a lamentar, queixando-se aos
seus amigos, de o terem constrangido a combater por terra e não haviam
esperado que se socorresse da outra força a qual era, sem dúvida alguma, a mais
forte e que se ele se mantivesse sempre junto de sua armada, se a sorte
corresse mal sobre a terra, teria logo suas forças de mar prontas para resistir
a seu inimigo, também, em verdade, Pompeu não cometeu naquela guerra uma falta
maior, nem César divisou um melhor ardil, do que forçar seu inimigo à luta
assim longe do socorro de sua armada. Mas, sendo Pompeu obrigado a mover-se e
fazer alguma coisa segundo os poucos meios que possuía, foi seguindo aqui e ali
pelas cidades próximas e em algumas ia pessoalmente pedir dinheiro, com o qual
equipava e armava seus navios; e no entanto, temendo a rapidez e celeridade de
seu inimigo, para que não o apanhasse antes que pudesse por de cima algum
aparelhamento suficiente para lhe fazer frente, pôs-se a considerar qual o
retiro e que recurso podia ter então, ou onde pudesse ficar em segurança; e
depois de haver consultado tudo, pareceu-lhe que não havia nem uma província do
império romano que o pudesse manter; e quanto aos reinos estrangeiros, foi de opinião
que, no momento, não havia nenhum que melhor os pudesse recolher nem cobrir
seguramente, assim fracos como estavam, para depois levantá-los e acompanhá-los
com mais forças, como o dos partos. Os outros do Conselho viravam sua opinião
para a África e o rei Juba; mas Teófanes Lesbiano, dizia que parecia-lhe uma
grande loucura, deixar o reino do Egito, que não estava senão a três dias de
navegação dali e o rei Ptolomeu (93) que não acabava ainda de sair de sua
infância, sendo devedor hereditário da amizade e da graça que seu pai havia
recebido de Pompeu, para ir se jogar entre as mãos dos partos, a mais infiel e
mais desleal nação do mundo, que não admitira ajudar um único romano, que teria
sido seu sogro; e quanto a ele que era o primeiro de todos os homens, que não
precisava provar sua eqüidade, e antes ir submeter-se ao poder de Arsaces (94),
que não tinha somente podido ter em suas mãos a vida de Crasso vivo e levar uma
jovem mulher da casa dos Cipiões entre os bárbaros, que não mediam seu poder
nem sua grandeza, senão com a licença de cometer todas as vilanias e todas as
infâmias que desejassem; pois, supondo ainda que não fosse violada por eles,
que é, no entanto, coisa indigna que se possa pensar a seu respeito, por ter
estado sob o poder desses que têm o meio de o fazer, não houve senão esta razão, pelo que dizem, que desviou Pom-peu
de tomar o caminho do Eufrates, a menos que queiramos
consentir que este tenha sido o discurso da razão e não a má sorte que o guiou
a tomar o caminho que seguiu. Tendo portanto, sido resolvido no Conselho,
que o melhor era fugir para o Egito, partiu de Chipre com sua mulher em uma
galera selêuca e os outros de sua companhia embarcaram igualmente, uns sobre galeras também e os outros dentro de
grandes naves de mercadores, e atravessaram o mar sem perigo; tendo
notícias de que o rei estava na cidade de Pelúsio (95) com suas tropas onde
guerreava sua irmã, tomou aquele caminho e mandou avisar o rei que havia
chegado e solicitando recebê-lo.

 

(93)   
Denominado Dionísio.  irmão de
Cleópatra.
(94)   
Ver a nota sobre a Vida de Crasso, L. V, cap.
35*

 

CVIII.
Esse rei Ptolomeu era ainda muito jovem, mas aquele que conduzia todos seus
negócios, chamado Potino, reuniu um Conselho dos homens principais e
mais avisados da corte, os quais tinham autoridade e prestígio segundo o que lhes
agradava consentir; e, reunidos que foram, ordenou-lhes da parte do rei de
darem cada um sua opinião, referente a esta recepção de Pompeu, a saber se o
rei devia recebê-lo ou não. Já causava uma grande compaixão ver um Potino,
criado de quarto do rei do Egito e um Teodócio (96) mestre-escola, nativo de
Quios, que haviam sido contratados para ensinar a retórica a esse jovem rei e um
Aquiles Egípcio, consultar entre eles o que deviam fazer do grande Pompeu, pois
estes eram os primeiros conselheiros e intermediários dos negócios do rei,
entre os outros criados de quarto e os que o haviam criado. Pompeu esperava,
ancorado na baía, bem longe da costa, a resolução desse Conselho, no qual as
opiniões foram diferentes; uns queriam que o mandassem embora, os outros que o
chamassem e que o recebessem. Mas o retórico Teodócio, querendo mostrar sua
eloqüência, discorria que nem uma, nem a outra eram certas: — "Porque,
disse ele, se o recebessem, teriam César por inimigo e Pompeu por senhor e, se
o reconduzissem, Pompeu os incriminaria por terem-no expulsado e César por eles
não o terem retido; razão por que o melhor era chamá-lo para o fazer morrer,
porque assim, adquiririam a boa graça de um e não temeriam mais a má vontade do
outro"; ainda dizem que ajuntou (97) a seu dizer esse traço de ironia: —
"Um homem morto não morde mais".

(95)    Sobre o mar Mediterrâneo, na embocadura a mais oriental
do Nilo.
(96)    Grego, Teodote.

 

CIX. Tendo portanto, concluído isto entre eles, deram a
comissão para executá-la a Aquiles; este tomando consigo um Septímio, que
outrora havia sido soldado de Pompeu e Sálvio, um outro centurião, com três ou
quatro outros satélites, fêz-se conduzir à galera onde estava Pompeu, dentro
da qual encontravam-se também todos os principais personagens de seu séquito,
para ver o que aconteceria; mas quando viram esta maneira de receber, que não
era real nem magnífica, nem em coisa alguma correspondendo a esperança que
lhes havia dado Teófanes, considerando que não viam senão que pouca gente vinha
a eles dentro de um barco de pescadores, começaram a ter suspeitas do pouco
caso que faziam deles e aconselharam Pompeu a voltar atrás e fazer-se a alto
mar, enquanto estavam ainda fora da saraivada das flechas. Enquanto isso, a
barca aproximava-se e Septímio levantou-se nos pés e saudou Pompeu em língua
romana com o nome de imperador, que quer dizer, soberano capitão, e Aquiles o
saudou também em língua grega e disse-lhe que passasse à sua barca, porque ao
longo da margem havia muito lodo e bancos de areia de tal forma que não havia
água bastante para sua galera; mas ao mesmo tempo, viam de longe diversas
galeras do rei, que se armavam com diligência, e toda a costa coberta de guerreiros,
de tal modo que se Pompeu e os de sua companhia tivessem querido mudar de rumo,
não poderiam mais se salvar e havia ainda mais que fazia desconfiar, que dariam
ao homicídio alguma aparência para desculpar sua malvadez. Pelo que, despedindo-se
de sua mulher Cornélia, a qual antes do golpe já fazia as lamentações de seu
fim, ordenou a dois centuriões que entrassem na barca do egípcio à sua frente
como também a um de seus escravos libertos, que se chamava Filipe e a um outro
escravo que se chamava Scines. E como
Aquiles já lhe estendia a mão de dentro de sua barca, voltando-se para sua
mulher e seu filho, disse-lhes esses versos de Sófocles:

Quem entra em casa de tiranos,
Torna-se seu escravo
Mesmo quando parte livre.

(97)   No  
grego:    "sorrindo,   um   homem   morto   não   morde" mais". 
C.

 

CX. Essas foram as últimas palavras que disse aos seus,
quando passou de sua galera para a barca; e porque era longe da galera até a
terra firme, vendo que pelo caminho nenhuma pessoa mantinha propósitos de
palestra amável, olhou Septímio nc rosto e lhe disse: — "Parece-me que te
conheço, companheiro, por haveres outrora estado na guerra comigo.. O outro
fez-lhe sinal somente com a cabeça, que era verdade, sem lhe dar outra
resposta nem agrado algum; pelo que, não tendo mais nenhuma pessoa que dissesse
palavra, pegou em sua mão um livreto, dentro do qual havia escrito um discurso
em língua grega, que queria dizer a Ptolomeu e pôs-se a lê-lo. Quando chegaram
a pequena distância da terra, Cornélia com seus domésticos e amigos familiares
levantaram-se nos pés, olhando com grande aflição o que aconteceria.
Pareceu-lhe que ainda tinha de esperar, quando percebeu soldados do rei, que se
apresentavam no desembarque, como para receber e honrar Pompeu; mas sobre esse
ponto, quando segurava a mão de seu
liberto Filipe para se levantar mais à vontade, Septímio veio por trás,
passando-lhe sua espada através do corpo, depois do que Sálvio e Aquiles
desembainharam também suas espadas; então Pompeu puxou seu traje com as duas
mãos diante de sua face, sem dizer nem fazer nenhuma coisa indigna dele e suportou
virtuosamente os golpes que lhe davam, somente suspirando um pouco; estava com
a idade de cinqüenta (98) e nove anos, e terminava sua vida no dia seguinte
àquele de seu nascimento. Os que estavam dentro dos barcos quando presenciaram
o homicídio, fizeram um tão grande clamor, que se ouvia até à costa e
levantando com diligência as âncoras, puseram-se à vela para fugir, ao que lhes
serviu o vento que se levantou logo que ganharam o alto mar, de maneira que os
egípcios, que se aparelhavam para vogar após eles, quando viram isto,
desistiram, e tendo cortado a cabeça de Pompeu jogaram o corpo fora da barca,
para quem tivesse vontade de ver um tão miserável espetáculo. CXI. Filipe,
seu liberto, ficou sempre ao lado dele até que os egípcios se fartaram de olhá-lo
e, depois, tendo-o lavado com água do mar e embrulhado em sua pobre camisa,
porque não tinha outra coisa, procurou ao longo da praia se encontrava algum
morador de um velho barco de pescadores, cujas peças estivessem velhas, mas
suficientes para queimar um pobre corpo nu.    Assim, quando ele juntava e reunia-os, surgiu um romano, homem idoso, que em sua juventude havia estado na guerra sob Pompeu e perguntou-lhe: — "Quem és
tu, meu amigo, que fazes este preparativo para os funerais do grande Pompeu?"
Filipe respondeu-lhe que era um seu liberto. "Ah! disse o romano, não
terás sozinho esta honra, e peço-te me receberes como companheiro em um tão
santo e tão devoto encontro; a fim de que eu não tenha ocasião de me queixar de
tudo e por tudo por me haver habituado em país estrangeiro, tendo como
compensação de vários males que aqui suportei, encontrado ao menos este bom
acaso, de poder tocar com minhas mãos e ajudar a sepultar o maior capitão dos
romanos". Eis como Pompeu foi sepultado. No dia seguinte Lúcio Lêntulo,
não sabendo nada do que se havia passado, mas vindo de Chipre, ia singrando ao
longo da margem e percebeu um fogo de funeral e Filipe junto, o qual ele não
reconheceu ao primeiro olhar; perguntou-lhe: — Quem é este, que tendo aqui terminado
o curso de seu destino, repousa neste lugar?" Mas de repente, suspirando
profundo, ajuntou: — "Ai de mim! por acaso és tu, grande Pompeu?"
Depois desceu à terra, onde logo após foi aprisionado e morto. Tal foi o fim do
grande Pompeu.

(98)   Cinqüenta e oito anos e um dia.

 

CXII. Não se passou muito tempo quando César chegou ao Egito
assim agitado e atordoado, e ao lhe ser apresentada a cabeça de Pompeu, virou a
face para trás para não ver e mostrando horror àquele que a apresentava, como
um matador excomungado, pôs-se a chorar; tomou o anel no qual estavam gravadas
suas iniciais, que lhe foi também apresentado e onde estava incrustado na pedra
um leão tendo uma espada; mas fez morrer Aquiles e Potino; e mesmo seu rei
Ptolomeu, tendo sido derrotado em uma batalha ao longo da margem do rio Nilo,
desapareceu, de maneira que não souberam nunca mais o que lhe aconteceu. Quanto
ao retórico Teodócio, escapou do castigo de César; pois fugiu em boa hora e foi
errante daqui e dali pelo país do Egito, miserável e odiado por todo o mundo.
Mas depois, Marco Bruto, após haver morto César, tornando-se o mais forte na
Ásia, achou-o por acaso e depois de o fazer suportar todas as torturas que
pudesse imaginar, o fez finalmente morrer. As cinzas do corpo de Pompeu foram depois
trazidas a sua mulher Cornélia, a qual as depositou em uma terra que possuía
perto da cidade de Alba.

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