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XLI
Assim, dividiu o mar entre terras, em
treze regiões em cada uma das quais ordenou um certo número de navios com um de
seus tenentes; e, tendo espalhado suas forças, envolveu dentro de suas redes
todos os navios dos corsários que se achavam juntos, aprisionou-os e os fez
vir para terra; mas aqueles que em boa hora debandaram ou que puderam escapar
dessa caçada geral, foram todos se esconder na Cilícia, nem mais, nem menos
como as abelhas na colméia, contra os quais quis ir ele mesmo pessoalmente com
sessenta dos melhores navios; todavia, não se preparou para ir sem que
primeiramente tivesse limpo todo o mar da Toscana, as costas da Líbia, da
Sardenha, da Sicília e da Córsega, de todos esses ladrões, que anteriormente aí
costumavam pilhar, o que foi feito no espaço de quarenta dias, mediante o
trabalho que teve e a boa diligência que tiveram também seus tenentes.

XLII
Mas, tendo um dos cônsules chamado
Piso, por despeito e inveja que tinha de sua glória, leito os distúrbios que pôde
em sua aparelhagem, e entre outras coisas, diminuído seus remadores, mandou à
frente seus navios para fazer a volta da Itália e aportar na cidade de
Brundúsio; ele, no entanto, foi-se pela Toscana a Roma e lá, onde nem bem havia
chegado, sabendo que vinha, todo o povo se espalhou fora da cidade para ir ao seu encontro,
como se há muito tempo houvesse partido, o que aumentava ainda mais o prazer
que o povo tinha em vê-lo; era uma transformação pronta e rápida como nunca
podiam esperar, de víveres que chegavam todos os dias em abundância de todos
os lados, de tal forma que pouco faltou para que Piso fosse privado e deposto
de seu consulado; pois Gabínio já tinha o decreto escrito e prestes a
apresentar ao povo, mas Pompeu proibiu-o e, depois de haver remediado e feito
tudo com calma, foi-se à cidade de Brundúsio, onde subiu ao mar e se fez à
vela. E se bem que tivesse pressa para aproveitar o tempo e a ocasião nessa
viagem, passou de longe em dez boas cidades sem aportar, tão apressado estava;
no entanto, não quis passar assim na cidade de Atenas, mas desceu à terra, e
depois de haver sacrificado aos deuses e saudado o povo, voltou para embarcar,
e, saindo da cidade, leu dois cartazes que haviam sido feitos em seu louvor, um
por dentro da porta da cidade que dizia:

Tanto de deus tu tens,
Quanto de homem te sentis.

E outro fora da mesma porta que dizia:

Nós te esperávamos, nós te vemos
 Nós te adoramos e cobiçamos.

 

XLIII. Tendo aprisionado alguns corsários daqueles que se
achavam ainda juntos, pilhando o mar aqui e acolá, tratou-os humanamente quando
pediram perdão, e tendo seus navios e suas pessoas em seu poder, não lhe fez
mal algum, pelo que seus companheiros, com esperança, fugiram aos outros
capitães, assim como seus tenentes e foram entregar-se a ele com suas mulheres
e filhos. Pompeu perdoou a todos os que se entregaram voluntariamente, e assim
veio a descobrir e a seguir o rasto dos outros, que aprisionou afinal, os quais
se sentindo culpados de casos irredimíveis, esconderam-se; todavia, o maior
número desses, os mais ricos e mais poderosos, haviam retirado suas mulheres,
seus filhos, seus bens e todo o seu povo inútil para a guerra, para dentro dos
castelos e pequenas fortalezas do monte Tauro, e aqueles que eram aptos para
defesa, embarcaram em seus navios diante da cidade de Coracésio (33) onde
esperaram Pompeu e lhe deram combate, no qual foram derrotados primeiramente
no mar, depois sitiados em terra; mas pouco depois pediram que os tomasse a seu
favor e se entregaram com suas cidades, suas ilhas fortificadas, de sorte que
estas eram bem difíceis não somente de serem não só forçadas, como também
abordadas. Assim, esta guerra foi terminada e todos os corsários, em qualquer parte ou lugar em que estivessem,
foram expulsos fora do mar no espaço de três meses, não mais. Aí ganhou ele
grande número de navios, além de noventa galeras armadas com esporas de bronze;
e, quanto às pessoas, que eram mais de vinte mil, não pôs somente em
deliberação se as devia fazer morrer, mas deixou-as ir e afastar-se à vontade,
ou então se reunirem, visto serem em tão grande número, acossados pela pobreza
e todos guerreiros, que não lhe pareceu que condená-las fosse sabiamente feito.
Ainda mais, discorrendo consigo mesmo, que o homem por sua natureza não é indomável
nem feroz, mas ao contrário, que sai fora de seu eu e de seu natural, quando se
dá ao vício e que se habitua pouco a pouco, com a mudança de lugar e maneiras
de viver; atendendo que os animais mesmo que por sua natureza são selvagens e
ferozes, se suavizam bem e se despojam de sua altivez natural, quando
habituados, pouco a pouco a uma vida mais suave, resolveu transportar esses
corsários do mar para a terra e fazê-los ter a vida justa e inocente dos
moradores das cidades e lavradores da terra. Alojou alguns dentro de algumas
pequenas cidades dos cilicianos, que eram meio desertas, e que por esta causa
os receberam voluntariamente, dando-lhes terras para os alimentar. Também a
cidade dos solianos (34) havia antes sido destruída e despovoada por Tigranes,
rei dos armênios; querendo levantá-la, aí deixou um grande número desses
homens e logrou igualmente colocar diversos na cidade de Dima no país de Acaia,
que então tinha falta de habitantes e possuía grande quantidade de belas e boas
terras.

(33)
Cidade da Cilícia, na extremidade, do lado da Panfília, perto do mar
Mediterrâneo, que sé chamava o longo desta costa, mar da Panfília,

(34).   Soles,   outra  
cidade   da   Cilícia,   perto   da   emboeadura do rio Cidno.

 

XLIV. Ora, quanto a isto, os invejosos e malevolentes o
censuraram. Mas, quanto ao que fez em Cândia, mesmo aqueles que eram seus
maiores e melhores amigos, não ficaram satisfeitos. Metelo, que era parente
daquele que havia guerreado com ele na Espanha contra Sertório, havia sido
enviado como pretor e governador de Cândia, antes de Pompeu ter sido eleito
capitão contra os corsários, porque a Cândia era como que uma segunda tenda e
retiro desses ladrões, depois de Cilícia; e Metelo aí havia encontrado um
grande número deles, os quais ia exterminando e fazendo morrer, onde os
encontrava; mas os que se haviam salvo até ali, estando sitiados, pediram a
Pompeu para perdoá-los e tomá-los a seu lado, demonstrando-lhe que a ilha
estava dentro dos limites de sua jurisdição, de acordo com as medidas que haviam
prefixado. Pompeu recebeu-os e escreveu a Metelo que parasse com a guerra e na
mesma ocasião fez saber às cidades que não deviam obedecer mais as suas ordens;
depois enviou um de seus tenentes, Lúcio Otávio, o qual entrou na cidades que
Metelo havia sitiado e combateu   pelos   corsários.   Isto   tornou  
Pompeu   não somente invejado e odiado, mas também sujeito aos
sarcasmos, por prestar assim a salvaguarda de seu nome a maus ladrões que não
tinham deus, nem lei, e dando-lhes sua autoridade, como um preservativo, a fim
de os livrar da morte, com a obstinação que assumiu contra Metelo. Assim
procedeu o próprio Aquiles, e dizem que não agiu como homem sábio, mas como um
rapaz louco, estouvado e transportado pela cobiça de honra, quando fazia sinal aos
outros gregos no forte da batalha e os proibia de atirar em Heitor, conforme
diz Homero:

Que (35) esta honra outro não a levasse,

E que muito tarde pois aí não
chegasse.

Mas Pompeu
fez pior; combateu a favor de inimigos comuns a todo o mundo, a fim de privar
da honra do triunfo um pretor romano, que havia trabalhado muito para os
destruir e exterminar; todavia, Metelo não desistiu pela sua defesa, mas tendo
tomado de assalto os corsários, os fez executar e depois de haver feito e dito
diversos ultrajes e injúrias a Otávio no meio de seu acampamento, deixou-o ir
afinal.

(35)    Ilíada, L. XXII, v. 207.   C.

 

XLV. Assim que chegou a notícia a Roma de que esta guerra
de corsários estava completamente terminada e que Pompeu,  não tendo mais nada a fazer, ia visitando as cidades, houve um
tribuno chamado Manílio, que propôs um outro decreto, ao povo, que Pompeu,
tomando todas as forças e todas as províncias que estavam então sob o comando
de Lúculo, e toda a Bitínia, que tomasse também Glábrio, fosse guerrear aos
reis Tigranes e Mitrídates, conservando além disso sempre sua armada e seu
poder sobre a marinha na mesma qualidade e condição em que se achava antes.
Isto era, em resumo, submeter a um só homem todo o poder do império romano;
pois as províncias às quais sua primeira jurisdição não se estendia, como a
Frí-gia, a Licaônia, a Galácia, a Capadócia, a Cilícia, a alta Cólquida e a
Armênia, todas lhe estavam anexadas por esta segunda, com os exércitos e as
forças com as quais Lúculo já havia batido esses dois reis poderosos. Assim se
detinham (36) os senadores no erro que cometiam contra Lúculo, privando-o da
glória de seus próprios feitos, para dá-la a um outro, que ia ter as honras do
triunfo sem ter passado pelas lutas e perigos da guerra. Sabiam evidentemente
que praticavam uma grande injustiça e muita ingratidão; todavia, isto não os
emocionava tanto como lhes era desagradável ver o poder de Pompeu basear-se
numa manifesta tirania; portanto, advertindo uns aos outros, encorajavam-se
para resistir com firmeza a este edital, e não perder assim sua liberdade. Todavia, no dia marcado no qual devia
ser aprovado o decreto, os senadores recearam irritar o povo, a coragem faltou
a todos e não houve ninguém que ousasse dizer uma palavra contra, senão Catulo
que o acusou e censurou durante muito tempo. Afinal, vendo que não podia ganhar
um só homem do povo, pôs-se a gritar com os senadores que procurassem
encontrar uma montanha ou rocha bem elevada, sobre a qual pudessem se retirar
para salvar e defender a sua liberdade, como outrora fizeram seus antepassados.
Mas, não obstante tudo isso, o decreto passou, autorizado pelas vozes de todas
as classes, segundo dizem; e assim, embora ausente, Pompeu tornou-se senhor de
quase tudo o que Sila, por força das armas e efusão de sangue humano, tivera em
seu poder, tendo-se feito senhor de Roma.

(36)    No gregos 
«esses que mantinham o partido aristocrático».   C.

 

XLVI. Quando recebeu as cartas pelas quais lhe contavam o
que havia sido ordenado pelo povo em seu favor, dizem que na presença de seus
amigos mais chegados, que então estavam a seu lado e se alegravam com ele,
franziu as sobrancelhas e bateu na coxa, como se se sentisse aborrecido e
contrariado com tantos cargos uns sobre os outros, dizendo: — "Ó Deus! não
chegarei nunca mais ao fim de tanto trabalho? Não teria valido mais para mim,
se eu fosse pessoa humilde e desconhecida, do que estar assim continuamente na
guerra com o arreio às costas? Não verei jamais o tempo em que me livrarei
desta inveja e possa viver sossegadamente com minha mulher e meus filhos, nos campos de minha casa?" Tais
palavras disse Pompeu; mas mesmo os seus amigos, os mais íntimos, suportaram
esta evidente dissimulação, conhecendo muito bem que além de sua ambição
natural e cobiça de dominar, estava muito contente por haver obtido este cargo,
pela diferença e discórdia que tinha com Lúculo; os fatos o descobriram logo, aliás.

XLVII. Assim, enviou rápido suas ordens por toda a parte,
pelas quais ordenava expressamente a todas as classes de guerreiros, que
viessem à sua presença, fazendo vir também todos os príncipes e reis
compreendidos dentro do distrito de seu cargo e mudou tudo o que Lúculo havia
feito e ordenado, até mesmo aplicando os castigos e retirando as graças que
havia dado e se obstinou, em suma, fazendo todas as coisas para dar a conhecer
aos que seguiam e honravam Lúculo, que ele não tinha nenhuma autoridade nem
poder; pelo que, tendo Lúculo feito suas queixas, seus amigos foram de parecer
que se encontrassem para falar um com o outro, o que fizeram no país da
Galácia, esses dois grandes chefes de armas romanas que haviam praticado belos
e triunfantes feitos, os sargentos levando à sua frente os feixes de varas
enrolados com ramos de louro. Mas, quando se encontraram, Lúculo vinha de
lugares cobertos e sombreados de árvores e de rica vegetação, e Pompeu, ao
contrário, tinha passado por uma grande região árida e seca, onde não havia
árvore alguma; pelo que os sargentos de Lúculo, vendo os ramos de louro
que traziam os de Pompeu, secos e murchos, lhes entregaram os seus, que estavam
frescos e verdes, com os quais ornaram e enrolaram suas varas e seus machados.
Isto pareceu propriamente ser um sinal de que Pompeu vinha para retirar e
levantar o prêmio de honra a Lúculo. Verdade é que este havia sido cônsul antes
de Pompeu e também era mais idoso do que ele; mas a dignidade de Pompeu era
muito grande, pois que já havia triunfado duas vezes. Foram seus propósitos no
primeiro encontro os mais graciosos e os mais honestos, o quanto possível, pois
elevaram honradamente os altos feitos um do outro e disseram que se alegravam
cada um da prosperidade de seu companheiro; mas, no final, a conclusão não foi
bela nem boa, pois chegaram até a pesadas palavras, Pompeu censurando a Lúculo
sua avareza e Lúculo a Pompeu sua ambição, de sorte que seus amigos fizeram bem
separando-os. Saindo dali, Lúculo distribuiu terras na Galácia (37), como
conquistadas por ele e deu outras graças e presentes a quem bem lhe pareceu; e
Pompeu, acampado muito perto dele, defendia-se, por meio de ordem que enviava
por toda parte, que não obedecessem a coisa alguma que ele ordenasse e
retirou-lhe todos os seus guerreiros, exceto uns mil e seiscentos, que ainda
eram desses que ele considerava inúteis por sua arrogância e desejavam mal a
Lúculo.  Ainda mais, para diminuir a glória de seus feitos, dizia publicamente
que Lúculo havia combatido somente a pompa e ostentação de dois reis e lhe
havia deixado para combater o poder verdadeiro, porque Mitrídates havia então
posto seu refúgio nas armas, nos escudos, espadas e cavalos; e Lúculo, como
desforra, dizia que Pompeu ia combater um fantasma e uma sombra somente, nem
mais, nem menos como um pássaro covarde, sempre acostumado a se atirar sobre
cadáveres, por outros derrubados em terra e vir dissipar as relíquias das
guerras dirigidas por outrem, como havia feito, atribuindo-se a honra da
derrota de Sertório, de Lépido, de Espártaco, ali onde Metelo, Crasso e Catulo
os haviam derrotado; e portanto, que não era preciso se maravilhar pelo fato de
ter ele procurado os meios de acreditarem na glória e nos triunfos dos reinos
de Ponto e da Armênia, visto que, tanto havia feito por seus enredos, que se
havia intrometido, como aconteceu, até no triunfo dos escravos fugitivos.

(37)    Ao meio da Paflagônia.

 

XLVIII. Depois, tendo Lúculo partido, Pompeu dispôs boas guarnições por todas
as costas e mares que existem desde a província da Fenícia (38) até o reino de
Bósforo, e isto feito, encaminhou-se por terra para ir pessoalmente procurar
Mitrídates, o qual tinha no acampamento trinta mil soldados da infantaria e
dois mil cavalos, e no entanto, não ousava, com tudo isto, apresentar-se em
batalha, mas estava acampado primeiramente sobre uma montanha de base forte e
difícil de assaltar; todavia, abandonou-a depois, por não encontrar água, mas,
nem bem havia partido, Pompeu se apoderava dela; e, conjecturando, pela
natureza das plantas e das árvores que aí verdejavam e igualmente pelos valões
e cavernas constatados, que ali devia haver também nascentes e fontes, ordenou
que furassem poços por toda parte, de maneira que em poucas horas seu campo
teve grande abundância de água e se admirou enormemente de como Mitrídates
havia ignorado isto durante tanto tempo; afinal, foi acampar à volta dele e
fechou-o com muralhas dentro de seu próprio campo, onde depois de haver
suportado o cerco durante quarenta e cinco dias, Mitrídates, com a elite de
todo seu exército, fugiu, sem que Pompeu percebesse, tendo primeiramente feito
morrer todas as pessoas inúteis e doentes de seu acampamento.

(38)    Estende-se do
norte ao meio-dia, desde a Selêucida até a Palestina.

 

XLIX.
Depois Pompeu encontrou-o outra vez
perto do rio Eufrates, indo alojar-se junto a ele; mas, temendo que não
passasse o rio antes que aí estivesse para o impedir, fez desalojar seu
exército e marchar em batalha desde a meia-noite; aproximadamente naquela
hora, dizem que Mitrídates teve em sonho uma visão que lhe prognosticava o que
lhe aconteceria: pois foi avisado de que tendo o vento à popa, singrou a velas
pandas bem no meio do mar de Ponto e que já via o estreito de Bósforo, pelo que
se alegrou muito e fazendo grande festa aos que viajavam com ele, como aquele
que pensava já haver certamente chegado ao porto da salvação, mas que de
repente se encontrava destituído de todas as coisas, errando ao sabor dos
ventos entre as ondas do mar sobre um pequeno pedaço de seu navio partido. E,
no desespero dessa ilusão, chegaram alguns de seus mais familiares, que lhe
disseram já estar Pompeu tão perto deles, que não havia mais outra alternativa
senão combater para defender seu acampamento. Começaram logo os capitães a
alinhar as tropas em batalha para combater e Pompeu, avisado de que eles se
preparavam para o receber, teve dúvidas em expor seus soldados ao azar do
combate nas trevas e achou mais prudente cercá-los para lhes retirar os meios
de fuga, e depois, quando o dia viesse, os faria assaltar bem à vontade por
seus soldados que eram melhores combatentes; mas os mais velhos capitães e chefes
de tropas fizeram-lhe tantos pedidos e tantas admoestações, que finalmente o
convenceram a fazer tudo prontamente para assaltar porque não estava tão escuro
que não vissem nada, por causa da lua que estava baixa e próxima a se esconder
e dava ainda bastante claridade para ver os corpos dos homens, mas porque
baixava muito, as sombras se estendiam bem mais longe do que os corpos,
atingindo de bem longe os inimigos; por isso não podiam calcular acertadamente
a verdadeira distância que havia até eles, e como se estivessem bem perto, atiravam seus
dardos e azagaias, os quais não acertavam em ninguém, porque estavam muito
longe. Vendo isto, os romanos correram sobre eles com grandes gritos, mas os
bárbaros não ousaram esperar, amedrontaram-se e, virando as costas, fugiram em
desordem, quando foi feita uma grande carnificina, pois foram mortos ali mais
de dez mil e seu próprio acampamento tomado.

L.
Quanto a Mitrídates, fendeu o cerco
dos romanos desde o início da confusão, com oitocentos cavalos aproximadamente,
e passou além; mas, imediatamente seus soldados afastaram-se era várias
direções, de maneira que ele se encontrou só com mais três, dos quais um era
Hipsicrácia, uma de suas concubinas, a qual havia sido sempre arrojada,
exibindo uma coragem de homem, de tal forma que Mitrídates por amor disto, a
chamava Hipsícrates; mas estando vestida como guerreiro persa e tendo o cavalo
igual, nunca estava cansada nem indisposta nas longas caminhadas do rei, nem se
cansava de servi-lo e cuidar de seu cavalo até que chegaram a uma fortaleza
chamada Inora, que estava cheia de ouro e de prata e muitos móveis preciosos do
rei. Aí, Mitrídates pegou grande quantidade de ricos vestuários, que
distribuiu aos que se reuniram a seu lado e deu a cada um de seus amigos um
veneno mortal para trazer com ele, a fim de que nenhum deles caísse vivo se não
quisesse, entre as mãos dos inimigos. Dali quis seguir seu caminho para a Armênia para
perto do rei Tigranes. Porém Tigranes adian-tou-se, proibindo-o, e fez mais
ainda, mandou gritar ao som da trombeta que dana cem talentos (39) a quem o
matasse; por isso, passando a nascente do rio Eufrates, fugiu através o país da
Cólquida.

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