Continued from: Roma Antiga: Pompeu - Vidas Paralelas - Plutarco
XI. Em seguida, foi por todas
as outras cidades, fazendo o mesmo, onde todos os que faziam alguma coisa por
Carbo, nesse sentido, lhe cediam os direitos e se retiravam à sua frente e os
outros se uniam a ele voluntariamente, de maneira que em pouco tempo aprontou
três legiões juntas, todas completas, reuniu munição para as alimentar e descobriu
bestas de carga, carretas e outros carros para levar a bagagem; e, depois disto
feito, pôs-se a caminho para levar todo este equipamento a Sila, não com
grandes caminhadas como homem que tivesse receio de ser encontrado e ficasse
bem sossegado de não ser visto pelo caminho, mas demorando nos lugares onde
podia prejudicar o inimigo em alguma coisa, solicitando às cidades por onde
passava para se rebelarem contra Carbo, até que três capitães da parte
contrária, Carina, Célio e Bruto, todos três juntos, foram assaltá-lo, não de
frente, nem do mesmo lado, mas por diversos lugares, volteando à volta com três
exércitos, julgando alcançar vitória no primeiro assalto; todavia, Pompeu
não se espantou, mas reuniu todas as suas forças em um lugar e marchou
primeiro contra o exército de Bruto, tendo posto à frente da batalha após os
soldados da infantaria, os da cavalaria, entre os quais estava ele mesmo. E
como os guerreiros do inimigo, que eram gauleses, marchassem também ao seu
encontro, deu primeiro no mais poderoso e de melhor aparência dentre eles um
tão violento golpe de dardo que o fez cair por terra; os outros, vendo isso,
viraram-se logo em fuga e romperam eles mesmos seus infantes, de sorte que
todos se puseram a fugir, ocasião em que os capitães entraram em discussão uns
com os outros, retirando-se uns de um lado, outros de outro, da melhor forma
que puderam. E então as cidades dos arredores, onde pensaram que se afastavam
assim de medo, renderam-se todas a Pompeu. Depois o cônsul Cipião, tendo-se
aproximado dele, também para o combater, quando as duas facções ficaram uma em
frente à outra, antes que estivessem prontos para lançar seus dardos, os
soldados de Cipião, saudando os de Pompeu viraram-se para seu lado, não podendo
Cipião fazer outra coisa senão fugir. Finalmente, Carbo mesmo, tendo lhe
enviado no final diversas companhias de cavalarianos junto do rio Arsis, virou
o rosto contra eles e os carregou tão rudemente que os levou lutando até a
lugares onde era impossível aos cavalarianos combater; por esse meio, vendo que
não tinham jeito de se salvar, entregaram-se com suas armas e seus cavalos.
(5) Vetídios.
XII. Sila
ainda não tinha ouvido nada a respeito dessas derrotas porque ao primeiro rumor
que ouviu, temendo se perdesse, envolto como estava por tantos capitães
inimigos, apressou-se a ir socorrê-lo, e Pompeu, quando foi avisado de que ele
se aproximava, ordenou aos seus capitães que armassem seus soldados e se
colocassem em batalha a fim de que seu general os encontrasse mais bravos e em
melhor forma quando ele os apresentasse, pois esperava que Sila lhe fizesse
grandes honras, mas este fez ainda mais do que esperava, porque quando o
divisou de muito longe, vindo ao seu encontro, e vendo seu exército em tão boa
ordem, onde existia tão belos homens e que mostravam tão boas fisionomias e
traziam todos a cabeça erguida orgulhosamente pelas vantagens que acabavam de
ter sobre seus inimigos, desceu do cavalo a pé, e como Pompeu o saudasse
chamando-o imperador, que quer dizer capitão em chefe, Sila saudou-o de novo da
mesma forma, contra a expectativa e opinião de todos os assistentes, que não
julgavam fosse possível comunicar a honra desse nome a um homem tão jovem, que
não tinha nem sido recebido ainda no corpo do Senado, levando em conta que
combatia contra Marianos e CipiÕes na conquista desse título. De resto, o
tratamento que Sila lhe deu correspondia ao que desejava; pois, quando Pompeu
chegou ao lugar onde se encontrava, levantava-se à sua frente e se descobria
erguendo o véu sobre a cabeça, o que não fazia facilmente diante de outros, ainda que houvesse muita gente de
bem, e grandes personagens ao seu redor; todavia, essas honras não deixavam
Pompeu orgulhoso, mas como Sila quisesse imediatamente enviá-lo à Gália, onde
estava Metelo, que não parecia praticar feitos dignos das forças que possuía,
Pompeu respondeu-lhe que não era razoável retirar um velho capitão que havia
feito e visto mais do que ele; mas se Metelo quisesse e lhe pedisse, de bom
grado iria ajudá-lo a conduzir aquela guerra,
XIII. Metelo ficou muito
contente e lhe escreveu que fosse, e entrando, aí praticou maravilhosos feitos
de armas e esquentou ainda mais a bravura e virtude militar de Metelo, que já começava
a envelhecer, confirmando o que se diz, que o cobre já fundido, vindo a correr
à volta daquele que ainda está frio e duro,
o amolece e dissolve mais facilmente, o que não faz o próprio fogo.
Ainda mais, assim como em um valente
campeão de luta ou de esgrima, que sempre honradamente venceu tudo onde
combateu, não leva em consideração as
vitórias pueris que ganhou contra seus companheiros quando ainda
rapazinho, não se dignando gravá-las por escrito, também tenho receio de tocar nos feitos de armas que Pompeu
praticou, ainda que sejam em si mesmos admiráveis
porque são escondidos, obscurecidos e apagados sob a grandeza e o número
infinito de guerras/batalhas e combates que teve depois, com receio de que, se
eu brincasse muito em descrever minuciosamente
esses inícios, passasse depois ligeiramente sobre os principais atos e mais
notáveis feitos desse personagem, que mais claramente colocam e põem em
evidência seu natural.
XIV. Depois,
portanto, que Sila ascendeu em seus negócios na Itália e foi declarado ditador,
recompensou seus outros tenentes e capitães que mantiveram seu partido,
elevando-os às honras e dignidades da república e lhes cedendo liberalmente
tudo o que solicitavam; mas, quanto a Pompeu, tendo-o em admiração por sua
virtude e considerando que seria ele um grande apoio para a segurança de seus
negócios, procurou ligar-se ao jovem capitão por meio de uma aliança, no que
Metela, sua mulher, era favorável; fizeram tanto que persuadiram Pompeu a
repudiar sua mulher Antístia, para se casar com Emília, filha de Metela e de
seu primeiro mando Emílio Escauro. Essas núpcias foram como que violentas e
tirânicas, pouco convenientes no tempo de Sila, mais âo que pela
natureza e pelos costumes de Pompeu, sendo tomada sua nova esposa Emília a seu
marido legítimo, para lhe ser entregue grávida, e expulsar Antístia vergonhosa
e miseravelmente, atendendo que pouco antes havia perdido seu pai e agora seu
marido a repudiava; pois Antístio foi morto dentro do próprio Senado, porque
foi considerado querer tomar o partido de Sila por amor de seu genro Pompeu; e
sua mãe, vendo o grande erro que cometiam contra sua filha, suicidou-se; de tal
forma, esse inconveniente foi como que um acessório à tragédia dessas
desgraçadas núpcias e também o falecimento de Emília, a qual pouco depois
morreu de parto em casa de Pompeu.
XV. Mas,
nesse entrementes, vieram notícias a Roma de que Perpena havia se apoderado da Sicília
e se preparava para fazer dessa ilha um forte
e um retiro para aqueles que eram da facção contrária a Sila; ainda que Carbo
estivesse à volta com algum número de navios e Domício houvesse passadoà África, e diversos outros personagens banidos que puderam se salvar das
proscriçoes houvessem se colocado desse lado, Pompeu foi enviado para combater
todos esses com uma força poderosa, mas nem bem havia posto o pé na Sicília,
Perpena a deixou; ali , tratou humanamente e levantou todas as outras cidades,
que antes haviam trabalhado muito e muito se afligiram, exceto os marmetinos,
únicos habitantes na cidade de Messina, os quais quiseram alegar a seu favor,
seu tribunal e sua jurisprudência, dizendo que tinham privilégio expresso e
antiga ordem do povo romano, ao que ele lhes respondeu colérico:
— "Alegais nossas leis, a nós que temos as espadas de lado?"
XVI. Também
parece que se portou um tanto ultrajantemente na calamidade de Carbo; pois se
era preciso fazê-lo morrer, devia fazê-lo logo,
quando o tinha entre suas mãos, pois agindo assim, teriam atribuído todo o ódio
do fato àquele que o teria ordenado;
mas o fez levar diante de si e interrogou-o publicamente à vista de todo o
mundo, do que diversos dos assistentes ficaram muito descontentes e depois
ordenou que o fizessem matar. Foi levado, e dizem, quando viu a espada nua com
a qual queriam corta-lhe a cabeça, pediu aos executores que lhe dessem um pouco de tempo e um espaço para descarregar seu ventre, que o oprimia. Caio
Ópio, um dos familiares de Júlio César, escreve também que era homem letrado e tão sábio, que havia
poucos semelhantes; quando o levaram à presença de Pompeu, este chamou-o
à parte, dando algumas voltas com ele, e depois de haver perguntado e sabido o
que queria, ordenou aos seus satélites que o levassem e fizessem morrer logo; mas não é preciso crer superficialmente em
tudo o que escreve Ópio, quando fala dos amigos ou inimigos de Júlio
César; pois Pompeu era obrigado a mandar castigar os personagens mais notáveis
entre os inimigos de Sila que caíam entre
suas mãos, quando eram notoriamente prisioneiros, mas a todos os que podiam se
esconder, fingia não saber de nada; e, mais ainda, proporcionava ainda
meios a alguns para se salvar.
XVII. Havia ele deliberado
castigar rudemente a cidade dos himéríos, porque esta, obstinadamente, tinha
tomado o partido dos inimigos, mas Estênio, um dos governadores da cidade,
tendo-lhe solicitado audiência, disse-lhe que não era justo assim proceder,
perdoando aquele que era o autor de toda
a falta e destruindo os que nada haviam feito. Pompeu então perguntou-lhe quem
era esse que ele dizia ser o autor de todo o mal e Estênio respondeu-lhe que
era ele mesmo que havia persuadido aos seus amigos e constrangido por força aos
seus inimigos a fazerem tudo o que haviam feito. Pompeu, tendo prazer em ouvir
falar assim tão franca e magnâni-mamente este homem, perdoou-lhe, primeiro a
ele e em seguida a todos os outros himérios; mas, sendo avisado de que seus
soldados praticavam algumas violências pelos caminhos, lacrou suas espadas
e castigou aqueles que não conservaram o lacre completo.
XVIII. Assim, depois de
executar e ordenar essas coisas na Sicília, recebeu uma ordem do Senado e
cartas de Sila, pelas quais lhe era ordenado passar imediatamente à África,
para aí guerrear com todas as forças a Domício, que já havia reunido muito mais
guerreiros do que Mário havia feito, ao ter passado antes, da África para a
Itália e revirado os negócios dos romanos, tendo se tornado de banido fugitivo
em rude tirano. Por isto Pompeu, em pouco tempo, tendo preparado seu
equipamento para embarcar, deixou em seu lugar como governador da Sicília, o
marido de sua irmã, Mêmio, e saiu ao mar com vinte navios a remo e oitocentos
outros navios de carga para transportar os víveres, as armas, o dinheiro e os
engenhos de bateria e todo o resto da bagagem. Uma vez tendo descido com sua
frota, partiu para Útica (6), e para Cartago, onde reuniu sem demora uns
sete mil guerreiros dos inimigos, que vieram entregar-se a ele; e dizem que à
sua chegada deu-se um caso interessante, pois houve alguns soldados que
encontraram um tesouro, onde havia grande soma de dinheiro. Tendo isto chegado
ao conhecimento dos outros, foram de opinião que esse campo onde foi achado o
tesouro devia estar cheio de ouro e prata que os cartagineses haviam
antigamente escondido no tempo de suas calamidades. Não foi então possível a
Pompeu servir-se de seus soldados para qualquer outra coisa durante vários
dias, e não pôde fazer nada mais senão rir, vendo tantos milhares de homens
remexendo a terra e revirando o campo, até que eles mesmos se cansaram afinal e
lhe disseram que os levasse para onde bem quisesse, porque já haviam
suficientemente pago o trabalho de sua loucura.
(6)
Sobre a costa da África, em face da ilha Sardenha, à esquerda; e Cartago à.
direita do rio Bagrada, que desce dos montes Mampsaro e se joga no
Mediterrâneo.
XIX. Domício foi ao seu
encontro com o exército pronto para a batalha, mas havia na frente um charco,
com uma torrente áspera e difícil para se passar, além de um grande vento e
grossas chuvas que se haviam levantado desde o amanhecer do dia, de scrte que
Domício pensou não poder nesse dia combater e ordenou aos seus soldados que
levantassem as bagagens para sair dali. Pompeu, tomando a ocasião própria para
ele, fez, rapidamente marchar seus soldados e passou o vale. Vendo isso, os
inimigos que estavam em desordem .perturbaram-se e na agitação quiseram fazer
frente; mas não estavam juntos nem igualmente alinhados em batalha e ainda por cima
o vento jogava chuva contra seus rostos; todavia, esta tempestade aborrecia
também aos romanos, porque eles não se viam uns aos outros, de maneira que
Pompeu mesmo ficou em perigo de ser morto por um de seus soldados, que não o
conheciam ainda, o qual perguntou-lhe a senha de batalha, tendo ele ficado
algum tempo sem responder. Finalmente, de pois de ter derrotado os inimigos
com grande efusão de sangue (pois dizem que dos vinte mil que eram, não se
salvaram senão três) os soldados saudaram Pompeu com o nome de Imperador; mas
ele lhes respondeu que não aceitava a honra desse nome enquanto visse o acampamento
do inimigo em pé e que se o julgavam digno de tal denominação, precisavam
destruir primeiramente o muro que cercava o campo do inimigo. Ouvindo isso, os
soldados foram todos ao assalto, onde Pompeu combatia com a cabeça nua e com
receio de cair num inconveniente como havia acontecido uma vez; foi então o
acampamento tomado à força e Domício mesmo morto ali dentro.
XX. Depois
daquela derrota, as cidades da região se entregaram, algumas voluntariamente,
outras foram tomadas de assalto e à força, como foi também aprisionado o rei
Jarbas que havia combatido por Domício e seu reinado dado a Hiampsal. Mas
Pompeu, querendo ainda mais empregar suas forças e a boa sorte de seu exército,
entrou na Numídia (7) e andando muitos dias pela região a dentro, ganhando e
conquistando tudo por onde passava e ampliando por esse meio o poder dos
romanos, tornou-se espantoso e temível aos bárbaros desse país, do qual
começava já a não fazer mais caso. Diz-se com vantagem que não faltava senão
aos animais selvagens da África experimentar a força è a sorte dos romanos, em
razão do que empregou alguns dias, mas poucos, a caçar leões e elefantes, pois
dentro do espaço de quarenta dias ao todo, derrotou os inimigos, reconquistou
o país da África e ordenou os negócios dos reis e províncias de todo o país,
não tendo ainda senão vinte e quatro anos de idade.