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LXXXI. Vendo isso, os amigos de César reclamaram desejando
também alguma atenção para César, que conduzia tão grandes e tão pesadas guerras
para o império romano, dizendo que era bem razoável, considerando seus grandes
serviços, que lhe dessem um outro consulado, ou lhe prolongassem ainda o tempo
de seu governo durante o qual pudesse ao menos gozar em paz a honra de pôr em
ordem o que ele mesmo havia adquirido, sem que um outro sucessor lhe viesse
retirar o fruto de seu trabalho. Sobre isto levantou-se grande discussão e
grande contenção em Roma; Pompeu, querendo reparar a inveja que pudesse
conceber contra César, pela amizade que lhe tinha, disse ter cartas dele, pelas
quais pedia que lhe enviassem um sucessor e o desencarregassem da guerra; e por
cima, o que lhe parecia bem razoável, lhe concedessem o privilégio de solicitar
um segundo consulado, embora ausente, ao que Catão se opôs formalmente, dizendo
que era preciso voltar a ser cidadão comum e que, deixando as armas, viesse ele
mesmo procurar obter algum bem e alguma recompensa de seus concidadãos. Mas
como Pompeu não replicou nem contestou a isto, mas se manteve como se não tivesse nada a dizer contra, desconfiaram e interpretaram
mais que ele não tinha boa opinião sobre a vontade de César, juntando que havia
reclamado de volta as duas legiões emprestadas, sob a capa da guerra dos
partos; todavia, César, ainda que compreendesse bem para qual ocasião as pedia
de volta, enviou-as grandemente honradas com belos e bons presentes.

(70)    Seiscentos  mil  escudos.   Amyot.

 

LXXXII.
Aproximadamente nessa época, Pcmpeu
caiu doente em Nápoles com uma grande e perigosa enfermidade, da qual todavia,
se curou; e os napolitanos cederam à persuasão de um dos principais de sua
cidade chamado Praxágoras, sacrificando publicamente aos deuses para lhes
render graças pela sua convalescença; seus vizinhos próximos fizeram depois
outro tanto, de sorte que isto, de mão em mão, se estendeu por toda a Itália e
não houve nem pequena, nem grande cidade que não festejasse e se alegrasse
publicamente por vários dias; e não encontravam lugar bastante para conter os
que vinham de todos os lados, varando os caminhos; todas as cidadezinhas, os
vilarejos, os portos de mar estavam cheios de gente que sacrificavam aos deuses
e faziam festas pela recuperação de sua saúde. Havia mesmo diversos que iam
visitá-lo e o acolhiam com tochas iluminadas, trazendo chapéus de flores sobre
as cabeças e depois o comboiavam atirando ramos e flores sobre ele, fazendo com
que o acompanhamento prosseguisse nesse ritmo em todo o percurso do caminho;
foi um dos mais belos, mais honrosos e magníficos espetáculos como nunca havia
visto em sua vida; mas também notam que isto foi causa, mais do que nenhuma
outra, capaz de suscitar a guerra civil; pois a opinião presunçosa de si mesmo
que lhe entrou na cabeça, e a extrema alegria de se ver assim honrado e amado,
suplantou os ditames da razão, que devia basear sobre as coisas verdadeiras e
não sobre a aparência, fazendo-o esquecer a diligência de se manter sob sua
guarda, que lhe havia anteriormente assegurado sempre sua prosperidade e seus
feitos, mu.dou-a em audaciosa bravata, fazendo-o desprezar mesmo o poder de
César e até a dizer que não teria o que fazer com as armas nem com outra
laboriosa solicitude contra êle e que o desfaria quando quisesse muito mais
facilmente do que não tinha de início. Ápio, voltando naquela ocasião da Gália,
trouxe-lhe os guerreiros que havia emprestado a César, diminuindo muito por
palavras as coisas que havia feito por lá e mantendo diversos propósitos
ultrajantes e injuriosos contra- César, pois dizia que Pompeu não conhecia bem
suas próprias forças nem sua reputação, em querer arregimentar outras armas contra
êle, porque o derrotaria com as suas próprias, logo que o vissem, tanto os
soldados, dizia êle, tinham ódio de César, aliado a um grande desejo de ver
Pompeu. Esses propósitos envaideceram tanto Pompeu e o encheram de tão grande
negligência por se fiar e imaginar muito de si, que criticou aqueles que temiam a guerra; e a esses que lhe diziam se César viesse
direito a Roma, não viam por quais forças pudessem resisti-lo, respondeu-lhes
com uma fisionomia sorridente e com um rosto aberto, que não se preocupassem
quanto a isto: — "Pois todas e quantas vezes, disse ele, eu venha a bater
com o pé, somente na terra da Itália, farei surgir de todas as partes
guerreiros a pé e a cavalo".

LXXXIII.
Enquanto isto, César observava
conscientemente seus negócios, aproximando-se da Itália e enviando sempre seus
soldados a Roma para estar presente na eleição dos magistrados, ganhando na
surdina e corrompendo diversos daqueles que estavam em função, a poder de
dinheiro, entre os quais estava Paulo um dos cônsules (71), ao qual fez virar a
casaca, mediante a soma de mil e quinhentos talentos (72) e Cúrio, tribuno do
povo, de quem liquidou uma ínfima soma de dívidas e Marco Antônio que pela sua
amizade a Cúrio, tinha também parte em suas dívidas, coobrigado como ele. Aconteceu,
com vantagem, que um dos capitães vindos da parte de César, estando próximo ao
Senado (73) e sabendo que o Conselho não lhe queria ceder a prorrogação de seu
governo, que pedia, batendo a mão sobre o punho da espada, esbravejou: —
"Esta aqui, disse ele, lha dará". Breve, tudo o que urdia e o que
fazia, tendia para este fim; todavia, os pedidos e solicitações que fazia Cúno
em nome de César, pareciam um pouco mais razoáveis e mais populares; pois pedia
um dos dois, ou que fizessem depor as armas a Pompeu ou que não constrangessem
César a depor como a ele: — "Pois estando (isto dizia ele) todos os dois
comuns, eles se colocariam por si mesmos na razão, ou tornariam seus exércitos
tão fortes um como o outro e se contentariam com o que tinham, sem nada mudar
um com receio do outro; mas quem retirasse as forças de um e as deixasse ao
outro, duplicaria o poder que ele temia." A isto replicou Marcelo, o
Cônsul, ultrajantemente, chamando a César um salteador, e dizendo que deviam
declará-lo inimigo público do povo romano, se não depusesse as armas; todavia,
Cúno, Antônio e Pison tanto fizeram que a coisa foi posta em prova pela
pluralidade das vozes no Senado; pois disse Cúrio que aqueles que fossem de
opinião que só César depusesse as armas e que Pompeu retivesse as suas,
passassem todos para um lado. A maior parte passou e não restaram senão vinte e
dois apenas que ficaram com Pompeu e todos os outros juntos se colocaram ao
lado de Cúno, o qual por este motivo saiu à praça com a cabeça alta, como vitorioso
e foi recolhido pelos de seu partido com altos gritos e grandes salvas de
palmas em sinal de contentamento e com muitos ramalhetes e chapéus de flores
que atiravam sobre ele.  Pompeu não estava presente nesta prova que se fez pela
vontade do Senado, porque aqueles que tinham autoridade sobre o exército não
podiam, pelas leis romanas, entrar dentro da cidade; Marcelo, porém,
levan-tando-se disse que não queria ficar sentado distraindo-se a ouvir
discursos e discussões, enquanto sabia com certeza que dez legiões atravessavam
já os Alpes para vir em armas direito contra eles e que ele enviaria à frente
um homem para lhes fazer frente e defender a república.

(71)     
O ano de Roma 704.
(72)      Novecentos mil escudos.   Amyot.
(73)     
Do lugar onde o Senado se reunia.

 

LXXXIV.
Depois disto, trocaram de roupa em
Roma, como costumavam fazer em luto público; e Marcelo, passando através da
praça, seguido dos senadores, dirigiu-se a Pompeu, diante do qual, tendo
chegado, disse bem alto: — "Eu te ordeno, Pompeu, que vás socorrer a república
com as forças que tens sempre prontas e que leves ainda outras". O mesmo
também disse Lêntulo, um dos que estavam designados como cônsules para o ano
seguinte; mas, como Pompeu pensasse levantar e arrolar guerreiros dentro de
Roma, uns não queriam obedecer à sua ordem, os outros vinham contra a vontade
em pequeno número, friamente, e com pouca afeição; e a maioria gritando: —
"Despacho, despacho", porque Antônio havia lido diante de todo o
povo, apesar do Senado, uma carta particular de César, contendo certos pedidos
e oferecimentos muito a propósito para atrair a plebe; pois solicitava que
Pompeu e ele saíssem fora de seus governos e deixassem seus exércitos para estarem direitos e se entregassem inteiramente ao
julgamento do povo, dando-lhe contas e razão de tudo o que haviam feito.
Lêntulo, que já havia entrado na posse de seu consulado, não fazia reunir o
Senado; mas Cícero, que havia pouco voltara da Cilícia, ia procurando conseguir
acordo, levando de dianteira que César deixara a Gália e todo o resto de seu
exército, exceto duas legiões apenas, que retinha com o governo da Esclavônia,
esperando um segundo consulado. Pompeu achou este expediente mau; e os amigos
de César deixaram-se conduzir até conceder que este deixaria ainda uma de suas
legiões, mas Lêntulo opôs-se e Catão também, gritando que Pompeu abusava e
descontentava, de maneira que todas essas vias de despacho não tiveram lugar.

LXXXV.
E no entanto, chegaram notícias a
Roma de que César já se havia apoderado de Ariminum (74) boa e grande cidade da
Itália e que vinha com todo seu poder direito a Roma, o que era falso; pois não
tinha com ele mais do que trezentos cavalos e cinco mil homens de infantaria, não tendo
esperado o resto de seu exército, que estava ainda além dos montes na Gália,
mas apressava-se para surpreender seus adversários desprevenidos enquanto
estivessem em tumulto e em pavor e não imaginassem que sua vinda fosse tão
rápida, antes de lhe dar tempo de se prover e ter de combatê-los então quando
estivessem preparados, pois quando chegou sobre a margem do rio Rubicon (75)
que faz a separação do território que lhe havia sido entregue com a Itália,
parou quieto um espaço de tempo, sem dizer palavra, e diferiu um pouco,
pensando consigo mesmo na grande e ousada empreitada onde ia se atirar; subitamente,
nem mais, nem menos como esses que se atiram do alto de um rochedo no abismo de
profundidade infinita, fechando a boca e a razão e pregando os olhos na
imaginação do perigo, gritou aos que estavam à sua volta em língua grega: —
"Está lançada a sorte", (76) como se quisesse dizer "tomemos o
acaso; a perder tudo não há senão um golpe perigoso" e fêz passar suas
tropas.

(74) Arimin,
hoje Rímini, cidade situada sobre o mar Adriático, na província da Ümbria, na
embocaclura do rio do mesmo nome, a cinqüenta e oito léguas de Roma. Foi ali
que se realizou no ano 359 de Jesus Cristo o famoso concilio, onde mais de
quatrocentos bispos, vencidos pelas violências de Tauro, prefeito do imperador
Constâncio, assinaram a fórmula pela qual, segundo expressão de São Jerônimo,
todo o universo foi surpreendido por se achar ariano, mas que forneceu ao papa
Libério, recusando subscrever, uma feliz ocasião de reparar a falta que havia
cometido, dois anos antes, aderindo à condenação de Santo Atanásio, e assinando
uma fórmula de fé ariana, segundo a expressão de Santo Hilário, qué -a
anatematizou com seu autor.

 

LXXXVL    Logo que esta notícia foi divulgada em Roma, houve um
grande pavor como não se. havia visto ainda; todo o Senado correu incontinenti
à presença de Pompeu quando foram também todos os magistrados da cidade, onde
Túlio (77) indagou quais as forças e que exército tinha para os defender;
Pompeu respondeu-lhe com alguma demora e com palavras mal seguras, que dispunha
das duas legiões que César lhe havia enviado de volta, todas prontas e que
contando bom aqueles que antes havia convocado às pressas, chegaria bem até o
número de trinta mil combatentes. Túlio então exclamou bem alto: — • "Tu
abusaste de nós, Pompeu"; e aconselhou que enviassem embaixadores à
presença de César. Havia naquela reunião um chamado Faônio, o qual pensando
bem, não era mau homem, senão que por obstinação e audácia, procurava desfazer
a franca liberdade no falar de que usava Catão; o qual lhe disse então que
batesse o pé contra a terra, para fazer brotar os guerreiros que lhes havia
prometido. Pompeu suportou delicadamente o importuno ultraje deste homem e
como Catão o relembrasse do que havia predito a respeito de César desde o
início, respondeu-lhe: — "O que tu me havias predito, certamente
profetizaste verdadeiramente; mas no que eu fiz, fi-lo de boa-fé,
amigavelmente". Catão resolveu então que elegessem Pompeu capitão-general
da república, com plenos poderes e força soberana em todas as coisas, dizendo: —
"Os grandes homens que praticam os grandes males, são esses que melhor
sabem remediar",   e  logo  partiu   para  ir  à   Sicília,   cujo governo lhe havia caído por sorte e cada um dos
outros senadores igualmente partiram para as províncias que lhe tinham
sucedido.

(75)    Um   pouco   acima do   rio   Arimin. . .
(76)    Isto não- consta no grego.
(77)    Lúcio  
Volcacio   Túlio,   que   havia   sido   cônsul   no   ano de Roma 688.

LXXXVII.
Assim, estando quase toda a Itália estremecida, não havia ordem nem razão alguma em tudo
o que se fazia; pois aqueles que se achavam fora de Roma, aí acorreram, fugindo
por todos os lados; e ao contrário, aqueles que habitavam dentro, saíam
apressadamente, e abandonavam a cidade em tal tumulto e tal confusão, que o que
podia servir, tendo boa vontade de obedecer, quase sempre era débil, e o que
prejudicava pela desobediência, era poderoso e sem vontade para reagir e
obedecer aos magistrados que tinham a lei para executar. Não havia meio algum
de abrandar o pavor e não deixavam Pompeu dispor as coisas a seu critério, mas
segundo cada um se encontrava com sentimento de dor, de temor ou de dúvida; de
tal forma que em um só dia, muitas vezes, recebiam todas" pelo contrário,
as resoluções do Conselho. Êle não podia compreender nada certo dos inimigos,
porque uns comentavam um modo e outros de maneira diversa e se não queria
acreditar, eles se enfureciam . contra êle. Finalmente, verificando o tumulto e
a confusão tão grandes em Roma, que não havia meio de chegarão fim, êle
ordenou a todos os do Senado que fossem com êle, declarando aos que ficassem,
que os consideraria como aderentes de César e ao cair da tarde abandonou a
cidade. Os dois cônsules, sem sacrificar aos deuses, assim como estavam
acostumados a fazer, antes de partir para irem à guerra, fugiram também, de
modo que Pompeu no momento mais grave de seus negócios e no meio do perigo,
podia se dar por feliz, por ver a grande afeição e benevolência que todo o
mundo lhe tinha; pois ainda que diversos repreendessem sua conduta, não havia
no entanto um que o odiasse, mas encontraram muito mais desses que não podiam
abandonar Pompeu pelo amor que lhe devotavam do que desses que o seguiam para
manter sua liberdade.

LXXXVIII.
Poucos dias depois de haver partido,
César chegou a Roma e, apoderando-se da cidade, falou humanamente a todos os
que aí encontrou, abrandando seu pavor, exceto que ameaçou de fazer morrer
Metelo, um dos tribunos do povo, que o quis impedir de retirar o dinheiro do
tesouro; e ajuntou a esta cruel ameaça uma palavra mais rude, pois disse-lhe
que o falar lhe era mais difícil do que o fazer. Assim, tendo reposto Metelo e
tomado o que quis, pôs-se a seguir Pompeu pelas suas pegadas, procurando
expulsá-lo fora da Itália, antes. que o exército de que dispunha na Espanha
chegasse. Enquanto isto, Pompeu, apoderando-se da cidade de Brundúsio e tendo
recuperado alguns navios, fêz incontinenti embarcar os dois cônsules com trinta
insígnias de soldados de infantaria que enviou adiante além-mar, a Dirráquio; e
despachou na mesma ocasião Cipião, seu sogro, e Gneo Pompeu, seu filho, para irem a Síria fazerem provisão de navios e
ele, tendo fortificado as portas da cidade, dispôs sobre as muralhas cs mais
rápidos e mais ligeiros de seus soldados com ordem expressa aos habitantes que
não se movessem de suas casas; fez ainda abrir fossas e entrincheirar por
dentro da cidade as ruas em vários lugares e encheu as ditas fossas e
trincheiras de paus pontudos disfarçados nas pontas, exceto duas pelas quais
havia passagem para o porto. Após o terceiro dia, tendo já embarcado com calma
toda a outra multidão de sua gente, fez subitamente levantar um sinal no ar
para esses que havia deixado como guarda das muralhas, os quais acorreram logo
a ele e recolhendo-os habilmente em seus navios, levantou as âncoras e
atravessou o mar.

LXXXIX.
Logo que César percebeu as muralhas
desnudas de soldados, desconfiou de que Pompeu havia fugido, e querendo correr
atrás, pouco faltou para que não se atrapalhasse com aqueles paus cravados e
que não caísse dentro das fossas, se os da cidade o não tivessem avisado;
assim, desistiu de passar através da cidade e contornou à volta para ir ao
porto, onde achou que toda a frota já havia feito vela, exceto dois navios
apenas, sobre os quais havia poucos soldados. Ora, há os que colocam esta
partida de Pompeu entre os melhores ardis de guerra jamais usados; todavia,
mesmo César espantou-se de como, tendo uma cidade forte em seu poder, e
esperando seu exército que lhe vinha da Espanha e estando senhor do mar, jamais
abandonasse a Itália. Cícero (78) também o reprova por ele seguir antes a
conduta de Temístocles do que de Péncies, visto que os negócios se assemelhavam
mais ao tempo deste do que daquele; e César mesmo demonstra com efeito que
temia muito o tempo; pois tendo surpreendido ‘Numéno, um dos amigos de Pompeu,
o enviou a Emndúsio perante Pompeu, para fazer-lhe o oferecimento de despachar
com condições iguais, mas esse Numéno fez-se à vela na mesma ocasião que Pompeu.
Por esse meio, portanto, César tendo-se apoderado e se feito senhor de toda a
Itália em sessenta dias, sem desferir um golpe, nem espalhar sangue, quis
prontamente ir após Pompeu; mas como para tanto não dispunha de navios prontos,
desistiu e virou-se com diligência para a Espanha, para encontrar meio de
conseguir as forças que aí estavam.

XC. Enquanto
isto, Pompeu reuniu uma poderosa força por mar e por terra; a do mar era em
todos os pontos invencível, pois tinha navios para combater até o número de
quinhentos’, além de galeo-tas e fragatas em número infinito; e quanto às
forças de terra, tinha toda a flor da cavalaria romana e da Itália também, até
o número de sete mil cavalos, todos homens ricos, de grandes casas e de
acentuada coragem; mas seus soldados de infantaria eram homens recolhidos de
todas as peças, que precisavam ser exercitados com vagar nos feitos das armas,
como também Pompeu os fazia praticar continuamente, estando em descanso junto
da cidade de Berroe (79), onde êle mesmo não ficava ocioso, mas trabalhava
tanto pessoalmente, como se estivesse na flor da idade; o que era de grande
eficácia para assegurar e encorajar os outros, ao ver o grande Pompeu com a
idade de sessenta anos, fazendo como dois, combater a pé todo armado e depois a
cavalo desembainhar sua espada sem dificuldade, enquanto seu cavalo corria à
rédea solta e depois a embainhar também facilmente, lançar a azagaia, não
somente, com a destreza de dar a ponta chamada, mas também com força de a
enviar tão longe, que poucos dos jovens soldados o podiam ultrapassar.

(78)      
Cícero, Epístola Ad. Atticum, L. 7,
ep. 11.   C.
(79)    Cidade da Macedônia, ao pé do monte Bermio.

 

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