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LXI. Pensando em sua volta à Itália, achava que devia aí
chegar como o homem mais honrado do mundo e desejava encontrar-se em sua casa
com sua mulher e seus filhos como também julgava aí ser esperado por eles com
grande devoção; mas o deus que cuida de misturar sempre entre os grandes
favores da sorte, alguma coisa de sinistro, esperava-o em caminho e armava uma
emboscada em sua própria casa para lhe
tornar sua volta dolorosa; pois sua mulher Múcia em sua ausência havia se
portado mal. Ora, enquanto estava longe, não levou em conta as informações que
lhe davam; mas quando se aproximou da Itália e que teve o entendimento mais livre para pensar nas denúncias que lhe haviam
feito, então informou que renunciava e repudiava sua mulher, sem lhe
haver nada escrito nem depois jamais disse porque a repudiava; mas a causa está
escrita nas epístolas de Cícero. No entanto, antes de sua chegada, correram
diversos ruídos a respeito dele em Roma, que estava triste e o espírito em
tumulto, porque diziam que levaria suas forças direito à cidade e certamente se
faria senhor de todo o império romano; de
tal modo correram esses rumores, que Crasso saiu às escondidas, levando
consigo seus filhos e seu dinheiro, seja porque verdadeiramente tivesse receio
ou, como parecia, para tornar a calúnia verossímil e tornar a inveja mais
áspera contra ele. Por isto, assim que pôs o pé na Itália, fez reunir todos os
seus guerreiros e depois de os haver aconselhado e agradecido, segundo o tempo
e a ocasião permitiam, ordenou-lhes que debandassem e se retirassem cada um
para sua casa para pôr em ordem seus negócios, contanto que tivessem lembrança
que deviam se encontrar reunidos em Roma no dia de seu triunfo. Assim, estando
seu exército dissolvido e a notícia tendo corrido logo por toda parte,
aconteceu uma coisa maravilhosa:  todas as cidades, vendo
Pompeu, o Grande, sem a companhia dos guerreiros, com um pequeno séquito de
seus domésticos e amigos familiares somente, sem mais nem menos, como se
houvesse voltado, não de suas grandes conquistas, mas de alguma viagem onde
houvesse ido por prazer, todos os moradores saíram para ir à sua frente, tanto
os povos lhe tinham amor e respeito, e o acompanharam, quisesse ou não, até
dentro de Roma, com mais poder do que quando voltou à Itália, de maneira que se
tivesse vontade de mudar alguma coisa na situação da coisa pública, não
precisaria de seu exército.

E porque a
lei e costume proibiam entrar na cidade antes do triunfo, mandou pedir ao
Senado para alterar por alguns dias a eleição dos cônsules e conceder-lhe esta
graça a fim que pudesse estar presente para assistir e favorecer a Pison, que
pedia naquele ano o consulado. Mas foi-lhe negada a solicitação, pela
resistência que lhe fez Catão, impedindo-o, pelo que Pompeu se admirou e se
maravilhou da franqueza no falar e a calma com a qual sustentava sozinho e
defendia as coisas justas e razoáveis, razão pela qual teve desejo de ganhá-lo
em aliança, como aconteceu. Tendo Catão duas sobrinhas, pediu-as em casamento,
uma para si e a outra para seu filho; porém, Catão desconfiando que fazia este
pedido para o ganhar e corrompe-lo, sob pretexto desta pretensa aliança,
rejeitou-os. Sua irmã e sua mulher ficaram muito descontentes, por haver
recusado a aliança com o grande Pompeu. Mas, aproximadamente nesse mesmo tempo,
aconteceu que ele, desejando por todas as vias, promover Afrânio ao consulado,
mandou distribuir algum dinheiro pelas classes do povo e o dinheiro foi entregue
nos jardins mesmo de Pompeu, de sorte que a coisa foi’ divulgada pela cidade e
o censuraram muito pelo fato de se tornar venal e comprar com dinheiro a esses
que não podia adquirir nem conseguir pela virtude, a soberana magistratura da
coisa pública, que ele mesmo havia obtido como recompensa de seus altos feitos:
então Catão observou à sua mulher e à sua irmã: — "Vedes, precisaríamos
participar agora dessa censura, se tivéssemos aceito a aliança de Pompeu".
Tendo ouvido isto, confessaram que seu parecer foi o melhor, visando o dever e
a honra.

LXIII.
Afinal, quanto à magnificência de seu
triunfo, ainda que fosse dividido em dois dias, não houve tempo bastante, pois
tinha muita coisa que haviam preparado para ser levada em exibição, que ficou
de lado, de maneira que ainda sobrava largamente para honrar, embelezar e
ornamentar um outro triunfo. Entre outras, levaram à frente cartazes que
continham os nomes das nações onde triunfou, que eram as que se seguem: o
reino de Ponto, a Armênia, a Capadócia, a Paflagônia, a Média, a Cólquida, as
Hiberianas, as Albânias, a Síria, a Cilícia, a Mesopotâmia, a Fenícia, a
Palestina, a Judéia, a Arábia, os corsários derrotados por todos os cantos do mundo, tanto por mar como por terra,
sendo que em todos esses lugares apoderou-se até o número de mil castelos e
fortalezas e não menos de novecentas cidades
e fortes; navios de corsários, aproximadamente oitocentos; cidades
anteriormente desertas, por ele repovoadas, trinta e nove. Como vantagem os cartazes mencionavam também a renda comum
da república antes de suas conquistas, que não subia por ano (51) senão a cinco
milhões de escudos e agora, pelo que havia anexado e adquirido ao império
romano, recebia (52) oito milhões e quinhentos mil escudos, o que trazia
presentemente ao tesouro da economia pública, tanto em ouro e dinheiro, como
anéis e jóias, o valor (53) de dois milhões em ouro, sem contar o que havia
dado e distribuído aos guerreiros, dos quais o que menos recebeu segundo sua
classe, levara (54) cento e cin qüenta escudos. Os prisioneiros conduzidos na
de monstração desse triunfo, além dos capitães dos corsários, foram o filho de
Tigranes, rei da Armênia, com sua mulher e sua filha e a mulher do rei
Tigranes, a qual se chamava Zózima, o rei dos judeus Aristóbulo, a irmã de
Mitrídates com cinco de seus filhos, algumas damas de Cítia, os reféns das
Hiberianas e das Albânias e do rei dos comagenos, e além disso, grande
número de troféus, tantos quanto ele e
seus tenentes haviam ganho nas batalhas em diversos lugares.

(51)     
No grego: cinqüenta milhões.   C.
(52)     
No grego: oitenta e cinco milhões. 
C.
(53)     
No grego: vinte mil talentos.  C.
(54)     
No grego: mil e quinhentas
dracmas.  C.

 

LXIV.
Mas o que lhe dava maior glória e que
jamais acontecera, nem antes, nem depois a nenhum capitão a não ser a ele, foi
que esse terceiro triunfo, foi ganho na terceira parte do mundo; houve outros
romanos que venceram por três vezes; mas Pompeu triunfou a primeira vez na
África, a segunda na Europa e a terceira na Ásia, de tal modo, que nessas três
vitórias parecia ter, como se diz, triunfado em toda a terra habitável e
estava então, assim como dizem os que o comparam e o querem fazer em todas as
coisas assemelhar-se a Alexandre, o Grande, com menos de trinta e quatro anos;
todavia, apesar do que dizem, êle se aproximava dos quarenta (55) e, muito
feliz teria sido, se a vida não se prolongasse além do ponto que lhe durou a
sorte de Alexandre, porque todo o tempo que viveu depois só recebeu
prospendades odiosas ou adversidades irremediáveis;
pois, empregando o prestígio e a autoridade que havia adquirido por
bons meios oara favorecer a outros
injustamente, enquanto lhes aumentava o poder, tanto diminuía de glória
e só tomou sentido quando se viu arruinado em sua própria grandeza, nem mais,
nem menos, como as cidades que deixam
entrar os inimigos até dentro dos lugares mais fortes e dos melhores bairros
que possuem, aumentando-lhes suas próprias forças por si mesmas; também César,
tendo-se elevado mediante o favor e o poder de Pompeu, derrotou-o e arruinou-o
pouco depois, com os próprios meios com os quais o fez forte contra todos, o
que aconteceu deste modo: Lúculo, em sua volta da Ásia, onde Pompeu o havia
tratado injuriosamente, foi desde então bem visto e bem recebido no Senado e
ainda mais depois que Pompeu chegou também; pois mesmo o Senado o animou a se
fazer valer e a tomar as matérias a peito, conscientemente, mas ele já estava
desistindo, e sua atividade nos negócios da república esfriava, por se ter
dedicado despreocupadamente a si próprio e pelo prazer de gozar sua riqueza e
seus bens em repouso. Todavia, Pompeu nem chegara de volta, desandou Lúculo
vivamente contra ele no tocante às coisas que havia estabelecido e ordenado na
Ásia e que Pompeu havia estragado e anulado; no Senado levava vantagem
mediante o apoio que Catão lhe dava, ocasião em que Pompeu, encontrando-se ali assim fechado e atormentado, foi constrangido a recorrer aos
tribunos do povo e ao convívio de rapazes adu-ladores, dos quais o pior, o mais
audacioso e mais temerário era um chamado Clódio, que o pegou imediatamente,
entregando-o como presa ao povo, tendo-o sempre ao seu lado e por qualquer
coisa levando-o  consigo  à praça,  contra  sua  dignidade, para o fazer
confirmar todas as novidades que propunha para adular a plebe e ensinar-se na
graça da ralé, mas ainda mais lhe pedia como salário, como se não fosse uma
vergonha e sim uma graça que lhe estivesse pedindo, que abandonasse Cícero, seu
amigo, e que muito havia feito por ele na administração pública, o que obteve,
de tal modo que quando Cícero, vendo-se chamado perante a justiça, em perigo,
mandou procurá-lo para o ajudar, fêz fechar a porta de sua casa aos que vinham
de sua parte e saía pela porta de trás; nessa ocasião, Cícero, temendo o
resultado do julgamento, saiu para (56) fora de Roma.

(55) Nasceu
no ano de Roma 648, triunfou de Mitrídates no ano de Roma 693, no mesmo dia do
aniversário de seu nascimento. Tinha portanto, precisamente quarenta e cinco
anos.

 

LXV. Aproximadamente naquele tempo César, voltando (57) de
sua pretoria na Espanha, começou a usar um método que prontamente lhe alcançou
uma singular benevolência depois transformada em grande poder, com grande
prejuízo para Pompeu e para a república; pois pretendia conseguir seu primeiro
consulado, e vendo que Pompeu seria inimigo de Crasso, ligando-se a um, teria o
outro por inimigo; procurou meios, então, de pô-los de acordo, coisa que à
primeira vista parecia a melhor e a mais honesta do mundo mas o intuito era
fino e malicioso, de má intenção. Pois a força que, anteriormente dividida em
duas partes, mantinha a coisa pública em igualdade de peso, era nem mais, nem
menos como um barco carregado tanto de um lado como do outro, de tal modo que
não podendo pender nem daqui, nem dali, vinha a se conjugar em um só corpo, e
não seria mais do que uma, e assim fez a inclinação tão forte, que não se
encontrou ninguém que pudesse contrabalançar, de modo que afinal a embarcação
virou toda de baixo para cima.

(56)      O  ano  de Roma  696.
(57)     
Um pouco  antes;  pois voltou da
Espanha no  ano de Roma 694 e foi cônsul pela primeira vez no ano de Roma 695.

 

LXVI. Portanto, como dizia o sábio Catão aos que lhe iam
falar a respeito da discussão e inimizade de Pompeu e de César, que eles
haviam arruinado a república, que eles se iludiam demasiadamente, levando a
sério o que estava terminado; sua discórdia não foi motivada nem por sua inimizade,
que havia sido a primeira e principal causa desta ruína mas antes sua amizade e
concórdia, pois por aquela, César foi eleito cônsul, o qual se pôs logo a
agradar e adular a plebe e a multidão de sofredores e indigentes, levando
avante o repovoa-mento das cidades, a distribuição de terras aos que não
tinham, descendo nisto a dignidade do soberano magistrado e tornando, por
assim dizer, o consulado, um tribunal do povo. Seu companheiro Bídulo
resistia o mais que podia e Catão deliberou secundar e ajudar Bíbulo com todo o
seu poder, até que César, levando à tribuna Pompeu, diante de toda a
assistência do povo e chamando-o por seu nome, perguntou-lhe se aprovava todos
os decretos que  havia  encaminhado.  Pompeu   respondeu   que sim. — ”Se, portanto, existe alguém, disse César,
que pela força queira impedir não sejam autorizados pelas vozes do povo, tu não
virás para sustentar e defender o bem público?" — "Sim, respondeu
Pompeu, aqui virei verdadeiramente e contra esses que ameaçam com a espada,
trarei a espada e o bouclier".

LXVII,
Jamais Pompeu, em toda sua vida,
havia feito nem dito coisa tão inoportuna como aquela, de sorte que mesmo seus
amigos, procurando desculpá-lo, diziam que essa palavra lhe escapou sem pensar;
todavia, pelo que se seguiu depois, pareceu bem evidentemente que se havia dado
todo a César, para que fizesse tudo o que bem lhe parecesse; pois poucos dias
depois desposou Júlia, sua filha, sem que ninguém esperasse, uma vez que era
noiva de Servílio Cépio, que a devia desposar prò-ximamente; e para abrandar a
pouca aptidão de Cépio, Pompeu deu-lhe em casamento sua filha, que estava
também anteriormente prometida a Fausto, filho de Sila, e César desposou
Calpúrnia, filha de Pison. Isto feito, Pompeu encheu toda a cidade de
guerreiros, fez à força tudo o que quis; mesmo o cônsul Bíbulo, quando ia para
a praça acompanhado de Lúculo e de Catão, de certa feita arremessaram-se contra
êle inesperadamente e quebraram os feixes de varas que levavam à sua frente e
houve alguém que, por zombaria, lhe atirou um cesto cheio de excrementos sobre
a cabeça, e dois dos tribunos do povo que o seguiam foram feridos. E por esse meio,
tendo esvaziado a praça dos que lhe eram contrários, fizeram à sua vontade
passar o decreto da distribuição de terras à cuja isca a plebe foi atraída,
deixando-se levar por eles a tudo que desejaram e não foi mais contrária em
coisa alguma e deu seu voto para autorizar tudo o que lhes aprazia propor.
Foram assim ratificadas as ordens pelas quais Pompeu havia debatido com Lúculo
e decretaram a César o governo da Gália, tanto de aquém como de além os mentes
Alpes e a Esclavônia (58), pelo espaço de cinco anos, com quarenta legiões
completas. E para o ano seguinte foram designados cônsules Pison, sogro de
César e Gabínio, o maior adulador que Pompeu teve a seu lado.

(58)    Da Ilíría.

 

LXVIII. Ora, enquanto essas coisas se passavam Bíbulo,
mantendo-se fechado em sua casa sem ousar sair durante oito meses, se bem que
fosse cônsul, somente enviava para fora avisos para serem afixados nos lugares
públicos, nos quais acusava Pompeu e César; por outra parte, Catão, nem mais,
nem menos, como se houvesse sido inspirado por algum espírito profético, ia
pregando e predizendo publicamente em pleno Senado o que estava para acontecer à república e mesmo a Pompeu; mas Lúculo, não querendo trabalhar mantinha-se quieto
e gozava seu descanso como não estando mais para fazer sacrifícios, nem em
idade para se manter nos negócios; foi quando Pompeu disse que ele estava mais
fora de estação, como homem velho para vagar a seu bel prazer, do que para
ficar disponível aos negócios públicos; e, no entanto, Pompeu mesmo foi logo
depois abrandado pelo amor de sua nova esposa e não fazia outra coisa a maior
parte do tempo, do que agradá-la, mantendo-se constantemente com ela nas casas
de repouso que tinha nos campos ou então em seus jardins, sem mais se preocupar
com o que faziam na administração, de maneira que Clódio, que então era tribuno
do povo, começou a recriminá-lo e a empreender sedições; pois tendo expulso
Cícero e enviado Catão fora de Roma para Chipre, sob a aparência de comissão e
administração pública e por outro lado César, tendo ido à Gáha, e vendo que a
plebe o obedecia porque havia feito e dito tudo o que podia imaginar para
adulá-la e ser-lhe agradável, atentou logo contra as ordens de Pompeu,
procurando romper e anular algumas; entre outras, tirou à força da prisão o
jovem Tigranes, o qual levava sempre pela cidade com ele, indo suscitar
diariamente discussões e processos aos amigos de Pompeu, para experimentar, no
que fazia, que prestígio e poder teria. Finalmente, um dia em que Pompeu havia saído de sua casa para assistir ao julgamento de um de seus processos,
Clódio, tendo ao seu lado uma caterva de vagabundos, com quem não se
entusiasmava pelo que fizessem, colocou-se em lugar elevado, de onde era visto de todos os cantos da praça e começou a
fazer bem alto tais interrogatórios: — "Quem é o capitão desta cidade, o
mais luxurioso? Quem é o homem que procura o homem? Quem é aquele que coca a
cabeça com um dedo?" E seus satélites lhe respondiam, gritando em altas
vozes a cada pergunta que fazia, como se fosse um coro (59) e estivessem
alternativamente respondendo ao padre a cada vez que sacudia um pano de sua
veste: — "É Pompeu".

(59)    Leia-se 
segundo   o   grego:   «a   cada   vez  que   sacudia sua veste».  Não se trata
de padre no texto.   C.

 

LXIX. Isto afligia muito Pompeu, que não estava acostumado a
ouvir publicamente ser destratado assim e não havia aprendido a combater deste
modo; mas ficou ainda mais ofendido por perceber que o Senado estava à vontade,
presenciando esta vergonha e este ultraje, como vingança por haver covardemente
traído e abandonado Cícero. Pelo que, tendo ainda mais promovido umas brigas na
praça, quando houve gente ferida e sendo surpreendido um dos escravos de
Clódio com uma espada, o qual havia com dificuldade atravessado a multidão até
se aproximar de Pompeu, este, tomando como desculpa esta ocasião, mas na
verdade temendo a insolência e as palavras injuriosas de Clódio, não quis nunca
mais aparecer na praça, enquanto durou seu cargo como tribuno, mantendo-se
sempre em casa, consultando seus amigos como poderia fazer para abrandar a ira
do Senado contra ele, e houve um chamado Culeo que o aconselhou a repudiar sua
mulher Júlia, a fim de renunciar por completo à amizade de César e voltar-se
inteiramente para o Senado, o que Pompeu não quis fazer. Mas prestou ouvidos
aos que o aconselharam a chamar Cícero, o qual era inimigo mortal de Clódio e
muito querido do Senado. Conduziu o irmão de Cícero que devia fazer o pedido ao
povo na praça com um bom número de soldados para defesa, onde houve golpes
dados e homens mortos de um lado e do outro; todavia, afinal, Pompeu ficou mais
forte do que Clódio.

(60)    O ano de Roma 697.

 

LXX,
E Cícero, sendo chamado (60) por
decreto expresso do povo, logo que chegou, colocou Pompeu em boas graças
perante o Senado e apoiou a proposição que já haviam encaminhado, de dar a
Pompeu a incumbência de fazer vir trigo para Roma, pela qual lhe deu autoridade
sobre tudo no mar e na terra, por assim dizer, que havia sob o império romano;
pois pelo decreto que foi passado, encontravam-se em suas mãos todos os portos,
todas as estradas e caminhos, toda a venda de grãos e de frutos da terra, e
para dizer em uma palavra, toda a aquisição e tráfico dos mercadores navegantes
no mar e dos lavradores cultivando a terra, o que Clódio, caluniando, ia
dizendo que a procura e falta de trigo não havia  feito inventar nem propor o
decreto dessa comissão; mas ao contrário que para ter esta
comissão, haviam feito nascer a falta de trigo, a fim de fazer voltar como de
uma pasmaceira e repor um pouco acima, por este novo cargo, a autoridade e seu
poder, que iam enfraquecendo. Outros diziam que foi um ardil do cônsul Espinter
o qual, querendo colocar Pompeu neste cargo mais elevado a fim de que ele fosse
enviado para socorrer e repor em seu reino o rei Ptolomeu (61); todavia
Canídio, tribuno do povo, propôs que enviassem Pompeu sem exército, com dois
sargentos levando os machados somente, para tentar um acordo entre o rei
Ptolomeu com os de Alexandre, incumbência que não teria sido desagradável a
Pompeu, mas o Senado rejeitou esta proposição sob aparência honesta, alegando
que, fazendo isto, Pompeu punha sua pessoa em perigo. No entanto, encontravam-se muitas vezes pela praça e mesmo no Senado bilhetinhos, nos
quais estava escrito como Ptolomeu solicitava que lhe dessem Pompeu em vez de
Espinter para o trazer; todavia Timagenes escreve que Ptolomeu foi a Roma e
deixou o Egito sem que fosse de outro jeito preciso, pela conveniência e
provocação de um Teófanes, que lhe incutiu na cabeça para fazer isso, a fim de
dar novos meios a Pompeu para realizar seus trabalhos e ter ensejo para novas
guerras; mas a malvadez desse Teófanes não tornou isso crível como também o natural
de Pompeu o tornou inacreditável, porque em sua ambição não havia nada de tão
malévolo nem de tão mau como aquilo.

(61)    Auletes.

 

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