Kim vs Davidson quanto à Causalidade Mental

Kim vs .
Davidson quanto à Causalidade Mental
André Joffily
Abath

And the movement in your brain
 sends you out into the rain 
Nick Drake

Jaegwon Kim tem se
revelado, com o passar do tempo, o maior inimigo da filosofia da mente produzida
por Davidson e, acima de tudo, de seu monismo anómalo. Suas críticas são
inúmeras. Kim acha que é preciso uma teoria positiva sobre a relação
mente-corpo, e não uma teoria negativa, como é a de Davidson. Acha, também, que
Davidson adopta uma posição ingénua em relação ao reducionismo. Outras formas
de redução deveriam ser consideradas, e não apenas a que seria realizada por
meio de leis-ponte estritas, que é o centro das atenções de Davidson. E Kim
acha, principalmente, que o monismo anómalo torna o mental causalmente inerte,
i.e,se aceitarmos o monismo anómalo,
teremos um sério problema em relação à causalidade mental.

Neste ensaio, concentrar-me-ei unicamente na
terceira desta críticas, que foi o ponto alto de um longo debate sobre o papel
causal da mente, e que teve o monismo anómalo de Davidson como principal alvo.
Em relação à primeira e à segunda, farei apenas breves comentários. Após
percorrer as críticas de Kim, tentarei mostrar como Davidson respondeu ou
poderia responder-lhes. Antes, porém, devo deter-me, por alguns instantes, no
monismo anómalo; desta forma, as críticas a ele dirigidas, e as possíveis
respostas a estas críticas, surgirão de maneira mais clara.

Monismo Anómalo 

Exposto pela primeira
vez em 1970, em Mental Events, o monismo anómalo é a tese que defende a
identidade entre eventos mentais e eventos físicos, e, portanto, a redução
ontológica ( daímonismo), mas que
nega a existência de leis estritas ligando tais eventos (daíanómalo), e, por conseguinte, nega a
redução conceptual <

Esta tese
segue-se de três princípios, que podem ser assim resumidos: a) Princípio da
Interacção Causal: todos os eventos mentais relacionam-se causalmente com
eventos físicos; b) Princípio do Carácter Nomológico da Causalidade: eventos
relacionados como causa e efeito recaem sob leis estritas; c) Anomalismo do
Mental: Não há leis psicofísicas estritas.

Intencionalidade e Naturalismo

maravilhas das antigas civizações

Jamais
pensou a mente tanto sobre si própria. Em fins do século XX, ciência e
filosofia trilham uma cruzada em busca de compreender a consciência e suas
capacidades. Três séculos e meio após Descartes, respostas dualistas não mais
são suficientes; quer-se compreender a mente enquanto um fenômeno fisicamente
gerado, que toma parte no mundo físico. Em filosofia, esta postura denomina-se
naturalismo.

Não
obstante as exceções, algumas renomadas, como Karl Popper (1962), há muito a
forma naturalista de compreender a consciência domina a filosofia. Na tradição
que aqui abordaremos, a analítica, anglo-americana, as bases deste estudo
remontam a autores como Sellars e seu Empiricism and Philosophy of the Mind (1956),
Quine, em Palavra e Objeto (1960) e Putnam com Minds and Machines (1960).