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 PEDRO ABELARDO,

65. PEDRO ABELARDO, (1079-1142), é um dialético vigoroso, um espírito batalhador (59) que chegou a reunir mais de 5.000 ouvintes em torno de sua cátedra.

A. Discípulo de Roscelino e de Guilherme de Champeaux, aos 22 anos abriu uma nova escola em que combateu os sistemas de seus dois mestres. Ordinariamente fazem-no conceptualista, mas um estudo mais acurado de alguns textos mostra que êle não negava um fundamento objetivo aos conceitos universais (60). Pode-se, pois, afirmar que, como S. Anselmo, Abelardo anteviu a verdadeira solução do árduo problema sem lhe achar uma fórmula completa e exata. Este estudo mais penetrante da questão dos universais à luz da teoria aristotélica do conhecimento, por êle mais aprofundada do que pelos seus antecessores, é a sua contribuição mais importante para o progresso da filosofia.

B. Com o seu livro Sic et Non, em que acerca de uma questão, reúne os textos pró e contra dos SS. Padres, sem a resolver sistematicamente, preludia o método didático, que aperfeiçoado por Alexandre de Hales terá grande voga em toda a escolástica posterior.

C. Nas relações entre a razão e a fé, Abelardo professa o ra-cionalismo. A razão humana pode demonstrar os mistérios e a teologia é um prolongamento natural da filosofia. Nec quia Deus id dixerat creditur, sed quia hoc sic esse convincitur accipitur. Por essa tendência racionalista que ofendia a ortodoxia católica e por outros erros teológicos, foi Abelardo várias vezes citado e condenado pelos concílios. Finalmente, depois de uma vida agitada de peripécias que êle narra na sua autobiografia Historia calamitatum, morreu penitente, perto de Cluny.

Depois de Abelardo o realismo exagerado já não encontra adeptos entre os escoiásticos. Os poucos filósofos que ainda o professavam vão-lhe às últimas conseqüências descaindo no panteísmo.

(59) Vir bellator ab adolescentla. S. Bernardo.

(60) Cfr. Tuener, Storia delia filosofia, p. 260.

66. Ainda neste período sobressaem dois nomes ilustres que estabelecem a transição para o seguinte:

ALANO DE LILLE (1128-1202), que de preferência se ocupa de questões metafísicas e psicológicas; e JOÃO DE SALISBURY (m. 1180), escritor aprimorado, que defende o realismo sristotélico, reprime os abusos da dialética, agita várias questões de psicologia e, por primeiro, na Idade Média, empreende o estudo da história da filosofia. Pedro Lombardo (m. 1160), autor dos quatro livros das sentenças que lhe valeram o título de Magister Sententiarum, pertence mais à literatura teológica do que à filosófica.

67. ESCOLAS MÍSTICAS

— No see. XII, alguns espíritos impressionados pelo abuso da dialética e desesperando alcançar a verdade, por via especulativa, acolheram-se ao misticismo, buscando na contemplação e nos outros exercícios da vida afetiva a paz de espírito que se não encontrava nas estéreis controvérsias escolasticas.

Célebre sobre todas é a escola de S. Vítor, onde floresceram Hugo, Ricardo e Walter. A tendência destes espíritos apresenta–se visivelmente como uma reação contra o racionalismo de Abelardo. Alguns, porém, caíram no excesso oposto ou com Ricardo, des-crendo demasiadamente das forças naturais da razão (suspecta est mihi omnis Veritas quam non confirmât scripturae auctoritas), ou ainda, com Gualter, chegando ao extremo de proscrever o estudo do raciocínio e averbando de arte diabólica a dialética. Outra corrente de misticismo heterodoxo degenerou em panteísmo.

BIBLIOGRAFIA

A. Clerval. Les écoles de Chartes au Moyen Age du V. au XVI. siècle, Paris, 1895; — G. Paré-Brtjnet-Tremblay, La Renaissance du XII. siècle, Paris, 1933; — Berthaud, Gilbert de la Porrée et sa philosophie, Poitiers, 1892; — E. Michaud Guillaume de Champeaux et les écoles de Paris au XII. siècle2, Paris, 3888: — V. Cousin, Ouvrages inédits d’Abélard (Introduction), Paris, 1936; — Ch. de Rémusat, Abélard, 2 vols., Paris, 1845; — Va-candard. P. Abélard et sa lutte avec S. Bernard, sa doctrine, sa méthode, Paris.. 1831.

Görres, Die christliche Mystik, Regensburg, 1836-42; — A. Mignon, Les origines de la scolastinue et Hugues de Saint-Victor, 2 vols., Paris, 1395; — G. BuoNAMici, Ricardo S. Vittore, saggio di studi sulla filosofia mística del secolo XII, Alatri, 1898.

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