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100.   As idéias inatas.

Pois
bem: Locke emprega a palavra "idéia" nesse mesmo sentido geral que dá
Descartes à palavra cogitatio. Locke parte de uma distinção que fizera
Descartes entre as idéias. Descartes distinguira três grupos de idéias: umas
que ele chamava adventícias, outras que chamava fictícias e outras inatas. As
idéias adventícias são as que sobrevêm em nós postas pela presença da realidade
externa; as idéias fictícias são as que nós mesmos, por meio de nossa
imaginação, formamos na alma; as idéias inatas são as que constituem o acervo
próprio do espírito, da mente, da alma; são as que estão na alma sem que as
tenha posto nenhuma coisa real nem tenham sido formadas por nossa imaginação.

O
ponto de partida consiste: primeiro, em negar que em nossa alma haja nenhuma
idéia inata; segundo, em perguntar-se: qual é a origem das restantes idéias? Se
não há na alma nenhuma idéia inata: se a alma é semelhante a um papel branco, white
paper, ou, como traduziram seus tradutores latinos, uma "tabula rasa"
(tábua rasa) na qual nada está escrito, e tudo vem a ser escrito posteriormente
pela experiência: se não há, pois, idéias inatas, o problema que se apresenta
é o problema de qual seja a origem das idéias; e este é o problema
que Locke trata com maior profundidade.

 

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