ANJOS NA AMÉRICA: A PALAVRA E A CORAGEM

jun 3rd, 2005 | Por | Categoria: TV        

Nei Duclós

A premiada série da HBO Angels in America impressiona pelo impacto visual, a performance dos atores, a crueza e qualidade dos diálogos, a intensidade do desespero, a abordagem de temas aterradores e a aposta na esperança em pleno Apocalipse. É o que a arte americana tem a nos oferecer.

DELÍRIO – A palavra é o delírio seminal. A partir dela, os anjos da América mergulham no horror, na coma dos condenados. A peça de Tony Kushner, que virou mini-série dirigida por Mike Nichols, bate na civilização das aparências, desmascarada pela peste. Sem nada a perder, os que vão morrer passam por três processos: ao descobrirem a condenação, reagem com ironia; ao se convencerem da morte certa, entram em parafuso; ao cruzarem o umbral da agonia, se resignam; e ao enfrentarem o tribunal da passagem para a eternidade, cobram.

O maior ator do mundo, Al Pacino, e o festejado ator de teatro Justin Kirk, estão magistrais em cada uma dessas fases. Ao redor dos moribundos, brilha a estrela maior, Meryl Streep, o talento e a contundência de Jefrey Wright e mesmo Emma Thompson, sempre tão previsível, neste trabalho também participa da galeria de grandes interpretações. Trata-se de uma arte que não foge da raia, que enfrenta seus demônios sem pedir misericórdia, apostando alto na humanidade dos seus personagens, colocando para fora o que parecia estar oculto. Uma lição de coragem para nós, brasileiros, que sempre escorregamos pela tangente quando se trata de pegar o touro a unha.

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