BRASIL PARA GRINGOS

dez 23rd, 2010 | Por | Categoria: Política        

Nei Duclós

O Brasil precisou de um jornalista americano para descobrir as preferências alcoólicas do presidente. Mas normalmente os gringos não enxergam o Brasil com todas as letras. Estão envolvidos demais com próprio sistema de valores, ainda mais nesta época do politicamente correto, discurso que substituiu o velho reacionarismo de guerra. Além disso, a cultura tradicional baseada num sistema de justiça que funciona faz com que a ética e outros valores pesem na visão estratégica que eles tem de si e do mundo. Isso se reflete na diplomacia e no jornalismo dos estrangeiros.

Eles acreditam, por exemplo, que no Brasil atuam forças trabalhistas, em volta do PT, e social-democratas, em volta do PSDB. O que temos são convivas do butim, o dinheiro público desviado, a cargo dos principais partidos que dividem o bolo nos estados ou em rodízio no Planalto, e os partidos marginais, que participam da festa como penetras ou garçons. Não existe ideologia ou forças políticas atuantes no Brasil, vê-se pela migração em massa de políticos aos partidos da hora e o turismo partidário de várias personalidades públicas.

Também acreditaram, baseados nesta divisão clássica da política internacional entre trabalhistas e social-democratas, que Lula seria um representante das forças identificadas com as mudanças sociais. Por isso Lula foi tão bem tratado por governos sérios e veículos importantes (muitos deles comeram bola, ou seja, foram pagos para elogiar, já que estão em crise financeira). Por um tempo ele foi “o cara” até que caiu a ficha. Viram que se trata de uma enganação, de um sujeito capaz de se abraçar com todos os tiranetes mais venais e corruptos do planeta, que são seus verdadeiros pares. Ao mesmo tempo, Lula deu demonstrações explícitas de soberba e ignorância, se achando enquanto se arrastava pelos palácios do mundo à custa do esbagaçamento do dinheiro dos impostos.

O capital especulativo, regiamente compensado pelo buraco que os governos brasileiros das últimas décadas abrem nas contas públicas, sabe puxar o saco dos seus aliados. FHC posou com coroas e mantos de doutor honoris causa em tudo que é buraco universitário do planeta, fazendo o papel de um palhaço itinerante que alimenta a própria vaidade vendendo o patrimônio da nação. Ambos, FHC e Lula, que se admiram tanto, são os principais culpados de toda essa situação sem saída em que nos encontramos, em que os índices maquiados mostraram uma economia em crescimento quando, vê-se agora, tudo não passava de marketing. Estagnamos miseravelmente, nossa indústria foi para o beleléu e a China impera no comércio e na produção, enquanto a população vive no território conflagrado em bairros miseráveis, onde chamaram blindados para tentar manter a ordem que foi-se para sempre.

Não podemos esquecer do PMDB, fiador de toda essa falcatrua institucional, que fundou o atual regime numa presidência espúria, a de José Sarney, que assumiu o poder depois de ser o vice de uma chapa que perdeu o titular antes de tomar posse, ou seja, foi uma ascensão presidencial ilegítima. O PMDB é o tornassol da politicalha e a pose de centurião romano do sujeito que foi eleito vice-presidente mostra toda a pompa e a pose dessa força fisiológica. Pois a política brasileira funciona como as dietas. Vou explicar.

Você vai avançando na idade e expandindo normalmente. Aí entra em pânico e quer ter de novo o corpito de vinte. Começa a fazer dieta. Entra na macrobiótica, mas desiste. Incorpora, no entanto, o arroz integral, que passa a consumir junto com o arroz branco. Aí entra no natureba e deixa para lá, mas, ao voltar para o pão branco, compra também o pão integral. Assim por diante. A alimentação vai aumentando de intensidade e volume conforme os programas que você abraça. Na política essa incorporação é parecida. O PMDB assumiu a presidência e enriqueceu. Aí veio o PSDB, idem, e agora o PT. Depois virá quem? Os partidecos que ciclicamente migram para cá e lá, conforme o pagamento?

Aqui um presidente tungou a poupança e a conta corrente da nação, foi flagrado em inúmeras falcatruas e hoje é senador, por pouco não virou governador de novo. Outro que estuprou a conta corrente de um caseiro volta sorrindo nas primeiras páginas dos jornais e vai assumir cargo importante no novo governo. O pianista que votava de maneira ilegal em nome dos seus pares no Congresso virou ministro eterno. No tecido social, crimes hediondos são premiados com benefícios da lei, matadores que assassinam mulher pelas costas continuam soltos. Enquanto estudantes e professores sérios são abandonados e ficam à mercê da bagunça e da violência nas escolas, ONGs e governos passam a mão nos viciados de todos os calibres, tentando “compreendê-los” com programas que apenas os mantém nas ruas, em vez de tirá-los da vagabundagem.

Esse é o Brasil que os gringos devem ver nas suas análises. Não uma potência econômica com forças políticas sérias disputando o poder da República. Mas um país tomado pelo banditismo com grande poder corruptor, capaz de gargalhar e cacarejar pelo mundo afora. O importante é saber que, mesmo amarrado, a porção séria do Brasil ainda voltará à tona, quando então tentaremos anular tanto estrago feito por décadas a fio. Pode-se argumentar: mas eles sabem tudo sobre nós, mais que nós mesmos! Não é o que vimos em alguns documentos da Wikileaks, em que diplomatas rastreiam nossos comportamentos presos às próprias percepções, ou em inúmeras matérias estrangeiras, em que see procura um pouco de elegância na nação ludibriada. No geral há a visão catastrófica do país, mas abordo aqui as tentativas de nos enquadrar nas responsabilidades mundiais.

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