MARCAS ANTIGAS
maio 9th, 2012 | Por Nei Duclós | Categoria: Romance em prosa poéticaNei Duclós
Folheei tua pele com cuidado. Tinhas marcas antigas de ausências.
Me tiraste da estante. Depois fui levado para o parque, onde depositas teu olhar distante em inumeráveis passeios de barco.
Onde pousas é o meu começo.
De dia, quando não há Lua, despes tua blusa, luminosa.
Reparti o fôlego conforme te aproximavas. Quando chegaste, eu já estava roxo.
Todo domingo é dia de balanço. Sobe e desce teu gostar grudento.
Mostre suas feridas, disse o veterano. Ela levou, falei em surdina.
Isso é coisa de poeta, falaram. E foram roubar terras.
Estás delirando, me disseram. E foram para a guerra.
Cada momento teu é uma história. Coleciono narrativas, minha letra de formas.
Apareceste no banho. Tudo virou água, o dia, teu corpo, o sonho.
A manhã começa cedo e a certa altura, cansa. É quando lembro de ti, esperança.
Nunca perdemos tempo. O tempo sempre nos acha.
Saciada, repousas. É quanto te atinjo ao meio.
Dividimos dúvidas, somamos agarros, diminuímos dores, multiplicamos espaços.
Na manhã seguinte nenhuma maquiagem sobrevive. É quando fazemos as pazes com tua alma, humana.
Teu artifício não me engana. Mas sabes disso. Usas para estimular a dança.
Estás de plantão, sem ser obsessiva. Olhas meio de lado, sedução.
O que chamam de defeito é pura matéria-prima. Gosto dos teus sinais, artista.
É moto contínuo, essa compulsão pelo laço que nos aguarda.
Tua presença real é a melhor fantasia. Dás de dez em qualquer alegoria.
Quando você diz que o coração sangra é apenas o prazer que se exalta diante da manhã cheia de manha.
Meu apoio escasso é como a última bóia em naufrágio: pode salvar, mas não escapa do xingamento.
Acordei nas altas horas. Não alcancei mais a Lua, senhora.
Não é a solidão que nos aproxima e sim a chance de misturar as águas.
Precisava apenas desse aviso, de que vinhas, montada no dorso da Lua, bonita.
A Lua agora está no zênite, umbigo extremo da abóbada noturna, falso dia feito de luz fraca e fria.
Estavas aqui agora. Sumiste atrás da nuvem. Ainda vejo teu brilho, fazendo trança com a estrela.
Te escondes em imagens prontas. Mostre seus lábios, magnífica.