DIRETAS

mar 16th, 2012 | Por | Categoria: Romance em prosa poética        

Nei Duclós

Se amor comportasse indiretas, Cupido usaria bumerangue e não setas.

Lua é onde você faz a curva.

Dividimos o mesmo espaço. Multiplicamos nossa diferença. Somamos corpos. Diminuimos a distância.

Palavras esparramadas pela cama. Nem cabes direito. Preciso me calar por um instante.

De que adianta? Comigo é só treino. Depois pedes meu verso em sopro alheio.

De onde venho? Do poço dos desejos. Fui buscar teu pedido, mas é segredo.

Beleza é quando puxas a coberta que ainda nem precisa. É só um gesto de quem se aconchega.

Deito ao relento no verão sem vento. Pinga pouco sereno, suor da Lua a pleno. Deitas ao meu lado, molhada de orvalho.

És céu de Lua cheia quando a mão imagina o seio.

Fisgou. Atingiu o sonho, que derramou. Olha só que serviço.

Faço pouco, deixo tudo a cargo do poema.

Queria ser presidente da tua república, cuidar das tuas águas, defender tuas fronteiras, escutar tuas demandas. E depois abdicar e fugir contigo para algum reino.

Volte sempre. Agora, por exemplo.

Em vez de suspirar pelos cantos, cante seus suspiros.

Hoje é dia de reencontros. Nâo vai aproveitar, divina?

Você vai embora na melhor da conversa. Depois quer retomar. Tarde piaste, gaivota.

Tua concha cabe na minha. Somos uma espécie marítima.

O que me invoca é a desconversa depois da bandeira.

O garoto Verão cresceu mas prefere ficar, nada de ir embora. O tio Outono quer expulsá-lo de casa. O velho Inverno diz que a nova geração não tem jeito. A mãe Primavera acha que ele ainda é um menino

Teu corpo me espera. Quem dera você fizesse o mesmo.

Vou insistir. O Verão rompeu os limites

Não fique à toa por aí. Fique à toa por aqui.

Detalhei minha fantasia dizendo que o alvo era outra pessoa, só para não dar bandeira. Ela fingiu que acreditou e curtiu um monte.

Vou partir. Cuida do coração, que esqueci embaixo da tua cama.

Já nos reencontramos, escrevemos nossas memórias, fizemos o balanço das vidas. Agora podemos voltar a fazer bobagens.

Quando o verão se for, faremos o balanço. Uns beijos, momentos felizes e o adeus definitivo. Estaremos inteiros?

Cansei a vista de tanto olhar para a estrada. Volto para a varanda sonhando acordado.

Teve o desplante de me agradecer pela felicidade. O que fazer com um derretimento desses?

Ser teu não é vantagem. O bom é quando aceitas.

Devia fazer como você e ficar em silêncio. Talvez faça isso. Aprenderei com a Lua.

Lembra dos nossos arrulhos? Parece que foi há tanto tempo. Mas foi agora, aqui dentro. Escutei o eco.

Estou treinando pesado para te reencontrar. Talvez não encontre as palavras, nem ache motivos. Mas pode ser que o sentimento emita alguns pássaros tontos de luz em tua direção

Praia à tarde tem mar mais pensativo, a elucubrar coisas com ondas introspectivas. Nos banhamos fazendo perguntas. Ele pede um tempo. Talvez responda com a Lua.

Ainda está quente. Não precisa vestir a blusa.

Rápido beija flor que paira no ar como um recado virtual. Espiche o bico para o néctar que sou.

Já fui e voltei nessa relação. Agora estou imóvel, num lugar sem estrada, esperando o trem que não te embarcou.

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