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LVIII. Por outro
lado, Pompeu colocou-se também na ala direita de suas tropas, confiando a
esquerda a Domício e Cipião, sogro de Pompeu, comandava a do meio. Toda a
cavalaria romana se lançara contra a ala esquerda, como já dissemos, com
intenção de envolver a direita de César, pela retaguarda e de empregar o máximo
da força no lugar onde estava o chefe dos inimigos, imaginando que ele não
tinha soldados suficientes para resistir ao ataque de uma cavalaria tão
numerosa e que, ao primeiro ataque todos se dispersariam, e eles passar-lhe-iam
por cima. Quando de ambos os lados as trombetas deram o toque de batalha,
Pompeu ordenou aos seus soldados de infantaria que se conservassem fumes, bem
cerrados, juntos, e que esperassem, sem se mover, o ataque dos inimigos, até o
momento de lançarem seus dardos. César, depois, disse que tinha cometido uma
falta grave, não se lembrando de que luta que se trava correndo, com rapidez,
além de aumentar o ímpeto e a força dos primeiros golpes, ainda inflama a
coragem dos soldados, porque o impulso comum de todos os combatentes que correm
juntos, é como um sopro, que os incendeia.

LIX.
Quando César já fazia marchar
seus homens, para começar a carga, viu um dos seus generais, homem valente e
experimentado na guerra e em quem ele muito confiava, o qual discursava aos
soldados que tinha sob seu comando, exortando-os a cumprir bem seu dever,
combatendo valentemente. Chamou-o pelo nome e disse-lhe: "Bem! Caio
Crassínio (44) que esperança devemos ter? E com que disposição vamos combater
hoje?" Então Crassínio, levantando a mão, respondeu-lhe bem alto:
"Venceremos gloriosamente hoje, César, e prometo-te que me louvarás morto
ou vivo, antes que o dia termine" . Ditas estas palavras, ele foi o
primeiro que avançou correndo para os inimigos, levando em pós de si os seus
homens, mais ou menos uns cento e vinte, rompendo as primeiras filas, fazendo
grande mortandade, até que, por fim, foi atingido por um golpe de espada que
lhe entrou pela boca, com tal violência, que a ponta lhe saiu pela nuca.
Estavam já os soldados de infantaria no meio da batalha, combatendo corpo a
corpo; uma cavalaria da ala esquerda de Pompeu atacou furiosamente, alargando
suas fileiras, para envolver a ala direita de César, pela retaguarda: mas antes
que começassem o ataque, as seis coortes, que César havia colocado de emboscada
atrás dele, dirigiram-se a toda velocidade contra eles, sem lançar de longe
seus dardos, como costumavam fazer, nem ferindo-lhes a coxa ou as pernas, mas
procurando atingi-los nos olhos e feri-los no rosto, segundo César lhes havia
dito: porque ele esperava que esses moços, que jamais haviam manejado as armas,
nem estavam acostumados a se verem ensanguentados e estavam na flor da idade e
de sua beleza física, tinham horror aos ferimentos e não resistiriam mais, quer
pelo temor do perigo de perder a vida, como pela dúvida de que seus rostos
ficassem deformes para o futuro: o que de fato aconteceu; não quiseram
continuar a lutar quando viram que os inimigos lhes visavam o rosto com a ponta
dos dardos e, atónitos, vendo luzir diante dos olhos o ferro inimigo,
voltaram-lhe as costas, cobrindo o rosto de susto e de medo que os ferissem: e
assim dispersaram-se eles mesmos, puseram-se a fugir covardemente, pondo todos
os demais na iminência da derrota: pois os que os haviam desbaratado foram
imediatamente atacar os batalhões de infantaria, pela retaguarda e os dizimaram
completamente.

(44) Na Vida de
Pompeu ele é chamado de Craniano: César o chama Crastino.

LX.
Pompeu, então, vendo da outra
ala de seu exército sua cavalaria desbaratada, deixou de ser o que era, nem se
lembrou de ser ele o grande Pompeu, mas como um homem vulgar, aos quais os
deuses haviam privado do juízo, atónito por causa de uma desgraça sucedida, com
a permissão dos deuses, retirou-se para sua tenda, sem dizer uma palavra, onde
se sentou, esperando o que desse e viesse, até que todo seu exército foi
completamente denotado e os inimigos vieram escalar as muralhas de defesa do
seu acampamento e combater contra os que as defendiam; então, voltando a si,
disse somente estas palavras: "Como! Até no nosso acampamento!"
Trocando então de vestuário, cingiu uma túnica modesta e saiu ocultamente; de
como ele procedeu depois desta infelicidade e de como tendo caído nas mãos dos
egípcios foi por eles maldosamente morto, nós o diremos na sua vida. César,
entretanto no acampamento de Pompeu e vendo os corpos dos mortos e de outros
que ainda lutavam, pôs-se a dizer, suspirando: "Eles mesmos assim o
quiseram e a isso me obrigaram!

Caio César, depois de tantas e tão grandes
conquistas, depois de terminar vitoriosamente, tantas e tão grandes guerras, no
entretanto teria sido condenado se tivesse renunciado ao seu exército. Asímo
Pólio diz que ele pronunciou essas palavras em língua romana, que ele
transcreveu para o grego, diz ainda que a maior parte daqueles que foram
passados a fio de espada, dentro do acampamento, eram criados e servidores e
que em toda a batalha não morreram mais de seis mil soldados. Quanto aos prisioneiros,
César incluiu muitos deles no seu exército e perdoou também a muitos
personagens da nobreza; diz-se que Bruto foi um deles, aquele mesmo que o
deveria assassinar, mais tarde; diz-se ainda, que ele ficou muito penalizado
quando, depois da batalha, não o encontraram logo; mas, depois soube que ele
estava vivo e viera por si mesmo apresentar-se a ele e ficou muito contente.

LXI.
Vários sinais prognosticaram
o resultado dessa batalha; o mais notável, porém, foi o que aconteceu na cidade
de Trales (45), onde havia um templo da vitória, e nele, uma estátua de César:
a terra em redor era muito dura, pavimentada de pedra ainda mais dura, e no
entretanto, diz-se, que aí nasceu uma palmeira, bem junto à base da estátua. Na
cidade de Pádua (46), Caio Cornélio, homem perito na arte da adivinhação,
cidadão e amigo íntimo de Tito Lívio, o Historiador, estava por acaso, naquele
dia, contemplando o voo dos pássaros, como o mesmo Lívio o narra; ele soube do
momento exato em que a batalha se travara e assim falou aos que estavam junto
dele: "A estas mesmas horas começa a luta; neste mesmo instante os
exércitos se chocam" . Depois, acalmando-se, para observar o voo dos
pássaros, após ter examinado os presságios, levantou-se c gritou bem alto, como
inspirado e impelido por uma força divina: "A vitória é tua, César!"
Todos os presentes se admiraram, ele tirou a coroa que tinha na cabeça e fez um
juramento, de que jamais a recolocaria, se o fato que ele tinha predito não lhe
trouxesse o testemunho da veracidade de sua arte. Lívio afirma que assim se
fez.

(45) Cidade da Ásia Menor, na Lídia. (4G) A dez léguas de Veneza.

LXII.
De resto, César depois de ter
dado inteira liberdade à nação Tessália, em consideração à vitória que obtivera
naquele país, pôs-se a perseguir Pompeu; passando à Ásia, libertou também os
gnídeos, em atenção de Teopompo, que fez a coletânea das fábulas e perdoou aos
habitantes da Ásia a terça parte dos tributos que eles pagavam: quando chegou a
Alexandria, Pompeu já tinha sido morto; ficou horrorizado quando Teódoto lhe
apresentou a cabeça e voltou o rosto para outro lado, para não vê-la; mas tomou
o seu sinete e olhando-o, se pôs a chorar; a todos os seus familiares e amigos,
que o rei do Egito tinha feito aprisionar e andavam errantes pelo país, fez
muitos benefícios e os conquistou todos à sua amizade: depois de assim ter
feito, ele escreveu aos amigos de Roma, que o fruto maior e mais doce que ele
recebera de sua vitória fora, certamente, todos os dias salvar a vida de algum
dos cidadãos que tinham usado das armas contra ele.

LXIII.
Quanto à guerra, que ele
travou em Alexandria, uns dizem que não era necessário e que ele a empreendeu
de boa vontade, por amor a Cleópatra: e nisso pouca honra obteve e se pôs em
grave perigo. Outros lançam-lhe a culpa sobre os ministros do rei do Egito e
sobre o eunuco Potino, que tendo a autoridade principal entre os servidores do
rei, depois de ter feito assassinar Pompeu e expulsado Cleópatra da corte,
imaginava ainda, secretamente, fazer o mesmo a César; este, tendo suspeitado de
algo começou a passar as noites inteiras em banquetes e festins, a fim de
garantir sua vida e sua pessoa. Mas, além disso, Potino ia dizendo e fazendo,
às claras, muitas coisas inconvenientes, para envergonhar a César e suscitar
inveja contra ele; mandava distribuir aos seus soldados o trigo mais velho c de
pior qualidade, e, se estes reclamavam, ele lhes respondia que deviam ter
paciência e contentar-se com aquele, pois estavam comendo à custa alheia; na
mesa fazia servir em vasilhas de madeira e de barro, dizendo que César havia
levado as de ouro e de prata para pagar dívidas, porque o pai do rei, que então
governava o Egito, devia a César um milhão, setecentos e cinquenta mil escudos
(47), dos quais, antes César havia dado setecentos e cinquenta mil a seus
filhos; mas depois ele pediu o milhão que restava para pagar seus soldados, ao
qual Potino respondeu, que por então seria melhor que ele fosse tratar de
outros assuntos que lhe seriam de maior vantagem e depois voltasse, com sua
comodidade, e cobrasse a dívida, com as boas graças do rei. César replicou-lhe
que não aceitava conselho dos egípcios, para seus negócios mas queria ser pago;
secretamente mandou chamar a Cleópatra, que estava no campo: ela, tomando a
Apolodoro Siciliano em sua companhia, dentre seus amigos, pôs-se em um pequeno
barco, no qual veio até junto da fortaleza de Alexandria, quando já era noite,
completamente escura: não tendo podido entrar lá sem ser reconhecida, ela
deitou-se no meio de peças de roupa, que Apolodoro enrolou, atando com uma
correia e depois, carregou-a à cabeça e a levou à presença de César, dentro da
fortaleza.

(47) Em grego
clezessete milhões e quinhentos mil sestércios, 8.849.609 libras francesas.

LXIV. Foi esse o
primeiro passo, segundo se diz, que levou César a amá-la, porque esse
expediente fê-lo saber que ela era dotada de espírito gentil: mas, depois,
quando conheceu também sua doçura e sua graça, ficou mais preso e a recolocou
na boa amizade do rei, seu irmão, com a condição de que ela reinaria também com
ele. Por motivo dessa reconciliação preparou-se um grande, banquete, no qual o
barbeiro de César, que era um de seus escravos e a pessoa mais tímida do mundo,
mas que tudo escutava e espionava, pela sua desconfiança natural, descobriu que
o Potmo e Áquilas preparavam uma emboscada para matar seu amo. César de fato
verificou tudo, pôs guardas de confiança perto de si, na sala onde se dava o
banquete, de modo que ele mesmo matou a Potino: mas Áquilas salvou-se, e
fugindo refugiou-se no acampamento do rei, onde suscitou uma perigosa e difícil
guerra centra César, porque com bem poucos homens, que então ele possuía, tinha
de combater uma grande e poderosa cidade. O primeiro perigo, em que ele se
encontrou, foi pela falta de água, porque seus inimigos fizeram entupir e
fechar os canais, por onde a água vinha do rio para a fortaleza. O segundo foi
este: vendo que seus inimigos vinham para tirar-lhe os navios, foi obrigado a
afastá-los com o fogo, o qual incendiou o arsenal onde estavam os navios, bem
como a grande e afamada biblioteca de Alexandria. O terceiro foi na batalha
naval que se travou perto da torre do Far (48), onde ele, querendo socorrer os
que combatiam no mar, saltou de cima do cais para dentro de um bote; vendo-o,
os egípcios correram de todos os lados para aquele lugar, mas ele, lançando-se
ao mar, salvou-se nadando com grande dificuldade. Diz-se que então, tendo
vários papéis numa das mãos, não os deixou, mas conservou-os sempre fora da
água, nadando com a outra mão, embora lhe atirassem uma infinidade de dardos,
pelo que ele foi obrigado a mergulhar várias vezes: mas o barco foi
imediatamente a pique. Finalmente o rei, tendo voltado para seus soldados, que
faziam guerra a César, foi-lhe ao encontro e lhe deu a batalha que ganhara, com
grande derramamento de sangue: o rei, porém, depois não foi mais visto: por
esse motivo ele declarou rainha do Egito a Cleópatra, irmã dele, que estando
grávida de César, pouco tempo depois teve um filho a que os alexandrinos
chamaram Cesário.

(48)
Dava-se este nome às torres edificadas nas costa? ou nós portos cie mar, onde
se acendiam lumes para orientar os navios durante a noite. Em frente a.
Alexandria, havia uma ilha. chamada Favo ou Paro», e cobre o promontório dessa
ilha. um farol, construído por Ptolomeu Filadelfo. de tamanho e magnificência
tais. que alguns o enumeraram entre as maravilhas do mundo.

LXV.
Foi depois para a Síria e de
lá, passando pela Ásia, teve notícias de que Domícío fora derrotado, por
Fárnaces, filho de Mitrídates, e havia fugido do reino do Ponto, com poucos
homens; e o rei Fárnaces, prosseguindo em sua vitória, com ambição
insaciável, não se contentava em ter ocupado a Biiínia e a Capadócia, mas
desejava ainda a Arménia, a Menor, incitando lodos os reis, príncipes e
potentados dessa marca, contra os romanos. César dirigiu-se imediatamente para
aqueles lugares, com três legiões e apresentou-lhe grande batalha perto da
cidade de Zela, na qual desbaratou todo seu exército e o expulsou do reino do
Ponto; para dar a conhecer a rapidez dessa vitória, escrevendo a Roma, a
Anício, um de seus amigos, disse-lhe estas três palavras somente: VENI, VIDI, VICI, isto é, cheguei, vi, venci (49) . Estas palavras, porém, têm
quase uma cadência semelhante, à da língua romana, uma graça de brevidade mais
agradável ao ouvido do que em qualquer outra língua.

LXVI. Depois voltou à
Itália, regressando a Roma; estava terminando o ano, para o qual tinha sido
eleito ditador, pela segunda vez; esse cargo, antes dele, sempre fora anual,
mas ele foi escolhido para cônsul, para o ano seguinte; censu-raram-no muito,
porém, pcfrque seus soldados, num motim, haviam matado dois personagens de
dignidade pretorial, Coscômo e Galba e ele não lhes dera castigo algum, mas
ainda, em vez de chamá-los de soldados, chamou-os de cidadãos e deu a cada um a
importância de cem escudos e grandes extensões de terra, na Itália.
Censuraram-no também muito pelas insolências violentas e loucas, que Dolabela cometia, pela avareza de Anício e as bebedeiras
de António e de Cornifício (50), que mandou demolir e reconstruir a casa de
Pompeu, como não sendo suficiente para ele, o que muito aborreceu os romanos.
César não ignorava tudo isso e bem teria desejado que não tivesse sido tal;
mas, para chegar ao fim por ele visado, era obrigado a se servir de tais
ministros, que o secundavam em seus desígnios.

(49) Sabemos que Plutarco as escreveu em grego; as três palavras
latinas, que são de César, foram postas por Amyot. para apresentar três
palavras somente, o que o francês não p?rmite, porque é sempre necessário
juntar-se o pronome ao verbo.

LXVII. Depois da
batalha de Farsália, Catão e Cipião fugiram para a África; o rei Juba uniu-se a
eles e conseguiram reunir um grande exército, forte e poderoso; por isso César,
decidiu-se ir fazer-lhes guerra. Passou o coração do inverno na Sicília, onde,
para tirar aos seus soldados a esperança de um longo descanso, foi acampar
mesmo nas costas do mar e ao primeiro vento propício, embarcou com três mil
soldados de infantaria e um pequeno número de cavaleiros; desembarcou-os e
antes que o tivessem percebido, tornou a embarcar, para ir buscar os outros,
temendo que lhes sucedesse alguma desgraça na passagem e tendo-os encontrado
pelo caminho, levou-os todos ao acampamento; avisado de que os inimigos acreditavam
num antigo oráculo, que afirmava como coisa fatalmente reservada à família dos
Cipiões, serem vitoriosos na África, não se sabe se ele o fez por zombaria, ou
por desprezo pelo chefe dos seus inimigos, Cipião, ou então se foi de
propósito, para atnbuir-se o presságio do nome; mas, como quer que fosse, em
todas as lutas, escaramuças ,e batalhas dessa guerra, ele sempre deu o comando
de seu exército a um personagem de pequena projeção e do qual fazia pouca
conta," porque, oriundo da família dos Cipiões africanos e de fato
chamava-se Cipião, cognominado Salúcio, ao qual ele dava a preeminência, como
supremo comandante, todas as vezes que se devia combater.

(50) O que se diz aqui da casa de Pompeu. não tem relação com
Cornificio, mas com António, como veremos na sua vida e como se vê
nas Filípicas de Cícero e em outros lugares.

LXVIII.
César era obrigado,
frequentes vezes, a ir provocar o inimigo, porque, nem os homens em seu
acampamento tinham fartura de trigo, nem os animais, de forragem, mas eram os
soldados obrigados a apanhar musgo e algas que crescem no mar e depois de as
lavarem e tirarem o sal com água doce, davam-nas a comer aos cavalos,
misturadas com um pouco de erva, daquela a que chamam de dente de cão, apenas
para lhe dar o gosto, porque os nômades, que são cavaleiros muito hábeis e
ligeiros, homens decididos e em grande número, podiam aparecer de um momento
para outro, pois ocupavam todos os campos dos arredores; ninguém pois ousava
afastar-se do acampamento para ir forra gear. Um dia, quando alguns soldados se
divertiam observando um africano, que dançava e tocava flauta, sentados,
tranquilamente e haviam entregue seus cavalos aos ajudantes, os inimigos
surpreenderam-nos repentinamente e os envolveram de todos os lados; mataram-nos
no mesmo instante, uma parte, e, expulsando os outros, puseram-nos em fuga,
perseguindo-os até que entrassem confusamente em seu campo; não tivesse sido
César em pessoa e também Asínio Pólio, que vieram em seu auxílio, detendo os
fugitivos a guerra, naquele dia, teria terminado. Houve ainda outro embate, em
que os inimigos levaram a melhor, e no qual, diz-se, que César, agarrando pelo
pescoço o porta-bandeira, que levava a insígnia, deteve-o à força e fazendo-o
voltar o rosto, disse-lhe: "É lá que estão os inimigos".

LXIX.
Estas vantagens animaram a
Cipião e deram-lhe a coragem para arriscar a batalha: deixando de um lado
Afrânio e do outro, o rei Juba, acampados perto um do outro, começou a
fortificar um lugar perto da cidade de Tapsaco (51), acima do lago, para servir
de forte e de retiro seguro em toda a batalha; mas, enquanto ele trabalhava,
César, tendo atravessado, com incrível rapidez, uma grande região de bosques,
por avenidas, das quais ninguém suspeitava, surpreendeu alguns pela retaguarda
e atacou os outros pela frente, inesperadamente, pondo-os em fuga; depois,
seguindo esta primeira oportunidade e o curso de sua boa sorte, foi diretamente
atacar o campo de Afrãnio, que conquistou também ao primeiro assalto e os
dos nómades, do mesmo modo, pois o rei Juba havia fugido; assim numa pequena
parte de um dia somente, ele tomou três acampamentos, matou uns cinquenta mil
homens dos inimigos, sem perder mais que cinquenta soldados. Assim narram, em
resumo, o desenrolar desta batalha alguns historiadores; mas, outros, escrevem
que ele não assistiu em pessoa à sua execução, porque, quando ele preparava
seus soldados, teve um ataque de epilepsia, de que sofria; percebendo que ia
sentir-se mal, antes de ter o juízo perturbado totalmente, fêz-se levar a uma
fortaleza, perto do lugar onde se deu a batalha onde ficou em repouso, até que
o acesso da doença passou completamente.

(51) Deve-se
escrever Tapso, como Ptolomeu, Estnibiio e todos os outros escrevem.

LXX.
Os que escaparam desta
batalha, pessoas de posição, pretores ou cônsules, muitos suicidaram-se, quando
se viram prisioneiros e a vários, também, César mandou matar: mas, desejando
poder apanhar principalmente a Catão, vivo, ele dirigiu-se imediatamente a toda
pressa, à cidade de Útica, que Catão tinha o encargo de defender, pelo que, não
se encontrara na batalha: todavia tendo-se certificado, a caminho, de que ele
se havia suicidado, mostrou-se deveras bastante admirado; mas quando e porque,
não se sabe. É verdade que ele então disse: "Ó Catão, eu invejo tua morte,
pois que tu me invejaste a glória de te salvar a vida" . No entretanto, o
livro que ele escreveu contra Catão, depois de morto, não mostra um coração
brando, nem compadecido, para com ele. Como lhe teria perdoado, se o
tivesse vivo em suas mãos, se depois de morto, contra ele externou tão violenta
cólera? Todavia julga-se que ele o perdoou pela humanidade, de que usou para
com Cícero, com Bruto e muitos outros, que tinham usado das armas contra ele;
diz-se que ele escreveu esse livro, não tanto por rancor contra o falecido, mas
por um desejo simples, por este motivo: Cícero tinha escrito um livro em louvor
a Catão e o havia intitulado Catão. Tal livro, como se pode pensar, foi
muito bem recebido por ser escrito por um mui eloquente orador e pelo argumento,
também muito belo. César ficou muito descontente, porque louvar aquele de cuja
morte ele fora culpado, outra coisa não era que acusar a si mesmo e por isso
escreveu um livro contra, no qual reúne várias acusações contra Catão: o livro
é intitulado Anti-Catão. Um e outro têm ainda até hoje muitos
partidários que os defendem, uns pela amizade, que conservam à memória de
César, e outros, à de Catão.

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