LXXI.
Mas, voltando da África para
Roma, primeiramente fez um discurso perante o povo, no qual elogiou a sua última
vitória, dizendo que ele havia conquistado para o império romano tantos países,
que poderia fornecer para os cofres públicos duzentas mil medidas de trigo de
renda por ano e dois milhões de libras de óleo: depois, fez três entradas
triunfais, uma do Egito, outra do reino do Ponto e a terceira da África, não
por lá ter derrotado Cipião, mas o rei Juba; o filho deste que também tinha o
nome de Juba (52), e era criança, foi levado como escravo, no cortejo do
triunfo. Esse cativeiro foi-lhe muito útil, pois fez dele, não um bárbaro
nomadiano, porque, por meio dos estudos que fez na prisão, tornou-se um dos
mais sábios historiadores dos gregos. Depois desses três triunfos César deu
grandes presentes aos seus soldados e para granjear a simpatia do povo, promoveu
também festas públicas de regozijo; ele festejava todo o povo romano, ao mesmo
tempo, em vinte e duas mil mesas; proporcionou-lhe ainda divertimento,
exibindo-lhes lutadores de morte, e batalhas navais em memória de Júlia, sua
filha, que havia morrido muito tempo antes; depois de todos estes divertimentos
mandou fazer a revisão do recenseamento costumeiro entre o povo, quando se
constatou, em vez de trezentos e vinte mil chefes de cidadãos, que tantos eram
antes, somente cento e cinquenta mil, tão grande calamidade de perda de vidas
trouxera a guerra civil ao Estado, a tantos havia arrebatado ao povo romano, do
seio da sua população, sem se falar ainda dos males e misérias que causara ao
resto da Itália e às outras províncias do império romano.
(52)
o mesmo de que falamos há pouco em outro lugar. Augusto o restabeleceu em
seguida no trono, dando-lhe em lugar dos Estadas de seu pai, uma parte da
Getúlia e das províncias que tinham sido submetidas precedentemente a Boco e a
Bogada.
LXXII Terminado
tudo isto, ele foi eleito cônsul pela quarta vez (53) e partiu para a Espanha
para fazer a guerra aos filhos de Pompeu, que ainda eram moços; no entretanto,
tinham eles reunido um poderoso e mui aguerrido exército e mostravam coragem e
ousadia dignas de comandar tal potência, pondo mesmo a César em extremo perigo
de vida. A maior batalha que se travou entre eles durante a guerra, foi perto
da cidade de Munda (54), na qual César, vendo seus homens mui apertados
e em muitas dificuldades, para resistir ao inimigo, lançou-se na confusão dos
combatentes, gritando aos seus, se não tinham vergonha de se deixaram vencer,
que o tomassem e o agarrassem a ele com suas próprias mãos e o entregassem
àqueles moços e assim, com o máximo do seu esforço, e grande dificuldade fez
recuar o inimigo e matou no mesmo combate mais de trinta mil e perdeu mil dos
seus melhores soldados. Depois desta batalha, retirando-se para seu aposento,
disse aos seus familiares que muitas vezes ele tinha combatido pela vitória,
mas que nessa última, ele tinha lutado para salvar sua própria vida.
Conquistara tal vitória, no dia da festa das Bacanais, no qual, se diz,
que Pompeu, o pai, tinha saído de Roma, para ir começar essa guerra civil,
tendo decorrido quatro anos inteiros, de permeio. Quanto aos seus
filhos, o mais moço salvou-se da morte: mas poucos dias depois, Didio trouxe a
cabeça do mais velho.
(53) No ano 709 de Roma, antes
de J. C, ano 45. (54) Munda, na antiga Bética. hoje reino de Granada, a
cinco léguas de Málaga, muito perto do estreito de Gibraltar.
LXXIII. Esta guerra foi a última de César; a entrada triunfal que ele fez em
Roma, desagradou muito mais aos romanos do que qualquer outra coisa que antes ele
tivesse feito, porque ele não tinha derrotado um chefe estrangeiro, nem reis
bárbaros, mas tinha vencido os filhos do maior personagem de Roma, ao qual a
fortuna tinha sido adversa; tendo-lhes extinguido a descendência, julgava-se
que lhe não ficava bem tripudiar assim sobre as calamidades do seus país,
regozijando-se com uma coisa, para cuja defesa ele só tinha uma desculpa, ante
os deuses e os homens, isto é, o que ele fazia, fazia-o obrigado, tanto que
antes ele não havia mandado nem cartas, nem mensagens ao público, por vitória
alguma obtida em todas essas guerras civis, mas lhes tinha sempre, de vergonha,
rejeitado a glória. Não obstante os romanos, dobrando-se à sua sorte, receberam
o freio na boca, porque julgavam que o governo de um só, lhes daria o ensejo de
respirar um pouco, depois de tantos males e misérias, suportados durante a
guerra civil, eles o elegeram ditador (55) perpétuo, por toda a vida. Isso era
perfeita tirania, porque se acrescentava ao soberano poder, a plena força da
ditadura e o temor de não ser jamais deposto. Cícero então, propôs ao Senado
que lhe decretassem honras, de algum modo humanas, mas havia outras,
excessivas, que lhe acrescentaram depois; e fazendo-o à porfia, exageraram e
por isso, tornaram-no odioso e aborrecido àqueles mesmos que lhe eram os mais
justos pela excelência excessiva, pela inoportunidade das honras, preeminências
e prerrogativas que lhe decretaram; também se diz, que os que o odiavam, não
favoreceram nem lhe estenderam menos a mão, do que os que o adulavam, a fim de
que tivessem maiores motivos de conspirar contra ele e parecesse que com as
mais justas querelas eles tinham atentado contra sua pessoa.
(55) No ano 710 de Roma. antes de J. C. ano 44.
LXXIV. Afinal, depois de ter terminado as guerras
civis, ele procedeu de modo que nada lhe puderam recriminar nem censurar e
parece-me que merecidamente e com razão foi-lhe decretado, entre outras honras,
que lhe fariam construir um templo da Clemência, para render-lhe graças pela
humanidade de que tinha usado na vitória, porque perdoou a muitos dos que
tinham tomado as armas contra ele, e o que é mais, concedeu honras e cargos do
governo a alguns deles, como a Cássio e a Bruto, entre outros, pois ambos foram
pretores. E tendo as estátuas de Pompeu sido derrubadas, ele as mandou reerguer
e por isso Cícero disse, que César, reerguendo as estátuas de Pompeu, tinha
garantido as suas.. Como seus amigos o aconselhassem a se acautelar e a tomar
guardas para a sua pessoa e alguns se apresentassem para defendê-lo, ele não os
quis aceitar, dizendo que era preferível morrer uma vez do que estar esperando
a morte constantemente: para conseguir o amor e a benevolência do povo, como a
mais honrosa e a mais segura defesa deu novamente festas públicas, banquetes,
distribuiu presentes e mandou repartir trigo: para recompensar os soldados,
repovoou várias cidades, que no passado tinham sido destruídas, onde ele
estabeleceu os que não tinham residência, dos quais os mais nobres eram de
Cartago e de Corinto (56) e aconteceu que, havendo sido tomadas e destruídas ao
mesmo tempo, foram repovoadas também ao mesmo tempo. Quanto aos homens de
posição, ele os conquistou prometendo a uns preturas e consulados, a outros,
honras e preeminências e a todos, em geral, muitas esperanças, procurando de
todos os meios fazer que cada qual ficasse contente com o seu governo: tanto
que, um dos cônsules, chamado Máximo, por acaso morreu um dia antes de terminar
o tempo do seu consulado e ele declarou cônsul para o único dia que faltava, em
seu lugar, a Canínio Rebílio: e como todos fossem à sua casa para
cumprimentá-lo e regozijar-se com ele pela nomeação,
segundo o costume para com os magistrados recém-eleitos, Cícero, gracejando,
disse: "Apressemo-nos, antes que o seu consulado termine.
(56)
Diodoro da Sicília di-lo assim e Estrabão e Pausânias estão de acordo com ele
com relação a Corinto; mas, quanto a Cartago, ela só foi restaurada por
Augusto.
LXXV. De resto, César
tendo nascido para realizar grandes coisas e tendo por natural, uma inclinação
ambiciosa para as honras, a prosperidade de suas conquistas e feitos passados,
não o excitavam a querer gozar em paz e na tranquilidade do fruto dos seus
labores, mas ao contrário, animavam-no e o encorajavam a empreender novas
guerras para o futuro; ele as andava imaginando e arquitetando e em sua mente
formava as mais perigosas e audaciosas empresas, sempre com um desejo de novas
glórias, como se a presente já lhe fosse inteiramente passada. Essa paixão,
outra coisa não era que ciúme e emulação de si mesmo, como de outra pessoa e
uma obstinação em querer vencer a si mesmo, combatendo sempre nele a esperança
do futuro com a glória do passado e a ambição do que ele desejava fazer, com o
que ele já tinha feito. Ele tinha determinado, e já fazia os preparativos para
ir guerrear os partos, e, depois de os ter submetido, passar à Hircânia, rodeando
o mar Cáspio e o monte Cáucaso, voltar ao reino do Ponto, para depois entrar na
Cítia; e depois de ter percorrido todo o país e todas as nações e províncias
vizinhas da grande Germânia e a mesma Germânia, voltar então, finalmente, pela
Gália, à Itália, e estender o império romano todo em redor, de modo que de
todos os lados fosse limitado pelo Oceano.
LXXVI.
Enquanto preparava essa
viagem, ele tentou cortar o istmo do Peloponeso, no lugar onde está a cidade de
Corinto e fez cavar um canal dos rios do Teveron e Tibre (57) começando na
cidade de Roma, dirigindo-se diretamente à cidade de Circeu, por um fosso largo
e profundo, que mandou fazer, o qual ia desaguar na costa de Terracina, para
dar segurança e comodidade maior aos negociantes que vinham a Roma, para seu
comércio. Além disso, determinou também extravasar a água que produz as lagoas,
que estão entre as cidades de Nomento e de Sécio (58) para secar a terra e
torná-la aproveitável para a lavoura, dando trabalho a milhares de homens e na
costa marítima mais próxima de Roma, mandar erguer bem na frente, grandes e
fortes molhes; mandou ainda limpar toda a baía em redor de Óstia (59),. dos
rochedos e pedras ocultas sob a água ao longo da costa e retirar todos os
outros obstáculos que tornavam mal segura a navegação para os navios e
construir portos, armazéns e abrigos dignos dos tantos navios que visitavam
ordinariamente o porto e ali vinham de longes terras.
(57) Veja as Observações.
(58) Ibid.
(59) Na embocadura do braço esquerdo do Tibre,
separado nesse lugar por uma pequena ilha.
LXXVII. Todas estas
coisas estavam em preparação, sem se realizarem. A composição do calendário e a
reforma do ano, para obviar a toda confusão no tempo, foi sabiamente ideada e
realizada por ele, sendo então de uso cómodo, fácil e agradável; pois não
somente nos tempos mais anitos, os romanos não tinham formulário certo, nem
regra fixa para determinar a sequência dos meses com o curso do ano, e por
isso, às vezes havia grande confusão, tanto que os sacrifícios e as festas
anuais, vinham a cair pouco a pouco em estações totalmente contrárias para as
quais haviam sido instituídas: mas então os povos não sabiam como se dava o
curso e a revolução solar e só os sacerdotes é que disso entendiam e tinham
conhecimento: por isso eles acrescentavam sem mais, quando lhes parecia bem,
sem que ninguém, a não ser eles o quisesse, o mês supranumerário e
intercalável, que antigamente se chamava de Mercedônio. Diz-se que o rei Numa
Pompílio foi o primeiro a inventar essa maneira de interpor um mês; todavia foi
um remédio insignificante e que pouco durou para corrigir os erros que se
cometiam no cômputo do ano e acertá-los deveras. César propondo a matéria aos
mais ilustres filósofos e matemáticos peritos do seu tempo, inventou e publicou
por meio das ciências, que já existiam, uma reforma singular e mais
cuidadosamente calculada do que nenhuma outra e da qual os romanos usam ainda
hoje, parecem errar menos que as outras nações, na redução dessa desigualdade
dos meses e dos anos: todavia não pôde ele fazer esta inovação, que os
invejosos e os revoltosos contra sua dominação, não lhe movessem guerra.
Cícero, o Orador, encontrando-se na companhia de um deles que dissera:
"Amanhã se vai tirar a estrela da Lira", ele retrucou: "Sim, por
um edito", como se os homens recebessem aquilo também por ordem e em força
de uma determinação.
LXXVIII. O que,
porém, granjeou-lhe um ódio mais patente ainda e mais mortal, foi o desejo de
se fazer nomear rei, o qual deu o primeiro motivo de lhe querer mal ao povo e
àqueles que de longa data ocultavam contra ele a sua má vontade, e deu o
pretexto mais honesto que podiam eles desejar. Todavia, os que lhe queriam
proporcionar essa honra, semearam a notícia entre o povo, de que estava escrito
nos livros proféticos da Sibila, que os romanos venceriam o poder dos partos,
quando lhes fizessem a guerra sob o comando de um rei, do contrário, nunca o
teriam conseguido; tiveram um dia a coragem de chamá-lo de rei e de saudá-lo
como tal, quando ele voltava de Alba para Roma; com isso o povo se aborreceu e ele,
admirado, então disse que não se chamava absolutamente rei, mas César, ao que
ninguém ousou replicar, mas se fez grande silêncio em toda a multidão: ele
então, agastado, aborrecido e enervado, continuou seu caminho. Tendo-lhe sido
decretadas no Senado certas honras, que superavam a dignidade humana, os
cônsules e os pretores, seguidos por toda a assembleia dos senadores, foram ter
com ele na praça, onde ele estava na tribuna dos discursos, para cientificá-lo
e comunicar-lhe o que na sua ausência havia sido decretado em sua honra: ele,
porém, não se dignou nem mesmo levantar-se à sua chegada, mas falando-lhes,
como se fossem homens vulgares, respondeu-lhes que suas honras precisavam ser
diminuídas, que não acrescidas ainda mais. Esse ato não somente desgostou o
Senado, mas foi também julgado de mau gosto, pelo povo, que pensava que a
dignidade das coisas públicas eram desprezadas e depreciadas por ele, pelo
pouco caso que ele fazia dos seus principais magistrados e do Senado, e todos
os que ali estavam retiraram-se de cabeça baixa, taciturnos e tristes, a tal
ponto que ele mesmo o percebeu e também dirigiu-se imediatamente para sua casa,
onde, retirando a túnica de volta do pescoço, disse bem alto aos seus amigos,
que ele estava pronto a apresentar sua garganta a quem lha quisesse cortar.
Todavia, diz-se, que depois para se desculpar dessa falta, ele alegou
enfermidade, porque o juízo não pertence todo, aos que, como ele, estão
sujeitos à epilepsia, quando falam diante do povo, mas perturba-se facilmente e
ataca-lhes em seguida uma alucinação: mas tudo isso não era verdade. Bem tinha
ele desejado levantar-se então, diante do Senado, mas Cornélio Balbo, um de
seus amigos, ou melhor, dos seus bajuladores, que estava ao pé dele,
impediu-lho, dizendo-lhe: "Não te queres lembrar, de que és César e não
queres que eles te prestem a reverência e a homenagem a que tens direito?"
LXXIX.Além desses motivos de
malevolência e descontentamento do povo, sobreveio ainda a injúria que ele fez
aos tribunos do povo, deste modo: Era a festa das Lupercais, que alguns dizem
ter sido outrora própria dos pastores e parecer-se em alguma coisa, com a dos
liceenses, na Arcádia. Como quer que seja, naquele dia vários homens e moços,
mesmo dos que têm cargos na magistratura, correm nus, pela cidade, batendo por
brincadeira, com correias de couro, em todos os que encontram pela rua; muitas
senhoras e damas da sociedade, propositalmente se põem diante deles,
apresentando-lhes suas mãos, para que as batam, como fazem as crianças na
escola, ao mestre, julgando que aquilo é útil para as que estão grávidas, a fim
de mais facilmente darem à luz e as que são estéreis, para conceber. César
assistia a esse passatempo sentado na tribuna dos discursos, numa cadeira de
ouro, revestido dos hábitos próprios do triunfo: António, sendo cônsul, era um
dos corredores dessa festa sagrada. Quando ele apareceu na praça, o povo que lá
estava abriu-lhe caminho para que pudesse correr; ele foi então apresentar a
César um diadema real, em feitio de coroa, ornado com um ramo de loureiro;
alguns aplaudiram esse ato de António, com palmeis não muito entusiásticas, da
parte de alguns populares, expressamente contratados para esse fim: ao
contrário, porém, quando César recusou, todo o povo unanimemente aplaudiu, com
palmas prolongadas; e como António insistisse em apresentar-lho, muito poucos
igualmente manifestaram o seu contentamento, com novos aplausos: mas quando
César o recusou pela segunda vez, todo o povo num só gesto, aplaudiu com mais
veemência ainda, batendo palmas. César então, sabendo com certeza que aquilo
não agradava ao povo, levantou-se do seu assento, ordenando que levassem aquele
diadema a Júpiter, no Capitólio: mas depois, encontraram algumas das suas
estátuas, pela cidade que tinham a cabeça coroada de diademas à maneira dos
reis; dois dos tribunos do povo, porém, Flávio e Marulo, as foram arrancar e o
que é mais, encontrando alguns dos que antes haviam saudado a César, como rei, os
mandaram para a prisão e o povo em massa os seguiu aplaudindo, batendo
palmas em sinal de alegria, chamando-os de Brutos, porque fora Bruto quem
antigamente expulsara os reis de Roma e transferira a soberana autoridade das
mãos de um único príncipe, ao povo e ao Senado. César ficou tão irritado e
irado com isso, que depôs Marulo e seu companheiro de seus cargos e
acusando-os, injuriava também ao povo, dizendo que eles eram verdadeiramente
Brutos e Cumanos, isto é, animais e estúpidos.
LXXX.
O povo então, por isso,
voltou-se para Marco Bruto, o qual, pelo lado paterno era descendente da
família daquele primeiro Bruto e do lado materno, era da família dos Servílios,
uma das mais nobres e das mais antigas de Roma e era também sobrinho e genro de
Marcos Catão. Mas as grandes honras, grandes graças e favores que César lhe
fazia, o moderavam e o continham, e por ele mesmo, não tentaria a destruição e
o fim da monarquia porque, não somente César salvou-lhe a vida depois da
jornada de Farsália, e da derrota e fuga de Pompeu, concedendo-a também a seu
pedido a vários outros dos seus familiares e amigos: mas ainda mostrou, que
confiava muito nele: pois já lhe havia dado a mais honrosa pretona naquele ano
e já tinha sido designado para cônsul, de ali a quatro anos, tendo-o preferido
a Cássio, que o disputava contra ele, pelo favor de César, o qual disse nesse
litígio, como ficou escrito: "É verdade que Cássio alega as mais justas
razões e provas, mas não passará ele na frente de Bruto (60) ". Um dia,
como alguns o acusassem, quando já se urdia e tramava a conspiração, ele não lhes quis prestar fé, mas tocando
o corpo com a mão, respondeu-lhes: "Bruto esperará esta pele",
querendo dizer que Bruto pela sua virtude, era bem digno de governar, no
entretanto pela ambição de dominar, jamais se mostraria ingrato, nem cometeria
uma má ação. Todavia, os que desejavam a mudança e só olhavam para ele, ou pelo
menos, olhavam-no mais que a qualquer outro, não ousavam se dirigir a ele para
dizer-lhe de própria boca, o que desejavam, mas, à noite, enchiam sua tribuna e
sede pretorial, onde dava audiência, de pequenos cartazes e letreiros, que mais
ou menos, na maior parte diziam isto: "Tu dormes, Bruto, e não és
verdadeiro Bruto". Por causa desses escritos, Cássio, sentindo que o
desejo da honra cada vez mais se inflamava nele, solicitou mais insistentemente
do que nunca, aos que (61) escreviam aqueles dizeres tendo, ele mesmo, alguns
motivos particulares de ódio, contra César, de que já falamos na Vida de Bruto.
Também César o tinha como suspeito; e um dia, falando aos seus mais fiéis,
perguntou-lhes: Que vos parece que Cássio quer fazer) A mim não me agrada
absolutamente vê-lo tão pálido". Outra vez, caluniaram a António e
Dolabela de maquinar uma conjuração contra ele, aos quais ele respondeu:
"Eu não desconfio muito desses gordos, tão bem penteados e adornados, mas,
muito mais, daqueles magros e pálidos, entendendo falar de Bruto e de
Cássio".
(60)
Este trecho é relatado na Vida de
Bruto: mas com relação à pretura urbana, de que Plutarco fala algumas linhas
antes, por estas palavras, a mais honrosa.
(61) Deve-se ler, eu creio: ele o solicitou, ele mesmo, em particular; e
suprimir: os que escreviam estes pequenos cartazes.