ARITMÉTICA
mar 4th, 2011 | Por Nei Duclós | Categoria: CrônicasNei Duclós
A Rússia já tinha a Sibéria, para que o Alasca? Ruim de finanças, o czarismo acabou vendendo essa espécie de Amazônia gelada, a terra grande, como diziam os nativos, por US$ 7,2 milhões em 1867, equivalentes a US$ 1,6 bilhão hoje. Foi um excelente negócio. Hoje, a Amazônia brasileira deve valer o R$ 1,6 trilhão da nossa dívida externa. Ou pelo menos uma área do tamanho da reserva Raposa do Sol.
Pagaremos um dia a dívida com o patrimônio territorial, dizia Darcy Ribeiro. Estamos chegando perto. O governo passado dobrou a divida externa, que antes estava por volta de R$ 800 bi. A solução foi maquiar a operação. Colocaram na roda as reservas, que abateriam o total. Deu tão certo que chegamos a “emprestar” para o FMI.
Quando criticamos a política econômica, pedimos desculpas por sermos leigos no assunto. Não deveríamos. É pura aritmética, que se aprendia antigamente no primeiro ano do Primário. É como livro caixa de armazém de secos e molhados. Quanto entra e quanto sai. Óbvio que sai aos borbotões, principalmente se pagamos juros estratosféricos para quem coloca papel pintado estrangeiro por aqui.
Essa é uma mágica incompreensível. Por que se faz tanta questão dos tais investimentos especulativos, se eles sempre tiram mais do que põem? Movimentam a economia? Mas não seria razoável movimentar a economia com o que repassamos para os especuladores? Como é óbvio demais, coloca-se um sorrisinho de superioridade nos especialistas, alguns pigarros dando sinais para calarmos a boca, e a espiral continua roendo a nação.
Todo esse rombo não é levado em conta nos cálculos da inflação, pelo menos não entram nos debates como deveria. O destaque é a influência nefasta do salário mínimo na carestia. Se aumentarem meio centavo de uns 40 milhões de salários, a hiperinflação nos comerá pela perna. Isso é levado tão a sério que ficamos mudos diante das certezas ditas em tom definitivo.
“Sei que vocês não aprenderam nada até agora”, disse uma vez o Professor Dau, que lecionava matemática no terceiro científico do Colégio Rosário de Porto Alegre. “Portanto, vamos começar do início: 1 + 1 = 2”. Precisamos voltar aos fundamentos. Ou perderemos muito mais do que um trilhão de hectares de selva.
Crônica publicada no dia 22 de fevereiro de 2011, no caderno Variedades, do Diário Catarinense.