O PAÍS DO NORTE

dez 12th, 2009 | Por | Categoria: Crônicas, Política        

Nei Duclós

Texto é música e crônica a sua liberdade. Escrever de ouvido é tocar violino na sintaxe e na gramática. Pular a cerca da linguagem por meio dos seus vícios, como o cacófato, o ruído de duplo sentido, as abreviações excessivas e a muleta das interjeições, sob o guarda-chuva da permissividade, é crime contra a sobrevivência. Não apenas do português falado e escrito no Brasil há séculos, mas da idéia de nação.

É costume brincar de negar o país, como se a oposição ao velho ufanismo seguisse o trilho eterno da sinceridade. Esquecem que uma população sem soberania perde território, como ocorreu com os palestinos. Vamos pegar o exemplo da Amazônia, mesmo correndo o risco de cair na má vontade de quem vê as ameaças na selva como teoria da conspiração. É melhor lembrar que toda Amazônia já pertenceu a outro país, o Estado do Grão-Pará, que chegou a ter São Luís do Maranhão como capital.

O Grão-Pará existia paralelamente ao Estado do Brasil, este com capital em Salvador. Quando o Rio de Janeiro fez a Independência, teve que enfrentar a revolta do Grão-Pará, que negociava diretamente com a metrópole. Dom Pedro II, que sabia das coisas e temia o nascente Império americano, proibiu no seu governo qualquer navegação pelo Amazonas, numa sábia decisão que preservou a floresta, enquanto os Estados Unidos, tão ciosos hoje de nossas matas, empilhavam madeira com suas árvores.

O que temos no Norte são os caboclos, mistura de índio com português e outras nacionalidades. Os nichos que hoje inspiram territórios independentes na fronteira do país, sob o álibi de preservar populações ameaçadas, são minorias diante da mistureba de todos os sangues. O João Ninguém, também conhecido como o brasileiro, é o povo invisível da Amazônia sob custódia do politicamente correto.

Mas basta ver e ouvir Al Gore mentindo que todos os grandes ambientalistas são seus amigos do peito, e ver como ele transforma territórios nacionais numa área aleatoriamente batizada de “planeta”, para ver que há tempos conspiração deixou de ser teoria. Seremos nós, os brasileiros, os futuros sem-nação? Ou isso já aconteceu, depois que a linguagem resolveu virar um acervo de ruínas?

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