SOMOS APENAS PALAVRA

maio 4th, 2011 | Por | Categoria: Redação sem Máscara        

Nei Duclós

Além do que fazemos para viver, agimos para ficar vivos. Como postar no Twitter e no Facebook: é o que faço para conversar com os contemporâneos. Neste Diário da Fonte, costumo colocar algumas seletas. Hoje, destaco frases que tuitei durante a Páscoa. O resultado – poesia, política, mídia, comportamento – está aqui.

Vamos por terra, disse o marinheiro. Vamos pegá-los de surpresa

Ok, vou bater o ponto, disse o aventureiro do deserto. Mas depois não se queixem se as tempestades de areia não tiverem com quem conversar

O que diz o amor quando declaram guerra? “Não de novo! Adiar para mais uma geração o pote de mel que se derrama”

Poesia não serve como identidade, mas é a única que tenho

Já estivemos aqui, mas não lembramos. Só quando o vento chama a nova estação, zunindo na nuvem

Somos circo. Em primeiro lugar, trapezistas. E por último, palhaços. Para sairmos rindo do espetáculo

Somos um só, mas imaginados por muitas personas, que se revezam na nossa mente para nos divertir, consolar ou alertar

Todos os personagens pedem para sair. Às vezes, no minuto seguinte ao que seu oposto se manifestou

Jack o Marujo foi convidado para dar uma palestra de auto-ajuda numa fábrica de parafusos. “E eu com isso?” disse ele, e encerrou o evento

Deus nos conjuga, mas não leva o crédito. Só a fé descobre a autoria do verbo

Somos apenas palavra. Alguém nos escreve. Algo nos apaga.

Quando o poema começa muito ruim, peço desculpa à palavra e recomeço. É preciso que ela me receba

Gerenciei minha carreira fazendo tudo errado. No fim, deu certo, porque tomei o rumo que os outros evitavam

A esperança é poder impactar quem nunca soube da citação,o que é raro, já que o ramerrão atinge a mais tenra idade.Melhor seria voltar a ler .

Você gosta de citar autores famosos? perguntei para Jack o Marujo. Gosto de citar a véia, respondeu o capitão

Essas citações recorrentes de obras e autores, sempre os mesmos, com pretensão de ainda dizer algo, não são apenas patéticas, são patetas

Há uma impaciência animal no fast-food, em que as pessoas atropelam para se servir primeiro e ocupam as mesas com ruídos de guerra

Quando é preciso roubar muito, mas roubar mesmo, usa-se a palavra estratégico

“Primeiro, estranha-se. Depois, entranha-se”. Slogan para a Coca-cola de autoria de Fernando Pessoa

Povão é a fantasia favorita do pavão

Celebridades internacionais descobrem o Brasil. Precisamos aumentar o número de favelas e de capoeiristas

Casamento do príncipe influencia a tábua das marés

Você diz ou “com certeza” quando é sim ou “fala sério” quando é não, diz Angelica no seu show, implementando o lugar comum como referência

Essas pessoas sem nada a dizer que ficam sussurrando durante horas em entrevistas fake na TV são apenas álibis de campanhas publicitárias

Comemorar gol pondo a mão em concha no ouvido, o dedo indicador na boca ou fazendo coraçãozinho com ajuda dos polegares é o cânone babaca

Sou um zero à esquerda, disse o garoto. Permaneça assim, aconselhou Jack o Marujo. Si se mexer, vão dizer que foste para a direita

Jornal Opção “Socialismo”, de Godard: O Desafio de Entender (texto do jornalista @neiduclos)

Inventar cartas de leitores fazia parte do processo de implantação de um novo veículo. “Elogia minha matéria aí”, diziam os repórteres

Ninguém escrevia cartas para as redações, a não ser os compulsivos ou alguém com interesse explícito em algo. Com o email, ficou mais fácil

Truque de marketing: jornal inventava cartas espinafrando a edição para gerar cartas verdadeiras contradizendo as críticas

O verdadeiro ombudsman de um jornal ou revista é a seção de cartas dos leitores

“Certo? Errado” significa: você está iludido e eu não, você não sabe, eu sei. O uso do lugar comum desmoraliza a soberba

“Certo? Errado” é de matar. Ultrapassou o status do lugar comum. É o cânone da muleta da argumentação

Cortava a caixa de sapatos com a tesoura, encaixava as duas metades, fazia a cesta. Enfeitava com papel colorido recortado. Punha a palha

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