O SINO DA ESTAÇÃO

jun 22nd, 2011 | Por | Categoria: Poesia        

Nei Duclós

Mais um serão poético no twitter gerou os post-poemas a seguir, que giram em torno de uma despedida, do amor que não se concretiza, do eclipse, entre outros vestígios . Para complementar, alguns conceitos pelo avesso sobre ética e jornalismo.

Agora se conforme, disse o anjo. Volte para seu corpo. Ainda há tempo de fazer as pazes com o Destino

Poderia ter insistido, amor perdido. Mas desisti cedo demais, quando ainda podia mudar a direção das velas e preparar a recepção no cais

Pronto, passou. O dia virou a página. Desembarcamos no exílio, bem no início da madrugada. Uma fogueira vela a noite, como um fantasma

Fique, falei. Mas ela escutou apenas o sino da estação, que se sobrepôs ao meu pedido

Adeus, me disse. E subiu no ônibus, sem desgrudar os olhos. Ficou assim, muda, pendurada no amor que compartilhamos e que se foi para sempre

Quando o relógio junta ponteiros, a poesia corre atrás de quem foge e não deixa pistas. Só fica esse sapato jogado fora, sem pé que sirva

Um cometa cruza o espaço do poema. Atrai o verso com sua elipse. Depois some, levando a alma de quem ama

Nada faz sentido, amor distante. É bom que estejamos separados por mar e continentes. Próximos, fugiríamos. Longe, somos indissolúveis

Acumulo o que não possuo. Me desfaço do que me falta. Vou atrás do que jamais se entrega. Desisto quando encontro. Depois, recomeço

Perto da meia noite, voltava para a casa na rua abandonada. Uma luz bateu no muro, com o ruído de alma de outro mundo. Corri, mas era tarde

Fomos nos despedir da cidade.Estávamos no outono.Pássaros migrantes fugiam para o sul.Íamos em outra direção, para onde apontavam os navios

Poesia é verbo que se fez nuvem. E é tão espessa que dá para cortar em pedaços como um algodão de estrelas

Já estivemos aqui e voltaremos. Fomos vento, depois pedra. Até que a criação nos tocou com seu amor violento

Ontem, o eclipse, máscara de barro que preparou o esplendor de hoje. E a Terra deve ser o seu espelho

Falar de amor é demagogia quando exercê-lo é uma impossibilidade. Sonhamos o amor na cama feita do desencontro

A Lua é caprichosa. Usa um biombo, as nuvens, para se trocar e aparecer lampeira, toda maquiada de luz

As nuvens deram uma folga e o eclipse apareceu. Tiraram uma tampa da Lua! É tal e qual uma laranja cortada

Fechei para balanço. Oscilo entre o grão e a nuvem, numa redoma que atende pelo nome de Lua cheia

ANTI-CONCEITOS

Amor é um metal semi-precioso só encontrado em morros de granito situados nos contrafortes da Serra Geral

Princípios são brinquedos de plástico acumulados em sarjetas depois das enxurradas

Idealismo é um jogo de botão que os astronautas inventaram quando os primeiros acidentes no cosmo viraram rotina

Ideologia é uma espécie de massa feita com féculas de beterraba selvagem, só encontrada em encostas dos Apeninos

Respeitar opinião é uma espécie de ida ao shopping onde só vendem quinquilharias

Trocar idéias é uma ficção escrita em papiros descobertos nas escavações do alto Nilo no século XIX, e mais tarde abandonados

Discutir propostas é um torneio medieval exercido por povos que mais tarde foram anexados aos pântanos da Baixa Eslobóvia

Quando alguém fala contigo virando a cara para o lado é porque está economizando olhar para coisas mais importantes

Link em shopping em data festiva não é cobertura jornalística, é departamento comercial

Notícia é reportagem. Má notícia é diagnóstico médico

Notícia é jornalismo. Boa notícia é propaganda

Matéria humana é a que sente pena dos animais

Jornalismo investigativo é a reportagem escrita pelos escrivães

Jornalismo literário é quando o jornalista lança mais livros do que os autores que reporta

Jornalismo opinativo é quando a sua opinião coincide com a do dono do jornal

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