- O valor da civilização grega
- Aspectos físicos e tradições da civilização grega
- O período heróico da Grécia Antiga
- As cidades e os clãs dos gregos
- A península grega
- O Mar Egeu
- Os grupos de populações. As culturas jónica e dórica
- As ilhas e a costa da Ásia Menor
- Os pelagos. A guerra de Tróia
- Os tempos homéricos
- O culto do lar e o antropomorfismo. Perseu
- Teseu e o fio de Ariadne. Hércules
- O princípio democrático na Grécia
- Evolução política de Atenas
- O areópago
- A oligarquia eupátrida e e legislação draconiana
- Os tírenos
- Pisístrato
- O principio federativo
- As ligas anfictiônicas
- Os conselhos anfictiônicos
- Pitonia e Oráculos Gregos
- Jogos atléticos. Olímpiadas na Grécia
- Expansão marítimica e colonial
- A cultura helênica
- A obra dos legisladores gregos
- Licurgo
- A escravidão na Grécia Antiga
- Civilização espartana
- Os éforos
- A sociedade lacedemônica e as leis de Licurgo
- Educação militar e cívica
- Sólon
- A civilização ateniense
- Organização social de Atenas
- As leis de Sólon
- Reação aristocrática e progresso democrático
- O ostracismo
- Causa das guerras pérsicas
- Revolta da Jônia e desforço de Dario
- O revés de Maratona
- A defesa de Atenas. Temístocles c Aristides
- A expedição de Xerxes e a resistência grega
- As Termópilas
- Batalha Naval de Salamina
- Combate de Platea
- O poderio de Atenas
- A confederação de Delos
- Hegemonia ateniense
- Os ciúmes de Esparta
- O governo de Péricles. As reformas de Péricles
- O grande júri
- Democracia imperial
- As funções da Heliea
- Os ricos e as liturgias
- Artes e letras. As Panateneias.
- O Partenão
- O teatro grego
- A filosofia. Sócrates
- Platão
- Aristóteles
- Rivalidade com Esparta
- A guerra do Peloponeso. Alcibíades
- Suas traições. A expedição da Sicilia.
- Prosseguimento das hostilidades.
- Vitória e hegemonia espartanas.
- A decadência de Atenas. Sua anterior florescência comercial
- A Oligarquia militar
- Esparta e a Pérsia. Tréguas e novo rompimento.
- A retirada dos Dez Mil. Tratado persa-espartano
- Liga contra Esparta
- A hegemonia tebana. O particularismo grego
- A tutela macedônica e Filipe
- A falange
- As Filípicas de Demóstenes
- Motivo da intervenção macedónica
- A educação física e política dos gregos
- O valor da eloqüência e o exercício da soberania popular
- Ésquines e Demóstenes. A invasão
- Alexandre e o helenismo na Ásia
- Sua carreira militar
- Suas conquistas. Alexandre e o helenismo na Ásia
- Sua morte. Babilônia e Alexandria
- A pilhagem dos tesouros persas
- A soberania universal pela fusão do Oriente e Ocidente. Alexandre e Napoleão
- Caráter de Alexandre e sua política
- A influência oriental e o cosmopolitismo
- Desagregação do império macedónico. Os novos reinos
- Seleuco e Antíoco
- Irrupção do fator romano. Citas e partas
- A confederação de Rodes
- As escolas de Rodes
- Fim da independência grega. A província de Acaia
História da Civilização – Oliveira Lima
IDADE ANTIGA
CAPÍTULO II
A CIVILIZAÇÃO HELÉNICA
O valor da civilização grega
O tamanho do país não está neste caso em relação com a grandeza da civilização a que serviu de berço, a mais completa da antiguidade, a que maior número de idéias aventou, discutiu e disseminou, a ponto tal que ainda hoje se vai buscar no seu vocabulario a terminologia científica e filosófica e que, sob certos aspectos, jamais foram excedidas as manifestações do gênio helénico. A disposição geográfica fazia da península grega o cenário adequado dessa surpreendente atividade mental e social que brilhou radiosamente na poesia, no teatro e na eloqüência, erigiu o civismo em culto popular e elevou a política a uma arte para competentes.
Aspectos físicos e tradições da civilização grega
A Grécia é uma terra alterosa, cortada de vales, defendida por desfiladeiros, assim repelindo a tutela de invasores, com uma costa de mil anfractuosidades, como que chamando às suas enseadas calmas a colaboração estrangeira. Esta desde começo que lhe não faltou, pois segundo suas tradições fabulosas, foi o fenício Cadmo quem ensinou aos gregos o alfabeto e a arte de trabalhar os metais e quem construiu na Beócia a cidadela de Tebas, e foi o egípcio Cécrops quem, com seus companheiros, encetou a construção da Acrópole de Atenas, instituiu o tribunal do areópago e implantou na Ática o cultivo da vinha e da oliveira. Outro egípcio, Danaus, ensinou aos habitantes de Argos a arte da navegação, a qual tão bem aprenderam que os argonautas, sob o comando de Jasão, foram combater os piratas da Cólquida e franquear ao comércio grego o Ponto Euxino, de lá trazendo o velocino de ouro, símbolo da riqueza mercantil.
O período heróico da Grécia Antiga
Essas tradições fabulosas repousam sobre um fundo de realidade, referindo-se as citadas ao primitivo intercurso dos gregos com povos então mais adiantados. A história grega apenas começa no século VIII a. C, mas o período anterior, legendário e heróico, deve haver sido prolongado porque, ao começar o período histórico, já a língua grega estava perfeitamente formada e a sua mitologia aparecia tal como a conhecemos, imaginativa e risonha.
As cidades e os clãs dos gregos
Isoladas nos vales estreitos ficavam cidades de característicos diferentes, cidades-estados, às vezes compostas da cidade exclusivamente, outras vezes abraçando* as aldeias circunvizinhas. Tinham-nas fundado tribos de índole altiva, que tratavam de desenvolver seus destinos numa ciosa independência. Formava cada tribo diversos clãs, sendo o clã a família ampliada, ligada por laços de parentesco e de religião, tendo o culto do mesmo antepassado comum.
A península grega
País montanhoso e marítimo, com seus núcleos políticos a um tempo divididos entre si pelo espírito local e com a vastidão das águas a convidá-los a empresas remuneradoras, compõe-se a península grega de duas partes proporcionais — a Hélade ao norte e o Pelo-poneso ou Moréia ao sul, quase separadas as duas metades pelo Golfo de Corinto, hoje completado pelo canal, onde havia o istmo.
Os mentes Cambúnios como que resguardam a Grécia, na frase de um historiador, dos ventos frios e das tribos hostis da Macedónia. A nordeste da vasta planície da Tessália ergue-se o Monte Olimpo, cujo cume, coroado de nuvens, a 3 000 metros de altura, serve de morada ao Panteão do politeísmo helénico, personificando as forças da natureza. Descendo para o sul, ainda do lado do Mar Egeu, levantam-se como sentinelas os montes Ossa e Pelion, que os titãs da fábula colocaram um sobre o outro para escalar o céu quando moveram guerra aos deuses. Do lado do oeste a cadeia do Pindo separa a Tessália do Epiro e vai constituir o sistema orográfico da Hélade. Da planície da Tessália prolongada pela Etólia se desprende uma espécie de grande língua de terra arrendada, que é propriamente a Grécia central, onde mais ativa pulsou a civilização.
As montanhas dessa região são mais baixas e nemorosas, regan-do-as fontes abundantes. Aí habitavam as Musas, no Parnaso e no Helicon; mais para o meio-dia, perto donde floresceu o aticismo, avultam o Himeto, em cuja encosta flui o mel, e o Pentélico, célebre pelos seus mármores. A Arcádia forma no Peloponeso o planalto central fechado por montanhas; a simplicidade pastoril dos seus habitantes, por assim dizer isolados do movimento intelectual que agitou a Grécia, ficou proverbial. Projetando-se no Mar Egeu, a Ar-gólida recorda ter sido a sede de uma cultura pré-histórica. No sul, a Lacônia ou Lacedemônia encerra o vale profundo do Eurotas, onde se aninhou a cultura espartana: os rios na Grécia são antes torrentes de inverno. A oeste fica a Elida, onde se verificavam os jogos olímpicos, que tão belos modelos vivos ofereciam à estatuária grega, a qual por essa forma animavam.
O Mar Egeu
Coalhado de ilhas, o Mar Egeu apresentava fácil e já experimentada passagem aos que, de gênio mais aventuroso, se sentissem abafados dentro dos confins da sua pequenina pátria e atraídos pela costa fronteira da Ásia Menor a fundarem ali colônias e espalharem sua cultura compreensiva e sutil. A Grécia faz frente à Ásia, pois que seus mais abundantes e melhores portos se acham na costa oriental, da mesma forma que a Itália faz frente à Espanha, pois que seus mais abundantes e melhores portos ficam na costa ocidental.
Os grupos de populações. As culturas jónica e dórica
Os habitantes da Grécia intitulavam-se helenos e dividiam-se em quatro grupos — jônios, dórios, aqueus, que dominaram o Peloponeso em tempos pré-históricos e predominaram entre as tribos gregas, e eólios, dos quais se pode dizer um tanto vagamente que são os que não pertencem a nenhuma das outras divisões. Na Hélade floresceu por excelência a civilização jónica e no Peloponeso a civilização dórica, representadas uma por Atenas e outra por Esparta, sem que isso signifique que cada um desses centros absorvesse os demais, apenas que num dado momento impôs sua hegemonia — o vocábulo é grego — a uma liga de cidades livres, entre as quais aquele foco brilhava excepcionalmente. A cultura jónica significou mais espírito cosmopolita, maior largueza de vistas, mais graça de expressão, maior mobilidade intelectual; a dórica mais espírito nacionalista, mais estreiteza de concepções, mais rigidez de costumes, menos horizontes mentais.
As ilhas e a costa da Ásia Menor
Todos os helenos, descendentes de Prometeu segundo a própria crença, vieram da Ásia: os jônios por mar, através do mundo de ilhas do Egeu, os dorios tangendo seus rebanhos de pasto em pasto desde o Egito, com um pouso mais prolongado na Dórida. Os jônios desceram até a Ática; os dórios introduziram a desordem no Peloponeso, provocando o êxodo de várias tribos para a Ásia Menor; os eólios fixaram-se no centro e a oeste da península) Foi em virtude dessas deslocações de tribos que os jônios, tomando rumo por entre as Cíclades que rodeavam o santuário famoso de Apolo em Délos, fundaram Éfeso e Mileto no litoral fronteiro, dando origem à Jônia, e que os dorios, acompanhando esses movimentos de população, ocuparam Creta, alcançaram Rodes (colónia fundada por fenícios) e chegaram a Halicarnasso, na extremidade meridional da costa asiática fronteira à Hélade.
Essa costa e as ilhas que a guarnecem de perto foram teatro de uma cultura notável que precedeu mesmo a helénica e da qual são representativas a poetisa Safo, de Lesbos, que foi colónia eólia, o matemático Tales, de Mileto, que sabia calcular os eclipses, e o filósofo Pitágoras, de Samos, que precedeu Galileu na teoria do movimento da terra. Na península a civilização helénica sucedeu a outra que é chamada pelásgica, que nem por isso é menos obscura e de que entretanto há traços, entre outros lugares, nos muros ciclópicos de Corinto, de Micenas e de Tróia.