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O teatro grego

Na fralda da colina sobre que Renan recitou, vinte e três séculos depois de Péricles, sua famosa oração embebida em graça ática, teve seu berço o teatro grego, rival da eloqüência e da filosofia na fama que alcançou. Nasceu esse teatro das festas que em honra de Dionisos ou Baco, o deus do vinho e da embriaguez, se celebravam na época das vindimas e nas quais aos cantos ditirâmbicos e danças, se foram agregando representações de episódios báquicos, depois das lendas nacionais e por fim dos casos da vida real, continuando o cero seu papel de comentador lírico e representando algumas personagens o incidente dramatizado. A natural vivacidade do espírito ateniense não levou muito tempo em desprender dessas tentativas animadas as tragédias patrióticas e humanas de Sófocles e Eurípides e as comédias satíricas de Aristófanes e Menandro. O teatro exercia assim uma função moralizadora, como de resto a filosofia quando a expunham homens como Sócrates e Platão.

A filosofia. Sócrates

Sócrates (469-399 a. C), impressionado com a dissolução do paganismo olímpico, cujos deuses faziam gala de todas as paixões humanas, até das piores, pretendeu associar a moral com a religião e unir ao culto do belo o culto do bem. Dotado de uma vocação de apóstolo, discursava pelas ruas e sobretudo nos jardins que o rico Academus facultava ao desafogo popular, o qual ali estabelecera campo de desportes físicos e tribunícios, e a que se chegava pela via tumular, de heróicas sugestões. A imortalidade da alma começara então a receber uma atenção mais elevada do que a dos simples receios pelos castigos da vida futura.

Platão

Platão (427-347 a. C.) registrou a última conversação de Sócrates com seus discípulos, dos quais fazia parte. O suicídio sereno do mestre, condenado a beber cicuta sob a acusação de corromper a mocidade e querer destruir a religião tradicional, substituindo o pan-teão helénico por um ser supremo, criador do universo — de fato por ameaçar os interesses estabelecidos —, foi a primeira afirmação prática do estoicismo que distinguiu vários dos varões ilustres de Plutarco e que o cristianismo assimilou espiritualizando. Os filósofos gregos fizeram valer a nobreza da essência espiritual e a su-perioridade da missão cumprida pela alma na prática das virtudes. Platão imaginava que as intuições da nossa razão eram reminiscên-cias de uma experiência prévia.

Aristóteles

Aristóteles (384-322 a. C.) foi o mais compreensivo dos três gran-des filósofos e dominou a matéria até a idade moderna, quando o seu método dedutivo, partindo das leis abstratas para os fatos con cretos, foi substituído pelo método indutivo de Bacon e Descartes, que sobe dos fatos às leis. Quando ocorreu a condenação de Sócrates, já Atenas se achava sujeita à suserania de Esparta, à qual pareceu intolerável a absor-ção política e econômica exercida pela sua rival, não trepidando Atenas em coagir pela força das armas qualquer devedor recaici-trante ou qualquer Estado díscolo que fizesse menção de recorrer à secessão. Pretextando o perigo que corriam as liberdades gregas de os bárbaros se apoderassem da Ática e aí se pudessem manter com êxito, quisera Esparta ardilosamente impedir a reconstrução das muralhas de Atenas e sobretudo sua ligação com o Pireu por meio daquela dupla muralha que Péricles fizera construir de 457-455 a. C, e que, de distância a distância, era guarnecida de torres e de seletras.

Rivalidade com Esparta

Foram legitimamente aumentando os ciúmes de Esparta à medida que Atenas desenvolvia seus apetites conquistadores, e surgiu o pre-texto do rompimento quando Corinto, rival naval de Atenas, solici-tou com outras cidades a proteção de Esparta. Assim começou a guerra do Peloponeso, dá qual foi Tucídides o historiador, como He-ródoto o foi das guerras pérsicas. Durou 27 anos, desde que em 43 1 a. C. o exército do Peloponeso assolou a Ática retirando-se os atenienses ao abrigo dos seus muros. No ano imediato nova invasão e durante dez anos tantas ruínas se acumularam, distinguindo-se essa guerra civil pela sua ferocidade, que não conhecia quartel rara os prisioneiros, e tão pouco decisivos foram os resultados ob-tidos, que o armistício se impôs. A fome e a peste acompanharam a sangueira, sendo até vítima da peste o grande Péricles (429 a. C).

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