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O poderio de Atenas

As vitórias de Salamina e de Platea tinham enchido de confiança e de orgulho cs atenienses. Logo surgiu Ésquilo a celebrá-las na forma dramática, e os dois chefes, Temístocles e Aristides, no intervalo da segunda para a terceira guerra, organizaram o poderio militar e naval de Atenas num virtual desafio a Esparta, cujos ciúmes entraram a pronunciar-se. Aqueles dois chefes, o último dos quais faleceu pobre e impoluto, ao passo que o primeiro manchou com o peculato e a traição os seus derradeiros dias, rematados pelo suicídio de acordo com a versão corrente, organizaram igualmente o poderio político da sua pátria mediante a chamada confederação de Delos.

A confederação de Delos

Tinha esta confederação por fito expresso acabar de libertar as cidades gregas em peder dos persas. Formavam-na, sobre um pé de igualdade, Estados independentes — as cidades jônias e eólias da Ásia Menor, da Calcídica e do Mar Egeu, tendo sido excluída Esparta, com seus aliados do Peloponeso, por motivo da traição de Pausânias, quando em comando da frota aliada. Para o tesouro de guerra contribuía cada membro da liga: as contribuições de defesa eram a princípio sob a forma de navios por parte dos Estados maiores e sob a forma de dinheiro por parte dos Estados menores. Aristides, presidente da liga, fixava esse rateio, mas depois as contribuições assumiram todas a forma pecuniária. Atenas recebia o dinheiro e construía os navios, o que quer dizer que edificava sua própria marinha.

Hegemonia ateniense

Dispondo assim a seu falante do tesouro da confederação, Atenas colocava-se num plano superior às demais cidades, reduzindo Estados associados com ela a tributários e súditos, criando a seu favor um imperialismo e não duvidando mesmo, no dizer estimulado por Esparta, aplicar o dinheiro nos embelezamentos da Acrópole, como o aplicou na construção da muralha ligando Atenas ao Pireu. De fato o tesouro fora removido de Delos para Atenas e distraídas importâncias dele para obras alheias ao propósito primitivo. Entretanto membros recalcitrantes da liga fundada em 477 a. C. eram compelidos a ficar dentro dela, fornecendo seus contingentes de homens, dinheiro e navios.

Os ciúmes de Esparta

Assegurando sua grandeza contra os ataques externos, não logrou todavia Atenas realizar seus desígnios de exclusiva preponderância peninsular. Os ciúmes de Esparta foram aumentando, e a metrópole do Peloponeso tratou de robustecer Tebas e de ajudar o partido aristocrático em várias cidades da Beócia. Cimão, chefe dos aristocratas atenienses e um dos almirantes que tinham libertado as cidades e ilhas gregas, era pela dualidade da hegemonia, Esparta imperando em terra e Atenas no mar. Rompia-se o projeto pan-helênico, permanecendo as duas confederações rivais. Péricles, à testa do partido popular, queria suprema a autoridade de Atenas nos dois elementos. Cimão viu-se condenado ao ostracismo, arma política facilmente manejada, mas o seu adversário teve que celebrar com Esparta a trégua dos trinta anos (445 a. C), por virtude da qual ficava cada uma das duas cidades à testa da sua respectiva confederação sem interferir com as aliadas da outra.

Vaso grego do séc. VI a. C. Museu Arqueológico de Florença.
Vaso grego do séc. VI a. C. Museu Arqueológico de Florença.

O governo de Péricles. As reformas de Péricles

Os quatorze anos que se seguiram (445-431 a. C.) foram de singular grandeza e prosperidade para Atenas; constituíram sua idade de ouro personificada em Péricles, o qual deu seu nome ao século em que viveu, como Augusto o daria em Roma, Leão X na Itália e Luís XIV em França. O prestígio de Péricles foi o do talento, do saber e da eloqüência: nunca exerceu outra ditadura, contentando-se com o cargo de estratego ou general. Antes dele, Aristides abolira a condição da fortuna para o exercício das magistraturas: Péricles porém, para tornar iguais as vantagens para todos e assegurar a participação de todos os cidadãos na vida política, social e intelectual da comunidade, confiou ao sorteio a escolha de todos os funcionários, salvo os estrategos, e estabeleceu tanto as soldadas militares como os salários civis.

O grande júri

Apesar dos serviços prestados pelo aerópago nas crises que atravessara o Estado, foi êle despido de importantes faculdades, distribuídas por juntas e cortes de caráter popular. Seis mil cidadãos, recebendo todos sua espórtula, formavam por sorteio o grande júri. Era um terço da população masculina da cidade, que talvez nunca chegasse a mais de 20 000. Mil ficavam de reserva; os 5 0D0 eram divididos em dez seções, de 500 jurados cada uma, que se chamavam dicastérias. De ordinário os casos eram julgados por um júri de 200 a 400, mas quando o caso era grave o número se elevava a 2 000 e mais. Não havia apelação, portanto nem revisão nem anulação para as decisões tomadas sobre as causas que não só eram as dos cidadãos atenienses entre si, como de muitas das cidades do império ateniense.

Democracia imperial

Péricles reinava de fato sobre uma democracia imperial. Ao começar a guerra do Peloponeso, os atenienses eram seus próprios juízes e censores, além de legisladores, vivendo quase todos os cidadãos às custas do erário, recebendo vencimentos, tendo teatros e outras diversões gratuitas e banquetes públicos nos dias de festa, trabalhando por eles os escravos. Péricles favorecia essa extrema democratização, manifestada numa completa liberdade política, porque o povo possuía um perfeito conhecimento dos negócios públicos pel" experiência que tinha de tratá-los. Reduzindo o areópago à esfera criminal, êle aumentou para quinhentos a composição do conselho, cujas propostas iam à deliberação da assembléia total reunida no Agora ou praça pública.

As funções da Heliea

Ao lado desta assembléia popular, aquela outra, de algum modo executiva, posto que fossem os estrategos os verdadeiros magistrados da cidade, funcionava sobretudo, como um tribunal, se não infalível, incorrutível, pelo avultado número de 5 000 dos que o formavam. Era chamada a Heliea e heliastas os seus membros, investidos, além das já apontadas atribuições judiciárias, de um poder efetivo sobre as autoridades, que exerciam por meio da fiscalização na aplicação das leis, da sua interpretação, isto é, da sua harmonia ou desarmonia com o interesse público, e da punição dos seus transgressores.

Os ricos e as liturgias

Aos ricos, privados dos seus antigos privilégios, ficava a satisfação cívica de custearem a administração, as diversões e a segurança, o que se chamava as liturgias, abrangendo o equipamento da esquadra, a montagem dos espetáculos públicos ou coregia e a dos grandes jogos nacionais.

Artes e letras. As Panateneias.

A época foi de intenso brilho artístico e literário. Ajudado pelo gênio de Fídias, Péricles ergueu sobre a colina da Acrópole essa obra-prima da arquitetura helénica, o Partenão, a meio de outros templos, de colunadas e de estátuas, numa profusão em que havzi contudo sobriedade e na qual se distinguia a grave coluna dórica sustentando o frontão sobre o seu capitel severo, despido de ornatos. Foi ela a precursora da elegante coluna jónica, com seu capitel de graciosas volutas, e da coluna coríntia, muito mais ornada, com seu capitel de palmas de acantos, que veio a assinalar na arquitetura o fausto que se apossara dos costumes. Era o Partenão o santuário de Palas ou Minerva, cuja estátua, trabalho de Fídias como a de Zeus ou Júpiter no templo de Olímpia, tinha 15 metros de altura, sendo de marfim o rosto e as carnes, de ouro as armas, os cabelos e as vestes e de pedras preciosas os olhos. A ponta da lança servia, diz a lenda, de farol aos navegantes, como hoje o facho da liberdade no porto de Nova York.

Moedas gregas de Siracusa.
Moedas gregas de Siracusa.

O Partenão

Recebia a deusa as ofertas da procissão das Panateneias, que se acha reproduzida no friso do Partenão. Precedidos pelos pontífices, velhos augustos de calma compostura, subiam a vasta escadaria e transpunham o propileu os delegados das cidades aliadas, as bordadeiras do véu de ouro de Palas, desfraldado no mastro da embarcação sagrada, os atletas, os carregadores de vasos de prata e ouro.

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