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Continued from: A CIVILIZAÇÃO HELÊNICA

Os pelagos. A guerra de Tróia

A guerra de Tróia deu origem a um ciclo inteiro de mitos e de lendas. Foi a primeira confederação formada na Grécia para combater estrangeiros. A Ziíada de Homero canta todas as peripécias dessa liga organizada, segundo essa epopéia, para desafrontar o rei Menelau de Esparta, cuja linda mulher, Helena, fora raptada por Paris, filho do rei Príamo. Parece entretanto averiguado que o Heles-ponto foi teatro da expedição grega por motivo de um tributo de passagem, que Tróia queria cobrar sobre a navegação grega. Os rapsodas gregos que recolheram e de cidade em cidade repetiam as poesias homéricas, já teriam porém esquecido a razão mercantil no seu entusiasmo épico. O passado heróico e mesmo a invenção mitológica acham-se em íntima associação com a história helénica, porque um e outra amoldaram a mentalidade nacional.

Os tempos homéricos

Nos tempos homéricos preponderavam os aqueus. Outras tradições gregas, aliás das mais sugestivas, como a do fado sangrento dos Atridas ensangüentando Argos; a do velhaco Ulisses, rei de ítaca, peregrinando pelo mundo à mercê de um destino adverso como o relata a" Odisséia, enquanto a fiel Penélope se defendia contra os aspirantes à sua mão; a do rei Minos, primeiro distribuidor de justiça, amador de labirintos e talvez de sofismas, padrasto do Minotauro ávido do tributo de tenras carnes palpitantes de mancebos e donzelas; a de ícaro elevando-se nos ares como um aeroplano moderno, mas deixando inadvertidamente derreter-se ao calor do sol a cera que lhe grudava as asas, do que resultou o tombo fatal, pertencem a essa fase heróica da história helénica anterior à invasão dórica, à qual se atribui a data de 1100 a. C.

Partida de Aquiles. Pintura de uma âniora.
Partida de Aquiles. Pintura de uma ânfora.

O culto do lar e o antropomorfismo. Perseu

Durante essa fase, ao contato de pelasgos e helenos, cujo advento se calcula haver ocorrido aproximadamente no século XVI a. C, cristalizaram-se as lendas pátrias e arquitetou-se a mitologia antropomórfica que sucedeu ao culto do lar, pelo qual eram os antepassados convertidos em divindades protetoras da família.’ Assim JPer-seu, filho de Zeus e Danaé, fecundada pela chuva de ouro em que se transformou o pai dos deuses/ herói ou semideus que cortou a cabeça de Medusa, cujo olhar petrificava quantos a encaravam, foi um herói pelásgico, pois que fundou Micenas, mandou levantar pelos ciclopes os seus muros de toscos blocos sobrepostos.

Teseu e o fio de Ariadne. Hércules

Teseu pelo contrário, o grande ateniense que libertou a sua cidade da exação macabra do monstro humano com cabeça de touro, que se escondia no labirinto construído por Dédalo, era já heleno e o provou ser, no espírito ao menos, pela versatilidade, inspirando paixão a Ariadne, servindo-se para deparar com o Minotauro do fio que ela lhe forneceu e abandonando-a uma vez realizada a façanha. Para tirá-lo do inferno, foi preciso que outro herói, o maior da série, nascesse de outra fraqueza divina, encarnando a força física e concretizando nas suas doze proezas — as proezas de Héracles ou Hércules — a obra destruidora dos obstáculos à civilização.

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O princípio democrático na Grécia

A Grécia ensinou à Europa o que é democracia. Já foi dito com justeza que a história das antigas civilizações asiáticas é uma história de dinastias, ao passo que a das antigas civilizações européias é uma história de povos, governando-se por si. A princípio, os pequenos Estados gregos tinham seus reis hereditários, de caráter patriarcal, reunindo funções militares, religiosas e judiciais; mas no seu seio se abriram lutas de classe, aristocráticas e populares, e delas se derivou o governo representativo, não porém sem uma regular evolução.

Evolução política de Atenas

Em Atenas por exemplo, comunidade-tipo na democracia helénica, deu-se a mudança de sistema por ocasião da invasão do Pelopo-neso pelos dórios (em data por alguns fixada em 1045 a. C.), passando a suprema magistratura, cujo último titular dinástico, Codro, caíra defendendo a cidade, a ser exercida por um rei eleito dentre os nobres e vitalício, logo após decenal, e por fim (683 a. C.) por nove arcontes renovados anualmente, uma espécie do Conselho Federal suíço. Por esse tempo os jônios se retraíram na Ática, os aqueus vieram para o norte do Peloponeso, para a Hélade propriamente dita ou Grécia central, espraiando-se os eólios.

Penélope com Telêmaco. Pintura de um esquile de Chiusi. Séc. V a. C.
Penélope com Telêmaco. Pintura de um esquile de Chiusi. Séc. V a. C.

De fato, os eupátridas ou dominadores jônios, raça ilustre que fornecera os reis de Atenas, não se despojaram senão nominalmente do poder.

O areópago

O areópago vitalício era constituído por ex-arcontes, portanto formava uma corporação aristocrática: velava pela observância das leis e julgava e punia os transgressores, sem que houvesse apelação das suas sentenças. Nas suas mãos se achava, pois, a autoridade realmente efetiva no Estado ateniense do início do período histórico.

A oligarquia eupátrida e e legislação draconiana

A oligarquia eupátrida era possuidora do melhor do solo ático e os rendeiros e dependentes viviam num estado de servidão, vendidos como escravos no caso de não poderem pagar as rendas cobradas em produtos. Nem era superior à déles a condição dos pequenos proprietários, economicamente impotentes e sem participação política no governo. Dracon, encarregado pelos eupátridas, apreensivos com o descontentamento que sentiam avolumar-se em redor de si, de codificar a legislação até então não escrita e portanto aplicada um tanto a esmo, compilou as leis existentes, punindo de morte o menor roubo e deixando sem modificação a descaroável situação dos devedores.

Paris como pastor nas monfanhas de Ida. Pinfura de um vaso, 525 d. C.
Paris como pastor nas monfanhas de Ida. Pinfura de um vaso, 525 d. C.

Os tírenos

As dissenções intestinas causadas pelas prepotências das oligarquias entraram não raro a provocar o aparecimento de tiranos, que não eram forçosamente governantes cruéis, significando o nome que sua autoridade era ilegal. Geralmente eram os tiranos aristocratas que tomavam o partido do povo e que o povo favorecia. Por via de regra seu prestígio era de curta duração e matar um tirano passou depressa a ser ato de civismo. Em Atenas foram tiranos Pisístrato (560-527 a. C.) e Péricles (445-431 a. C.), este último porém tirano por persuasão e prestígio moral.

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