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Causa das guerras pérsicas

A causa imediata das guerras médicas ou antes, pérsicas, foi a revolta da Jônia, a saber, das colônias gregas da Ásia Menor, ajudadas por Atenas, contra a suserania persa que com Ciro se estendera até o litoral do Mar Egeu. Essas colônias tinham sido conquistadas pelo rei da Lídia, Creso, e com êle caíram sob o domínio do conquistador persa. A situação para a Grécia foi se tornando crítica e intolerável. Não só sua expansão se via tolhida, como sua própria existência ficava ameaçada. Após as cidades da Ásia Menor, as do litoral africano do Mediterrâneo, de origem helénica, a Trácia, a Macedónia, as ilhas adjacentes e o Helesponto foram sucessivamente absorvidas pelo mesmo poderio. O Mar Egeu convertera-se afinal num lago persa.

Revolta da Jônia e desforço de Dario

Vencedora a começo do sátrapa da Lídia, a revolta da Jônia foi abafada, se bem que com demora, quando Dario mandou maior número de tropas. Destroçadas as forças rebeldes e saqueadas as cidades, seus habitantes foram mortos, os combatentes, e os outros levados em cativeiro para além do Eufrates. Instigado pelo filho de Pisístrato, que buscara refúgio na sua corte, o grande monarca persa resolveu porém tirar desforço da própria Grécia. Receosas das conseqüências de uma recusa, várias ilhas e muitas cidades da península aquiesceram em reconhecer a soberania de Dario, mas Atenas e Esparta repeliram toda idéia de sujeição.

O revés de Maratona

Uma primeira expedição (492 a. C.) foi destroçada no mar por um temporal, à vista do Monte Atos, perdendo o inimigo 300 embarcações, e em terra pelos trácios. Outra expedição, que veio através das Cíclades, desembarcou na Ática, somente para sofrer o grande revés da planície de Maratona, uma Aljubarrota grega, em que 10 000 atenienses e 1 000 platenses bateram 120 000 persas, tendo Milcíades, o general de Atenas, protegido os flancos do seu exército contra a cavalaria adversa por meio de troncos de árvores adrede abatidas (490 a. C).

A defesa de Atenas. Temístocles c Aristides

Certo de que os persas não deixariam de querer lavar o ultraje, Temístocles, chefe democrático, que dominava em Atenas, organizou a defesa e sobretudo cuidou da resistência naval mesmo para evitar um cerco terrestre e a rendição pela fome. Data de então o porto do Pireu. O sea poxver fazia na história sua aparição dramática, amparada pela religião, pois que o oráculo de Delfos predissera que Atenas se salvaria "por meio de muralhas de madeira". Assim pelo menos interpretou Temístocles o dito oracular, no qual pretendiam outros ver um conselho para se refugiarem os atenienses na floresta ou na Acrópole, que fora outrora protegida por uma estacada. Aristides, o justo, chefe aristocrático, opunha-se à política naval: foi por isso banido, sendo-lhe aplicada a lei do ostracismo por 6 000 votos. Nas ocasiões de perigo as democracias geralmente confiam seus destinos a uma vontade única.

A expedição de Xerxes e a resistência grega

Xerxes, filho de Dario, fêz durante dez anos preparativos gigantescos de desforra, entre outros um canal para evitar o tormentoso promontório do Monte Atos e uma dupla ponte de barcas através do Helesponto. Escreve Heródoto que a chamada "Grande Guerra" foi empreendida pelos persas cem 1 200 navios e dois milhões de homens, cálculo que já foi reduzido a 600 000 combatentes. Sabedor dos preparativos em tão larga escala, Temístocles pensou em oferecer uma resistência de conjunto e para isto reuniu em Corinto (481 a. C.) um conselho que não deu grande resultado. Argos não quis fazer parte da liga por ódio a Esparta, Tebas por ódio a Atenas, outras cidades por motivos vários. Apenas 15 ou 16 Estados se congregaram e mesmo assim enfraquecidos pelo espírito de facção que os dilacerava. O próprio oráculo mostrava-se tímido.

As Termópilas

A chefia fora atribuída a Esparta. Os persas desceram pela Trácia, Macedónia e Tessália. No desfiladeiro das Termópilas, ao norte da Beócia, entre o monte AEta. e o pântano que beira o Golfo de Malis, os aguardavam 300 espartanos e 6 000 aliados, que durante dias se sustentaram, repelindo os assaltantes. Um traidor grego conduziu porém os persas por um atalho sobre a montanha, permitindo-lhes atacarem a retaguarda do corpo de defesa. Leônidas, rei espartano, mandou retirar os seus aliados, dos quais 700 quiseram contudo compartilhar a sorte dos 300 lacedemônios, sendo todos massacrados até o último.

Jovem carregando um bezerro ao altar de sacrifícios. Escultura grega do séc. IV a. C. Museu da Acrópole, Atenas.
Jovem carregando um bezerro ao altar de sacrifícios. Escultura grega do séc. IV a. C. Museu da Acrópole, Atenas.

Batalha Naval de Salamina

A Ática íoi abandonada ao invasor esvaziando-se suas cidades, e Atenas foi ocupada e destruída, mas a fortuna sorriu quase milagrosamente aos gregos nas águas de Salamina. As numerosas embarcações persas — 750 ao que se diz — moviam-se com dificuldade no estreito formado pela ilha de Salamina e por um promontório da Ática, onde a astúcia grega conseguira localizar a peleja. Aí, as pequenas embarcações atenienses — umas 380, segundo se calcula, na maior parte trirremes — valendo-se habilmente do esporão, laceraram-lhes os flancos e arremessaram umas sobre as outras ao ponto de se desconjuntarem e umas 200 juncarem o mar de seus destroços. A derreta foi completa e a carnificina medonha. Xerxes retirou-se para a Ásia, deixando um exército de 300 000 homens sob o comando de Ivíardônio, genro de Dario, o qual invernou na Tessália, devastou de novo a Ática e fixou-se na Beócia, perto de Tebas.

Combate de Platea

Tomando a ofensiva, foram os gregos atacá-lo com 110 000 homens (há quem diga 70 000) dos quais 38 000 de infantaria pesada ou hoplitas, comandados pelo rei espartano Pausânias e por Aristides, de volta do exílio (479 a. G). Travou-se a batalha em Platea, sendo funesta aos persas. Ao mesmo tempo uma vitória naval ganha no Caba Micale, na Jônia, restituiu à liberdade as ilhas do Mar Egeu e o Helesponto. Decidiram então os gregos ir combater o inimigo no seu próprio território, guiados por Cimão, filho de Milcíades. Foi esta a terceira das guerras pérsicas, na qual foi submetida grande parte da Trácia, novamente desbaratada a esquadra persa perto de Chipre e vencido o exército persa, no solo ainda virgem de invasores europeus. O tratado celebrado em 449 a. C. entre Cimão e Artaxerxes I estabelecia como o melhor testemunho do triunfo alcançado, que os persas não poderiam mais ocupar nem aproximar suas tropas das colônias gregas da Ásia Menor, nem tampouco ameaçar com suas esquadras as ilhas do Mar Egeu, que passou a constituir um lago helénico.

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