Curso de Filosofia – Régis Jolivet
Capítulo Segundo
DO MÉTODO EM GERAL
ART. I. NOÇÃO
DO MÉTODO
I. Definição. — No seu sentido mais geral,
o método e a
ordem que se deve impor aos diferentes processos
necessários para atingir um fim dado. Se
nos colocamos no ponto-de-vista do conhecimento dir-se-á, com Descartes, que o método é "o
caminho a seguir para chegar à verdade nas ciências".
Importância do método. — Esta importância é evidente.
O método tem como fim disciplinar o espírito, excluir de suas investigações o
capricho e o acaso, adaptar o esforço a empregar segundo as exigências do
objeto, determinar os meios de investigação e a ordem da pesquisa. Ele é, pois, fator de segurança e economia.Mas não é o suficiente a si mesmo, e Descartes exagera a importância do
método, quando diz que as inteligências diferem apenas pelos métodos que
utilizam. O método, ao contrário, exige, para ser fecundo inteligência e
talento. Ele lhes dá a potência, mas não os substitui
jamais..
Art. II. DIVISÃO
Podemos distinguir diferentes espécies de métodos. Os
principais são seguintes:
1. Método de invenção e método de ensino. — Diz-se por vezes que estes dois método se opõem
porque o primeiro procede por indução e o segundo por dedução. Na realidade,
se é verdade que a descoberta se faz na maior parte dos casos por indução (ou análise e o ensino por dedução (ou
síntese), o inventor e o mestre deverão, contudo, utilizar ou dois
processou. Ensinar uma ciência é, num sentido, conduzir o aluno a
reinventá-la por sua própria conta. Do mesmo modo, inventar é freqüentemente
deduzir de uma verdade geral conseqüências não percebidas.
2. Método
de autoridade e método científico.
a) Definições. O método de autoridade é
aquele que, para. fazer admitir uma doutrina, se baseia na autoridade, quer
dizer, no valor intelectual ou moral daquele que a propõe ou professa.
Ele é comum em matéria de fé, em que se crêem nos mistérios pela autoridade de
Deus revelador. — O método científico é aquele que procede por
demonstração e recorre ao critério da evidência intrínseca.
b) Autoridade e razão. O método de autoridade
faz, também,, apelo à razão, quando mostra que as verdades a crer têm garantias
tão certas que a razão pode inclinar-se, na convicção de obedecer apenas à
força da verdade (Evidência extrínseca). Pode ter, portanto, um caráter
científico também.
Quando se trata, todavia, da autoridade humana, se
é sábio, levar em conta as opiniões daqueles a quem o seu gênio, seus trabalhos,
sua vida, recomendam ao respeito de todos, não bastará que nos contentemos em
adotar estas opiniões sem crítica nem reflexão (como faziam os discípulos de PITÁGORAS,
que se limitavam; a dizer, para provar suas doutrinas: "O Mestre
disse"). Este método conduziria, de uma parte, à estagnação da ciência,
e, de outro, levaria a conferir às autoridades humanas uma infalibilidade que
não lhes pertence. O recurso à autoridade humana não pode, pois,, intervir a
não ser para guiar a pesquisa ou para confirmar as asserções demonstradas por
outros, segundo as exigências científicas.
3. Método experimental e método racional. — O
método experimental se apóia nos fatos da experiência. Este é o método das
ciências da natureza, que partem dos fatos e admitem apenas o critério da
verificação pelos fatos. — O método racional é aquele que, a partir dos
fatos (filosofia), ou a partir de proposições admitidas a priori como
evidentes por si (matemáticas), procede por dedução ou indução, em
virtude das exigências unicamente lógicas e racionais.
4. Métodos de construção e de sistematização. –
Estes métodos tendem a facilitar a organização do saber em sistemas ou
teorias, de tal modo que o encadeamento das idéias reproduza o encadeamento
das coisas.
ART. III. A DÚVIDA METÓDICA
43 1. Necessidade da dúvida metódica. — Diz-se
muitas vezes que para bem saber é necessário saber bem duvidar. De fato,
toda ciência sendo uma crença raciocinada, supõe em seu princípio um estado
em que o espírito suspende o seu assentimento às certezas espontâneas, abandona
seus preconceitos, a fim de não ceder senão à evidência do verdadeiro. Tal é a
dúvida metódica.
2. Limites da dúvida metódica. — A dúvida, mesmo
simplesmente metódica, jamais poderá ser universal, porque existem
certezas cuja evidência é tal que não podem ser recusadas, mesmo ficticiamente.
Tais são a evidência de nossa existência e a dos primeiros princípios da razão.
Quem quisesse colocar em dúvida estas evidências nada mais poderia demonstrar.
Toda demonstração parte necessariamente de um certo número de princípios, que
sim indemonstráveis, não por falta de clareza, mas por plenitude de evidência.
Diz-se que estes princípios são evidentes por si.
ART. IV. PROCESSOS GERAIS DO MÉTODO: ANÁLISE E
SÍNTESE
§ 1. Noção
44 1. Análise e divisão. Síntese e adição. —
Vimos mais acima (28) que a demonstração se apóia no necessário, isto é, na
essência e nas propriedades das coisas. Ora, chegamos ao conhecimento preciso
das essências ou naturezas e das propriedades apenas por meio da análise, quer
dizer, de uma operação que tende a discernir num todo complexo o que é
essencial e o que é acidental. A síntese se acrescenta à análise como um
meio de verificação dos resultados desta.
A análise é, pois, uma divisão; e, a síntese,
unia composição. Mas o uso tende reservar o nome de análise às diferentes
formas da divisão e o nome de divisão à distribuição de um todo em fragmentos
ou partes integrantes (que poderá ser reconstituído por um processo que será,
não uma síntese, mas uma adição). Assim, divide-se uma barra de ferro em
fragmentos homogêneos e a reconstituímos na forja com estes fragmentos. Em
outras palavras, a análise e a síntese visam estabelecer relações, enquanto
que a divisão e a adição se referem apenas à quantidade e se exprimem por um
número: água == H2O (análise que dá a relação de H e de O). a
água deste reservatório = 1.000 litros (adição ou divisão).
2. Definições. — Definir-se-á então em geral a análise como a resolução de um todo em suas partes ou como a passagem do
complexo ao simples, e a síntese como uma composição que consiste em ir das
partes ao todo ou como a passagem do simples ao complexo.
§ 2. Espécies
1. Análise e síntese experimentais. — A análise e a
síntese experimentais (ou reais) consistem em ir do composto aos
elementos componentes, ou dos elementos ao todo complexo, que eles compõem. Elas se referem, então, ao ser real. Mas nem sempre são realizáveis
fisicamente; pode-se decompor a água em O e 2H e recompô-la no eudiômetro a
partir de O e 2H; mas só mentalmente se pode decompor a alma em suas
faculdades.
2. Análise e sínteses racionais. — Consistem em ir,
primeiro, dos efeitos às causas, dos fatos às leis que as regem, das idéias
menos gerais às mais gerais (por exemplo, do indivíduo à espécie, da
espécie ao gênero), — a segunda, dos princípios às conseqüências, das causas
aos efeitos, das idéias mais gerais às menos gerais. Elas se referem,
então, aos seres ideais ou lógicos e podem ser feitas apenas
mentalmente. Utilizam-se, sobretudo, em Matemática e Filosofia.
§ 3. Regras
de Emprego
45 1.
As regras cartesianas. — Descartes resumiu
no Discurso do Método as regras de emprego da análise e da síntese.
Estas regras são as seguintes:
a) a análise
deve ser completa. Devo de fato visar a distinguir
com o máximo de precisão possível todos os elementos
que compõem o objeto estudado, quer este objeto seja mental, como uma
idéia, ou físico, como a água em que o químico desdobra em 0 e 2H.
b) A síntese deve ser gradual. "Conduzir
por ordem meus pensamentos, começando pelos objetos mais simples e mais fáceis
de conhecer, para chegar pouco a pouco como por graus até ao conhecimento dos
mais complexos." O que equivale a dizer que é sempre necessário, por
referência à análise anterior, recompor o objeto segundo a ordem que
estabelece um elo de dependência e como que uma hierarquia entre os elementos
componentes.
2. O controle mútuo. — Análise e síntese devem
caminhai’ unidas, porque elas se controlam uma pela outra. A análise, se
empregada exclusivamente, acarretaria o risco das simplificações temerárias. O
exclusivo recurso à síntese tenderia, por seu lado, a favorecer as construções
prematuras e arbitrárias. A análise ajudará, portanto, a prestar sínteses
objetivas e a corrigir as sínteses artificiais. A síntese permitirá verificar
se a análise foi completa.
§ 4. ANÁLISE E INDUÇÃO. SÍNTESE E DEDUÇÃO
Podemos agora discernir em que se assemelham e diferem
a análise e a indução, a síntese e a dedução.
1. Análise e indução. — A indução é uma espécie
de análíse, uma vez que decompõe o objeto complexo, dado à experiência, com
o fim de apreender nele a essência, a natureza, a causa, o principio ou a lei.
Nos dois casos, estamos em face de um processo regressivo, isto é, inverso da
ordem natural, no qual as partes silo (ao menos logicamente) anteriores ao
todo, e o simples anterior ao complexo.
2. Síntese e dedução. — A dedução é uma espécie
de síntese, uma vez que a consiste em ir dos princípios às conseqüências, o
que é uma composição, ou seja um processo progressivo, conforme h ordem natural
das coisas.
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