Deus e o Mundo – Curso de Filosofia de Jolivet

Curso de Filosofia – Régis Jolivet

TERCEIRA   PARTE – DEUS E O
MUNDO

Os diferentes problemas
provenientes das relações de Deus e do universo são os da distinção de Deus
e do inundo,
— da criação da Providência,

CAPÍTULO   PRIMEIRO

DISTINÇÃO  DE  DEUS  E DO
MUNDO

ART. I.    O PANTEÍSMO

223 1. As diferentes
formas do panteísmo. — A existência de um Deus pessoal, absolutamente distinto
do universo, é contestada pelo panteísmo (etimològicamente: Deus é o Todo ou o
Todo é Deus). Podem-se distinguir três formas diferentes sob as quais o panteísmo
foi proposto pelos filósofos:

a)         Panteísmo emanatista. Esta concepção é a de Plotino, segundo a qual Deus, ou o Uno primitivo, gera
necessariamente, em virtude de sua própria natureza, todos os seres do
universo.
Todo o universo emana (ou sai), pois, de Deus e não é mais do que
uma espécie de explicação de Deus. Este panteísmo absorve Deus no mundo.

b)         Panteísmo realista. Spinoza repudia o sistema emanatista que lhe parece não
salvaguardar bastante a absoluta identidade de Deus e do mundo. Para Spinoza não existe senão uma única
Substância, um único Ser, de que o universo e os seres singulares que o
compõem são apenas a manifestação.
Poder-se-ia dizer que não são mais do
que fenômenos de Deus. Spinoza absorve,
então, o mundo em Deus.

c)         Panteísmo evolucionista. É a doutrina daqueles para quem Deus está no termo
da transformação universal.
Deus não é, mas se faz. Ou, se ele é, não é
mais do que a força imanente que move o mundo pelo interior e dirige a sua
evolução. Esta doutrina foi, por sua vez, proposta sob formas diversas,
sobretudo pelos filósofos alemães do século XIX (Fichte, Schelling, Hegel, Schopenhauer).

224      2. Discussão
do panteísmo. — De qualquer forma que se apresente, o panteísmo não apenas se
exclui pelos resultados positivos da demonstração da existência de Deus e dos
atributos divinos mas ainda encerra em si mesmo uma tal soma de dificuldades
que não chega mesmo a propor-se de uma forma inteligível. Assinale mos as
principais dificuldades.

a)         O panteísmo é contraditório em
si mesmo.
Com efeito, identifica o
perfeito e o imperfeito, o finito e o infinito, o contingente e o necessário.
Um único e mesmo ser não pode estar submetido à desgraça lógica de ter atributos
tão incompatíveis entre si.
Um círculo quadrado seria mais fácil de
conceber.

b)         O panteísmo vai contra a
experiência.
A experiência nos impõe,
com a mais expressa evidência, o sentimento de nossa personalidade, quer
dizer, de nossa qualidade de sujeitos autônomos, livres e responsáveis. Ora,
como seria este sentimento possível se não fôssemos realmente distintos de
Deus, ou se Deus fosse real apenas em nós e para nós?

c)         O panteísmo se choca com a
realidade moral.
Ele termina
fatalmente por justificar tudo o que é. Se tudo é Deus, ou se Deus se
confunde com o mundo, tudo o que ocorre é a um tempo necessário e bom.
A
distinção do bem e do mal fica sem sentido (e inexplicável) e ao mesmo tempo
se esvanece a idéia de responsabilidade pessoal.

d)         O panteísmo evolucionista faz
surgir o ser do nada. A
idéia de um
Deus que se faz pouco a pouco, pela ação do vir-a-ser universal, consiste em
colocar o menos como fonte do mais, o nada como o princípio do ser, sem falar
do absurdo que existe em supor uma ordem que se faz sozinha, uma
evolução que se desenrola por si mesma, sem ser governada nem dirigida. Ê muito
pouco dizer que estas teorias são falsas. Elas são literalmente impensáveis.

ART. II.    IMANÊNCIA  E TRANSCENDÊNCIA

225        Devemos,
então, restringir-nos às provas pelas quais Deus nos aparece como absolutamente
distinto do universo e transcendendo este universo. Mas, de uma parte, convém
compreender bem que a transcendência de Deus não suprime a imanência (ou
presença) de Deus no universo, e, de outra parte, é necessário compreender
exatamente o alcance destas noções de transcendência e imanência,

1.    A imanência
divina. — Deus, sendo necessariamente primeiro Princípio, Causa universal, deve
estar presente a tudo o que é,
e deve mesmo estar mais presente nos
seres do que eles em si mesmos,
uma vez que eles não existem e não
subsistem senão pelo efeito de um contínuo influxo do poder criador. Devemos,
por isso, dizer, com toda a verdade, com SÃO Paulo,
que "em Deus temos a vida, o movimento e o ser".

A imanência não deve
ser então imaginada como uma espécie de mistura do Ser divino com as coisas
criadas. É necessário concebê-las como um modo de presença espiritual, irredutível
às presenças corporais, e por isto mesmo infinitamente mais profunda e mais
envolvente.
                                    

2.    A transcendência divina. — A imanência divina
não deve fazer negligenciar a transcendência, quer dizer a absoluta independência
de Deus em relação ao mundo, e o soberano domínio de Deus sobre todo o universo.
É então necessário preservar-se de representar a transcendência divina
como uma exterioridade espacial e material, como se a absoluta distinção de
Deus e do mundo implicasse numa justaposição do mundo e de Deus. A noção de
transcendência não significa nada disto, mas essencialmente a independência
absoluta, a perfeita asseidade
de Deus (ou propriedade de existir
necessariamente, por si, a se).

3.    Imanência e transcendência são igualmente
necessárias. —

Com efeito, imanência e transcendência são dois
aspectos igualmente inevitáveis de uma noção de Deus conforme ao que exigem a
um tempo a experiência e a razão. Sem a imanência, Deus seria-, estranho ao
universo,
e Ele não seria, por conseguinte, nem infinito, nem perfeito: a
idéia de Deus se torna contraditória. Sem transcendência, Deus é idêntico
ao universo,
e de novo aparece come* imperfeito, potencial e em transformação. A noção de Deus se torna ainda contraditória.

 

ART. III.      DEUS É UM SER PESSOAL

226       1. Noção de
um Ser infinito pessoal. — Tudo o que acabamos de ver nos leva a reconhecer
que Deus, se existe, não pode ser senão o Ser infinito, radicalmente distinto
do universo que criou e que conserva por um ato de vontade livre, e, por
conseguinte, que Deus é um Ser que chamamos, por analogia, pessoal, quer
dizer, ura Ser  subsistente, inteligente e  livre.

Como, de resto, seria possível
que o Princípio de que procedem, no universo, cs sujeitos inteligentes e
livres, as almas que aspiram a gozar da verdade absoluta e da felicidade sem
fim, fosse alguma realidade impessoal inconsciente e dominada por um
determinismo fatal? Haveria aí uma insustentável contradição.

227       2. O antropomorfismo. — Não podemos escapar,
desde que pensemos em Deus e falemos de Deus, ao antropomorfismo, uma vez que
não podemos pensar em Deus e falar de Deus a não ser com o auxílio de
conceitos, tomados do sensível. O antropomorfismo, por outro lado, pode ser
precioso para a consciência religiosa, ;uma vez que dá um certo ponto de apoio
à alma humana, que tem necessidade de imaginar aquilo que pensa. Mas é necessário
que ele se conheça, como tal, e que o neguemos ao utilizá-lo.
Deus não é
Ser pessoal como nós; Ele não tem corpo; a inteligência e a vontade não são, n’Ele,
o que são em nós. E, n’Ele, não existem senão distinções virtuais, apoiadas na
infinita riqueza de sua essência, mas transformadas por nossa razão discursiva
em multiplicidade real. Deus nos ultrapassa ao infinito.

 

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