PSICOLOGIA, introdução – Curso de Filosofia de Jolivet

Curso de Filosofia – Régis Jolivet

PSICOLOGIA

PRELIMINARES

Capítulo Primeiro

OBJETO,   MÉTODO   E   DIVISÃO   DA   PSICOLOGIA

ART. I.    OBJETO

88        Etimologicamente,
a Psicologia é o estudo da alma. Pode-se conservar sem inconveniente
esta definição, sob a condição de compreender que a alma não pode ser
encontrada e conhecida a não ser nas e pelas manifestações diversas de sua
atividade. A Psicologia é então o estudo do conjunto dos fenômenos
psíquicos e das leis que os regem
(Psicologia Experimental ou Descritiva). objetivando
determinar a natureza mesma da alma humana,
e, a partir desta natureza, o
destino da alma 
(Psicologia Racional).

Art. II.    MÉTODO

87        O
método da Psicologia será então a um tempo experimental e racional. Aqui apenas
precisamos os pontos em que este método se distingue do método comum às
disciplinas experimentais (58-60).

§   1.     A  OBSERVAÇÃO

A observação, em Psicologia, pode ser interior ou
exterior.

1. A observação interior. — A
observação interior ou introspecção consiste em observar-se a si
mesmo, aplicando sua atenção aos fenômenos da consciência.

  A introspecção tem a vantagem imensa de atingir
imediatamente seu objeto,
sem os riscos que comporta a percepção externa.
É necessário notar, contudo, que ela nem sempre é praticável: certos
fatos psicológicos, como a cólera, não podem ser observados no mesmo instante
em que se produzem. Além disso, a atenção interior tende a modificar mais ou
menos os fatos de consciência, impondo-lhes uma espécie de fixidez, que eles
não possuem: como observar um desvario sem o interromper, uma distração sem a
suprimir? — Enfim, a introspecção é deficiente para atingir o inconsciente e
mesmo o subconsciente.

Se é verdade que, em muitos casos, pode-se utilizar a memória (lembramo-nos do que se passou no estado de cólera), sabe-se muito bem
quanto o uso desta faculdade comporta riscos de erro. Donde a necessidade de
recorrer à observação objetiva para completar, verificar e corrigir os
resultados da introspecção.

2.    A observação exterior.

a)     Noção. Este gênero de observação
psicológica nos é perfeitamente familiar. Com efeito, servimo-nos comumente e
espontaneamente da observação objetiva quando encontramos em certos fatos
psicológicos os fatos ou os estados psicológicos que lhes estão ligados.
As
lágrimas nos revelam o sofrimento ou a tristeza; a imobilidade do corpo, a
fixidez da visão revelam o esforço de atenção etc. Em Psicologia, só se cogita
de dar uma forma científica a esse processo de observação.

b)     Processos de observação objetiva. Estes
processos são muito variados. Os mais empregados são os seguintes: métodos
dos testes (pesquisas
ou questionários), pelos quais se revelam as reações
psicológicas de pessoas mais ou menos numerosas, numa situação, ou diante de um
fato dado, tendo em vista isolar-lhe o elemento comum, — estudo dos casos
anormais
ou patológicos, que fazem sobressair, por contraste, os comportamentos
normais, — estudo comparado dos adultos e das crianças, dos civilizados
e dos selvagens — estudo dos comportamentos ou atitudes exteriores que
traduzem os estados psicológicos — psicanálise, esforçando-se por
revelar as fontes inconscientes da vida psíquica.

c) Alcance do método objetivo. O método
objetivo não pode, evidentemente, ser suficiente. É apenas um auxiliar da
introspecção,
uma vez que jamais poderíamos dar um sentido às manifestações
exteriores de outrem se não tivéssemos experimentado e observado em nós
próprios os fenômenos interiores que revelam os movimentos ou atitudes
externas. Mas é um auxiliar precioso, e mesmo indispensável, quando se quiser
passar da observação à experimentação.

88       
d) O paralelismo psicofísico. O paralelismo dos fatos psíquicos e dos
fatos fisiológicos, que utiliza sobretudo o método objetivo, tem por vezes
incitado os psicólogos a perseguir uma redução do psíquico ao puro
fisiológico,
como se os estados de consciência fossem apenas um simples aspecto
das modificações orgânicas.

Ora, esta redação é insustentável, porque
existem entre a ordem psíquica e a ordem fisiológica diferenças tais que
implicam uma distinção radical. Com efeito, os fenômenos psíquicos são
essencialmente interiores, qualitativos, quer dizer, desprovidos de dimensões
espaciais, personalizados e grupados em sínteses originais, enquanto que os
fatos fisiológicos são periféricos, extensos, mensuráveis e localizados,
exteriores uns aos outros.

A estreita dependência dos fatos psíquicos e dos fatos
fisiológicos não poderia, pois, ser interpretada como significando uma causalidade real dos segundos em relação aos primeiros. A dependência das duas
ordens significa apenas que a consciência depende de condições fisiológicas.
Por
exemplo, os movimentos cerebrais não produzem o pensamento, mas este
está condicionado, em seu exercício, por fenômenos cerebrais.

§ 2.   Experimentação
e indução

89       
1. Importância da experimentação. — A experimentação, em Psicologia,
expandiu-se grandemente pelo emprego dos métodos de testes e o uso dos
instrumentos de medida (estesiômetro, cronômetro etc.) e dos processos que
mencionamos mais acima ao falar da observação objetiva (87). Estes processos
servem muito bem para a experimentação, quando estiverem a serviço de uma idéia
diretriz ou de uma hipótese.

                              

A história da Psicologia mostra que a experimentação
fez progredir amplamente a Psicologia Descritiva e permitiu criar técnicas
variadas
que vieram favorecer a orientação profissional, os métodos de
aprendizagem, o tratamento das anomalias psíquicas etc.

2.    As leis psicológicas.

a)     Caráter das leis psicológicas. A
Psicologia Experimental se esforça por estabelecer leis que exprimam também
relações constantes entre fenômenos. Mas estas leis não têm o caráter
rigoroso que possuem na Física,
por causa da extrema complexidade e sobrecarga
dos fatos psíquicos, por causa também do coeficiente pessoal de cada sujeito. É
isto que explica o caráter relativamente vago das leis psicológicas.

b)     O determinismo psicológico. As leis
psicológicas não conseguiriam jamais levar à negação da liberdade, da mesma
forma que a liberdade não exclui um certo determinismo. Existem várias
espécies de determinismo;
o da natureza inorgânica significa um
encadeamento rigorosamente necessário dos fenômenos. Na ordem psicológica, o
determinismo significa apenas que o jogo dos fenômenos comporta uma ordem que
lhe é própria. A liberdade pode modificar este determinismo, mas não suprimi-lo:
a vontade, que intervém para reprimir as lágrimas, não faz com que as lágrimas
deixem de existir e de ser o sinal da dor. A retenção das lágrimas atesta, por
sua vez, a realidade da lei que liga os dois fenômenos.

Art. III.    DIVISÃO DA PSICOLOGIA

90        1.
Princípio da divisão. — Nossa divisão resultará de uma hipótese, que nos é
sugerida pela experiência psicológica geral o que nos fornecerá o quadro de
nossas pesquisas. Estas não podem andar ao acaso e devem ser conduzidas segundo
uma idéia que deverão confirmar ou infirmar, completar ou corrigir.

a) O dualismo psicológico. Os fatos de
consciência, que a psicologia estuda, são de uma extrema variedade: querer,
ver, compreender, desejar, duvidar, amar, crer, entender, ter medo, emocionar-se
etc: parece que a maior confusão reina neste domínio.  Se repararmos do perto,
contudo, percebe-se que todos estes fatos
são suscetíveis de serem classificados em alguns grupos irredutíveis e que
supõem a existência de faculdades distintas e igualmente irredutíveis.

Distinguimos, com efeito, dois grupos perfeitamente
originais: o dos fatos de conhecimento (eu vejo, eu duvido, eu
compreendo, eu raciocino) e o dos fatos de tendência e de querer (eu
desejo, eu amo, eu quero), que pressupõem toda uma série de fatos e estados
afetivos.
Obtemos, assim, três categorias bem distintas, relacionadas
respectivamente ao conhecimento e à tendência (afetividade e
atividade).

Mas é ainda necessário precisar esta divisão, porque,
entre os fatos de conhecimento, temos que distinguir os fatos de conhecimento sensível (eu vejo, eu entendo, eu toco, eu sinto etc.) e os fatos de
conhecimento intelectual
(eu compreendo, eu julgo etc). Por outro lado
entre os fatos relacionados à vida afetiva e ativa, é necessário também distinguir
os fatos de tendência ou de apetição sensível, os que traduzem as tendências
movidas pelo conhecimento sensível
(o medo, a cólera etc), e os fatos de
tendência intelectual,
que traduzem as tendências dependentes do
conhecimento intelectual (amor da virtude, desejo de saber etc).

b) O sujeito psicológico. O dualismo
psicológico parece exigir, ao mesmo tempo, que o relacionemos a duas fontes
distintas,
pois o conhecimento e a tendência são irredutíveis entre si — e
que encontremos, sob estes dois aspectos, um único sujeito comum, pois
estas duas funções não cessam de reagir uma sobre a outra, como se nascessem de
um mesmo e único sujeito.

Supomos, e assim também o admite o senso comum, que
esse sujeito seja a alma, princípio imaterial único e formalmente diverso
de toda a vida, vegetativa, sensitiva e racional. Tal é a hipótese que vai
levantar o quadro geral de nosso estudo.

2.    Divisão. — As observações precedentes nos levam
a dizer que uma divisão lógica da Psicologia consiste em distinguir (após o
estudo do hábito, condição mais geral da vida psicológica) três partes
principais. As duas primeiras referem-se respectivamente à vida sensitiva e
à vida intelectual,
— e cada uma destas partes supõe a dupla consideração
dos fatos de conhecimento e dos fatos de tendência. — A terceira
parte se refere no sujeito psicológico, considerado sucessivamente como
sujeito empírico e como sujeito metafísico. Donde o quadro
seguinte, do conjunto da Psicologia.

INTRODUÇÃO

A  VIDA SENSÍVEL

Objeto, método  e divisão da Psicologia

O hábito

O conhecimento sensível.

A  sensação

 A  percepção

 A  imaginação

A  memória

A  VIDA

INTELECTUAL

O instinto

As  inclinações

O prazer e a dor

As   emoções,   os   sentimentos   e as paixões

A atenção

O pensamento  em geral

O   conhecimento   intelectual   

A idéia

O juízo

O   SUJEITO PSICOLÓGICO

A atividade voluntária

O sujeito empírico

O sujeito metafísico

O raciocínio

A    vontade

A  liberdade

O eu e a personalidade

A consciência

Natureza da alma humana A união da alma e do corpo
Origem  e  destino  da  alma.

A atividade sensível

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