Índice

Continued from:

Perigos e transigência

O povo romano fêz dos Gracos mártires e santos, erigindo-lhes estátuas, declarando sagrados os locais onde ambos sucumbiram, transformando-os até em templos, pois que ali traziam as primícias das estações e celebravam sacrifícios. Os dois tribunos tinham realmente fiado do povo o mando que de futuro outros agitadores fiariam dos legionários. Entretanto, com o temporário triunfo da aristocracia territorial, cresceram em Roma a corrução, a venalidade e o peculato, tendo seu preço não somente os votos do populacho, cuja indolência se converteu numa instituição pública, como os votos dos senadores e as decisões dos juízes.

A guerra social e a admissão dos italianos aos foros de cidadãos romanos

Há todavia que admirar a solidez da estrutura dessa comunidade, permitindo o incessante aumento da sua fortuna e poderio, pois que os perigos que Roma corria eram contínuos e de todo gênero. Verdade é que ela também sabia contemporizar e transigir. Quando os denominados aliados italianos, que tinham contribuído tanto quanto os romanos para a conquista dos territórios fora da península, sendo até maior o número dos auxiliares que o dos legionários, reclamaram os direitos de cidadão invocando o princípio de que se o cidadão era soldado, o soldado devia ser cidadão, resolvendo fundar uma república rival, legiões, senado, cônsules e uma capital — Corfinum — no coração dos Apeninos, os romanos cederam ainda que incorrendo o perigo de desagregação nas suas fileiras latinas.

 

Anarquia e monocracia

Os aliados (socii, e daí o chamar-se esta luta a guerra social) visavam sobretudo a igualdade perante a lei e os privilégios romanos de propriedade e de comércio, substituindo a cidade soberana por uma nação italiana. Durou três anos a luta (91-89 a. O), duplicando num só dia, pela admissão dos italianos, o número dos cidadãos romanos. Possuíam os novos cidadãos a plenitude dos direitos civis, mas pela distância não lhes era dado exercerem os direitos políticos, quer dizer que não deliberavam nem votavam nas assembléias populares que se realizavam na capital, e que estavam degenerando cada dia mais em reuniões turbulentas dirigidas por demagogos e cabecilhas militares, igualmente despidos de escrúpulos. O povo-rei transformava-se gradualmente numa malta de aristocratas especuladores, a saber, numa plutocracia à frente de uma multidão de clientes dissolutos.

A guerra de Jugurta.

Os que não viviam em Roma, esses sobretudo, entraram a pensar que muito melhor seria ter à testa do Estado um homem — César, o triunvirato com sua tríplice esfera de atividade ou um imperaíor — do que semelhante situação anárquica que a breve trecho encontrou sua expressão nas dissenções sanguinolentas entre Mário e Sila.

Mário triunfador

Roma entrementes passara por seus vexames estrangeiros. Jugurta, príncipe africano que pela deslealdade e pelo crime estendera seu domínio sobre toda a Numídia, corrompendo o funcionalismo romano incumbido de investigar o caso, subornando até o cônsul encarregado de castigá-lo e intrigando na própria Roma, foi vencido (106 a. C.) por Mário, cônsul plebeu eleito contra a oposição do senado e que assim obteve as honras de triunfador. Êle foi aclamado salvador da pátria quando em 101 a. C. desbaratou os invasores germânicos que pela primeira vez apareciam no cenário italiano, em número de 300 000, procurando novos lares sob um céu mais ameno e ameaçando com essa assustadora migração a integridade e a independência da república.

Cimbros e teutões vencidos por Mário

Esses cimbros e teutões, vindos do Báltico, moveram-se para o sul no mesmo ano de 111 a. C. em que foi declarada guerra a Jugurta. Atravessaram o Reno, cortaram a Gália, chegaram à Espanha e encaminharam-se para a Itália, os cimbros tomando a direção dos Alpes orientais (o Tirol de hoje) e os teutões, que já tinham varrido diante de si os celtas gauleses e vários exércitos romanos transalpinos, pelos Alpes ocidentais ou marítimos. O plano dos bárbaros era reunirem-se no vale do Pó. Mário decidiu batê-los separadamente e fê-lo com o maior êxito, quase aniquilando os primeiros em Verceli, na Itália setentrional, depois de ir ao encontro dos segundos, dos quais em Aix mais de 100 000 foram mortos e 60 000 feitos prisioneiros para serem vendidos como escravos (102-101 a. C).

Mitridates e seus desígnios

Grossa nuvem levantava-se em seguida a leste. Mitridates VI, rei do Ponto, pretendeu aproveitar-se das dificuldades da república para ressuscitar os antigos impérios do Oriente. Para isto invadiu possessões romanas na Ásia Menor depois de arredondar seus domínios

com a Bitínia, a Capadócia e outras regiões aliadas de Roma, massacrando residentes e comerciantes italianos — diz-se que em número de 80 000, o que indica a quanto subira a expansão romana — e pondo-se à frente de uma revolta helénica. Roma nunca demorava a repressão; logo se tratou de ir conjurar o perigo, o que deu motivo à luta civil entre Mário e Sila.

* * *

Deixe um comentário

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.