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Otávio e Marco Antônio

Este Otávio, rapazola débil, de 18 anos, foi quem se opôs à ambição de Marco Antônio que, então cônsul e ajudado por Lépido, deu mostras de querer substituir César no poder. Houve um ensaio de guerra civil, logo seguido de um conchavo sugerido por Otávio, o qual herdara sobretudo o gênio político do tio, talvez com mais dissimulação e manha, que nesse caso não valiam menos do que amplitude e fortaleza. O pagamento dos supostos legados de César conquistou-lhe o favor popular e, para melhor se firmar, contemporizou com o senado.

O segundo triunvirato

O segundo triunvirato, resultante daquele conchavo, trouxe a partilha do mundo, cabendo a Otávio o Ocidente, a Antônio o Oriente e a Lépido a África. Já era tal solução uma tentativa de organização constitucional, posto que implantada revolucionariamente. Os triunviros substituiriam os cônsules, exercendo autoridade por cinco anos, assumiriam o poder legislativo e disporiam dos cargos públicos, o que quer dizer que senado e comícios se anulariam em seu favor. O triunvirato como sistema estava porém de antemão condenado. Cercara-lhe aliás o berço uma proscrição semelhante às de Sila, de que foram vítimas 300 senadores, 2 000 cavaleiros e alguns milhares de cidadãos, entre os quais Cícero. A proscrição implicava a condenação à morte sem formas judiciais e era acompanhada de confisco dos bens.

Batalha de Filipos e a disputa do mundo

O segundo triunvirato data de 43 a. C. No ano imediato Otávio e Antônio dispersaram em duas batalhas travadas em Filipos, na Trácia, os 100 000 homens reunidos por Bruto e Cássio, governadores respectivos da Macedónia e da Síria em tempo de César. Ambos os republicanos se suicidaram e com eles pereceu a república. Restava saber qual dos triunviros empolgaria o mando supremo.

Antônio e Cleópatra

Lépido era o mais fraco e foi logo posto à margem; Antônio deixou-se enfeitiçar pelos encantos de Cleópatra e esqueceu seus interesses e ambições ao ponto de brindar a rainha do Egito com províncias romanas, o que constituía alta traição e ofereceu ensejo ao rompimento de Otávio, que não podia deixar de ser dos três o afortunado. Antônio, além disso, ofendera pessoalmente Otávio, repudiando-lhe a irmã, que desposara, e propalou-se que pretendia transferir para Alexandria a capital do mundo romano e fazer dele herdeiro o filho de César e de Cleópatra.

A batalha de Actium

Diante de Actium, promontório do Épiro, jogou-se em 31 a. C. a partida final entre as forças navais de Otávio e as de Antônio e Cleópatra. Em 35 a. C. Sexto Pompeu, filho do grande Pompeu, que conseguira com uma forte esquadra assenhorear-se da Sicília e do Mediterrâneo, fora batido por Agripa. A fortuna sorria decididamente a Otávio. Em Actium, Cleópatra deu inesperadamente o sinal da fuga; o amante seguiu-a pressuroso e o par recorreu ao suicídio quando perseguido no Egito — Antônio ao ouvir que Cleópatra se matara, o que não era ainda exato pois, antes de o fazer, a eterna faceira experimentou sem efeito embelezar Otávio, frio e calculista, que só pensava em dá-la em espetáculo aos romanos no seu triunfo.

Otávio imperador

Otávio ficou absolutamente só em campo. O senado ia dar-lhe o epíteto de Augusto, reservado aos deuses, e a cidade-estado ia passar a ser a capital de um império que prolongou por cinco séculos a vida da nação romana, a qual cem anos de lutas intestinas nos últimos tempos da república tinham levado à beira do abismo. Remodelar e consolidar esse organismo político que se esgotara, parece a um dos historiadores de Roma obra mais grandiosa que qualquer outra na história.

O imperio-república

Criando o império, Augusto conservou aparentemente a república, da qual êle se dizia apenas o generalíssimo (Imperator). De fato, se as magistraturas continuavam, o imperador as absorvera e reunira na sua pessoa todas as funções do Estado. Os cônsules enquanto continuararn a ser eleitos, foram realmente menos ainda do que viria a ser um Cambaceres ou um Lebrun ao lado do primeiro cônsul Bonaparte; outro tanto com relação aos tribunos. Roma estava dis-. posta a contentar-sé com a sombra da república, mas repeliria de começo uma franca autocracia. Augusto era por seu lado indiferente a quanto não fossem realidades: nominalmente podia ser um magistrado popular, contanto que fosse o Princeps, isto é, o primeiro cidadão do Estado.

O governo das províncias

Naturalmente as formas externas, uma vez ocas, delas retirada a substância, foram desaparecendo. O senado, cuja autoridade Augusto zelou, transformou-se núma me£a assembléia consultiva; as assembléias populares ficaram sendo ‘a chancela do executivo e os cônsules tornaram-se umas personagens apagadas de nomeação imperial. Refere-se que Augusto consultara Agripa, seu genro e general vencedor na Gália, na Espanha, na Germânia, na Grécia e na Sicília, grande também na paz, e Mecenas, seu valido, sobre a metamorfose da república em império. Mecenas opinara pela abdicação dos poderes extraordinários, a saber, da ditadura; Agripa pela sua manutenção.

Os legados imperiais

Augusto seguiu o último conselho, efetuando sua primeira reforma administrativa com chamar a si o governo das províncias mais rebeldes, deixando a cargo do senado as províncias ordeiras, as próximas, e agindo em todo caso como juiz de última instância. O fato de o imperador se reservar as províncias mais distantes onde se combatia continuamente, fortificava-lhe o poderio militar, mantendo-o no comando efetivo do exército permanente, isto é, conservando íntegro o seu imperium, o qual era em seu favor renovado pelo senado cada dez anos, como, no México por exemplo em nossos dias, D. Porfírio Diaz se fazia reeleger.

Saneamento administrativo

Além das treze províncias senatoriais e das dezoito imperiais, havia dez províncias independentes que conservavam seus soberanos próprios sob a hegemonia de Roma: o mesmo caso que hoje se dá com o Egito e a Tunísia. Os legados que governavam as províncias imperiais recebiam salários fixos em vez de emolumentos e de requisições ad libitum.

Desapareceu assim a classe dos procônsules ávidos e venais, estabelecendo-se no seu lugar uma hierarquia eficiente, responsável diretamente para com o chefe do Estado, o qual deixara de ser um chefe de partido. Os legados imperiais reuniam naturalmente a autoridade civil e a militar.

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